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Causo contado por Seu Mesquita, 45 anos, à noite, na casa dele, com a presença de sua

esposa e de um casal de amigos - Caçapava, cidade, 28.07.98.

É aquela história da assombração do camarada que foi, foi cuidar uma determinada casa e aí disseram prá ele: “ Não, tu não vai agüentar aquilo lá, porque aquilo lá é o infemo, nâo tem quem pare dentro da casa.” A í lá pelas tantas ele fez um foguito num fogão à lenha lá, preparou um chiman^ão e disse: “ Mas hoje eu vou passar a noite aqui, eu quero ver se aparece, se esse tal de diabo me aparece a í.” A í o que que ele fez? Passou a mão no facão, botou num lado, cruzou a pema e passou ali preparado prá passar a noite tomando mate. Aí foi um bamihão em cima, no teto assim, e o camarada: “ Ué, quem é que tá aí?” Aí diz que o cara gritou de lá: “Ué, sou eu.” - “ Eu quem?" - “ Não te interessa, mas vai cair minha pem a.” - ‘Pode cair.” Aí diz que foi aquele barulho assim, e caiu a pema. Aí ele serviu mais um mate e pensou lá com os botões dele: “ Mas se esse demônio for bem macho mesmo, cai mais um pedaço.” Aí de novo um silêncio total, continuou mateando, dali um pouquinho um assobio: “Tu ainda tá aí embaixo?” - “Tô, tô esperando.” - “Vou cair mais um pedaço.” - “ Pode vir.” A í veio outro braço. A í ele disse: “ Não, eu quero só ver quando tu tiver inteiro aqui embaixo que eu vou te partir a facão.” Ele disse, o que tava esperando, né. A í diz que o suposto demônio disse prá ele: “ Pois é, eu pensei em te assustar e tô quase ficando assustado, porque é muito difícil a gente encontrar um homem com tanta coragem.” Ele disse: “ Não, mas eu nâo estou com tanta coragem, eu não estou... eu estou com medo de , mas tenho multo mais medo do dono da casa chegar amanhã de manhã e não me encontrar aqui.” Então é aquela história, né, nomnalmente a gente tem mais medo das coisas palpáveis do que das coisas não palpáveis, só que o não palpável é o que povoa a nossa imaginação.

Causo contado por Seu Sadi, 50 anos, à noite, na casa dele, com a presença de sua

esposa, seus dois filhos, Tati e Fabricio, e a nora - Uruguaiana, cidade, 04.08.98.

Sadi - Bom, tu já ouviu falar que antigamente tinha os can"eteiros, que é aqueles pessoal que andavam de canroça, faziam transporte e tudo, né. E o meu pai, meu finado pai, era carreteiro. Eu - Ah, é mesmo?

Sadi - Ele foi muitos anos. E tem duas histórias que ele sempre contavam prá nós quando nós éramos pequenos e eu conto pros meus filhos agora. E agora vou contar prá ti. São histórias verídicas (...). Numa manhã de verão, eles iam andando... então um pessoal ia na can"

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ça e outros iam à cavalo, né, acompanhando. E tinha um senhor que acompanhava eles, ia à cavalo e

ele ia na carreta. Lã pelas tantas encontraram um sapo, daqueles sapos graaandes... tava o sapo no meio da estrada. E esse colega do meu pai, do meu finado pai, pegou o relho... e deu no sapo. Mas deu! Praticamente deixou como morto o sapo. Disse que não gostava do sapo. E aí o meu pai: “ Mas prá que fazer isso? Então mata o animai.” - “ Não, não vou matar, é prá judiar mesmo.” Mas deu, deu, deu... deixou praticamente como morto. Tá, e seguiram... isso era umas onze horas, andaram mais uma hora e pouco, pararam prá acampar, prá fazer o famoooso carreteiro. A í diz que começaram a fazer o carreteiro e tá... dali mais uma meia hora, com o carreteiro já pronto, comeram... A í na hora da sesta, quando eles tavam se preparando prá sestear, um olhou assim, disse: “ô fulano, olha lá quem vem vindo lá na estrada?” O outro olhou, vinha vindo o sapo. Diz que vinha espumaaando e pulaaando. Mas espumava o sapo! ‘ Mas como é que eu não matei esse bicho? Já estamos há quantos quilômetros, né. Vamos fazer uma sacanagem pro sapo. Diz que o sapo tem feitiço. Vamos nos esconder, vamos nos tapar todo mundo com ponche...” Ponche é aquelas capas que usavam. Disse: “E vamos ver o que o sapo vai fazer.” Diz que todo mundo se tapou. E diz que o sapo veio. O meu pai disse que o sapo veio, e veio, e veio... e chegou no acampamento, foi direto no cara que tava tapado. Pulou por cima, fez uma cruz, pulou assim e assim (mostra) e continuou a viagem. Aí o pai disse assim: “Ó pessoal, se foi o sapo. Só passou por cima de você e foi embora. Levanta fulano!” Foram destapar o cara, tava morto, (todos ficam em silêncio)

Sadi - A do lobisomem eu vou contar. Fabrício - Aquela é verídica.

Sadi - Também, é nas mesmas carreteadas que o pai andava. Fabrício - Essa é verídica mesmo.

Sadi - Ele tinha um companheiro dele que todo mundo dizia que o cara era lobisomem, mas o pai nunca deu bola, né. Determinada viagem, foi só os dois numa carreta, foram fazer uma entrega... Cada um numa carreta. Daí tá, daí chegou de noite, numa sexta-feira, diz que acamparam, tá... fizeram fogo... fazem aqueles fogo graaande, né, fizeram canreteiro, jantaram... e o pai olhou a lua véia, disse: “ Bah, se o homem é lobisomem então vai ser hoje.” E o pai ficou com medo do cara. “ Mas eu não vou acreditar.” Aí diz que foram... “Bom, vamos dormir e tal, vamos se recolher...” Cada um foi prá sua carreta... Dali...quando chegou mais ou menos meia-noite...mais ou menos, porque naquela época nem relógio tinham, mas acho que pela lua que se controlavam, né, diz que a cachorrada começaram a enlouquecer. E o pai olhou o homem, o homem se levantou, o companheiro, se pelou, ficou totalmente nu. E se rolou... se rolou naquela...

Fabrício - Brasa.

Sadi - ... cinza... só tava a cinza, não tinha mais brasa. Se rolou na cinza do fogo, ficou todo branco! E saiu correndo de quatro pé, com as mãos e os pés. E desapareceu. E o pai não pôde dormir mais. Diz que era umas quatro horas da manhã mais ou menos, cinco horas por aí... ele sentia de longe, ouvia de longe aquela cachorrada lau lau e já te pego e já te largo e já te pego e já te largo... e era o homem que vinha voltando. Diz que era um cachorrão. E chegou de novo e...

todo, foi ali, botou a roupa e foi dormir na carreta. E levantaram de manhã: “Tudo bem Roberto?" - “Tudo bem. Vam o embora, vamo embora!" O meu pai pediu demissão, nunca mais quis encontrar aquele homem, né. O homem era lobisomem.

Eu - É, mas esse que o Seu Romão me contou hoje era bem assim também (...)

Sadi - E tu sabe que todo lobisomem... o lobisomem não morre sem passar prá alguém. Tati- Ah, conta essa.

Eu - Como é que é isso?

Sadi - O lobisomem... qualquer lobisomem mesmo, que agora eu não sei se ainda existe, mas antigamente... a pessoa não mon-e sem passar prá alguém, prá um filho, prá um amigo... sei lá, ele passa prá alguém. Não necessariamente tem que ser homem o lobisomem, não sei, ele passa prá alguém. Isso aí eu conheci já, é do meu tempo, eu tinha uns quatorze anos e se comentava muito, lá em Ibirubá, onde nós morávamos, tinha um senhor lá bem de idade já, era lobisomem. E tava muito mal. Passou esse homem praticamente... mais de um mês, ele dizia assim: “ Quem é que queeer...?" - “ Mas quer o que, pai?" dizia o filho. A í passava. Dali uma hora ele dizia: “Quem é que queeer?", diziam os netos: “ O que meu vô, o que o senhor quer dar?" E ele não dizia nada. Isso passou-se mais de mês, até que determinado dia diz que o... o nome do filho dele era Miguel. E o Seu Miguel disse assim: “O que que é pai? Tá meu pai, eu quero então.” - “Tu quer, meu filho?” - “Quero.” Daí morreu. E o cara teve uma fama muito, que foi um grande lobisomem, né. Fazia sucesso lá também.

Causo contado pela Gringa, de 34 anos, pela manhã, na casa do Seu Sadi, apenas com a

minha presença - Uruguaiana, cidade, 06.08.98.

Gringa - Ah, essa história... eu não sei se é verdade... deve ser, porque o meu cunhado não ia mentir quando tava a minha irmã junto confirmando a história. Diz que lá... eles moram prá fora, na serra, diz que sempre aparecia o lobisomem por lá, sempre tinha... era tipo um cachorro, nas galinha de noite, que ele vem no galinheiro. Um dia conseguiram pegar ele e botaram corrente e... e cadearam tudo nele. E deixaram ele preso lá, numa área assim. Diz que outro dia quando eles levantaram, cedo, era o tio do meu cunhado que tava preso lá.

Eu - Barijaridade.

Gringa - Preso na con-ente, né. Eu - E tava pelado?

Gringa - Pelado, porque eles se pelam antes de... diz que quando pega a se transformar diz que se pelam tudo prá se enrolar na bosta de galinha, no galinheiro assim. A história é essa.

Eu - Gringa, e a tua mãe contava outras histórias de assombração assim ou nâo?

Gringa - Ah, contava sempre, quando nós era guria pequena de campo, porque eles eram jovem também, e... sempre aparecia o lobisomem. E um dia eles cercaram um também, diz que numa ponte, com fogo e garrafa, diz que batiam, esfregavam uma na outra, porque diz que eles tem medo de... Aí diz que eles... ele ficou emprensado, ficaram uns dum lado, outros noutro, ele teve que se jogar no rio. Essa é a história. Mas sempre tinha umas histórias, é que eu não me lembro

muito né. Histórias que... ela contava muitas histórias sobre isso, mas eu era pequena ainda e não... a gente não se lembra, né.

Eu - E história de enterro de dinheiro tu já ouviu falar? Gringa - Já.

Eu ' Aqui em Uruguaiana ou lá...

Gringa - Aqui em Uruguaiana e lá também. Aqui em Uruguaiana aí nos fundo da... no terreno onde mora o meu cunhado, diz que... o meu marido ia chegando em casa diz que viu cair uma bola de fogo no lugar, diz que aquilo lá era de dinheiro. Lá que tem. E lá em Alto Uruguai sempre caía... sempre caía as bola de fogo. A gente via, eu também cheguei a ver quando eu era pequena, nos lugar assim... dizem que é lá que eles enterram os dinheiros...

Eu - Mas tu nunca soube de ninguém que tenha achado dinheiro?

Gringa - Eu já vi falar também que... eles deram prá um senhora, lá de Alto Unjguai e... ele pegou e foi e achou. E também contavam, que ele achou. E ele tinha que ir sozinho e diz que ele não foi sozinho e levou mais gente, daí diz que... quando levam mais gente eles não acham, que pode ficar até louco.

Eu - É, diz que quando não é... (intenrompo a gravação)

Gringa - Pois é, diz que ele... quando o primo do meu marido era pequeno, diz que... quando uma criança não é batizada, diz que a bruxa... chupa pelo umbigo da criança, contavam, prá pegar a alma da criança. E diz que entrou, quanto quanto que a... quanto quanto que a... a tia do meu marido entrou no quarto... era duas tia, uma que criou ele, a tia Una e o... a tia Elisa. Entraram no quarto, diz que tinha uma... era um pato rosa que tava lá, em cima do berço assim, aí pegaram uma toalha assim e começaram a dá-lhe pau nela e ela diz que voava pelo quarto, bem louca! Diz que é um pato bem rosa. Depois que conseguiu sair pela janela que dava gargalhada! Diz que passou por cima da casa assim depois voando e dava gargalhada! E lá em casa quando passa uma noite, ele diz: "Olha a bruxa Gringa." - “Que bruxa?" - “Ó! Escuta a gargalhada." (rimos juntas)

Eu - Mas aí ela leva a alma da criança e a criança monre?

Gringa - Sim, se a criança não é batizada diz que é. Ela chupa pelo umbigo, quanto ela tá bem novinha, é claro, antes dos sete dias. O Agenor era bem novinho. Eu falei prá minha sogra assim: " Vó, e essa do Agenor que o José contava, da bruxa rosa que dava gargalhada?” Ela disse: “ Nâo, é verdade.”

Causo contado por Seu Clóvis, 62 anos, à tarde, num gabinete da Câmara dos Vereadores,

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