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Causo contado pelo Seu Zeno Dias Chaves, de 64 anos, à tarde, no seu gabinete na Casa

de Cultura de Caçapava, onde ele é o diretor, apenas comigo presente - Caçapava, cidade,

22.07.98.

Eu - Então Seu Zeno vai me contar um causo sobre a história de Caçapava...

Zeno - Nâo é bem sobre a história de Caçapava. Tem alguma vinculação com a história. É sobre uma mentira. O meu avô, era o Coronel Favorino Dias dos Santos, chefe revolucionário, inclusive, a Revolução de 1926, ela teve origem aqui... aliás, a reunião que, que... onde combinaram o movimento armado, foi aqui em Caçapava, numa casa, numa casa velha, antiga, que era propriedade do meu avô, em frente aonde está o Banrisul hoje. Pois aqui se reuniram o meu avô, os irmãos que chegaram, o Alcides e o Nelson que serviam em Santa Maria e... e mais

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Coronel Vicente Mário. Naquele tempo eles eram todos tenentes, então o berço da Revolução de 26 foi aqui por isso. Isso eu posso te contar posterionmente, agora eu quero chegar no causo. E tinha um cidadão chamado João Cavalheiro. Esse João Cavalheiro andou fazendo umas mortes aí... e nâo que fosse bandido. Até... eu nâo vou te explicar bem agora prá poder chegar no causo depois. Ele... questão de defesa de honra, ele matou dois. Dois que teriam sido contratados para matá-lo e ele matou os dois caras. Bom... e aí ele ficou ferido, gravemente ferido, e foi levado prá estância do meu avô (provavelmente tu vais ter oportunidade de conhecer, vamos ver se nós te levamos lá). Levaram ele prá estância do meu avô. E ali ele ficou... escondido ali, não na casa, faziam curativo nele no mato, numa barraquinha e tal, e a polícia andava à procura dele. E o meu avô, temendo que pudessem pegá-lo, resolveu a trocar de local. Mandou o meu pai e um tio meu,

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meu pai era Artur e tio era Pedro, mandou os dois transportarem o Joâo Cavalheiro de local, daqui do Seival lá prá perto do Passo do Cação, já fica, ficava na divisa com Pinheiro Machado. Só que lá perto desse local morava um tio meu, filho do meu avô, que era muito mentiroso, o tio João Cândido, mentia assim... por gosto. Então mandaram: “Olha, vocês levem o João Cavalheiro, façam o trajeto durante a nôte, prá que ninguém veja. De dia, no clarear do dia, vocês se escondem.” E assim eles fizeram. Eles foram, chegaram na caso do José Pedro e do Laureano Garcia já querendo clarear o dia. Aí tinha um galpão, com um quarto junto, um galpão de fogo, botaram o Joâo Cavalheiro no quarto aquele e deixaram os proprietários, o Laureano e o José Pedro cuidando do Joâo Cavalheiro e eles foram pro mato prá nâo serem vistos. Naquele tempo era a aranha, uma condução...

Eu - Ahã, eu conheço.

Zeno - E

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tio João Cândido nessa noite que eles foram prá lá mudando o Joâo Cavalheiro de local,

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tio João Cândido chegou na casa do meu avô, onde estava o João Cavalheiro antes. Perguntou pelo meu pai e pelo meu tio, que eram genros do meu avô. Aí o meu avô prá... prá confundir o tio João Cândido... aí a resposta do meu avô por meu tio: “ Eles foram... andar, que tavam seguindo muito o João Cavalheiro eu resolvi a trocar. Eles foram lá no Irapuá levar o João

Cavalheiro lá no Serafim de Oliveira.” Era uma região totalmente diferente, é aqui no lado leste do município e eles tavam levando ele pro sul, era prá confundir o tio João Cândido. Tavam levando lá prá perto do tio João Cândido, só que ele não podia ficar sabendo. Aí no outro dia o tio João Cândido retomou, chegou na dita casa onde o João Cavalheiro tava escondido. Chegou à cavalo, em frente ao galpão. O tio José Pedro e o Laureano: “Apela, vem tom ar um chimarrão conosco” - “Não, tô muito cansado” -“ Mas cansado por que? Passou de valde...” - “Não, essa noite eu, o João Pedro e o Artur levamos o João Cavalheiro lá no Serafim de Oliveira”. E o Cavalheiro tava ali escutando a conversa dele... É isso. É real, aconteceu, só que tem uma mentira aí... (risos)

Outro causo contado por Seu Zeno, à tarde, no seu gabinete na Casa de Cultura de

Caçapava, apenas comigo presente - Caçapava, cidade, 29.07.98.

No Combate do Cerro Alegre, em 1932, cinco dias após a perda dos documentos, ou seja, da cachaça, foi um combate muito, muito... meio inesperado. Tinha gente acampada, as forças revolucionárias estavam acampadas... tinha gente lavando roupa. O meu pai quando foi encher o mate, uma bala tirou... naquele tempo era chocolateira, cambona, como chamam... quando ele tava enchendo o mate uma bala tirou a cambona da mão dele. Tinha gente lavando roupa. Tinha gente nua lavando roupa. E eles foram encunralados, os revolucionários. O meu pai era do gmpo. E temninou o doutor Borges sendo preso. O doutor Alberto Severo, que era daqui de Caçapava também foi ferido nesse combate... mas já vem o episódio interessante: quando estavam retirando-se, os que conseguiram escapar, que não foram presos, tavam em retirada, um primo meu, chamado Artur, tocaio do meu pai, teve o cavalo morto. Uma bala matou o cavalo. E aí tinha Antônio Louco, esse Antônio Louco era mulato. E o Antônio Louco... entende tudo, boleou a pema do cavalo dele, desencilhou... “ Encilha o meu cavalo” e botou os arreios fora. ‘”Mas e tu, Mano Velho?” , o apelido dele... chamavam de Mano Velho. “ Mas eu sou um pobre coitado e ninguém vai fazer causo de mim. Se te pegarem te matam mas eu, ninguém faz causo de mim. Pega o meu cavalo e vai embora.” E saiu a pé. Lá adiante, lá pelas tantas, a força inimiga se encontra com o Antônio Louco. Não era companheiro, provável que fosse adversário. Cercaram ele: “O que que o senhor anda fazendo aí?” Ele de pé no chão, bombacha anremangada... “Que é que

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senhor anda fazendo aí?” - “ Eu ando comprando boi.” - “Olharam um pro outro: “ Decerto é louco, deixa ir embora.” Mas na verdade era revolucionário, (risos) (silêncio)

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