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Causo contado por Seu Reni, de 67 anos, à tarde, num gabinete da Câmara de Vereadores, coma presença do vereador Joãozinho, de Seu Clóvis e de algumas pessoas da

comunidade - Caçapava, cidade, 23.07.98.

Seu Reni - O cara... o nome dele era João Silveira e ele tinha um figueiral. Daí os caras... ele rondava lá com uma arma, uma espingarda daquelas de carregar pela boca com duas buchas de pano assim. E quando iam roubar figo lá ele dava tiro prá tudo quanto era lado. Aí os caras descobriram que ele tinha medo de assombração. Sabe o que que é assombração? Que existem nessas fazendas, nas casas mal-assombradas, né. Aí... cinco caras, não, três caras se combinaram; tchê, vamos roubar cada um um saco de fico desse homem. Aí chegaram e... sabiam que ele tava lá rondando, lá no meio das figueiras. A í veio um agarrado no outro aí fizeram aquelas... veio um agarrado nas cadeiras do outro assim, caminhando no meio do figueiral e aí quando viram que ele tava lá, apareceu o cano da amiazinha e aí o da frente dizia assim; “No tempo que eu era vivo aqui era o caminho dos fiiiigoos...." E aí o véio decerto se ouriçou lá no meio da árvore lá e ficou lá, meio tremendo. E aí eles; “ E eu que sou morto vou aganrar o dos oooutrooos...” E aí a coisa foi chegando perto. E aí quando chegaram por aqui, como por essa porta assim, disseram; “ E eu que sou a alma traseira vou pegar João Silveira que tá atrás da figueeiral” E ele ó, saiu correndo. Diz que até ontem de tarde eles ainda tavam apanhando figo...

Causo contado por Oneyzinho, de 24 anos, à noite, na casa da Dona Zilda, com a presença

dela, de Rosilda e de Rogério - Caçapava, cidade, 26.07.98.

Oneyzinho - Mas eu vou contar sem enfeitar, que o gaúcho enfeita, mas eu vou contar simples, depois tu enfeita. Mas diz que era... no interior, né. Uma... uma vaca mansa adoeceu na casa de uma família e foram na cidade buscar o veterinário. Aí diz que foi lá o veterinário, chegou, examinou... a vaca... e disse pro dono da vaca; “Faz assim, vai lá e abre a boca dela e olha prá dentro. E aí tu, peão, vai lá atrás e levanta o rabo. Aí tu... tá enxergando ele lá na frente, peão?” - “ Não...” - “Ah, então é nó nas tripas.” (risos) (...) Diz que um trator foi lá na... na Guarda Velha lá. Que uns anos atrás não existia trator nessa região.. Aí diz que o Seu Rubem pegou e foi à Porto Alegre conhecer o trator. Foi lá e fez um curso, Na época... acho que a indústria de tratores dava um curso intensivo de tratores, numa semana ensinava a lidar com o equipamento, né. E ele pegou, foi lá e comprou... veio de trator! Só que foi tão rápido o curso que ele esqueceu certas coisas. Aí ele vinha chegando, na hora que chegou na frente da casa assim ele não lembrava como é que parava o trator. Já tavam os vizinhos, todo mundo da Guarda Velha já esperando prá conhecer o que que era o tal trator esse. Nunca nem carro existia, quanto mais trator, era só os bois mansos. A í diz que veio o Seu Rubem, chegou na frente da casa, não sabia parar... fez a volta. E gritou: “Olha que eu nâo sei parar esse negócio!” Ficou andando na frente da casa

horas... Aí pensou; “Mas o que que eu vou fazer?" Aí um gritou: “Não, vamos furar os olhos dele.” Aí veio um lá e Pá! quebrou um farol né. E o bicho não parou de andar. “Quebra o outro olho então!” Aí Pá! quebraram, furaram o outro olho e não tinha nada que parasse aquilo, e seguia dando volta. Ele já tava atordoado... Aí um disse: “Não, então em último caso, bate na cabeça dele.” E é claro, começaram a bater, amassar... tem o radiador ali, cheio d’água, né, e começou a voar água prá tudo que era lado. Aí o Seu Rubem virou o trator pro lado da sanga assim e pulou de cima. ”Não adianta, furamo os olhos, batemos na cabeça, e não parou! E agora chega a se mijar de brabo... Deixa ele lá na sanga." (risos) É, e essa foi verídica. (...)

Causo contado pelo Tio Flor, de 67 anos, à noite, no Acampamento da Chama Crioula, com

a presença de cerca de 20 pessoas - Quaraí, zona rural, 09.09.98.

Então há muitos anos eu tinha visto o Necinho Maria contar um causo... que ele numa tropa aí na Caneleira, ele deu o lugar, mas é mentira! Não é certo, né. Tavam contando uma geada muito grande e em lugar de cruzeira deixaram uma lingüiça em riba de uma... uma reboleira de mói (???) E lá, depois que rondaram até a meia noite diz que aí ele combinou com outro colega, disse: “Tchê, vamos assar aquela lingüiça que tá aí na reboleira?” Tava tudo escuro, naquele tempo não tinha nem lantema. Diz que o cara chegou ali, pegou... uma cruzeira tava entanguida assim, né. Ele pegou, espetou ela e botou no fogo, mas tudo nos escuro. Então dali um pouco aquela cruzeira começou a perder aquele gelo, olha, diz que vez uma bagunça! Virou cambona, apagou o fogo... E aí que eles foram se dar conta, (risos)

Causo contado por Seu Antônio, de 35 anos, pela manhã, durante uma atividade campeira

(vacinação do gado), com a presença de vários peões - Uruguaiana, zona rural, 16.07.97.

Seu Antônio - Tem duas mentiras grandes, né. Diz que uma é aquela famosa, do que perdeu o relógio.

Eduardo - Não sei...

Seu Antônio - Tinha um relógio de bolso e perdeu o relógio. Foi, passou uns cinco anos. “ Perdeu o relógio?” - “ Perdi” . Perdeu no campo. Ah, no campo não se acha mesmo. E ele foi comprar outro relógio. Um dia campereando, andando assim, e ele achou o relógio dele. E aí voltou: “Mas olha só, tchê, fui ver o relógio, ver o do pulso com o que eu tinha achado, e a hora certinha... Que engraçado.” E aí tá, “ Mas como é que será que ele ficou certinho?”. Quando ele olhou, uma cobra preta cruzava bem em cima do... do... do coisa do relógio e, tchiiii, dava corda todos os dias. Acho que a cobra... era caminho da cobra, tchê, e dava corda todos! Eu digo, mas ah loco, sabe... E aí diz que... e também diz que tinha a catumta, aquela que não sabe como é que tinha aprendido o dia do aniversário dele. Passou um ano, passou dois anos, todos os dias do aniversário dele a caturrita cantava parabéns, sem ninguém falar nada. Olha, passou um tempo, a caturrita desapareceu. Aí uma vez era um domingo o aniversário dele e ele veio com o pessoal lá da casa dele, os amigos dele prá passar aí, né, na estância, na fazenda, prá passar... almoçar... o meio-dia, no aniversário dele. Diz que qual foi a surpresa dele que chegou assim... no lado da

estância tinlia umas quinze caturritas, tudo paradinha assinn. E aí quando ele baixou assim, prá abrir a porteira diz que todas as caturritas começaram a cantar parabéns. Daí ele olhou prum canto e reconheceu a caturrita que era dele, tinha ensinado todas as outras a cantar parabéns!

Anedota contado por Seu Moacir, de 52 anos, após um jantar na Casa do Poeta, com a

presença de mais 7 ou 8 pessoas - Alegrete, cidade, 07.08.98.

Seu Moacir - Eu vou contar prá ela do tio Dorval, do tempo que não tinha estrada daqui de Rosário a Alegrete, era de chão batido, era de teira. O tio Dorval morava lá no Itapeju, bem no meio do caminho.

Dona Sílvia- Ah, aquele é famoso.

Seu Moacir - De manhã cedo foi pegar o ônibus prá vim na cidade, fazer umas compras. Aí tava esperando o ônibus ali, começou... o tempo se preparou prá chuva e começou a chover. Mas com chuva

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ônibus não vinha, porque era um barrai... mas como pegou já em viagem ele veio... Dona Sílvia - A estrada...

Seu Moacir - Mas o pessoal que conhecia mais o tempo, ninguém pegou o ônibus, então aquele ônibus vinha vazio, só ele dentro, só o motorista. E ele esperava. A í começou a chover e chover e chover e chover e chover... O motorista tocando por aquela estrada, e um banral... Daqui a pouco o tio Dorval levantou e foi lá, bateu nas costas do motorista e disse (Seu Moacir faz uma voz grave e lenta, e altera a sua postura, encurvando o corpo): “ Moço, a jinela do banco que eu venho lá tá estragada e... tá me moiando toda uma laterali.” Aí o motorista, claro, se o ônibus vinha vazio: “Mas troca de lugar, Seu Dorval.” Aí ele voltou lá prá trás. E o homem seguiu pela estrada, aquele barrai e... aquele ônibus se atravessando... Chegaram aqui na rodoviária, tio Dorval foi entregar a passagem (Seu Moacir dá uma pausa) O motorista olhou assim, quando foi pegar a passagem, era uma meleca molhada, aí ele olhou o tio Dorval dos pés à cabeça, tava todo ensopado! “Mas Seu Dorval, o senhor tá todo molhado...” - “ Mas eu te disse que a jinela tava enguiçada!”

Dona Sílvia - Jinela...

Seu Moacir (continua fazendo a voz do Tio Dorval) - “Que nâo fechava! E tava uma chuva guasqueada e tava me moiando!” (risos) - “Mas eu lhe disse “troque de lugar” ... - “Trocá com quem se essa merda vem vazia?!!!” (risos)

Causos contados durante o Acampamento da Cavalgada da Chama Crioula, à noite, numa

roda de “borrachos” - Quaraí, zona rural, 09.09.98.

Seu Solon - Sabe quais são as três maravilhas de Dom Pedrito? É a caixa d’água cheia, pelo meio e vazia.

Barreto - Tinha um padre que morava em Dom Pedrito... Seu Solon - Ó!

Barreto - . . . e diz que ele rogou uma praga prá Dom Pedrito. Correram o padre de Dom Pedrito e ele; “Adeus terra dos coqueirais, vão prá puta que o pariu que eu aqui não volto mais.”

Gaúcho 3 - “Adeus Dom Pedrito querido, que eu não volto mais a tu, criei fenrugem nos dentes e tenho pelo no cu.”

Gaúcho 4 - Não, mas isso aí é tudo gauchismo. Tudo é côsas do homem gaúcho.

Gaúcho 3 - E

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gaúcho? E o gaúcho véio, me faleceu o homem! Tocava violão, tchê. Prá patroa lá em casa, pros guri. E morre o homem do violão. E ele pediu prá ser enterrado com o violão dele. E aonde botar o violão na hora de enterrar? Não cabia no caixão. E começou a viúva chorando... tentando ajeitar o violão dele. Aí resolveram; abriram as pemas dele e enfiaram o violão prá baixo, e coube, no meio das pemas dele, prá lá. E chega o compadre prá aconselhar a comadre. E a comadre vai e diz; “Eu sinto... eu sinto...” E chorava. E o compadre; “ Eu sei que a senhora sente, comadre, tudo bem, mas depois de tá feito, que se há de fazer. Bom, a senhora tem que se conformar, não é...” - “Não, mas é o cinto dele que tá com todo o dinheiro!” Tava no cinto

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dinheiro dele. A í tiraram o cinto do morto, tiraram o dinheiro, que senão ía... a viúva ia ficar sem dinheiro. A í ela tinha dois filhos, o Prazer e a Alegria, um casal de filhos. Aí que ela começou a chorar. E gritava; “ Se foi e me deixou com o Prazer e a Alegria e levou no meio das pernas o que mais me entretinha” , que era o violão dele. (risos) Essa foi bem mansinha.

Ban^eto - Não, claro!

Gaúcho 3 - Que senão espanta a moça.

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