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Cenário da produção do MOVA: Diadema e Mauá

CAPÍTULO 3 OS MOVA(s) DIADEMA E MAUÁ: UMA MESMA POPULAÇÃO

3.2. Cenário da produção do MOVA: Diadema e Mauá

No estudo do cenário, envolvendo Diadema e Mauá, esses municípios não podem ser tomados como espaços isolados do país e do mundo, longe das influências do sistema mais geral, capitalista, e das estruturas de poder que ultrapassam os seus territórios. Mas, ao mesmo tempo, esses mesmos municípios foram e são produzidos por forças e ações próprias desses lugares, dando-lhes conformações que os tornam peculiares na própria Região do ABC.

Região Metropolitana de São Paulo – RMSP

Diadema Mauá

Dentre os sete municípios do ABC, três deles, Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, juntamente com o município de São Paulo, transformaram-se nos pólos industriais mais importantes do país. O bucólico, de natureza rural, foi se restringindo aos limites próximos da Serra do Mar, especialmente nos municípios de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra e em espaços específicos de Santo André e São Bernardo do Campo. Tudo o mais passou a girar principalmente em torno das indústrias, do movimento do capital, que produziu enormes desigualdades no interior da Região, fazendo emergir com muita clareza o centro e a periferia, o pobre e o rico, como pólos de uma mesma lógica.

Assim, a região do ABC, apesar de ser o centro mais dinâmico da economia nacional, do ponto de vista territorial era vista como periferia urbana no contexto da metrópole paulistana e “só mais recentemente começou a desenvolver atividades de comércio e serviços anteriormente buscados em São Paulo, proporcionando-lhe maior autonomia”. (DANIEL, 2003,

p. 156).

Diadema emancipou-se de São Bernardo do Campo em 1959, quando a industrialização pesada já dava sinais de sua existência na região. Mauá emancipou-se de Santo André, em 1953, na passagem da industrialização restringida para a pesada. Ambas cresceram, em termos populacionais, muito mais do que os demais municípios do ABC, sob a

égide da industrialização pesada, porque para essas cidades afluíram enormes contingentes de migrantes atraídos pela possibilidade de trabalho na indústria e de famílias operárias em busca de terrenos mais baratos, sobretudo no período de 1950 a 1980 (HEREDA, ALONSO, 1996;

PMM, 2005a).

Os municípios de Diadema e Mauá cresceram de forma desordenada, sem infra-estrutura urbana mínima, altos índices de violência, descaso com a saúde, falta de moradia e péssimas condições de vida para a população pobre. Para o enfrentamento desses problemas, especialmente as administrações petistas, desencadearam políticas públicas na área social, de forma a atender demandas de moradores organizados em movimentos, por legalização da ocupação do solo e de infra-estrutura.

Nesse campo, em Diadema, ficaram famosas as ações dos moradores do Buraco do Gazuza e da Vila Socialista, em função da luta que travaram para ocupar e permanecer nos espaços ocupados (MANSO et al., 2005). Em Mauá, também existiram movimentos

importantes, tal como o da Comissão da Terra, que ganhou projeção nacional, em função das ações desencadeadas pelos favelados, em torno da urbanização da maior e mais violenta favela deste município (NAKANO, 1995).

Nesses dois municípios, a tentativa de organizar a ocupação do espaço urbano foi objeto de legislação em dois momentos específicos, um deles, na década de 70, auge da ditadura militar, fase de intenso crescimento da população, e em fins da década dos 90, fase em que a tendência de diminuição da migração já podia ser constatada33.

Esses municípios elaboraram seus Planos Diretores garantindo a participação da população, antecedendo a aprovação do Estatuto da Cidade34, em 2001, que dispõe sobre “normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental” para o país, garantindo a participação popular. O caso de Diadema é exemplar nesse sentido, pois nesta cidade o Plano Diretor foi aprovado em 1994, com a participação dos moradores locais.

Assim, em Diadema, ao invés de um único plano acabado, optou-se por uma flexibilidade na gestão da cidade, através das contínuas discussões nos conselhos populares e com segmentos organizados e da possibilidade de parceria através dos instrumentos de política urbana, numa tentativa de possibilitar a implantação de propostas compatíveis com a realidade da população. Desta forma, o planejamento urbano

33 Em Mauá, foi aprovado, em 1970, o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado e, em 1998, há a aprovação de outro Plano Diretor. Em Diadema, em 1973, foi aprovado o Plano Diretor Físico do Município de Diadema e, em 1994, o Plano Diretor do Município de Diadema.

em Diadema tem se configurado em um processo participativo, [...] possibilitando a construção diária da cidade com a participação de todos. (PREFEITURA MUNICIPAL DE DIADEMA, 1996a:24).

Fruto da intensa participação popular na cidade de Diadema, nasceu o MOVA local que se espraiou por cinco municípios do ABC, dentre eles Mauá, numa região marcada pela riqueza, quando comparada às demais regiões do país e por enormes desigualdades, quando comparados os seus municípios.

Apesar dessas diferenças e desigualdades, há que se ressaltar que a região pode ser caracterizada como tal, no sentido forte do termo, porque possui importante peso industrial, desde a década dos 60, e apresenta uma expansão considerável do setor terciário nos últimos anos; já na década de 80, 80% de seus moradores deslocavam-se intra-regionalmente; mais recentemente, na década dos 90, caracteriza-se como uma região político-administrativa, pois nela marcam presença inúmeras instituições de natureza regional, sejam elas do Estado e/ou da sociedade civil (DANIEL, 2001).

É no contexto de cada um dos municípios, tomados como territórios específicos, porque produzidos por seus atores, e no contexto da região, como território ampliado, que se deve entender o surgimento do MOVA no Município de Mauá, pois ele nasce do interior de um movimento regional que envolvia ações, não apenas no campo da educação, mas nos mais diferentes campos, dentre eles desenvolvimento econômico, infra-estrutura, ambiente urbano, identidade regional e estruturas institucionais, inclusão social.

O MOVA regional do ABC, surgiu em 1997, e no seu interior o da cidade de Mauá. Portanto, em momentos distintos, sob a égide de histórias distintas, apesar de terem surgido com apenas um ano de diferença.

O MOVA surge no ABC quando a taxa de analfabetismo no país apresenta tendência de queda. “Entre 1986 e 1997 a taxa de analfabetismo da população de 15 anos e mais de idade passou de 20% para 14,7%. Os valores para os anos de 1987, 1989, 1990, 1991, 1992, 1993 e 1995 foram respectivamente, 20,0%; 17,0%; 19,7%; 19,0%; 18,3%; 16,3% e 15,5%”. (IBGE, Censo Demográfico 1991 e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1986-1990, 1992-1993, 1995, dados não publicados).

De acordo com os resultados obtidos a partir dos Censos Demográficos, ao longo da década de noventa, observou-se pela primeira vez no país, uma queda no número absoluto de adultos analfabetos (15 anos e mais). Entre 1991 e 2000, a taxa de analfabetismo entre adultos foi reduzida em 6,5 pontos percentuais. Apesar do bom desempenho, (...) a redução na taxa de analfabetismo é uma tendência que já vinha sendo seguida, ao menos desde a década de quarenta,

tendo sido a década de 1950, o período em que apresentamos o melhor desempenho. (BARROS et al, 2005).

Tabela 26 – Taxa de analfabetismo por década (15 anos ou mais) Brasil Ano Taxa de analfabetismo 1940 56,0% 1950 50,5% 1960 39,6% 1970 33,6% 1980 25,5% 1990 20,1% 2000 13,6% Fonte: IBGE

No ano 2000, vale ressaltar que em todos os municípios do ABC as taxas de analfabetismo eram muito inferiores à do Brasil (conforme Tabela 27).

Tabela 27 – Taxa de analfabetismo por município do ABC, segundo a localização ano 2000

Municípios do ABC Taxa de analfabetismo % Urbana Rural

Diadema 6,8 0

Mauá 6,6 0

Ribeirão Pires 5,4 0

Rio Grande da Serra 8,4 0

Santo André 4,5 0

São Bernardo do Campo 4,9 11,9

São Caetano do Sul 3,0 0

Fonte: IBGE, 2000/INEP, 2000

Entretanto, há que se considerar que toda a Região do ABC tinha, à época do Censo, mais de dois milhões de habitantes, o que significa dizer que, apesar dos baixos percentuais relativos de analfabetismo, eles recaem sobre números absolutos elevados. Vale para o caso do ABC o mesmo raciocínio feito para o Estado de São Paulo. “Apesar de São Paulo ser o estado brasileiro com a terceira menor taxa de analfabetismo, devido à magnitude de sua população, acaba sendo, junto com a Bahia, um dos únicos estados com mais de 1 milhão de analfabetos (10% do total de analfabetos)” (BARROS et al, 2005).