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População e atendimento escolar no município de Santo André

CAPÍTULO 4 SANTOANDRÉ: O MOVA NA CIDADE EDUCADORA

4.1 População e atendimento escolar no município de Santo André

Com o objetivo de realizar uma diagnose sobre as ações do MOVA – Santo André, na sua relação educação e trabalho, é apresentado, inicialmente, uma análise do perfil demográfico e dos dados do atendimento escolar no município42.

Tal como afirma Spósito (2003) para o país, compreender o ABC Paulista, e a especificidade histórica de cada um dos seus municípios, exige esforços significativos pois, nas últimas décadas o país:

(...) experimentou mudanças modernizadoras, muitas vezes induzidas, que convivem com arcaísmos de práticas e instituições que alimentam relações de poder e valores enraizados em estrutura oligárquicas ainda não superadas, o que nos configura como uma ‘sociedade de história lenta’. Por essas razões, somos portadores de relações sociais que, no presente, traduzem datas e processos históricos diversos. Assim, convivem nos territórios, o velho e o novo, o tradicional e o moderno. Uma simultaneidade de ritmos históricos que pode ser verificada na composição demográfica do município de Santo André, conforme os dados da Tabela 31.

Tabela 31 - Taxas de incremento da população residente no município de Santo André – 1970, 1980, 1991 e 2000.

Município 1970 1980 Cresc.% 1991 Cresc.% 2000 Cresc.% Santo André 418.826 553.072 13,81 616.991 5,46 649.331 5,2

Fonte: Coordenadoria de Indicadores Sócio-Econômicos da PMSA.

Comparando-se os dados totais da população do município andreense nos anos da década de 70 com os das décadas de 80 e 90, percebe-se que, neste período, houve um aumento de população não desprezível. A partir da década de 90, há uma diminuição constante, o que revela desaceleração do ritmo de crescimento.

41 Na Gestão Celso Daniel/ João Avamileno, nos anos 1997-2000.

42 A Administração Municipal conta, desde os anos 80, com uma instância encarregada de registros estatísticos. Neste trabalho foram buscados os dados da Coordenadoria de Indicadores Sócio-econômicos da Prefeitura Municipal de Santo André, bem como os do Relatório de Pesquisa “O Direito por Educação Básica – estudo da demanda social e do atendimento público em uma micro-região urbana”, produzido por Sônia Maria P. Kruppa e ots.

Ainda, é preciso destacar uma característica marcante da composição demográfica de Santo André: a ocorrência de um processo de juvenilização de sua população, produto da chamada onda jovem43.

Os dados do censo populacional de 2000, atestam que, em Santo André, aquele fenômeno se manifesta de forma expressiva, conforme os dados da Tabela 32.

Tabela 32 - Total da população residente no município de Santo André, por faixa etária, anos 1991 e 2000.

Faixa etária (anos) População / 1991 População 2000

0 a 3 43.472 38.100 4 a 6 34.965 28.698 7 a 10 50.001 40.510 11 a 14 46.187 44.542 Sub/total (0-14) 174.625 151.850 15 a 17 31.806 35.572 Sub/total (0-17) 206.431 187.422 18 a 24 78.217 86.242 Sub/total (0-24) 284.648 273.664 25 a 29 50.015 54.767 30 a 39 102.965 105.008 40 a 49 72.314 89.760 50 a 59 48.834 59.072 60 a 69 31.849 38.463 70 – 79 13.917 21.291 80 ou mais 4.449 7.306 Total 616.991 649.331

Fonte: IBGE (Censos 1991 e 2000)

O município apresenta um conjunto populacional infanto-juvenil, na faixa dos 0-17 anos, de cerca de 187.422 habitantes, o que corresponde a 29% da população residente. Acrescidos os números do intervalo de jovens entre 18 a 24 anos, este percentual se eleva para 42%.

Embora os dados também indiquem um envelhecimento da população (2000), e uma diminuição no número de crianças e jovens, é possível afirmar que esse grupo de residentes (0-14 anos) constitui demanda prioritária para a escola de ensino básico. De outro lado, o crescimento constante nas faixas posteriores aos 30 anos é preocupante, por conta da redução de postos no mercado de trabalho, os dilemas do trabalho feminino acentuado e as dificuldades para a permanência de crianças e jovens no percurso da escolaridade básica.

43 Denominação utilizada pela Fundação SEADE, no estudo “20 anos no ano 2000”, 1998, segundo o qual os formuladores de políticas públicas pouco consideraram um fenômeno dos anos 80: a sociedade brasileira chegaria ao século XXI com o maior contingente jovem da sua história.

À situação até aqui descrita se soma o contingente de migrantes analfabetos ou pouco escolarizados que vieram para a região, em busca de trabalho, nos anos 60-70.

Desde o final dos anos 70, em Santo André, a política pública educacional realizou a cobertura do atendimento à educação escolarizada de crianças, adolescentes e jovens, a partir de uma perspectiva de ação que a dividia nos seguintes termos: a administração municipal e a rede de instituições privadas ou privadas-filantrópicas da sociedade civil foram progressivamente se responsabilizando pelo atendimento à demanda social por Educação Infantil (Creche e Pré-Escola) e a administração pública estadual se encarregava da cobertura da demanda por educação Pré-Escolar, Ensino Fundamental e Médio, bem como pelo ensino de natureza Técnico-Profissionalizante.

A partir da segunda metade da década de 80, este cenário passa por mudanças à medida que contínuos governos da administração local andreense criaram serviços ou programas de alfabetização de jovens e adultos, na modalidade Suplência das séries iniciais do Ensino Fundamental, e ampliaram o atendimento de Educação Infantil ao construírem, gradualmente, equipamentos públicos destinados ao atendimento da criança pequena - as creches Assim, administração municipal foi implantando equipamentos coletivos com o objetivo de atender à infância que se encontra na faixa de idade 0 a 6 anos - em creches - e equipamentos destinados à socialização do segmento infantil inserido no intervalo etário de 4 a 6 anos – em pré-escolas.

Simultaneamente a esta ação, os governos da rede estadual de ensino foram, gradativamente, diminuindo o atendimento nas classes destinadas à educação Pré-Escolar até eliminá-lo por completo na década de 90.

Em 1997, em Santo André, de forma alternativa ao Programa de Municipalização proposto pela Secretaria de Estado da Educação, a administração municipal expande e diversifica sua ação pública no setor da educação ao optar pela constituição de uma rede paralela de Ensino Fundamental, ampliando gradativamente o atendimento, a partir de 1998, nos equipamentos públicos municipais. Investimentos em reformas, ampliações, adaptações transformaram as então Escolas Municipais de Educação Infantil - EMEI's em Escolas Municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental - EMElEFs, realizando o atendimento à infância e adolescência, concentrado entre 04 a 10 anos.

O processo foi regulamentado pelo Decreto no. 14.146, de 27 de abril de 1998, e sobre os procedimentos adotados, a Secretaria de Educação e de Formação Profissional assim se expressou:

(...) o princípio fundamental da política educacional da Secretaria de Educação e Formação Profissional da PMSA é a inclusão de todos, mediante formas democráticas de acesso à escola e permanência. A compreensão de que o acesso à Educação Básica para nossas crianças, jovens e adultos é um direito inalienável e condição para o exercício de uma cidadania ativa é a referência para o conjunto de ações educacionais que vem sendo desenvolvidas pelo governo municipal. (PMSA/SEFP, 2000).

Além dessa ação de política educacional, o governo local andreense criou, ainda, a educação fundamental na modalidade Profissionalizante e implantou o programa e serviço de Educação Especial.

Almeida (2001), em estudo que trata das políticas públicas para a juventude em Santo André, afirma que este conjunto de ações revela a constituição de uma significativa e diversificada rede de equipamentos públicos municipais destinados a garantir direitos de crianças, adolescentes e jovens para gestar processos e quadros múltiplos e diferenciados de ação socializadora.

A infra-estrutura implementada se avolumava, se for levado em consideração que desde os anos 80 os governos da localidade andreense investiram recursos de diferentes ordens para constituírem redes de equipamentos culturais e de lazer, tais como bibliotecas, centros culturais, comunitários, poli-esportivos, parques temáticos, centro de referência da juventude, serviços de iniciação e/ou preparação profissional, que, potencialmente, complementariam ou dariam um decisivo suporte à ação socializadora desenvolvida pela educação escolar junto à infância, adolescência e juventude andreense.

Contudo, a partir de meados da década de 90, as políticas públicas voltadas ao atendimento desses segmentos sofreram alterações pela redução dos orçamentos públicos que acompanham a crise econômica que se instala no país e na região, na última década do século. Ainda, alterações no uso dos recursos públicos, consequência da implantação de políticas focais, como o Fundef (1995/96), bem como medidas políticas adotadas pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, tais como o Projeto de Reorganização da Rede Estadual (1995).

Os dados sinalizam que em Santo André, na década de 90, ocorreu um processo de universalização do direito de acesso a este segmento do Ensino Fundamental (1ª a 4ª série), pois em 2000, para um contingente populacional de 40.510 crianças, a soma total do atendimento oferecido pelas três dependências administrativas de ensino, foi de 47.583 matrículas (vide Tabela 33). A variação a maior, constatada entre o número total de matrículas e o total da demanda social existente, é um claro indicador da ocorrência e da

manutenção do histórico problema de fluxo escolar que marca a cultura escolar brasileira e nos parece que o mesmo ocorre em Santo André.

Tabela 33 - Total de alunos matriculados no Ensino Fundamental – 1ª a 4ª séries em Santo André, por dependência administrativa, 1996-2003.

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

Municipal _ _ 3.999 6.001 8.441 10.556 10.500 11.027

Estadual 46.964 44.625 39.758 34.480 29.992 26.833 25.504 25.576 Privada 10.101 *10.059 *9.813 *9.385 *9.150 *9.008 *8.738 *9.011 Total 57.065 54.684 53.570 49.866 47.583 46.397 44.742 45.614 *Está incluso o atendimento das Privadas Filantrópicas

Fonte: Censo Escolar – INEP

Porém, quando se verifica o número de alunos matriculados nas séries iniciais do Ensino Fundamental, na modalidade EJA (redes municipal, estadual e privada) constata-se, que no período 1997-2000, o total de matrículas apresenta variações desprezíveis ano a ano. A Tabela 34 apresenta esses dados.

Tabela 34 - Alunos matriculados na EJA – Ensino Fundamental, em Santo André, por dependência administrativa, 1997-2003

Dept. Adm. 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

Municipal 1.848 3.093 3.240 2.903 2.952 2.641 4.715 Estadual 7.045 8.346 6.806 5.579 5.490 4.618 4.540

Privada 1.747 1.473 1.147 750 852 528 514

Total 10.640 12.912 11.193 9.232 9.294 7.787 9.769

Fonte: Censo Escolar – INEP

Os dados apontam para uma relação dos jovens e adolescentes com a escola de Ensino Fundamental caracterizada, em princípio, como de inclusão precária, o que colocaria sob suspeição a indicação de que no município de Santo André há universalização do Ensino Fundamental para crianças, jovens e adultos.

Tabela 35 - Taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais, por categorias de gênero, localização, raça/cor e rendimento salarial. Santo André, 2002.

Taxa

Gênero Masculino 3,4

Feminino 5,4

Localização Urbana 4,5

Rural 0

Raça/Cor Branca e Amarela 3,4 Parda e Negra 7,5 Rendimento Domiciliar em salários mínimos Até 1SM 13,0 Mais de 1SM até 3SM 10,4 Mais de 3 SM até 5 SM 5,8 Mais de 5 SM até 10 SM 3,7 Mais de 10 SM 1,5

Fonte: IBGE, 2000; INEP, Censo escolar, 2000.

Tabela 36 - Número médio de séries concluídas pela população de 15 anos ou mais no município de Santo André, 2000.

Número médio de séries concluídas da população de 15 anos ou mais

7,93

Fonte: IBGE, 2000; INEP, Censo Escolar, 2000.

Os dados das Tabelas 35 e 36, que apresentam as taxas de analfabetismo e do número médio de séries concluídas pelos andreenses acima de 15 anos de idade são indicadores de como as questões de ordem geracional, de gênero, de etnia e rendimento domiciliar salarial impactam a conquista do direito à educação por esses segmentos da população.