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MOVA – MAUÁ – no contexto da produção da Região do ABC

CAPÍTULO 3 OS MOVA(s) DIADEMA E MAUÁ: UMA MESMA POPULAÇÃO

3.4. MOVA – MAUÁ – no contexto da produção da Região do ABC

A Região do ABC se vê profundamente atingida pela crise econômica com o “esgotamento do modelo de industrialização por substituição de importações, selado nos anos 80, (que) produziu uma situação de crise da indústria local, com importantes perdas no nível de emprego de uma matriz industrial ‘envelhecida’ (herdeira ainda da segunda revolução industrial)”. (DANIEL, 2001, p. 452).

Na tentativa de enfrentamento desta crise, atores regionais se constituem na busca de saídas. A Região já contava com atores importantes como a Diocese da Igreja Católica, o Diário do Grande ABC, jornal regional, sindicatos regionais, dos químicos, dos metalúrgicos, dos motoristas.

A partir do fim dos anos 80, multiplicam-se as iniciativas, nos âmbito estatal e da sociedade, que apontam para o fortalecimento institucional do ABC Paulista.

Neste contexto, no interior da Câmara Regional (Capítulo 2) foram constituídos grupos de trabalho, um deles de educação, do qual participava o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, propositor da criação do MOVA nos sete municípios da Região. “Iniciou-se, então, um processo de reuniões com os secretários de educação das prefeituras, que resultou em 3 de novembro de 1997, no acordo (...) segundo o qual se constituiria um MOVA em cada cidade e se organizaria o MOVA Regional”35. (MOVA REGIONAL, 1999, p. 12-13).

Nesse quadro, foi criado, em 28/11/1997, o MOVA em Mauá, dois anos após o surgimento do mesmo movimento em Diadema, mas diferentemente deste município, como parte de um conjunto de ações de caráter regional, desencadeado no sentido do enfrentamento da crise econômica.

Dada esta origem, não foram encontrados registros no município referentes à institucionalização do MOVA Mauá, diferentemente de Diadema. Na fala dos gestores do MOVA Mauá (2004), há fragmentos sobre a história, alguns sobre “o jeito petista de governar”, outras sobre o alto índice de analfabetismo na cidade.

Em 97 (começou o MOVA em Mauá) devido o alto índice de analfabetismo na cidade, como no Brasil também. Se pensou em lançar um movimento de alfabetização que é o MOVA. O nosso MOVA foi lançado em dezembro de 97, nós iniciamos em 98. [...] O MOVA já existia, como vocês mesmas já sabem, em Diadema, Rio Grande do Sul ..., o município de São Paulo. Acho até que São Paulo veio primeiro na questão do MOVA. [...] A gente achou que dava pra implantar em

35 É importante destacar que não houve a adesão do Governo do Estado de São Paulo, que não se comprometeu com o projeto e não assinou este acordo.

Mauá, seguindo, vendo as experiências das outras cidades. (G, coordenadora técnica pedagógica).

Quando do surgimento do MOVA–Mauá, segundo depoimentos de coordenadores, a então Secretária da Educação incentivou a participação dos atores locais. No entanto, a história se perdeu.

Como há poucos elementos sobre a história do MOVA–Mauá, há uma certa dificuldade para reconstituí-la. Parece não ter se constituído um elo entre a participação dos atores regionais e os atores locais, no âmbito deste município, quando da instituição do MOVA. Isso não quer dizer, no entanto, que não houvesse na cidade, à época, atores coletivos ocupando a cena pública. Um exemplo é a Comissão da Terra, importante movimento de urbanização da maior favela de Mauá, que ganhou projeção nacional. Outro exemplo, são as várias associações de moradores organizadas em diversos bairros, em diferentes épocas, que por meio de suas ações contribuíram para a alteração do cenário da cidade ao reivindicarem transporte coletivo, água e esgoto, asfalto, coleta de lixo, equipamentos educacionais e de saúde, como as Sociedades Amigos do Jardim Zaíra e do Parque das Américas, famosas no âmbito local pela forte presença na cena pública. (NAKANO, 1995; CEPS, 1981).

Eu não posso afirmar porque eu não fazia parte dessa discussão naquele momento. Apesar de eu estar na Secretaria, nós cuidávamos do EJA especificamente e às discussões para a implantação do MOVA, nós não tínhamos acesso. Até porque eu não fazia parte da equipe de coordenação naquela ocasião. (ME, supervisora técnica).

Eu dava aula no Clarisse, para jovens e adultos, e na época, quando começou a montar a equipe do projeto MOVA, até veio uma pessoa pra apoiar a gente, uma pessoa que trabalhava já em Diadema e tinha experiência lá. (G, coordenadora técnica pedagógica).

Entre as decisões na esfera regional, como a da instituição do MOVA – ABC na Câmara Regional, e a implementação de ações locais, parece haver um vácuo que talvez possa ser explicado pela qualidade dos atores, não no sentido de que um possa ser melhor do que outro, mas pelo fato de que os atores que participam da nova institucionalidade regional já não atuam diretamente no âmbito local. Trata-se de atores com características muito diferentes. Alguns deles têm a região como campo de ação; este é caso do Fórum da Cidadania do Grande ABC. Outros têm atuação num campo específico, não necessariamente recortado pelo regional, como as universidades, as escolas técnicas de nível médio. Outros, ainda, atuam na esfera estadual e na federal, como os representantes do Governo do Estado de

São Paulo, os deputados federais e estaduais. Outros, ainda, têm no município seu locus de ação, como os prefeitos e vereadores.

Assim, na nova institucionalidade regional, atores de naturezas diversas se encontram e devem pensar e decidir sobre os rumos da região. Resta o dilema de como essas decisões impactam o local, de como elas aí se concretizam. No caso do MOVA-Mauá, parece haver um vácuo que precisa ser preenchido. Diferentemente de Diadema, o MOVA Mauá parece não ter uma clara simbiose no sentido da produção da cidade e nem da Região.