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Um percurso para a análise dos MOVA(s) locais: Mauá e Diadema

CAPÍTULO 3 OS MOVA(s) DIADEMA E MAUÁ: UMA MESMA POPULAÇÃO

3.1. Um percurso para a análise dos MOVA(s) locais: Mauá e Diadema

Inicialmente, por meio de breve apresentação, desenha-se o percurso realizado para a consecução do estudo de caso dos MOVAs Diadema e Mauá. Chama-se atenção para a disponibilidade de todos os entrevistados em fornecer as informações solicitadas e as diferenças relativas à existência de material no caso dos municípios estudados. Diadema, rico em registros feitos e farto de dados nas entrevistas, diferentemente de Mauá.

Em seguida, apresenta-se o cenário dos MOVAs locais, apontando para as similaridades entre os dois municípios (Mauá e Diadema), a partir da análise de dados de natureza estatística. Além disso, são apresentadas, também, as diferenças existentes entre os municípios naquilo que diz respeito à organização da sociedade civil, revelando a existência do território, como cidade, no caso do ABC, e da região, no caso de Mauá. Neste último caso, desfocando o próprio município.

Em Diadema, verifica-se a presença de inúmeros grupos organizados em torno das mais diferentes temáticas, com grande visibilidade em função de suas ações voltadas para

32 Estatuto de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) do Movimento de Alfabetização Regional do ABC, 2003.

intervir nas políticas do município, numa simbiose de produção das identidades de atores específicos com a identidade da cidade.

Em Mauá, diferentemente, encontram-se grupos organizados na sociedade civil; mas eles têm menor visibilidade no movimento de criação do MOVA local, e o município termina por ficar subsumido ao território regional, muito mais como marca do que espaço de participação real de seus moradores.

Essas características são importantes no quadro da investigação para perceber como os serviços de jovens e adultos, especialmente o MOVA, nasceram e se desenvolveram em territórios com contornos diversos, marcados pela presença diferenciada dos atores da sociedade civil organizada.

Dando continuidade ao estudo, aborda-se a história dos MOVAs Diadema e Mauá. Aqui, o cenário deixa de ser pano de fundo. O espaço geográfico é tomado como território porque fruto da ação de seus atores. Nesse sentido, a cidade de Diadema se revela, numa clara simbiose com o surgimento do MOVA, dentre tantos outros movimentos. No caso de Mauá, é a região que vem à tona e a cidade fica subsumida ao regional.

No caso do MOVA-Diadema, são analisadas as três fases de sua história: a primeira delas, em Diadema, articulada com o movimento da sociedade civil, numa clara “ação de guerra”, por isso, emergencial, e não como uma política pública incrustada na estrutura administrativa e colada à produção da identidade do município; na segunda fase, o descolamento da sociedade civil e o confinamento no executivo municipal; na terceira fase, a manifestação das tensões em torno da institucionalização do movimento.

No caso de Mauá, o MOVA surgido sob a marca regional, revela um total distanciamento dos atores locais, no âmbito da cidade.

Finalmente, uma tendência de esvaziamento do MOVA com o surgimento do Brasil Alfabetizado.

Focaliza-se, ainda, a concepção pedagógica dos MOVAs e mais uma vez Diadema revela com clareza a sua proposta, marcadamente freiriana, com elementos construtivistas, diferentemente de Mauá que, perdida em meio à região do ABC, preocupa-se com a auto-estima dos alfabetizandos, numa vertente psicologizante da ação. Nesta parte do texto, são trazidos os gestores do MOVA, como sujeitos importantes do processo porque responsáveis pela implementação da proposta. Também estes sujeitos são muito diferentes em cada um dos municípios (origens, trajetórias, ações, participação).

A questão da participação, marca do MOVA desde a sua origem no município de São Paulo, na gestão petista 1989-1992, é também objeto de análise. As diferenças entre Mauá e

Diadema são visíveis e inequívocas. O próprio registro da memória de participação é um de seus claros sinais. Além disso, chama-se atenção para a importância do papel dos executivos municipais, seja pela destinação dos recursos ou pela alocação de pessoal. Este ator ocupa o espaço da fratura entre o Estado que não assume mais, na sua totalidade, a política pública, e a sociedade civil que vai deixando de aderir ao movimento de forma mais incisiva. Assim, o MOVA vai se transformando numa política, no sentido lato do termo, empobrecida, sem encontrar exatamente o seu lugar.

Finalmente, os jovens são trazidos à tona. Como não há dados estatísticos disponíveis, não se pode dizer que haja processo de rejuvenescimento dos alunos. No entanto, pode-se afirmar que o percentual de jovens atendido é pequeno, quando comparado à totalidade de pessoas que freqüentam o MOVA nos dois municípios. Há claramente a predominância da presença das mulheres, mas, é preciso refletir com maior profundidade sobre uma constatação: os poucos jovens que freqüentam o MOVA, são claramente os “jovens sem voz”. Eles não participam da vida cidadã das cidades, menos ainda da região. Têm uma vida marcada pelas oscilações, tanto em termos de espaço, quanto em termos de escolaridade e trabalho. Trata-se de jovens sem chão, de histórias em pedaços, sem voz. O MOVA não tem sido uma ação capaz de oferecer suportes que garantam a eles ter voz como cidadãos. Eles desvalorizam o MOVA, apesar de produzirem laços afetivos neste espaço.

À guisa de conclusão, pode-se dizer que o MOVA, que poderia revelar uma rica ação na tentativa de solução de um problema histórico no Brasil, o do não direito à escolaridade de jovens e adultos, com a participação da sociedade civil e do estado, terminou por se transformar na versão empobrecida do Brasil Alfabetizado, deslocando a importante presença dos municípios para o território nacional, perdendo, nesse deslocamento, a participação dos atores locais.

No empobrecimento do MOVA, os municípios se encontram e os jovens seguem sem encontrar o seu lugar neste movimento.