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A CENTRALIDADE DA VALIDAÇÃO

Precisamos aprender a chorar pelo flagelo, não simplesmente curá-lo. – MIGUEL DE UNAMUNO

O conceito de emoção compartilhada e sofrimento faz parte do que o filósofo e novelista espanhol Miguel de Unamuno (1921/1954) descreveu em um livro intitulado O sentimento trágico da vida. Contrastando a abordagem da racionalidade e do pragmatismo com a experiência do sofrimento compartilhado – e a inevitabilidade deste na vida –, Unamuno contou a história de um jovem (representando a racionalidade e o pragmatismo) que se confrontava com um homem velho (representando a visão trágica). O velho está sentado à beira da estrada, chorando. O jovem diz: “Velho, por que você chora?”. O homem responde: “Meu filho morreu. Eu choro a morte do meu filho”. O jovem, em sua racionalidade, responde: “Mas chorar de nada serve. Seu filho está morto”. E o velho responde: “Eu choro precisamente porque chorar de nada serve. Precisamos aprender a chorar pelo flagelo, não simplesmente curá-lo”. Unamuno acreditava que a vida não se trata apenas de solução de problemas, de utilidade ou simplesmente racionalização do inevitável sofrimento dos seres humanos. Para ele, o “sentimento trágico” é uma visão do mundo que reconhece que coisas terríveis acontecem, que elas podem ser compartilhadas e testemunhadas, que a catarse faz parte de ser uma testemunha das dificuldades que cada um de nós irá experimentar e que existe nobreza nos sentimentos de estranhos. Tragédia, de acordo com Unamuno, não é pessimismo, tampouco é taciturna. É um reconhecimento de que choramos porque as coisas nos importam e que gostamos de saber que não estamos sozinhos.

Validação é o reconhecimento de que, embora seja muito difícil sofrer, é ainda pior sofrer sozinho. Na terapia focada no esquema emocional, o terapeuta reconhece a natureza essencial da validação: na relação terapêutica (e em todas as outras relações significativas), a solução de problemas pode começar com o compartilhamento dos problemas e com o reconhecimento de que a pessoa que sofre também precisa se sentir ouvida, compreendida e, por fim, cuidada. A validação é o meio pelo qual o profissional irá ajudar a desenvolver o sentimento de segurança emocional do paciente. Ou seja, o cliente pode acreditar: “Minha vulnerabilidade está segura aqui. Eu posso confiar a esta pessoa os meus ​sentimentos. Esta pessoa quer me conhecer, cuidar de mim e até me proteger”.​ A validação é um componente fundamental de todo vínculo. As pessoas que são vulneráveis querem seus problemas resolvidos, mas também procuram segurança e compreensão.

Essa era a intenção de Unamuno ao falar em chorar pelo flagelo, não simplesmente curá- lo. Por certo, ninguém vai ter a expectativa de que um terapeuta literalmente chore por um paciente ou que sofra pelos mesmos sentimentos que este compartilha. Porém, se o cliente estiver falando sobre seus sentimentos, chorando e expressando-os abertamente, então o profissional precisa criar um sentimento de que o que é dito está sendo verdadeiramente ouvido – que as emoções foram registradas por ele, que existe algum espelhamento, um reflexo, alguma conexão. O paciente vai querer acreditar que o terapeuta tem alguma ideia sobre como é sentir o que ele está sentindo, e que esses sentimentos são respeitados. Uma

“discussão” rápida ou fácil do conteúdo do que está sendo dito pode comunicar: “Precisamos nos afastar dos nossos sentimentos o mais rápido que pudermos”. Mas dar ao paciente tempo e espaço para expressar as emoções, mesmo para organizar o que está sendo sentido – em outras palavras, dar oportunidade para “deixar as emoções acontecerem” – comunica que “Seus sentimentos têm importância. Sua experiência é importante. Eu tenho tempo para você. Eu estou aqui à sua disposição”. Ninguém quer ser apressado para expressar seu sofrimento. A pessoa deseja ser ouvida – e cuidada. Compartilhar o próprio sofrimento é confiar na outra pessoa.

Este capítulo examina o que é validação – e o que não é. Examina algumas falsas concepções comuns que pacientes e terapeutas têm sobre o conceito, bem como as formas pelas quais eles podem ficar presos à busca de validação com exclusão da mudança. Assim como a terapia envolve aceitação do que é dado e a possibilidade de mudança, a validação envolve reconhecimento e respeito dos sentimentos e significados do momento presente e a exploração de novas formas de enfrentamento, interpretação e sentimentos. É essa dialética – uma aparente contradição para alguns – que pode conduzir a impasses no processo de mudança.

O QUE QUEREMOS DIZER COM “VALIDAÇÃO”?

“Validação” (encontrar verdade no que sentimos e pensamos) é o ponto de apoio entre “empatia” (reconhecer o sentimento do outro) e “compaixão” (sentir com e por outra pessoa, importar-se com o sofrimento dela e estender-lhe sua bondade) (Leahy, 2001, 2005c, 2011b). Muitos anos atrás, Carl Rogers (1951) descreveu as qualidades da “aceitação incondicional positiva” – uma habilidade do terapeuta de refletir compreensão e aceitação dos sentimentos de um paciente, de forma a criar um ambiente emocionalmente seguro para a mudança. No modelo do esquema emocional, validação inclui aceitação positiva incondicional, mas vai mais além: abrange uma consideração do que significa invalidação para um indivíduo, os padrões para validação do sujeito e as consequências de ser invalidado.

Quando tenho empatia com você, sou capaz de identificar o sentimento que está tendo – por exemplo: “Parece que você está se sentindo triste e solitário”. Quando eu valido você, não só identifico seu sentimento, mas também comunico que compreendo as razões pelas quais está se sentindo dessa maneira: “Eu posso ver que você está triste e solitário, e entendo que isso faz sentido, dada a perda do relacionamento e o quanto significa para você se conectar com pessoas com quem se importa”.

Encontrar a “verdade” nos sentimentos de outras pessoas – mesmo que essa verdade envolva pensamentos “distorcidos” ou conjuntos de regras “tendenciosas”, ou mesmo se o sofrimento de outras pessoas resultou do seu próprio orgulho ou ciúme – nos permite, como ouvintes, testemunhar o fato de que o sofrimento de outras pessoas significa alguma coisa para nós. Validação tem a ver com significado, e ninguém jamais quer sentir que é a única pessoa que consegue entender aquele significado. Os significados devem ser compartilhados e compreendidos pelos outros; eles são a base da conversa. É por isso que as pessoas se esforçam para tornar claros os seus significados. É por isso que elas dizem: “Você entende o que eu quero dizer?”. Na validação, nós, ouvintes, somos as testemunhas que entendem a “verdade” de quem está falando e somos afetados pelo seu sofrimento. Para as pessoas que estão compartilhando o seu sofrimento, não é suficiente que simplesmente compreendamos o

conteúdo do que está sendo dito; não basta parafrasear ou repetir literalmente o que nos contaram. Elas vão querer algo mais: podem querer saber se entendemos “como é estar passando por isso”. Validação não é simplesmente um registro dos “fatos” (ou seja, “Isto é o que aconteceu”), mas inclui algum sentimento de que um ouvinte compreende como foi uma experiência, qual foi a sensação e o que significou. Ela transmite a ideia de que o ouvinte consegue imaginar como seria para ele ter tal experiência, ficar no lugar do outro. É uma união temporária de mentes, abolindo a barreira entre o self e o outro.

Uma pessoa pode expressar emoções diretamente (falar sobre sentimentos, chorar, reclamar, descrever, se alegrar) –, mas, se essa expressão for ignorada, se não for ouvida, refletida, compreendida, cuidada ou experimentada de alguma forma pelo ouvinte, e receber um significado compartilhado, então ela não levou à conexão que a validação proporciona. A validação não envolve meramente o registro de uma expressão (“Eu vejo que você está abalado”). Ela é responsiva ao que é ouvido: ouve o sentimento e o significado, respeita o momento em que a pessoa está. A validação é parte do sistema de apego, isto é, compartilha elementos com o processo de um cuidador que pega um bebê no colo quando ele chora. Demonstra conexão; demonstra cuidado. Dá ao indivíduo que fala o sentimento de que “Você me escutou. Entende como eu me sinto”. A validação cria um ambiente emocional seguro – onde o sofrimento (ou alegria) daquele que fala é respeitado, o significado é compreendido, e o indivíduo já não se sente mais sozinho.

TEORIA DO APEGO E VALIDAÇÃO

Bowlby (1969, 1973) e Ainsworth, Blehar, Waters e Wall (1978) propuseram que os bebês têm predisposição inata para formar e manter apego a uma figura única e que interrupções no vínculo de apego ativarão sistemas comportamentais que procuram finalização do ciclo até que o apego esteja garantido. O modelo ecológico de apego de Bowlby destacou as implicações evolutivas do apego no estabelecimento da proximidade com os adultos que podem proteger os bebês, alimentá-los e socializá-los em comportamentos apropriados, assegurando, assim, a sua sobrevivência. Os teóricos do apego elaboraram mais esse modelo para enfatizar a importância que tem, para um bebê ou criança, estabelecer um sentimento de segurança no apego – não simplesmente proximidade (Sroufe​ &Waters, 1977). Essa segurança implica a previsibilidade da responsividade do cuidador à criança.

Bowlby propôs que a segurança (ou insegurança) no apego é estabelecida por meio do desenvolvimento de um “modelo funcional interno”, ou representação cognitiva, de uma figura de apego confiável (ou não confiável). De modo específico, um modelo funcional interno para um bebê seguramente apegado inclui a confiança de que o cuidador irá responder ao choro de angústia, será responsivo para acalmá-lo por meio de interações recíprocas e será previsível ao proporcionar interações positivas (em vez de punitivas). Uma maior responsividade do cuidador às necessidades expressas pelo bebê estabelece os fundamentos para uma representação mais segura do funcionamento no mundo (Feeney & Thrush, 2010; Mikulincer et al., 2001). Saber que a figura parental responde com atenção ao sofrimento do bebê é começar a acreditar que o mundo é previsível e seguro. O pressuposto que orienta a teoria do apego é que este modelo funcional interno – estabelecido no início da infância – afetará experiências posteriores de apego com outros indivíduos na vida da pessoa.

É esta responsividade, conforme descrita por Bowlby e outros, que marca as bases iniciais dos esquemas de validação.

Ainsworth e seus colegas e sucessores diferenciaram quatro estilos de apego: “seguro”, “ansioso”, “evitativo” e “desorganizado” (Ainsworth et al., 1978; De Wolff​ & van IJzendoorn, 1997). Outros sistemas de classificação que foram empregados diferenciam três tipos: “seguro”, “evitativo” e “ambivalente” (Troy & Sroufe, 1987; Urban, Carlson, Egeland, & Sroufe, 1991). Pesquisas sobre estilos sugerem que o apego na primeira infância é preditivo do funcionamento social na infância posterior e no início da idade adulta – especificamente, relações com os pares, depressão, agressão, dependência e competência social (Ainsworth et al., 1978; Arend, Gove, & Sroufe, 1979; Cassidy, 1995; De Wolff & van IJzendoorn, 1997; Elicker, Englund, & Sroufe, 1992; Englund, Kuo, Puig, & Collins, 2012; Kerns, 1994; Urban et al., 1991). Os adultos que se classificam como “seguros” descrevem sua experiência precoce com seus cuidadores como de responsividade às emoções (Hazan & Shaver, 1987). Embora experiências de apego possam ter implicações de longo prazo, também é possível que haja diferenças genéticas nos estilos de apego relacionados a traços de personalidade herdados (Donnellan, Burt, Levendosky, & Klump, 2008). A importância da experiência de apego e responsividade é um componente central da teoria da mentalização conforme desenvolvida por Fonagy, Bateman e outros (p. ex., Bateman & Fonagy, 2004; Fonagy, 1989).

A capacidade de representar os estados mentais do self e dos outros é um processo recíproco de reflexão e aprendizagem, de acordo com a teoria da mentalização, e é um componente importante da autorregulação. Essas dinâmicas do apego precoce são vistas pelos teóricos da mentalização como centrais para a emergência do transtorno da personalidade borderline e outras formas de psicopatologia.

Argumenta-se aqui que a validação em relações significativas é reflexo de questões de apego. Primeiro, no processo de formação e manutenção do apego durante o início da infância, os rudimentos da validação incluem uma responsividade do cuidador à angústia da criança, o que reforça suas representações mentais de que “Meus sentimentos fazem sentido para os outros” e “Os outros me escutam”. Se a criança possui um modelo funcional de que “Minha figura de apego não é confiável, rejeita ou é indiferente”, então os esquemas problemáticos se desenvolverão sobre validação e invalidação. Por exemplo, o modelo operacional “Meus sentimentos não têm importância para os outros” levará a um sentimento continuado de que “As pessoas vão me invalidar”, “Todos vão ser indiferentes comigo” e “Meus sentimentos são experimentados sozinhos e sem o apoio de outros”.

Segundo, a resposta reconfortante dos sentimentos da criança por parte​ do cuidador a encoraja a acreditar: “Meus sentimentos de angústia podem ser acalmados”. De início, esse reconforto ocorre por meio da atenção e do reasse​guramento do cuidador, mas é posteriormente internalizado pela criança em autotranquilizações e autoafirmações otimistas. Tais afirmações acabam se tornando um modelo funcional interno – uma representação interna de que “Meus sentimentos fazem sentido e podem ser acalmados”. Entretanto, se o modelo funcional interno é que “Meus sentimentos não serão acalmados”, então esquemas emocionais negativos podem ser criados e ativados: “Meus sentimentos vão durar indefinidamente”, “Meus sentimentos estão fora de controle” ou “Meus sentimentos são perigosos”.

Terceiro, a comunicação dos sentimentos da criança aos cuidadores se torna uma oportunidade não só para expressar sentimentos, mas para o cuidador associar estados emocionais a eventos externos que “causam” os sentimentos (p. ex., “Você está incomodado porque seu irmão lhe bateu”). Essa tentativa por parte do cuidador de compreender a causa dos sentimentos da criança e compartilhar isso com ela também pode auxiliá-la na diferenciação desses sentimentos (“Parece que você está irritado e magoado”) e na construção de uma teoria da mente que possa ser aplicada a si e aos outros. De fato, sem uma teoria adequada da mente, a criança será prejudicada na demonstração de empatia, validação e compaixão com os outros – e será incapaz de acalmar os sentimentos de outras pessoas. Além disso, sem uma teoria adequada da sua própria mente e emoções, o indivíduo será prejudicado no reconhecimento, na diferenciação e no controle dessas emoções.

Os pacientes em terapia entram na relação terapêutica com diferentes estilos de apego adulto – seguro, ansioso, evitativo e desorganizado, na tipologia de Ainsworth e seus seguidores. O estilo de apego ansioso, caracterizado por comportamento grudento e necessidade de reasseguramento, pode resultar de temores, bem como causá-los, de que não será obtida validação. Indivíduos com estilo de apego ansioso podem ter crenças idiossincráticas sobre validação (p. ex., “Você tem que sentir o que eu sinto para me compreender”) e temer que o terapeuta seja crítico ou se retraia. No entanto, indivíduos ansiosos ainda irão procurar validação e eventual apego ao terapeuta. Em contraste, o estilo de apego evitativo será refletido na desconfiança e distância; esses pacientes evitam o contato mais próximo e a abertura na relação terapêutica – como fazem em outras relações. Tais indivíduos podem evitar decepções tendo menos expectativas e evitar a rejeição compartilhando menos. Os pacientes com um estilo de apego desorganizado podem ter dificuldade em identificar necessidades – ou podem acentuar a expressão delas por medo de não serem ouvidos e, portanto, as necessidades nunca serão atendidas. Conflitos nas primeiras experiências de apego podem resultar em indecisão entre a busca de validação (frequentemente por meio da escalada das demandas, queixas ou expressão emocional) e a desconfiança da validação (já que a figura de apego é vista como imprevisível).

METAEMOÇÃO E VALIDAÇÃO

Conforme mencionado em capítulos anteriores, John Gottman e seus colegas propuseram que os pais diferem em suas crenças e seus valores quanto à experiência e à expressão emocional, o que os autores descrevem como “filosofias de metaemoção” (p. ex., Gottman et al., 1996). Por exemplo, alguns pais veem a experiência e a expressão de emoções “desagradáveis” de seus filhos – como raiva, tristeza ou ansiedade – como eventos negativos que devem ser evitados. Tais emoções devem ser suprimidas ou evitadas, e somente aquelas positivas ou neutras são toleradas. Essas visões emocionais negativas são comunicadas por meio de interações nas quais um dos pais é indiferente, crítico ou sobrecarregado pelas emoções do filho. Por exemplo, um pai indiferente pode dizer: “Isto não é grande coisa. Você vai superar”; um genitor crítico pode dizer: “Você está agindo como um bebê grande. Cresça”; e um pai sobrecarregado pode dizer: “Eu já tenho meus próprios problemas, então não posso cuidar dos seus”. Em qualquer um destes casos, as emoções do filho são invalidadas, ignoradas e marginalizadas.

Em contraste com tais estilos problemáticos de socialização emocional, Gottmann e colegas (1996) identificaram um estilo de “coaching emocional” que implica a capacidade de reconhecer mesmo baixos níveis de intensidade emocional, de usar até mesmo emoções “desagradáveis” como oportunidades para intimidade e apoio, auxiliar uma criança a nomear e a diferenciar emoções e se engajar na solução de problemas com a criança. O genitor que faz coaching emocional se parece muito com o genitor que usa a abordagem centrada no cliente de Rogers, com aceitação incondicional positiva, aceitação e exploração; acrescentada a essa escuta reflexiva e empática, contudo, está a disposição para diferenciar e nomear várias emoções, ao mesmo tempo também sugerindo que a criança possa utilizar a solução de problemas para enfrentar dificuldades. Os pais que adotam o estilo de coaching emocional têm maior probabilidade de ter filhos que serão capazes de acalmar as próprias emoções. Ou seja, o coaching emocional auxilia na autorregulação emocional.

Além do mais, filhos de pais que usam coaching emocional são mais eficazes nas interações com seus pares, mesmo quando o comportamento apropriado envolve a inibição da expressão emocional. Assim, esses filhos são mais desenvolvidos na “inteligência emocional” – sabendo quando se expressar e quando inibir a expressão, bem como sabendo como processar e regular as próprias emoções (Eisenberg et al., 199; Eisenberg & Fabes, 1994; Mayer & Salovey, 1997; Michalik et al., 2007). O coaching emocional não reforça simplesmente um estilo catártico nas crianças; ao contrário, lhes permite identificar, diferenciar, validar, se autoacalmar e resolver problemas. Auxilia na teoria da mente relativa à emoção. Um terapeuta com foco no esquema emocional ajuda o paciente a identificar experiências de invalidação atuais e passadas, ao mesmo tempo auxiliando-o a experimentar validação na relação terapêutica. Entretanto, como muitos pacientes (se não a maioria) experimentaram respostas de indiferença, punitivas e desdenhosas quando buscaram validação dos outros, o terapeuta ajudará o paciente a focar no que a experiência de invalidação significou no passado (p. ex., “Minhas emoções são um fardo”) e por que as tentativas de validação na relação terapêutica atual podem parecer fracassar (p. ex., “Você está ficando do lado deles”). POR QUE A VALIDAÇÃO É IMPORTANTE?

Conforme indicado no Capítulo 3, nossa pesquisa indicou que a invalidação foi um preditor importante de depressão (Leahy, Tirch, & Melwani, 2012) e que, entre as 14 dimensões do esquema emocional, baixa validação foi o melhor preditor de atrito conjugal. Também foi o principal preditor de abuso de álcool e outras substâncias, e foi o terceiro melhor preditor de personalidade borderline.​ A validação estava relacionada a 12 das outras 13 dimensões dos esquemas emocionais. Uma análise de regressão múltipla indicou que os melhores preditores de validação entre as outras dimensões eram culpa, duração e incompreensibilidade. Isto é, as pessoas que achavam que eram validadas tinham menos probabilidade de culpar os outros, bem como de acreditar que suas emoções iriam durar indefinidamente e eram incompreensíveis. Assim, a validação parece ser um componente central dos esquemas emocionais, da psicopatologia e das relações interpessoais.

Minha própria experiência como terapeuta reflete a importância da validação – e do seu fracasso. Alguns anos atrás, armado das minhas técnicas de terapia cognitiva, me encontrei em um impasse ao trabalhar com um homem muito inibido que estava tentando imaginar o que fazer com seu trabalho e suas relações íntimas. Enquanto usava uma técnica após a outra

para identificar seus pensamentos automáticos, classificá-los, examinar os custos e benefícios e considerar as evidências, descobri que ele se retraía cada vez mais com relação a nossa interação. Minha resposta inicial, é claro, foi pensar que ele era “resistente” e (ingenuamente de minha parte) tentar vencer essa “resistência”; inevitavelmente, isso levou a maior retraimento. Eu não estava chegando a lugar algum – e, o que é mais importante, ele também não estava. Então lhe perguntei: “Parece que você está se afastando das nossas discussões. O que está acontecendo?”. Ele olhou para mim, um tanto confuso (já que esse tipo de afirmação não era meu costume), e observou: “Você parece não estar ouvindo o que eu estou dizendo. Só está usando suas técnicas”.

Ele estava certo. Eu estava muito apegado às técnicas.

Quando discutimos como era a experiência para ele, comentou que se sentia totalmente sozinho na sala, como se ninguém pudesse ouvi-lo. Exploramos como essa experiência era parecida com as outras que ele havia tido. Ele se deu conta de que sua mãe era muito dominante e crítica e que ela considerava seu próprio ponto de vista como o único ponto de vista válido. Ele também disse que tinha dificuldades em classificar seus sentimentos e