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Invalidação na infância

O modelo do esquema emocional reconhece a importância das experiências precoces da socialização emocional. Ele compartilha com a teoria por trás da TCD (Linehan, Bohus, & Lynch, 2007), com a teoria da mentalização (Fonagy,​ 2002) e com o modelo subjacente à terapia focada na compaixão (Gilbert, 2009) o reconhecimento da importância da invalidação emocional, a falta de responsividade e a falta de compaixão na emergência de crenças problemáticas sobre si e os outros. Embora essas outras abordagens destaquem com clareza a importância de ambientes que invalidam, o modelo do esquema emocional é particularmente focado nas crenças sobre emoções e outras que são ativadas como resultado dessas experiências – ou seja, no conteúdo cognitivo-social da invalidação. Por exemplo, depois que

o terapeuta identificou as visões negativas problemáticas das emoções (p. ex., “Não posso ser validado”, “Minhas emoções são vergonhosas”, “Minhas emoções não são parecidas com as dos outros”), terapeuta e paciente podem refletir sobre como tais crenças sobre emoção foram aprendidas durante a infância. O profissional pode perguntar: “Quando você era criança, como sua mãe [seu pai] respondia quando você ficava perturbado?” e “Se ficava perturbado, você recorria a sua mãe ou a seu pai?”. Os pacientes que relatam esquemas emocionais negativos frequentemente descrevem ambientes emocionais que invalidam. As respostas a seguir são típicas: “Meu pai era distante – nunca estava por perto, parece – e, quando ele estava, era frio, como se não tivesse interesse em nós.”

“Minha mãe estava sempre falando ao telefone ou saindo para ver seus amigos. Ela fazia eu me sentir como se a estivesse interrompendo.”

“Eu estava sempre preocupado com a minha mãe, que tinha muitos problemas com meu pai, que estava sempre zangado. Não havia espaço para as minhas emoções porque eu tinha que acalmá-la.”

“Minha mãe era pediatra, e quando eu falava sobre meus problemas, ela fazia eu me sentir culpada. Ela dizia; ‘Você não percebe que os seus problemas não se comparam aos das crianças que eu estou ajudando no trabalho?’”

Para os pacientes, ainda é doloroso lembrar tais comentários invalidantes e indiferentes. O terapeuta pode, então, investigar: “Considerando o que você descreve como comentários invalidantes e indiferentes do seu pai, o que isso o faz pensar ou sentir?”. O paciente com o pai frio e ausente pensava: “Ninguém está interessado em meus sentimentos – ou em mim”. O cliente cuja mãe estava sempre ao telefone pensava: “As pessoas não se importam comigo a menos que eu lhes diga que isso é realmente terrível. Eu tenho que me fazer ouvido”. Verônica, a paciente com a mãe pediatra indiferente (veja o Cap. 5), pensava: “Eu devo ser egoísta e mimada por ter as necessidades que tenho”. A variação dos sentimentos também é importante – desde raiva, ansiedade, vergonha, culpa, tristeza e impotência até indiferença, resignação e confusão. Tais pacientes nunca dizem que se sentem melhor.

Além da experiência de interações indiferentes, invalidantes e críticas, o terapeuta pode investigar sobre o que o paciente fez para ser ouvido ou para ter suas emoções validadas. Alguns clientes com pais indiferentes (que estavam muito ocupados para as suas emoções) descrevem como tentavam ser ouvidos se queixando de sintomas físicos, criando emergências, tendo crises de birra ou se metendo em problemas. Uma paciente, que parecia intensificar suas emoções frequentemente, descreveu como tentava ser “a boa menina” – vestindo-se da “maneira correta”, tendo boas maneiras e tentando agradar sua mãe. Quando isso não funcionava, ela criava emergências – agindo como se estivesse ex​tremamente perturbada, chorando ou se queixando de modo ruidoso. Outra descreveu que se afastava voltando-se para as bonecas, a fantasia e lendo livros em que “as coisas eram seguras”. Havia um cliente que canalizava seus esforços sendo um bom aluno e tendo o reconhecimento dos seus professores. Finalmente, um paciente que era ignorado pelo pai e provocado pelos seus pares, descreveu como assumiu uma postura filosófica não emocional, quase se parecendo com um pequeno estoico praticando a indiferença. Na terapia, ele parecia racional e cordial,

mas não particularmente emocional, enquanto descrevia como sua esposa se queixava de que ele estava fora do alcance com a sua emocionalidade.

Compensações para ambientes invalidantes

As compensações para ambientes invalidantes (os da infância, descritos anteriormente, ou os atuais, descritos a seguir) se enquadram em várias categorias: (1) procurar fontes alternativas de validação, como o outro genitor, um parente ou um amigo; (2) tentar agradar e impressionar o genitor invalidante para ser aceito; (3) acentuar a expressão da emoção; (4) somatizar para obter reasseguramento; (5) retirar-se para a fantasia; (6) engajar-se em comportamentos promíscuos para se sentir cuidado e desejado; (7) intelectualizar e negar as necessidades emocionais; (8) abusar de álcool ou drogas para se autoacalmar; e (9) inverter os papéis de apego cuidando dos outros, especialmente do genitor invalidante (parentalidade invertida). Cada uma dessas “adaptações” possui implicações para a psicopatologia, como dependência, desregulação emocional, exibições excessivamente dramáticas de emoção, ansiedade pela saúde, estilo emocional repressivo, alexitimina, transtornos devidos ao abuso de substância e relacionamentos autodestrutivos.

Consideremos essas várias compensações para a invalidação. Primeiro, o indivíduo pode procurar outras fontes de validação. Algumas crianças podem reconhecer cedo que seus pais não são bons em validação, mas que um avô ou amigo pode ser útil. Elas transferem seus interesses de apego para essas pessoas. Pode ser útil que o paciente identifique as pessoas durante a infância (ou atualmente) que foram (ou são) procuradas para apoio emocional. Ter fontes alternativas de validação pode ajudar o paciente a perceber que a invalidação era distintiva de um dos pais e não pode ser generalizada para todas as outras pessoas. Além disso, identificar figuras validantes e compassivas na vida do cliente pode ser útil para invocar uma representação compassiva – um processo discutido posteriormente. Contudo, as figuras “validantes” na vida do paciente também podem ser figuras problemáticas. Por exemplo, uma mulher descreveu como seu pai tinha explosões de raiva e sua mãe era autocentrada com sua própria ansiedade pela saúde. Quando jovem, ela encontrou e acabou se casando com um homem que era muito apoiador, “protetor” e fisicamente afetivo. Ela acreditava que por meio dele poderia ter suas necessidades de apego atendidas. Contudo, ele também se tornou alcoolista, controlador, possessivo e exigente, fazendo ela se sentir encurralada em seu apego desesperado à “única pessoa que me entendeu”. Nem todas as figuras “validantes” são escolhas úteis.

Segundo, uma criança pode se esforçar para tentar agradar o genitor para ser validada. Por exemplo, uma mulher descreveu como sua mãe narcisista e preocupada consigo mesma era indiferente e desdenhosa das suas necessidades emocionais. Reconhecendo que sua genitora não a validaria, tentava impressioná-la se vestindo com roupas de “menina bonita”, tirando boas notas na escola e tentando se adequar ao círculo social que sua mãe valorizava. Em vez de ser validada por suas emoções ou sua identidade individual, ela percebeu que só poderia ser validada refletindo os ideais narcísicos da genitora. Quando adulta, se tornou vulnerável a agradar pessoas exploradoras e narcisistas, incluindo seu primeiro marido e outros membros da família. O terapeuta pode ajudar a identificar tais compensações para a invalidação, perguntando ao paciente: “Se acreditasse que não poderia ser validada pela forma como se sentia, você tentava obter aprovação para outras qualidades ou comportamentos? Como isso

funcionou?”. Além disso, o profissional pode investigar se existem, no momento, formas similares pelas quais o paciente busca validação.

Uma terceira resposta comum à invalidação para muitas crianças (e adultos) é acentuar a intensidade da expressão. Crises de birra, gritos, ameaçar, roubar, desobedecer e outros comportamentos problemáticos são frequentemente respostas à crença: “Eu não estou sendo ouvido”. Por exemplo, um jovem descreveu sua infância como uma tentativa infrutífera de obter validação – ou atenção – de seu pai, que era preocupado com seus objetivos nos negócios. Em consequência desse fracasso em ser reconhecido, o menino tinha crises de birra, “em parte para punir meu pai e em parte para receber alguma atenção”. O terapeuta lhe perguntou: “Qual é a lembrança mais positiva que você tem do seu pai durante seu crescimento?”. Ele respondeu: “Eu me lembro de quando tinha 5 anos e entrei no quarto dos meus pais e meu pai me pegou no colo na cama e ficou me atirando para o alto”. Quando adulto, ele alterou sua tentativa de validação, procurando corresponder aos sonhos do seu pai em relação ao trabalho se tornando um acadêmico, mas só constatou, mais uma vez, que seu pai tinha uma capacidade limitada de reconhecer e valorizar a individualidade do seu filho. Como muitas pessoas que não conseguem obter validação dos pais, achava que a deficiência residia nele mesmo (não atraente, não interessante, sem valor), em vez de na outra pessoa. Passou a acreditar que lhe faltava validade para validação; ele não era suficientemente bom.

A escalada da busca de validação é um problema comum para pacientes que com frequência são descritos como “emocionalmente desregulados”. Gritar é, com frequência, a resposta à crença: “Você não me ouve”. Infelizmente, as pessoas que exageram em seus gritos são em geral ignoradas como “irracionais” ou nem mesmo “dignas de ser ouvidas”, reforçando ainda mais a sua crença de que não podem ser validadas. O terapeuta pode perguntar ao paciente que escala a intensidade da busca de validação: “Eu posso perceber que você acha que as pessoas não o escutam ou não se importam com como você se sente. É possível que você tenha se sentido assim muitas vezes no passado – por exemplo, quando criança? Já se sentiu assim em outros relacionamentos? Você às vezes também se sente assim comigo?”

Ou:

“Talvez você grite porque acredita que esta é a única maneira de ser ouvido, a única forma de ser levado a sério. Quando grita, as pessoas o validam ou se afastam? Algumas pessoas respondem com gritos? Você perdeu amigos por causa disso? Se nós conseguíssemos encontrar uma forma mais efetiva de ser ouvido, você gostaria de fazer isso?”

Outro estilo problemático de intensificar a busca de validação é tentar repetidamente se conectar com pessoas que demonstraram indiferença. Por exemplo, uma jovem mulher mandava repetidamente mensagens de texto para amigos que ela havia afastado, fazendo eles se sentirem perseguidos por ela. Outros indivíduos podem mandar e-mails ou mensagens de texto enfurecidas ou com obscenidades. Tais estilos problemáticos de busca de validação levam a ainda mais rejeição, maior depressão, maior isolamento – e, ironicamente, à escalada do mesmo comportamento para buscar validação.

Quarto, alguns indivíduos focam em queixas somáticas, sejam elas reais ou imaginadas. Ausência frequente à escola na infância, queixas físicas vagas ou doenças “não diagnosticadas” refletem tentativas indiretas de procurar apego e tranquilização emocional.

Por exemplo, um homem idoso com uma longa história de hipocondria descreveu como sua esposa era indiferente a qualquer expressão emocional: “Ela sempre foi fria, um pouco formal, até mesmo com os filhos. Ela não tem interesse pelos netos”. Inicialmente, ele buscou o apoio emocional da sua esposa para suas queixas físicas vagas e preocupações com a saúde, mas ela era indiferente e desdenhava dele com frequência. O paciente descreveu que frequentemente sentia que visitar médicos para exames era uma forma pela qual socializava: “É como se me convidassem para almoçar. Eles se importam comigo. Esta é uma maneira de obter os cuidados atenciosos que não tenho em casa”. Buscar atenção para queixas físicas pode resultar em algum apoio e validação, mas é provável que resulte que os parceiros e amigos ignorem as preocupações médicas como “mais um alarme falso”. Além do mais, ruminação e preocupação acerca de problemas físicos só vão se somar à ansiedade e à depressão que o paciente experimenta. É útil validar a necessidade de atenção e “cuidados atenciosos”, ao mesmo tempo sugerindo que a preocupação com questões físicas só vai aumentar os problemas. A necessidade de atenção pode ser prevenida encorajando a autovalidação e a autocompaixão, conforme discutido mais adiante.

Quinto, alguns pacientes substituem a validação dos outros por fantasias sobre um mundo ideal ou excitante. Isso, é claro, é menos ameaçador, já que não é provável que o indivíduo seja rejeitado em um mundo de fantasia. Uma paciente descreveu como ela inventou um alter ego imaginário quando era menina, para substituir a necessidade de receber validação da sua mãe crítica e abusiva. Esse alter ego – uma plateia imaginária para ela – se transformou num repositório para conforto. Ela também podia conversar com suas bonecas, já que sentia que tinha uma conexão especial com elas. Quando adolescente, substituiu tais plateias pelo seu gato. O terapeuta perguntou: “Quando você era adolescente, achava que havia alguém com quem pudesse conversar, compartilhar seus sentimentos?”. A paciente respondeu: “Definitivamente, minha gata. Eu voltava para casa e conversava com ela e sentia que me compreendia. Eu vou ficar melhor quando tiver um gato”. Um homem com transtorno da personalidade evitativa descreveu como achava que poderia ficar perdido nos livros de ficção, especialmente naqueles de aventura: “Eu acho que posso assumir uma personalidade diferente nesses livros, me imaginando como parte da aventura. Eu me sinto respeitado e valorizado nessas fantasias”. Ele descreveu como tinha durante horas devaneios sobre fuga. Sua relação com sua esposa era de parceria paralela – nunca tendo sexo, raramente conversando sobre alguma coisa importante, apenas agindo como se eles fossem um casal feliz – embora ele tivesse um caso com outra mulher.

O comportamento promíscuo é um sexto meio pelo qual algumas pessoas procuram uma substituição para a validação. O homem que descreveu sua esposa como indiferente e manipuladora procurava regularmente prostitutas para massagens e sexo. Alegava que elas entendiam suas necessidades e não lhe criavam dificuldades. Quando não estava visitando prostitutas, ele via sua “namorada”, a “quem ajudava financeiramente”, pagando seu aluguel. Justificava que ela era alguém com quem podia conversar sem ser rejeitado. Outro homem, que era ostensivamente religioso, contratou uma prostituta para uma conversa em vez de sexo; ele se organizava para ter o jantar entregue em um quarto de hotel, onde conversava com ela e tentava impressioná-la com sua inteligência. Uma mulher cujos pais bebiam demais e eram indiferentes quanto aos seus sentimentos indicou que procurava encontros anônimos

com homens para se sentir desejada e atraente. Ela sabia que essas relações não tinham futuro: “É mais fácil assim; eu não vou me magoar”.

Um sétimo tipo de compensação para invalidação é intelectualizar e negar necessidades emocionais. Esses indivíduos acreditam que suas emoções nunca serão aceitas ou compreendidas pelos outros, ou que os demais não irão se importar com elas; em consequência, adaptam-se a uma posição de autonegação, excessivamente racional em relação aos sentimentos. Por exemplo, uma mulher cujo marido alcoolista não estava disposto a fazer sexo devido à sua disfunção erétil começou a terapia cognitiva alegando que deveria ser carente demais: “Afinal de contas, nós estamos casados há quase 25 anos, e as pessoas em nossa idade não fazem sexo. Talvez eu seja carente demais”. Essa intelectualização de autonegação impedia que ela legitimasse a sua frustração e a mantinha presa a um relacionamento autodestrutivo. Quando posteriormente validou suas necessidades de sexo e afeição, começou a se afirmar, o que, por fim, levou a mudanças significativas no hábito de beber do seu marido e melhora em seu relacionamento íntimo. Um homem, descrito anteriormente, que se queixava da falta de apoio dos seus pais para a sua dificuldade de encontrar um emprego, se retirou para uma estratégia excessivamente racional: “Sei que devo ser irracional em pensar que preciso de compreensão e apoio. Eu deveria ser capaz de sobreviver sem isso”. Quando lhe foi perguntado o que achava de compartilhar suas emoções ou de senti-las, ele respondeu: “Emoções são uma perda de tempo. Elas não te levam a lugar nenhum”. E acrescentou: “Quando as pessoas veem que você é emotivo, elas se aproveitam”. Esse refúgio numa posição antiemocional e excessivamente racional não é incomum e pode ser uma razão por que alguns desses indivíduos procuram terapia cognitivo-comportamental. Um paciente ficou surpreso por eu estar falando sobre emoções e validação: “Eu achei que esta era uma abordagem racional. Eu não achava que iríamos perder nosso tempo com emoções”.

A resposta antiemocional, excessivamente racional a uma história de invalidação, pode ser uma barreira difícil à terapia, já que os pacientes podem tentar usar a terapia cognitiva contra qualquer experiência emocional. Por exemplo, os pacientes podem dizer: “Sei que eu não preciso disso; eu só prefiro alguma coisa”, como se os humanos não tivessem desejos e necessidades que são universais. “Eu sei que não deveria me incomodar com o fato de o meu marido não estar interessado em sexo. Estou sendo emocional demais, carente demais”. O terapeuta focado no esquema emocional pode reestruturar os objetivos da terapia como “saber do que você precisa e atender às suas necessidades”, e destacar que “as emoções podem nos dizer do que precisamos, o que está faltando, o que reivindicar”. A terapia não é um exercício de reorganização de afirmações verdadeiras e falsas em uma “tabela de verdade” lógica. Ela é o processo dos pacientes de descoberta da verdade sobre quem são, do que precisam e de onde conseguir que essas necessidades sejam satisfeitas. Ao hiperestimar a racionalidade, o ​indivíduo corre o risco de ignorar as necessidades às quais as emoções dão voz. O terapeuta pode dizer: “Você não poderá ter suas necessidades satisfeitas se não se permitir sentir a sua ausência”.

A oitava resposta à invalidação é a dependência de drogas, álcool ou alimentos para se autoacalmar. Nossas pesquisas sobre esquemas emocionais indicaram que os melhores preditores de história de dependência de álcool em uma regressão linear eram validação, controle e culpa (Leahy, 2010b). Assim, os indivíduos que acreditavam que suas emoções não

eram validadas ou estavam fora do controle, ou que acusavam os outros, tinham maior probabilidade de relatar história de dependência de álcool. No contexto atual de compensação para a invalidação, alguns indivíduos irão se apoiar no abuso de substância ou comer compulsivo para se autoacalmar, já que acreditam que são incapazes de obter aceitação dos outros. Pesquisas sobre fatores de risco para abuso de substância entre adolescentes indicam que as conectividades familiar, social e escolar (escore invertido) são preditores (Sale, Sambrano, Springer, & Turner, 2003). Na verdade, a importância da validação e da conectividade social no tratamento de abuso de álcool e droga pode ser uma das razões por que muitos desses pacientes podem se beneficiar com terapia de grupo ou programas de Doze Passos, que enfatizam o compartilhamento de experiências, reduzindo um sentimento de isolamento e validando as dificuldades envolvidas. O comportamento afiliativo aumenta os níveis de oxitocina, e o aumento nos níveis de oxitocina reduz a vulnerabilidade ao abuso de álcool e drogas (McGregor & Bowen, 2012). Os indivíduos que se autoacalmam com álcool, drogas ou comer compulsivo podem estar satisfazendo necessidades que não foram atendidas por meio da validação, ativando os níveis de oxitocina.

Por fim, uma nona resposta à invalidação é o cuidado compulsivo de outras pessoas, especialmente a parentalidade invertida. Bowlby (1969, 1973) propôs, há muitos anos, que perturbações no apego inicial podem levar ao cuidado compulsivo de outras pessoas. Indivíduos com apego inseguro podem se adaptar direcionando seu comportamento de apego ao cuidado de outras pessoas – incluindo parentalidade invertida (os filhos cuidando dos pais) e cuidados compulsivos de terceiros (esposo/parceiro, filhos, estranhos ou até mesmo animais). Esse comportamento afiliativo redirecionado pode proporcionar os efeitos calmantes da conectividade social que estão ausentes pela falta de validação, mas também podem servir à função de reafirmação da dependência que outras pessoas têm do indivíduo – e, portanto, “assegurando” que outros não vão abandoná-lo. Além disso, o foco nas necessidades dos outros pode obscurecer a capacidade de focar nas próprias necessidades. Uma mulher que vivenciou anos de invalidação por parte do seu pai, e posteriormente do seu marido, focava muito na tentativa de aliviar qualquer humor negativo que a filha com transtorno da personalidade borderline expressava. Ela acreditava que ser uma boa mãe significava que tinha que tomar conta de todas as necessidades que sua filha tivesse, e que seria catastrófico se esta fosse infeliz. A abordagem do esquema emocional foi afastá-la de uma visão dicotômica das necessidades da sua filha e das suas necessidades, bem como ajudá-la a equilibrar seus autocuidados com uma atenção razoável à menina, ao mesmo