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Falhas empáticas inevitáveis

Kohut (1971/ 197) reconheceu que uma parte inevitável da relação terapêutica é que o paciente irá reconhecer que o terapeuta não pode empatizar ou validar completamente o que ele está sentindo. Kohut se referiu a isso como uma “falha empática” e sugeriu que abordar tais falhas inevitáveis é uma parte essencial da terapia. Do mesmo modo, descrevi como muitos pacientes irão achar que o profissional não entende ou não se importa o suficiente com as suas dificuldades – em parte porque alguns podem ter crenças idiossincráticas sobre o que constitui validação, e em parte porque não existem duas pessoas que consigam entender completamente a outra, já que a maioria das experiências é particular e muitas podem não ser articuladas adequadamente (Leahy, 2001, no prelo; ​Leahy, Tirch, & Napolitano, 2011). Para um paciente que tem uma longa história de experimentar invalidação, novas experiências de

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invalidação com um terapeuta podem contribuir para um sentimento de desesperança e, por fim, levar a um término prematuro da terapia.

O profissional pode dizer algo assim para antecipar as inevitáveis expe​riências de incompreensão do cliente: “É muito provável que, às vezes, eu possa não entender completamente os seus sentimentos e suas experiências de forma que você se sinta compreendido. Isso pode ocorrer porque quaisquer duas pessoas têm limites para estabelecer uma conexão completa ou por causa de falhas que eu possa ter para realmente entendê-lo. Isso pode ser frustrante. Mas penso que podemos combinar de discutir esses equívocos quando surgirem. Não sei se você estaria disposto a me dizer quando sente que eu não estou realmente lhe entendendo.”

Tal antecipação prepara o terreno para a validação de uma frustração futura na conexão entre paciente e terapeuta. O profissional comunica que já conhece as limitações e sabe que isso será frustrante. Podemos chamar isso de “validação antecipatória”, porque a ocorrência futura de falhas empáticas já é reconhecida, e o terreno está preparado para a discussão e mediação dessas falhas: Eu acho que compreender e respeitar seus sentimentos são uma das coisas mais importantes que posso fazer por você, mas também me pergunto como será quando eu não fizer isso com eficácia. Quero dizer, haverá vezes em que eu não vou validar o que está sentindo – em que eu posso falhar com você. Isso é possível?

Oh, não, você está fazendo um bom trabalho. Não precisa se preo​cupar com isso.

Agradeço a sua fé em mim, mas também sei que todos nós em algum momento decepcionamos as pessoas, e pode ser que haja certos sentimentos, certas sensibilidades suas com as quais eu não sintonize. Então, se isso acontecer, fico me perguntando qual será a sua resposta.

Oh, eu entendo que ninguém é perfeito.

Sim, você está realmente entendendo, e eu fico grato por isso, mas examinemos as experiências passadas que você teve. Seu pai parecia totalmente envolvido com o trabalho; sua mãe estava ocupada lidando com seus próprios problemas, e você sentia que não havia muito espaço para as suas necessidades. E me contou na semana passada como você achava que sua amiga Lara não a validava, que ela parecia crítica e estava mais interessada em si mesma. Ademais, nisso que estamos fazendo juntos aqui, a validação é muito importante. Então fico satisfeito por você estar me entendendo, mas seria bom se pudesse me dizer quando eu o estiver validando e quando não estiver.

Eu acho que sinto neste momento que você está validando as experiências que eu tive.

Você se sentiria hesitante em me contar coisas quando eu invalidá-la? Lembra que me contou que sua mãe não dava ouvidos a essas preocupações, então eu me pergunto se poderia achar que eu também seria indiferente.

Acho que você está certo. Ou eu seguro os meus sentimentos e não digo nada, ou então explodo com uma raiva que parece sair do nada. Ou simplesmente

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paro de ver a pessoa.

Sim, esta também é a minha preocupação. Como você acha que eu responderia se me dissesse que eu não estava realmente lhe entendendo ou validando? Acho que eu penso, falando com você agora, que você seria compreensivo.

É claro, não saberemos até tentar. Ok. Você consegue pensar em algum momento nas últimas semanas em que eu parecia não me conectar com você sobre alguma coisa?

(Fazendo uma pausa) Bem, eu sei que você está tentando se conectar, mas quando eu lhe falei sobre a minha relação com a minha chefe – e como ela parece não me dar nenhum crédito –, na verdade não me senti validada. Você pareceu mudar de assunto.

Oh, sim, eu me lembro disso. Sim, você estava achando que está trabalhando com afinco e ela nunca reconhece o seu trabalho ​árduo. Posso imaginar que esse tipo de coisa seria perturbador e realmente poderia ter explorado mais o assunto, e nós poderíamos ter falado sobre como você se sentia e o que pensava. Na verdade, quando penso nesse tipo de coisa, posso ver que isso seria perturbador para a maioria das pessoas – perceber que o seu trabalho ​árduo não é reconhecido.

Obrigado. Você entende – quero dizer, entendeu.

Falhas empáticas – mal-entendidos – ocorrem em quase todas as relações íntimas. Alguns indivíduos ficam especialmente desolados quando seus cônjuges ou parceiros não os validam – e todos esperam que haja alguma validação em um relacionamento íntimo. Mas, como as discussões posteriores da relação terapêutica e das relações íntimas deixarão claro (veja os Caps. 12 e 13), lidar com as decepções da validação é uma parte essencial do equilíbrio de uma relação entre expectativas irrealistas sobre perfeição emocional e no relacionamento e as realidades da fragilidade humana.

Examinando o significado da invalidação

Conforme observado, nossa pesquisa demonstra que a percepção de ser validado está correlacionada à maioria das outras dimensões do esquema emocional. Validação e invalidação possuem significados para o paciente. O terapeuta pode explorar tais significados com o cliente investigando o que significam na relação terapêutica ou em algum outro relacionamento quando o indivíduo se sente invalidado. As pessoas têm uma grande variedade de interpretações sobre invalidação:

“Você não se importa.”

“Se você não se importa, não pode me ajudar.”

“Eu sou apenas mais um paciente para você. Não sou um indivíduo.” “Ninguém se importa comigo.”

“Meus sentimentos não têm importância.” “Meus sentimentos não fazem sentido.”

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“Você precisa entender tudo o que eu estou pensando e sentindo.”

“Se você não entender todos os meus sentimentos, nunca irá me ajudar.” “Você é igual à minha mãe [pai, esposa, marido, amigo].”

“Eu estou totalmente sozinho.” “Eu não tenho importância.”

O terapeuta pode tomar essas interpretações e examiná-las usando validação, análise do custo-benefício, evidências a favor e contra, a técnica do duplo padrão, dar conselhos a um amigo e outras técnicas de terapia cognitiva. Aqui está um exemplo: Vejo que você acha que se eu não entender todos os seus sentimentos, não poderei ajudá-la. Deve ser muito perturbador pensar que eu não posso ajudá-la, já que você está aqui para trabalharmos juntos com esse objetivo, e entender como você se sente é muito importante. Entendo que isso é frustrante, perturbador e até mesmo um pouco assustador.

É. Ninguém parece me entender.

Essa é uma posição difícil de estar, sentindo que ninguém a entende. É como se sentir sozinho no mundo e ninguém se importar.

Olhe, eu sei que você se importa, mas às vezes não me deixa concluir.

Sim, existem muitos sentimentos e pensamentos que você tem, e eu sei que às vezes posso lhe interromper. Entendo que quando faço isso, parece que não me importo.

Sei que você se importa, mas é como eu me sinto. É como vejo isso.

Este é o dilema com o qual todos nós nos defrontamos em nossos relacionamentos. Nós podemos realmente nos importar, mas podemos não ser capazes de compreender todos os sentimentos que a outra pessoa tem. Podemos nos esforçar muito para nos conectar com o que parece ser, no momento, o sentimento mais importante de alguém, mas podemos deixar passar o que é de fato importante para a outra pessoa. Pode ser que isso esteja acontecendo conosco?

Sim, eu acho que sim. Mas ainda é doloroso.

Então vamos pensar sobre isso juntos, ok? Imaginemos que você passa pelos seus relacionamentos com a expectativa de que os outros devem entender tudo o que está sentindo. Qual é a conse​quência dessa expectativa?

Acho que me sinto assim – zangada e desapontada.

Existe alguma vantagem em conseguir que as pessoas entendam tudo? Sim. Talvez eu finalmente me sinta compreendida.

Isso seria bom, também, mas eu me pergunto se está funcionando para você? Você está se sentindo entendida em boa parte do tempo?

Eu geralmente sinto que as pessoas não me entendem.

E se você tivesse uma amiga que realmente esperasse que você entendesse todos os sentimentos e os pensamentos dela? Que conselho você lhe daria?

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O que você lhe diria para almejar se ela não puder conseguir tudo o que deseja? Eu não sei. Acho que, quando se trata de sentimentos, é importante ser compreendida. Mas eu acho que ela teria que decidir quais sentimentos são os mais importantes, quais não são, e se contentar com isso.

Autovalidação

Um terapeuta (ou outra pessoa) não pode estar por perto o tempo todo para validar um paciente. Com frequência, muitos clientes que experimentaram ambientes invalidadores tentam suprimir suas emoções ou ruminam sobre o que está errado consigo para que tenham tais sentimentos. Para eles, pode ser extremamente útil recuar e reconhecer que faz sentido se sentir mal quando coisas ruins acontecem. Ter uma emoção, respeitá-la e se dar ao direito de ter um sentimento não significa que ele seja autoindulgente, insano ou esteja fora de controle, tampouco que vai durar para sempre. Mensagens autotranquilizadoras e compassivas para o self são antídotos úteis para as experiências invalidantes que um paciente teve (Gilbert, 2009; Neff, 2009). Técnicas de terapia focadas na compaixão podem ser muito úteis para indivíduos que experimentam emoções estressantes (Gilbert, 2009). Um paciente que se sente sozinho e triste pode imaginar o rosto e a voz de uma pessoa compassiva e amorosa, imaginar essa pessoa expressando bondade amorosa e imaginar como essa bondade é suave e calmante para o self. A autovalidação também pode incluir autoafirmações sobre como as emoções de um cliente “fazem sentido”, como outras pessoas se sentiriam da mesma maneira e como o indivíduo “entende que eu me entendo”. Afirmações que os pacientes podem fazer – por exemplo, “Eu sou apenas um ser humano. Estou me sentindo sozinho no momento, e isso faz parte de ser humano” – têm a capacidade de ajudar a acalmá-los, dando–lhes um sentimento de que a sua autorreflexão compassiva está sempre com eles e que são sempre capazes de apoiar a si mesmos. A mensagem é que o cliente não tem que se livrar de uma emoção no momento presente, contanto que ele se sinta entendido, cuidado e apoiado pelo self.

No entanto, alguns indivíduos podem continuar a acreditar que autovalidar-se – ou expressar compaixão por si mesmos – não é merecido e até mesmo aumenta o risco de que se tornem presunçosos, desdenhando dos outros e, assim, sendo rejeitados pelos outros. Por exemplo, uma mulher com uma longa história de comer compulsivo, problemas com o peso e depressão crônica via a autovalidação como um “absurdo da Nova Era”. Ela temia que, caso fizesse isso, se tornaria fraca, teria pena de si mesma e seria mais uma “perdedora”. Ela continuamente ignorava qualquer progresso que fazia (“Por que eu deveria ser uma motivadora se isso é o esperado que eu faça?”, ela dizia com uma voz sarcástica). O terapeuta examinou seu uso de um duplo padrão: “Por que você é mais gentil com os outros do que consigo mesma?”. Ela percebeu que queria pensar em si como uma pessoa tolerante e amorosa, mas que acreditava não merecer dar amor a si mesma.

Então você acha que não é certo recompensar ou elogiar a si mesma porque não merece essa gentileza? Por que os outros merecem gentileza?

Bem, todos merecem. Exceto eu. Por que não você?

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Não sei; é assim que eu sou. Eu deveria ter me saído melhor. Não existe na verdade uma razão para eu estar deprimida Bem, pense no seu raciocínio sobre isso: “Eu estou deprimida. Não mereço a minha gentileza. Isso me deixa mais deprimida. Então, não mereço nenhuma gentileza”. Parece que você está se punindo por estar deprimida, o que a deixa deprimida.

Eu sei. Isso parece ilógico. Mas acho que tenho medo de que se começar a me gabar, isso vai parecer presunção.

Talvez você possa se gabar de forma a ser a única a ouvir isso.

A autovalidação pode assumir a forma de mensagens autodirecionadas que são compassivas, gentis e apoiadoras:

“Eu estou tentando, pois realmente preciso me dar o crédito. A vida é dura, e estou trabalhando para tornar as coisas melhores. Quero me amar, me apoiar, ser gentil comigo mesmo. Sentimentos dolorosos fazem parte da vida para todos nós, incluindo eu. Existem muitas coisas boas que posso experimentar. Eu preciso ser meu próprio amigo.”

O terapeuta e o paciente podem montar um “experimento” para ver se fazer essas afirmações validantes e compassivas a si mesmo resulta em arrogância e dificuldades com outras pessoas. Além disso, o profissional pode fazer a dramatização de uma “fantasia temida”, na qual desempenha o papel de uma voz dizendo que ser gentil consigo mesmo vai levar a resultados terríveis.

(Como voz negativa) Você sabe que quando diz coisas gentis a si mesma você está na verdade se iludindo. Quero dizer, as pequenas coisas que você faz na verdade não têm importância.

(Como quem responde de forma racional) Cada passo positivo que eu dou pode importar – incluindo ser apoiadora comigo mesmo. Se continuar me recompensando, poderei me sentir melhor.

Mas você não merece se sentir melhor. As pessoas que são deprimidas merecem se sentir mal.

Isso é um absurdo. A depressão é uma doença para muitas pes​soas, e todos merecem uma chance.

Sim, todos exceto você. Se você começar a dizer coisas positivas sobre si mesma, vai ficar convencida, arrogante e se afastar de todos.

Isso é loucura. Eu posso, de maneira calma – silenciosa – dizer coisas apoiadoras a mim mesma que provavelmente me deixarão menos deprimida. E se estiver menos deprimida, é provável que tenha mais prazer em me relacionar.

RESUMO

Este capítulo examinou como a necessidade de validação é básica para a compreensão e a conectividade. Tal necessidade surge do sistema de apego original criança-cuidador, que procura a conclusão ou a realização ao longo de toda a vida. Validação está relacionada a – e

pode produzir melhoras em – uma ampla gama de esquemas emocionais, como ajudar o indivíduo a dar um sentido à emoção, reconhecer que outras pessoas têm sentimentos similares, permitir a expressão, reduzir a ruminação e ajudar o indivíduo a perceber que a experiência da emoção não precisa durar indefinidamente e não vai sair do controle. Alguns indivíduos têm crenças problemáticas sobre validação, esperando concordância e reflexão total e completa; tais crenças inevitavelmente levam a falhas empáticas. O terapeuta focado no esquema emocional pode antecipar essas falhas como obstáculos potenciais, levantando a questão, explorando o significado da invalidação quando ela ocorre e desenvolvendo uma aceitação mútua da possibilidade de decepção. Finalmente, a autoinvalidação e a resistência a direcionar compaixão para si mesmo podem ser abordadas com o uso da técnica do duplo padrão e outras técnicas cognitivas, dramatizando a “fantasia temida” e montando experimentos comportamentais para determinar quais são os verdadeiros resultados da autovalidação.

Capítulo 7

COMPREENSIBILIDADE, DURAÇÃO, CONTROLE,