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Como metodologia dos encontros, optei por realizar oficinas. Entendo que a oficina servirá como um espaço de construção coletiva de um saber, de análise da realidade, de confronto e intercâmbio de experiências (CANDAU, 1995, p.17). Assim, procurei promover as narrativas, a sensibilização, a reflexão e o compromisso com as questões relativas à gestão nas instituições de Educação Infantil.

As oficinas, além de produzirem conhecimento a partir das realidades vividas pelas gestoras, foram também, fios condutores da narrativa, quando elas se reportam ao seu trabalho ou às suas concepções sobre creche e pré-escola: compreendo que suas narrativas corresponderão sempre a uma interpretação. Uma realidade possível e existente para o sujeito, mas passível de conviver com diferentes interpretações. Toda narrativa está carregada dos significados e reinterpretações dos narradores. São, portanto, representações da realidade e não a realidade em si. Para Benjamin,

Ela não está interessada em transmitir o ‘puro em si’ da coisa narrada como uma informação ou um relatório. Ela mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador, com a mão do oleiro na argila do vaso (BENJAMIN, 1994, p. 205, grifo do autor).

Neste sentido, pensei as oficinas como um espaço de construção coletiva de um saber, de intercâmbio de experiências, conforme já mencionado no primeiro parágrafo deste item. A intenção é promover as narrativas relativas à gestão nas instituições de Educação Infantil. Medina (2003), quando aborda a arte de narrar, coloca:

[...] a arte de narrar acrescentou sentidos mais sutis à arte de tecer o presente. Uma definição simples é aquela que entende a narrativa como uma das respostas humanas diante do caos. Dotado da capacidade de produzir sentidos, ao narrar o mundo, a inteligência humana organiza o caos em um cosmos (MEDINA, 2003, p. 47).

Partindo de tais concepções, optei pelo desenvolvimento de oficinas porque entendo que a metodologia proposta nos encontros com as gestoras teria consequência na

21Conforme já colocado no início desta pesquisa, há uma carência significativa de estudos, pesquisas e reflexões

própria produção de suas narrativas. Para tanto, a proposta foi oferecer um tempo e espaço generoso na disposição de objetos, materiais e palavras, a fim de construir um espaço intervalar capaz de convidar à narrativa, ao diálogo, à produção de objetos e escritos em que as gestoras pudessem narrar sobre suas práticas de gestão. As oficinas foram realizadas em quatro encontros, que aconteceram na Escola de Ensino Médio Almirante Lamego, local já reservado antecipadamente. A opção por esse espaço ocorreu em função desta instituição estar localizada no centro da cidade, fato que possibilitou fácil acesso às gestoras. Abaixo descrevo cada um destes encontros, como eles aconteceram e os recursos utilizados.

Primeira Oficina: confeccionando caixas

No primeiro encontro foi realizada uma aproximação das gestoras com a pesquisa. Para isso, apresentei slides mostrando um pouco do meu caminho e da pesquisa em si. Expliquei porque elas foram escolhidas. Falei do porquê das oficinas, como elas aconteceriam e da importância da participação delas para a pesquisa e para que eu pudesse obter as narrativas da gestão delas. Surgiram questões como: Oficinas? Como faremos? Por que fazer oficinas? Quantos encontros? Quanto tempo cada encontro? Você aceita? Neste momento, acordei com as gestoras o melhor dia e horários para que elas se disponibilizassem para a pesquisa. Combinamos que as oficinas aconteceriam toda terça-feira, às 19hs, na sala 13 da Escola de Ensino Médio Almirante Lamego, pois nas instituições que elas trabalham ficaria complicado parar para me atender, devido à correria do cotidiano.

Em seguida realizamos a leitura de um texto: A Moça tecelã, de Marina Colasanti, com objetivo, nesta primeira oficina de favorecer a aproximação das gestoras com a pesquisa. Todos os encontros (oficinas) foram gravados em áudio, para que eu pudesse depois fazer as transcrições e as análises. Após o texto, propus a confecção de uma caixa tentando obter maior contato e sensibilização das gestoras com o tema abordado. Expliquei que elas me ajudariam neste caminho, no urdir, no tecer e nos desa(fios) encontrados através das narrativas de gestão de cada uma delas. Para abrigar todas as narrativas, nós confeccionaríamos uma caixa de costura, e esta caixa seria uma aproximação com a pesquisa, pois vai abrigar a história de gestão de cada uma delas.

Assim, começamos a confecção de uma caixa de costuras, que viria a abrigar todo tecido narrado e construído por elas durante as oficinas. Elas começaram a escolher os tecidos. Neste momento, começamos a trabalhar e conversamos bastante, e elas me contaram

um pouco de suas vidas, do trabalho como gestoras. E as narrativas iam sendo produzidas, costuradas.

Figura 9 – Primeira oficina: confecção das caixas com as gestoras

Fonte: Acervo da autora, 2016.

Segunda Oficina: tecendo narrativas

Nesta oficina o objetivo foi conhecer as gestoras e as instituições de Educação Infantil. Iniciamos a escrita com a leitura de um poema. Para dar um início à produção de uma narrativa escrita, o poema Tecendo a vida, de Alice Meca, serviu como metáfora, fazendo uma relação com a função de gestor. O poema trata da passagem do tempo, dos projetos do futuro, das linhas que nós utilizamos, isto é, das escolhas que fazemos ao longo do percurso.

O ambiente foi montado de forma aconchegante, com puffs e almofadas, música instrumental, para que pudessem se inspirar e narrar um pouco sobre elas mesmas. Sentamos nos puffs e falei das palavras que estavam lançadas no ambiente. Solicitei que se inspirassem no poema, fizessem uma reflexão das palavras que perpassam nossos dias, nossa costura, as escolhas, as incertezas, os desafios, os planos, os medos...

Solicitei que cada uma começasse a contar sua história contemplando as seguintes questões: tempo que atua na Educação Infantil e caminho percorrido até chegar à Educação Infantil. Ao final do encontro, aproveitei o momento para pedir um material para a próxima semana: solicitei que trouxessem documentação, objetos, imagens de momentos significativos de práticas da gestão na Educação Infantil.

Figura 10 – Poema de abertura da oficina

Figura 11 – Segunda oficina

Fonte: Acervo da autora, 2016.

Terceira Oficina: materializando significados

Na terceira oficina, a intenção foi que, através dos materiais significativos trazidos pelas gestoras, que elas criassem narrativas sobre os momentos por elas escolhidos para relatarem sobre suas práticas de trabalho. Elas trouxeram imagens de diversos momentos.

Para sensibilização, fiz a leitura da seguinte citação de Cury (2007, p. 493):

Gestão é um termo que provém do latim e significa: levar sobre si, carregar, chamar a si, executar, exercer, gerar. Trata-se de algo que implica o sujeito e um dos substantivos derivados deste verbo nos é muito conhecido. Trata-se de gestatio, ou seja, gestação, isto é: o ato pelo qual se traz dentro de si algo novo e diferente: um novo ente. Ora, o termo gestão tem sua raiz etimológica em ger que significa: fazer, brotar, germinar, fazer nascer. Da mesma raiz provêm os termos: genitora, genitor, gérmen.

Depois da leitura, explanei a elas uma questão que minha pesquisa traz, que é um novo olhar para esta gestão, o fazer nascer novas relações na gestão da Educação Infantil. Falei que a profissão de gestor da Educação Infantil está em processo de construção, através

do gestar, fazer nascer. É na história e no cotidiano das práticas de gestão que estamos constituindo esta profissão e que, para falar mais sobre isso, eu precisaria da ajuda delas na construção deste tecido.

A partir deste momento, as gestoras falaram o que as imagens representavam, e como fizemos na semana anterior, elas escreveram, narraram sobre as imagens, do quanto elas significam na gestão.

Figura 12 – Registro da terceira oficina

Fonte: Acervo da autora, 2016.

Quarta Oficina: costurando a prática na gestão

A última oficina teve por objetivo abordar o conceito de gestão democrática e relacionar tal conceito com suas práticas de gestão. Assim, realizei uma atividade final sobre gestão democrática através de um brinquedo em forma de patchwork, um quebra-cabeça

patchwork para começarmos a falar sobre gestão democrática. Pensando na profissão de

gestor nos dias atuais, Paulo Freire enuncia que “a gente ensina, mas também aprende” (apud SILVA et al., 2010, p. 07). É sempre uma troca de experiências, de ideias, e as oficinas

trazem isso: nós estávamos neste movimento de trocar ideias. Por isso, optei pelo quebra- cabeça, para pensar um pouquinho na gestão democrática.

O que é gestão? O que é democracia? Pensando nestes termos que já tínhamos conversado, pedi que elas montassem as peças e as palavras que surgiram foi: Gestão

Democrática. Assim, pedi que elas virassem o quebra-cabeça e solicitei que narrassem uma

cena sobre as pessoas que participam desta gestão democrática, que são: crianças, família, que elas entendessem também como comunidade, professores e profissionais.

Todos os materiais produzidos foram guardados na caixa que fizemos para depositar as lembranças destas oficinas, e preparei slides com fotos para relembrarmos as quatro oficinas.

Figura 13 – Registros fotográficos da quarta oficina

Fonte: Acervo da autora, 2016.

Figura 14 – Registros da quarta oficina

Fonte: Acervo da autora, 2016.