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Os fios condutores desta trama são traçados por elas, as gestoras! Vamos conhecê- las?

As gestoras, sujeitos da presente pesquisa, foram escolhidas não pela sua trajetória, mas em função da instituição em que trabalham, conforme os critérios anteriormente esclarecidos. Como procedimento inicial da pesquisa foi realizada uma visita às instituições, quando foi entregue a cada gestora (diretoras e especialistas19), um convite para participação (Apêndice A).

Em toda pesquisa há que se preservar seus depoentes e vários são os recursos para tal. Eu não poderia reduzir seus depoimentos tão humanos a números siglas e letras. Opto, então, por eleger nomes fictícios previamente acordado com as gestoras. São elas: Rita e Lia.20

Rita é gestora da menor instituição de Educação Infantil do município. Tem 40

anos, é casada e tem duas filhas. Ela está cursando Pedagogia e é gestora nesta instituição desde 2015. A gestora informa que chegou à Educação Infantil por acaso, em 2002:

Cheguei na EI meio por acaso, fui convidada para trabalhar no CAIC em outro setor, mas no intervalo do almoço ficava com as crianças para as professoras irem almoçar, aí que me apaixonei pela EI (narrativa da gestora Rita. Agosto, 2016).

Depois desta experiência, Rita acabou trabalhando em outros setores da prefeitura e seguiu outros caminhos, mas sempre pensando em retornar a Educação Infantil. Em 2014 surgiu uma nova oportunidade: Rita foi convidada para ser gestora no Centro de Educação

19 Especialista em assuntos educacionais é um cargo responsável por auxiliar na gestão das instituições. Saliento

que das gestoras convidadas, por questões pessoais somente duas aceitaram participar da pesquisa.

20 Os nomes fictícios foram previamente acordados com as gestoras, e as mesmas escolheram como seus nomes

Infantil caracterizado como o menor do município de Laguna, conta ela que foi um grande desafio!

Confesso que no princípio fiquei um pouco assustada, mas com o apoio de toda a equipe do CEI fui aprendendo e hoje estou aqui, firme e forte! (narrativa da gestora Rita. Agosto, 2016).

A gestora, em busca de novos conhecimentos, foi cursar a graduação em pedagogia, a qual ainda hoje está frequentando. A gestora afirma que todo momento,

Na Educação Infantil é muito gratificante, da mesma forma que ensinamos podemos

dizer que aprendemos (narrativa da gestora Rita. Agosto, 2016).

Classifica seu trabalho como administrativo, pedagógico, psicológico e muitos outros, pois, para ela,

o gestor está sempre à frente de tudo, mas nunca sozinhos, o gestor faz um pouco de tudo, sempre com muito empenho, responsabilidade e muita força de vontade, mas nunca sozinho, tem sempre uma equipe para nos dar suporte (narrativa da gestora Rita. Agosto, 2016).

A gestora do maior CEI do município de Laguna é Lia. Ela tem 42 anos, é divorciada e tem duas filhas. Para ajudar na renda familiar, ela faz doces e tortas por encomenda. Começou sua vida profissional na área da saúde, não terminou a faculdade de Enfermagem e voltou-se para o curso de Magistério. Depois de idas e vindas, também em sua vida pessoal, acabou voltando para um curso Técnico de Enfermagem. Após isso, trabalhou na área e percebeu que o que queria fazer mesmo era Pedagogia. Em 2011 começou sua experiência na Educação Infantil; no ano seguinte começou a trabalhar no CEI onde hoje é gestora. Depois da experiência como professora, em 2013 assumiu o cargo de supervisão e, logo em seguida, passou a ser a diretora do CEI. Em suas palavras,

Os desafios são diários, mas o retorno também, ver o brilho nos olhos daquelas crianças, o carinho que eles nos passam, vale o esforço (narrativa da gestora Lia. Agosto, 2016).

Esta gestora também relata seus medos, sua insegurança e a ajuda das colegas que já trabalhavam na instituição antes de ela chegar:

Quando assumi o cargo de diretora fiquei assustada, insegura, mas tive o apoio de pessoas maravilhosas que me ajudaram muito, é um aprendizado diário, uma luta diária, dias muito intensos, outros de incertezas, mas sempre acreditando na educação e no futuro. Medo, incerteza, desafios tenho todos os dias, mas também, coragem, vontade de lutar, esperança que a vida deles possa ser melhor a cada dia, que eles cresçam, sejam boas alunos no ensino fundamental, no ensino médio, na faculdade, sejam pessoas de bem, estruturadas, com futuro (narrativa da gestora Lia. Agosto, 2016).

Assim como a outra gestora, Lia também não esperava ser gestora:

Não foi um cargo que eu almejei, caiu no meu colo. Me assustei muito, porque eu tinha pouca experiência na educação em si, quando comecei (narrativa da gestora Lia. Agosto, 2016).

A gestora ainda relata que quem a antecedeu saiu porque não foi bem aceita pelas professoras, e seu medo e suas inseguranças também se voltaram um pouco para isso. Ela relata que aprendeu muito nestes últimos anos. Em sua narrativa, conta que acabou se conhecendo, pois, muitas coisas que ela pensava que não era capaz de fazer, ou de ser, ela percebeu que poderia realizar.

Nunca fui muito autoritária, às vezes eu noto que eu era, mas eu era e não sabia, mas pensei como vou fazer isso com tantas crianças, com tantos pais, com tanta gente. Então foi com muito medo, foi devagar, as coisas não iam acontecendo como a gente queria, mas eu tive que aprender me impor, que muitas horas eu não sabia fazer, mas foi(narrativa da gestora Lia. Agosto, 2016).

No caso das duas gestoras, elas estão no cargo temporariamente, não são, elas estão gestoras. Nas palavras de Rios (2014[?], p. 01,

Na verdade, quando estamos sendo, somos. Quando exercemos a função de gestor, nossa responsabilidade não é transitória, como pode ser a passagem pelo cargo. O compromisso nunca é passageiro: sempre tem implicações que dizem respeito a todos os que fazem parte do contexto em que exercemos a função. Na escola, os gestores são trabalhadores cuja ação ganha especificidade em virtude da posição que ocupam. Mas não são "profissionais transitórios". Eles são, sim, gestores e terão mais êxito quanto mais consciência tiverem de sua responsabilidade e se comprometerem - permanentemente - com a ampliação da qualidade do trabalho de todos.

Com a citação de Rios (2014), atentamos para a importância desta função, apesar de percebermos que nem mesmo as próprias gestoras se dão conta do quão importante elas são: os cargos são transitórios, porém, a responsabilidade deve ser com o todo, com as crianças, famílias, professores e funcionários. Elas mesmas narram seus medos, suas inseguranças, pois não estavam preparadas para o cargo, foi algo determinado politicamente ou por convite. A formação inicial delas também não evidencia preparação para a gestão em si, isto é, nenhuma delas fez uma pós-graduação ou curso específico de gestão educacional. Nesse sentido, Lück (2000, p. 29) pontua:

Não se pode deixar de considerar como fundamental para a formação de gestores, um processo de formação continuada, em serviço, além de programas específicos e concentrados, como é o caso da formação em cursos de Pedagogia e em cursos de pós-graduação, assim, como frequentes cursos de extensão oferecidos e/ou patrocinados pelos sistemas de ensino.

Embora não seja objeto deste estudo dissertar sobre a formação (ou a ausência de um percurso de formação) para gestores, tal fato não poderia deixar de ser mencionado, levando em conta o quanto pode exercer influências nas concepções e práticas dos gestores, em especial, de gestores na Educação Infantil.21