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A Educação Infantil está construindo sua história, buscando sua identidade

própria (CERISARA, 1999), e, neste contexto, inserem-se seus profissionais docentes e

gestores educacionais.

Sanches (2003, p.16), defende que as crianças são cidadãs, ‘sujeitos de direitos’, considerando “direito de brincar, ambiente aconchegante, contato com a natureza, higiene e saúde, alimentação sadia, imaginação e capacidade de expressão [...] e de desenvolvimento de sua identidade”. Estabelecendo o direito de aprender de maneira que a criança possa fazer relações do que sabe a uma nova leitura do mundo que a cerca (SANCHES, 2003).

Desta forma, levando em conta os teóricos pode-se entender que a gestão das instituições de Educação Infantil resulta um “novo entendimento a respeito da condução dos destinos das organizações, destinos esses, que leva em consideração o todo em relação com as suas partes e destas entre si” (LÜCK, 2005, p. 34). A organização da Educação Infantil deve ver estas diferenças como uma “nova forma de ver o mundo, novos conhecimentos em que se constrói a capacidade de argumentação, de crítica e de transformação” (MENDES, 2007, p. 41).

Partindo deste sentido de trazer algo novo, cito Cury (2007, p. 493) com conceito de gestão:

Gestão é um termo que provém do latim e significa: levar sobre si, carregar, chamar a si, executar, exercer, gerar. Trata-se de algo que implica o sujeito e um dos substantivos derivados deste verbo nos é muito conhecido. Trata-se de gestatio, ou seja, gestação, isto é: o ato pelo qual se traz dentro de si algo novo e diferente: um novo ente. Ora, o termo gestão tem sua raiz etimológica em ger que significa: fazer, brotar, germinar, fazer nascer. Da mesma raiz provêm os termos: genitora, genitor, gérmen.

Compreendo que a gestão em creches e pré-escolas de instituições de Educação Infantil não apenas lida com o que é novo e se prepara para o futuro, mas está em constante

gestar. Ou seja, o fazer nascer novas relações na gestão da Educação Infantil. Portanto, pode-

se afirmar que essa é uma profissão em processo de construção. É na história e no cotidiano das práticas de gestão que estamos constituindo esta profissão. Isto porque ainda temos pouca produção teórica, poucos estudos e vivemos atualmente um momento de descoberta. Sendo assim, é possível afirmar que a profissão de gestor ainda está sendo “gestada” em nossas instituições educativas. Partindo da análise do termo gestão, pode-se evidenciar o quão importante é o papel do gestor das instituições, dentre elas, as de Educação Infantil (SANTADE, 2013; CURY, 2007; GOLDSCHMIED; JACKSON, 2006).

Segundo Flôres e Tomazzetti (2012, p. 13), a atuação destes profissionais está restrita e muito ligada a cumprir tarefas, não havendo preocupação com o que a legislação preconiza sobre a gestão democrática, pois há prazos a cumprir, o que acaba por tirar o foco, a reflexão sobre o fazer do gestor na Educação Infantil.

De acordo com Kramer (2006), é necessário trazer, aos gestores, conteúdos próprios da Educação Infantil, voltados para a formação continuada destes profissionais. As práticas, muitas vezes, vêm dotadas de fazeres do Ensino Fundamental e Médio, e estas questões podem ser revistas e melhoradas com foco na Educação Infantil.

É importante ressaltar a busca pelo novo, pelo diferente: se as práticas de gestão nos parecem acontecer de maneira descendente, ou seja, dos últimos níveis educacionais para os primeiros, há que se considerar sua ineficiência, vistas as diferenças das necessidades de cada público. O que podemos fazer é aproveitar o que é possível e refletir para encontrar o que é necessário, considerando as lacunas e invisibilidades presentes na legislação. Cabe reforçar ainda mais, portanto, a necessidade de pesquisas e, principalmente, aquelas que ocorrem no campo da gestão na Educação Infantil. Estas pesquisas poderiam auxiliar, como muitas outras, na certeza da função das creches, pré-escolas e espaços institucionais que consiste, primordialmente, na formação de cidadãos e, sob este desígnio, compreendemos sujeitos conhecedores de seus direitos e atuantes no que concerne aos caminhos que pretendemos para sua própria vida e de seu país. Contudo, questiono: haveria espaço mais privilegiado que os espaços educacionais para a promoção de tal objetivo?

Kramer, Toledo e Barros (2014, p. 17), como citado anteriormente, mencionam a precariedade da formação de gestores na Educação Infantil, mas por que vivenciamos isso em nossas creches e pré-escolas? Existe falta de formação específica, ou não existe procura destes profissionais para formação?

Alguns aspectos ficaram evidentes nos resultados de recente estudo da Fundação Victor Civita, em parceria com a Fundação Carlos Chagas, Relatório final: A Gestão da

Educação Infantil no Brasil (CAMPOS, 2012), eu percebi que realmente muito pouco tem

sido pesquisado sobre a gestão na Educação Infantil no país, como demonstra o levantamento de produção realizado. Essa lacuna é, sobretudo, grave devido ao fato de que a gestão de creches e pré-escolas apresenta especificidades importantes quando comparada à gestão de escolas que atendem crianças maiores de seis anos de idade. Vários fatores evidenciam a gestão na Educação Infantil, com determinadas especificidades, entre eles, na concepção de Campos (2012, p. 22):

uma maior dependência das crianças pequenas em relação aos adultos; a necessária associação entre cuidado e Educação; a especificidade da função de professor(a) de Educação Infantil; o arranjo dos espaços; os cuidados com a alimentação e a saúde; o tipo de equipamento e materiais adequados à faixa etária; as características de um atendimento em tempo integral; o tipo de contato que deve haver com as famílias e o atendimento por meio de convênios com entidades privadas.

Analisando o todo até o momento, pensamos nas instituições de Educação Infantil entendendo que qualquer instituição existe com uma intenção e cumpre uma função social, econômica ou cultural em relação à comunidade de que faz parte, e uma instituição infantil não é diferente.

Afirma ainda Palmén (2014, p. 266) que:

[...] requer do gestor da Educação Infantil uma formação que compreenda as crianças em suas múltiplas linguagens e como portadoras de saberes, bem como o eixo de trabalho da Educação Infantil, ou seja, as interações e a brincadeira (BRASIL, 2009), articulando os conhecimentos que são inerentes à gestão escolar em termos burocráticos administrativos, com os conhecimentos pedagógicos que compõem as especificidades da Educação Infantil.

Neste mesmo caminho, é preciso pensar sobre os “processos de participação, a autonomia da unidade de Educação Infantil, o planejamento e a construção da proposta pedagógica institucional, as relações de poder no interior de creches e pré-escolas, a formação dos docentes e a relação com famílias e comunidade” (TOMÉ, 2011, p. 204).

No Brasil, a partir da década de 1980, a participação passou a ser vista como foco nas discussões políticas, sociais e culturais, impulsionada pelo fim dos períodos de ditadura e repressão militar. Neste mesmo período, já sabemos que as instituições dedicadas ao atendimento das crianças menores de seis anos passaram a compor o quadro da Educação Básica. Assim, neste mesmo período a legislação vigente passou a trazer a gestão democrática e participativa prevista na LDB (BRASIL, 1996a) e, de acordo com Victor (2014), esta lei regulamenta a gestão democrática nos sistemas de ensino, e a participação refere-se à elaboração do projeto político-pedagógico e à atuação em conselhos escolares ou similares.

Ademais, há um grande número de aspectos que precisam ser observados, como desafios cotidianos, que vão desde a falta de funcionárias16, necessidade de reuniões para o afinamento da equipe, organização de horários comuns para encontros entre os sujeitos que compõem o contexto educativo, já que as instituições de Educação Infantil atendem principalmente crianças cujos pais trabalham, e isto dificulta a abertura de um horário para reuniões. Além destes aspectos, ainda há o fato de o gestor ou gestora lidar com diferenças de opiniões ou concepções políticas que, mesmo não sendo o foco desta pesquisa, valem ser mencionadas. Também é importante citar a busca pelo bem-estar, não apenas das crianças, mas da equipe, o enfrentamento do estresse e o relacionamento com as famílias, e ainda, a formação e constante aperfeiçoamento da equipe. Estes aspectos, embora inerentes à gestão, de maneira geral, também precisam ser considerados na questão democrática e participativa, pois, voltando ao que afirma Victor (2014), a gestão participativa norteia o trabalho realizado nas instituições educativas.

No documento Critérios para um atendimento em creche que respeite os direitos

fundamentais das crianças, Campos e Rosemberg (2009, p. 32) trazem como políticas da

creche:

As creches são concebidas como um serviço público que atende a direitos da família e da criança. A política de creche procura responder ao princípio de igualdade. A política de creche prevê a gestão democrática dos equipamentos e a participação das famílias e da comunidade. Campos e Rosemberg (2009, p. 32).

A creche ou pré-escola precisa ser dirigida por sujeitos conscientes de suas responsabilidades político-pedagógicas. Além disso, é necessário compreender a gestão dentro de uma percepção participativa e democrática no sentido educativo no processo de administrar, que não é meramente dar ordens, incumbir atribuições, lançar tarefas, mas administrar coletivamente, produzindo significados e reais transformações. Isso pode ser explicado pelas palavras de Paro (1997, p. 112), quando afirma que, na instituição, “[...] não faz falta chefe, ou um burocrata, à escola faz falta um colaborador, alguém que embora tenha atribuições, compromissos e responsabilidades diante do Estado, não esteja apenas atrelado ao seu poder e colocado acima dos ideais”.

Surge, neste momento, um novo conceito de gestor que, conforme Chalita (2001, p. 100), é aquele que “vai até seus companheiros e interage, e observa, e resolve, e participa e constrói”. Muitas vezes, sabe-se que o diretor é sobrecarregado de atividades burocráticas, e

16 Sem desejar fazer discriminação de gênero, optamos por utilizar o gênero feminino por configurar o

com o acúmulo de responsabilidades, compreende-se que fica difícil lutar e buscar, ainda, a defesa da Educação Infantil e dos direitos e deveres funcionais dos profissionais deste segmento.

Desta forma, é relevante para a comunidade em geral conhecer e compreender que as narrativas e impressões das gestoras na Educação Infantil podem contribuir largamente para ações dentro da própria instituição, para a definição de políticas públicas e para tantas outras ações, que podem derivar da divulgação dos resultados desta pesquisa.

Sabe-se, ainda, que as instituições de Educação Infantil são muito influenciadas pela política local; isto é, os cargos de diretores e coordenadores, em muitos municípios, não são decididos democraticamente, mas politicamente. Nunes e Kramer (2014) já cita esta prática na sua pesquisa, realizada nos municípios do Rio de Janeiro e, cita a fragmentação do trabalho em virtude das interferências políticas:

[...] O princípio legal da gestão democrática do ensino público não era seguido em grande parte dos municípios pesquisados. O cargo de direção das instituições de educação infantil não era, em geral, ocupado com base em critérios claros, tornados públicos, com a participação da comunidade escolar. O uso partidário ou as interferências de interesses locais de grupos específicos prevalecia na indicação (NUNES; KRAMER, 2014, p. 33).

A referida pesquisa de Nunes e Kramer trata do município no Rio de Janeiro. Porém, é a realidade de nossos municípios que ainda não consideram a educação inteiramente como participativa e democrática, no que se refere à escolha de gestores. Ainda na mesma pesquisa, Nunes e Kramer (2014) relatam problemas visíveis no trabalho dos gestores na Educação Infantil em virtude das trocas e acordos políticos.

[...] a indicação política para o cargo de diretor e a interferência de políticos na gestão também estiveram presentes nos relatos, mas as entrevistadas ressaltaram a intenção de romper com tais práticas. Uma gestora disse: ‘Outra coisa é você ter o poder próximo, especialmente vereadores próximos. Isso é um carma. [A interferência] é violenta’ (NUNES; KRAMER, 2014, p. 22, grifos dos autores).

As interferências dentro e fora das instituições de Educação Infantil acabam fragilizando seu gestor e, em muitos casos, por acordos e trocas de governo, um gestor é substituído por outro. Isso é frequente e sabemos quantos danos podem causar ao bom funcionamento da instituição: são ações que cristalizam políticas externas aos espaços educacionais e, mesmo não pertencendo ao campo da educação, implicam e refletem nela.

No nível estadual, temos uma pesquisa de pós-doutorado das doutoras Márcia Buss-Simão e Eloísa Acires Candal Rocha, pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, inspirada na mesma pesquisa de Kramer e Nunes (2009), intitulada Professoras de

Educação Infantil: uma análise da constituição da docência no contexto Catarinense (2013).

Buss-Simão e Rocha trazem as seguintes informações no estado de Santa Catarina:

Quanto aos mecanismos de nomeação de Diretor de creche e pré-escola os dados no Estado indicam que tanto para creche como para pré-escola 81,% dos municípios informaram utilizarem o mecanismo de indicação para nomeação dos diretores. Dentre os 32 municípios respondentes, somente um município informou utilizar o mecanismo de concurso e outro município informou utilizar o mecanismo da eleição para nomeação de Diretor de creche, já para a nomeação do Diretor de pré-escola, os mesmos dois, municípios informaram utilizar a eleição (BUSS-SIMÃO; ROCHA, 2013, p. 42).

As pesquisadoras ainda explicam o fato de que dos municípios participantes dois municípios que não utilizam a nomeação, um deles é um município grande, mais de 300 mil habitantes e, o outro possui mais de 60 mil habitantes. As pesquisadoras ainda ressaltam que não encontraram dados acerca de concurso específico que seja usado como mecanismo de nomeação para diretor. Desta forma, acreditam que, através destes dados, existe ainda a necessidade de que haja mudanças e que se adotem mecanismos que ofereçam mais transparência, tais como concurso e eleição nos municípios de Santa Catarina. A razão para isto é que se considera que, na legislação, o que chamamos de gestão democrática é uma das maneiras de diminuir, ou mesmo acabar com influências políticas, que incluem partidos e até mesmo lugares.

Embora se acredite que houve um avanço em termos políticos nas instituições da rede estadual de Santa Catarina onde, a partir de 2015, o gestor é eleito democraticamente pelo voto, na rede municipal essa é uma prática que, na maioria dos municípios, ainda não acontece.

Sabe-se que se fala muito das práticas participativas, assim como na gestão democrática, entendo que na Educação Infantil pública ainda se veem dificuldades em promover um espaço institucional que permita a construção de práticas dialógicas que proporcionem o ouvir as crianças, as famílias e os profissionais. Estas questões nos fazem pensar: como são administradas as intuições de Educação Infantil em Laguna? Em que medida a gestão das instituições pode impactar a qualidade da educação de creches e pré- escolas? Como as crianças, professores e famílias participam da gestão?

Goldschmied e Jackson (2006, p. 71) fazem uma referência à gestão e ao gerenciamento de trabalho na creche em sua obra: Educação de 0 a 3 anos, o atendimento em

creche, estudo realizado com referência ao Reino Unido. As autoras evidenciam que é

“fundamental o papel da diretora da creche e seu gerenciamento do grupo de funcionárias”. Para tanto, elas elencam como foco do trabalho do gestor na Educação Infantil: o

estabelecimento de um objetivo comum para o grupo; o papel do organizador, enquanto liderança, que se constitui em elemento crucial na forma como estas instituições funcionam; a delegação de responsabilidades; e a comunicação dentro da instituição que precisa ser muito bem gerenciada.

O papel do diretor da creche e pré-escola, então, terá características particulares deste ambiente. Goldschmied e Jackson (2006, p. 73) relatam que o papel do gestor está cada vez mais exigente, pois “as expectativas em relação à qualidade do ambiente e do cuidado oferecido às crianças aumentaram, mas a oferta de treinamento e recursos para tanto não acompanhou o crescimento. [...] a presença ativa dos pais trouxe nova dimensão ao trabalho [...]”. Da mesma forma, na Educação Infantil há que se considerar suas necessidades e particularidades.

A experiência italiana de Educação Infantil tem promovido uma considerável interação entre professores, crianças, pais e comunidade. Consequentemente, tem melhorado a abordagem educacional, que se fundamenta na solidariedade e comunicação, além de colocar no mesmo patamar a participação das famílias, das crianças e dos professores, ou seja, mostra uma responsabilidade da sociedade. Para Spaggiari, “a criança [é] [...] objeto raro e precioso”, e educá-la “envolve muito apoio e solidariedade, muito compartilhamento de ideias, muitos encontros, pluralidade de visões e, acima de tudo, diferentes competências” (EDWARDS; GANDINI; FORMAN, 1999, p. 107).

Fortunati (2009), em seu livro intitulado A educação infantil como projeto da

comunidade, retrata uma experiência exitosa na cidade de San Miniato, na Itália. O autor

explica que foram necessárias considerações acerca do déficit de políticas para a infância. Também traz a importância da relação entre a família e a Educação Infantil, em que “a ideia e a imagem das crianças [...] é exatamente o oposto da idealização da infância [...] uma imagem vinculada à ideia de negociação [...]” (FORTUNATI, 2009, p. 55). O mesmo autor ainda traz o autêntico papel de direção como aquele que preza pela boa organização, que é imprescindível atribuir responsabilidade crucial aos educadores, além de planejar, de modo flexível e aberto.

Pontua, ainda, Fortunati (2009) a importância de refletir sobre as experiências e compartilhar com outros educadores e pais, ou seja, com outros atores, para construção participativa.

Quanto à gestão, o mesmo autor preconiza a integração do sistema de serviços, com o objetivo de programar e organizar serviços de qualidade. Para tanto, segundo Fortunati (2009), é fundamental integrar o cuidado à educação, uma vez que as crianças pequenas

necessitam de maior atenção por parte dos adultos; organizar ambientes que estejam de acordo com as necessidades das faixas etárias atendidas; planejar rotinas para atendimento em turno integral (caso de muitas creches); manter uma relação próxima com as famílias. As instituições de Educação Infantil têm preocupações peculiares, que geram demandas diversas das do Ensino Fundamental.

Em entrevista a Gandini (EDWARDS; GANDINI; FORMAN, 1999), Spaggiari relata que a participação comunitária da educação tem sido vista como meio de apoiar a inovação, estimular a cooperação entre educadores e pais, no que chamam de gestão social, e que compreendemos ser equivalente à nossa gestão participativa.

Quando se referem a esta forma de gestão em Reggio Emília, Ghedini (1998) esclarece que,

O conceito de “gestão social”, assim, não se refere apenas à gestão da escola, mas, antes, remete a uma concepção mais ampla, que passa pelo encaminhamento das próprias políticas educacionais sob a responsabilidade de determinado governo (no caso em questão, municipal) (GHEDINI, 1998, p.205-206, grifos do autor).

A base do projeto pedagógico que orienta as práticas desenvolvidas nas instituições de Educação Infantil em Reggio Emília é a participação, assim

[...] a gestão social não é apenas um instrumento de governo, mas um valor ético que permeia todos os aspectos da experiência educativa total. [...] a participação e a gestão social [...] são elas mesmas uma proposta educacional completa e sem diminuição de importância. [...] Não é possível falar de gestão social e participação na creche, sem relacioná-las com a organização dos espaços e dos tempos, com a programação didática, com a atualização do pessoal, com os horários e o trabalho, com o debate político e cultural, com os recursos econômicos, etc. Tudo isso fornece o quadro de uma gestão social que não pode ser considerada como uma simples proposta organizacional, uma forma metodológica de governo: é uma escolha de fundo, é uma concepção de prática educacional que certamente pressupõe um hábito mental, um estilo de trabalho e uma maneira diversa de relacionar-se com as pessoas, e entre as pessoas e as instituições (SPAGGIARI, 2001, p. 100-101).

Spaggiari ainda informa, na mesma entrevista, que, na Itália, esta prática já ocorre há muito tempo, e são salientados os valores da cooperação e do envolvimento. Os comitês criados visavam “inventar” uma instituição que envolvesse os pais, os professores, os cidadãos e os grupos de vizinhos não apenas na administração, mas também na defesa dos direitos das crianças (EDWARDS; GANDINI; FORMAN, 1999, p. 106). Também, para que “a experiência da participação permaneça válida e vital, ela deve ser guiada por considerações pedagógicas claras e bem-pensadas” (EDWARDS; GANDINI; FORMAN, 1999, p. 106).

Assim, no entrelaçamento de todas as vozes citadas, percebe-se na gestão das instituições de Educação Infantil, como em qualquer outra instituição educacional, a importância da participação de todos envolvidos, como as gestoras, professoras, crianças e

famílias. Uma gestão democrática busca uma educação que valorize a criança, fortalecendo uma democracia onde todos atores devem estar envolvidos, participando efetivamente para que o espaço se torne um ambiente onde se possa exercitar a democracia. Para se alcançar