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A CHEGADA DOS IMIGRANTES E A DISTRIBUIÇÃO DAS TERRAS EM SÃO LUDGERO

1. OS PRIMÓRDIOS DA PRODUÇÃO FAMILIAR EM SANTA CATARINA E NO MUNICÍPIO DE SÃO LUDGERO

1.2 A CHEGADA DOS IMIGRANTES E A DISTRIBUIÇÃO DAS TERRAS EM SÃO LUDGERO

Como foi visto, em Santa Catarina foram instaladas diversas colônias fundadas por imigrantes alemães, as quais se desenvolveram e fragmentaram-se, dando origem a vários municípios, entre os quais figura o de São Ludgero.

O processo histórico/geográfico que culminou na constituição deste município inicia-se no ano de 1859, quando o Governo Imperial atendendo recomendação contida em um relatório produzido sob o Governo de Luiz Pereira do Couto Ferraz e datado de 14 de abril deste mesmo ano, determina a fundação da

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Colônia de Teresópolis, determinação esta que se concretiza no ano seguinte (1860). 47 (ver figura 2)

No referido relatório constavam orientações precisas tanto no que se refere às características físicas da área em que a colônia deveria ser instalada quanto ao tipo de colonizador a ser ali introduzido, ressaltando-se que a colônia deveria localizar-se em terrenos devolutos, onde o clima e a fertilidade do solo não se constituíssem num entrave ao exercício da prática agropecuária, bem como que deveria haver uma criteriosa seleção dos imigrantes que iriam constituir a colônia.

Ao que tudo indica, no desenrolar dos eventos o Governo Imperial limitou- se em atender basicamente a recomendação para a fundação da colônia, não se preocupando em contemplar as demais sugestões contidas naquele relatório. Existem controvérsias inclusive sobre a origem dos próprios atores sociais que fundaram a colônia 48, fato que leva a pressuposição que não houve um processo seletivo do tipo humano a ser ali inserido, conforme havia sido sugerido naquele documento. Assim é que, se for tomado como base as pesquisas efetuadas por Dall’Alba, a Colônia de Teresópolis foi originada mediante a transferência de 44 colonos (43 alemães e um dinamarquês) que, por não estarem satisfeitos com as condições em que viviam na Colônia de São Pedro de Alcântara (fundada em 1829), no ano de 1837 resolveram se deslocar para aquela área. 49 Já se tomando como referencial os escritos de Jochem, a Colônia de Teresópolis surgiu mediante a instalação naquela área de 91 imigrantes (católicos e luteranos), em sua maioria oriundos da região da Renânia e Westfália, e que haviam chegado dois dias antes a Desterro, provenientes do porto de Antuérpia. De acordo com este autor, posteriormente a colônia recebeu mais uma leva de imigrantes (40 famílias originárias de Schleswig-Holstein, localizada ao norte da Alemanha), desta vez oriundos de fazendas do Rio de Janeiro, onde trabalhavam no sistema de parceria cultivando café. Em março de 1861 o número de habitantes na colônia era correspondente a 622 indivíduos e, “ao final de 1861, a colônia possuía 200 famílias, sendo 137 prussianas, 40 provenientes de Holstein, 13 holandesas e 10 de

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JOCHEM, Toni Vidal. (b) A formação da colônia alemã Teresópolis: e a atuação da Igreja Católica (1860-1910). Palhoça/SC: Ed. do autor, 2002, p. 39.

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FARIAS, Kelson Adriani de. 130 Anos de Colonização Alemã em São Ludgero. São Ludgero/SC: Prefeitura Municipal, 2003, p. 51.

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Hessen”. 50 Com base no Livro do Tombo da Paróquia do Braço do Norte, Alves aponta ainda que em 1862, chegaram ao Brasil quarenta famílias de alemães católicos provenientes da região de Münster – Westfália, as quais foram encaminhadas pelo governo imperial para a localidade do Rio Salto, na Colônia de Teresópolis. 51

Não sendo do interesse aqui discutirmos e nem aprofundarmos sobre a forma como se deu a fundação dessa colônia, resta mencionarmos que, uma vez instalados em Teresópolis, os colonos se depararam com um relevo extremamente acidentado e de solo pouco fértil, sendo que as parcas áreas de terras em condições mais apropriadas para a prática agrícola e que ficavam as margens dos rios Cubatão e Cedro sequer possibilitavam a produção em quantidade suficiente dos gêneros alimentícios de primeira necessidade, o que gerou um descontentamento generalizado entre os colonizadores.

Dall’Alba faz uma exposição um tanto quanto sombria – porém não alheia a realidade –, acerca da situação em que se encontravam os imigrantes alemães na Colônia de Teresópolis. Assim se refere o autor:

O que mais nos interessa agora é imaginar a triste situação dos imigrantes alemães que, em 1860 haviam feito o sacrifício de deixar a pátria civilizada e aqui tinham chegado plenos de róseas esperanças. Com mil sacrifícios derrubaram a floresta, isolados de todo o conforto material, social e espiritual. Resultado: Pobreza? Não. A miséria, o desespero. Pensemos nesta situação: miseráveis no meio da floresta, sem possibilidades de progredir, por que a terra não ajudava, sem esperanças, eles que haviam sido atraídos da Europa para melhorarem sua situação na América! 52

Infelizmente não se pode dizer que a situação vivida pelos imigrantes alemães após sua chegada ao Brasil tenha sido diferente da encontrada pelos demais povos que para cá se deslocaram.

Se reportando ao Vale do Rio Tijucas, Corrêa & Gerardi mencionam que os primeiros imigrantes a se instalarem em Tijucas foram casais açorianos, no ano de 1775, e que até o século XIX poucos núcleos coloniais haviam sido fundados naquele espaço, referenciando os seguintes: São João Batista (1834) e Colônia Nova Itália (1836), atual município de São João Batista; Ribeirão Alferes (1836), atual município de Nova Trento; Colônia Nacional Flor da Silva (1843), atual

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JOCHEM, Toni Vidal, (b), op. cit., p. 42.

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ALVES, Elza Daufenbach, (a), op. cit., p. 14.

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município de Canelinha, cujos territórios pertenciam até então a Tijucas. As autoras destacam que “nos primeiros tempos da colonização, o inexpressivo contingente populacional que habitava o hinterland possuía parcos recursos financeiros, ressentindo-se da falta de investimentos governamentais em infra-estrutura, característica comum praticamente a todas as colônias fundadas em Santa Catarina até aquele momento.” Registram, ainda, que os objetivos maiores da Metrópole Portuguesa estavam voltados basicamente para interesses estratégicos, sendo a ocupação territorial justificável sob a ótica de “povoar para dominar”, razão pela qual durante aproximadamente um século a economia de Santa Catarina se manteve em “moldes de subsistência”. 53

Por sua vez, Lago comenta que muitos dos colonos europeus que se instalaram em Santa Catarina na condição de desbravadores a partir de 1829 se decepcionaram profundamente ao perceber que as informações que lhes foram passadas pelas empresas de colonização não correspondiam exatamente a Canaã prometida. Baseado em documentos escritos pelo Pe. Luigi Marzano, Lago transcreve alguns infortúnios dos primeiros grupos de colonos italianos instalados em Urussanga, ali fixados por volta de 1880, portanto meio século após a fundação da primeira colônia germânica em Santa Catarina (Colônia de São Pedro de Alcântara), que segundo o autor foi também a pioneira em amargar toda sorte de desamparo no mundo catarinense. Para ele, os colonos desbravadores foram os que puderam fazer uma comparação nua e crua entre o que aqui encontraram e o que deixaram para trás, ou seja, ao contrário das gerações que lhes sucederam, “foram os colonos desbravadores que mais motivos tiveram para avaliar que o país novo tinha muito de pior em relação ao país que deixaram distante.” 54 No comentário a seguir, Lago sintetiza o drama vivido pelos imigrantes instalados em Santa Catarina, cujo texto certamente pode ser utilizado para descrever as condições de vida enfrentada pelos demais imigrantes estrangeiros espalhados pelo interior do Brasil.

Para os desbravadores que puseram as botas e sapatos em terras virgens, apenas pisadas por pés descalços de esparsos e temerosos indígenas neolíticos, o drama e a tragédia substituíram quase sempre o leite e o mel da Canaã sonhada. O paraíso prometido pelas

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CORRÊA, Walquíria Krüger & GERARDI, Lúcia Helena de Oliveira. Transformações sócio- espaciais no município de Tijucas (SC): o papel do grupo USATI-PORTOBELLO. GEOGRAFIA. Rio Claro. v.22, n.2, out. 1997, p. 118.

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empresas de colonização tornou-se para muitos a frustração, o inferno, a prisão perpétua ou o drama constante da necessidade de buscar novos endereços em outra colônia, em longínqua e mais promissora frente pioneira. Ou, prestarem serviços remunerados, além de trabalhos como forma de pagamento de glebas, impostos por termos contratuais, em abertura de estradas públicas, em vilas e pequenas cidades próximas ao local previamente destinado. 55

O relato acima retrata quase que fielmente o ocorrido na Colônia de Teresópolis. A localidade de Rio Salto (denominação do espaço que foi ocupado pelos imigrantes westfalianos) está encravada em um pequeno vale, de relevo extremamente irregular, fator que reduzia consideravelmente as áreas disponibilizadas para o uso em atividades agrícolas. Aliado ao problema de falta de terras propícias a prática agrícola, a localização geográfica em que se encontravam estes colonos impedia que as famílias tivessem um contato mais regular com os núcleos urbanos, dificultando o intercâmbio comercial, o socorro medicinal e até mesmo a convivência social, sobretudo em função da distância e da precariedade das vias de acesso que os interligavam.

Considerando a bagagem cultural destes imigrantes, sobretudo no que diz respeito ao conhecimento que detinham acerca das técnicas de produção agropecuária utilizadas em sua pátria de origem, não é de se estranhar a dificuldade que tiveram em se adaptarem às condições topográficas e edáfico/climáticas encontradas na Colônia de Teresópolis.

Entre as dificuldades de adaptação dos colonos à nova pátria, estava incluída até a assimilação de novos hábitos alimentares, uma vez que muitos dos alimentos que estavam acostumados a consumir e que conseguiam produzir na Europa, simplesmente não conseguiam cultivar no Brasil, seja pelas diferenças do clima ou porque não dispunham de meios eficazes de eliminar os insetos daninhos que sistematicamente destruíam as lavouras. Priore & Venâncio relacionam uma série de insetos e de outros animais vistos como inimigos naturais no caminho dos colonos, sobretudo quando estes passaram a derrubar as matas e com isto quebrar o equilíbrio do meio ambiente em que praticavam a agricultura. O inseto que causava maiores danos aos cultivos eram as formigas, principalmente a denominada cortadeira ou saúva. Este inseto tem por hábito atacar as lavouras cortando e carregando as folhas das plantas para o interior do formigueiro a fim de cultivarem

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fungos com os quais se alimentam. Segundo os autores, a quantidade dessa espécie de formigas era tão grande que já no século XVI os portugueses as apelidaram de o inseto rei do Brasil. 56

Conforme lembra Dirksen, a conformação topográfica dos campos na Westfália é extremamente plana e uniforme, ao ponto de existir um ditado popular na região que diz que quando uma pessoa está por receber uma visita, pode enxergar o visitante três dias antes dele chegar à sua casa. 57 Assim, afora terem que forçosamente se adaptar a uma paisagem que lhes era totalmente nova e que em quase nada era semelhante a que estavam acostumados, estes westfalianos se depararam com um problema ainda maior, qual seja, o fato de que as tentativas de reprodução das técnicas agrícolas adotadas em seu país de origem em muitos casos se mostraram ineficazes, infrutíferas e até mesmo inaplicáveis na nova pátria, dado terem sido gradualmente desenvolvidas e adaptadas para uso em um ambiente físico totalmente adverso ao encontrado em solo brasileiro. Cabe destacar que esta mesma dificuldade também se fazia presente em muitas outras colônias de origem européia instaladas no sul do Brasil.

Em relação à mudança dos hábitos alimentares Seyferth observa que o aspecto mais interessante foi a necessária adaptação dos povos europeus àquilo que podia ser cultivado no Brasil. Indo além, a autora destaca que a própria subsistência dos colonos passou a ficar condicionada e dependente de três produtos nativos básicos: o milho, o aipim e a cana-de-açúcar. 58 Por sua vez Priore & Venâncio referenciam que o trigo é um exemplo clássico de grão que inicialmente os imigrantes europeus fracassaram em suas tentativas iniciais de reproduzir nos trópicos. 59

Diante a falta de terras agricultáveis que pudessem lhes garantir a subsistência e reprodução, e considerando as demais limitações impostas pelas características físicas do espaço em que foram instalados levou os colonos buscarem alternativas para superar suas dificuldades. Estimulados pelo padre Guilherme Röer (1821-1891), pároco que tinha vindo da Alemanha para prestar

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PRIORE, Mary Del & VENÂNCIO, Renato. Uma história da vida rural no Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006, pp. 83-99.

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DIRKSEN, Valberto. Viver em São Martinho: a colonização alemã no Vale do Capivari. Florianópolis: Ed. do autor, 1995, p. 23.

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SEYFERTH, Giralda, (b), op. cit., p. 33. A autora descreve detalhadamente as várias formas de utilização destes três produtos pelos colonos as quais, por serem já bastante conhecidas, deixamos de reproduzir neste trabalho.

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assistência espiritual aos imigrantes germânicos das colônias do sul catarinense, 52 famílias de colonos insatisfeitos com as condições de vida que levavam na Colônia de Teresópolis, em 21 de outubro de 1872 enviaram uma petição ao Governo Imperial solicitando que lhes fossem concedidas terras localizadas no Vale do Braço do Norte. Em novembro do mesmo ano, o Ministério da Agricultura comunica ao Presidente da Província que havia atendido ao pedido efetuado por aquelas famílias e que estas estavam autorizadas a se instalarem no local solicitado. 60

Assim, em 1873 61 essas famílias de colonizadores alemães, em sua maioria westfalianas, foram transferidas da Colônia de Teresópolis para o Vale do Braço do Norte, ocupando terras que até então eram parcialmente utilizadas por alguns elementos de origem açoriana, uma pequena parcela de índios do grupo carijós e outros poucos caboclos nacionais que ali já haviam se estabelecido, iniciando formalmente a colonização da área que futuramente iria dar origem ao atual município de São Ludgero. 62

A despeito de todas as dificuldades que tiveram no processo de transferência para a nova área, pelo menos no que se refere ao ambiente físico no Vale do Braço do Norte os colonos westfalianos encontraram um relevo não só mais propício ao manejo do solo como também a fertilidade deste superava ao da antiga colônia. Embora a paisagem ainda fosse muito diferente da que estavam acostumados em sua terra natal, ali existiam terras em quantidade suficiente para alojar e propiciar que as famílias pudessem desenvolver as atividades agropecuárias que desejassem. Ou seja, a falta de terras ou a qualidade do solo, deixavam de se constituir em argumento para justificar uma possível não adaptação dos colonos ao novo espaço em que foram inseridos.

Um outro fator positivo (se é que assim o podemos considerar) é que, mesmo levando-se em conta o fato destes colonos estarem passando pela difícil experiência de recomeçar a vida praticamente do zero num intervalo de tempo correspondente praticamente a uma década, isto de certa forma tornou a tarefa um

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DALL’ALBA, João Leonir, (a), op. cit., p. 52.

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Existem controvérsias quanto a data precisa da transferência dos imigrantes alemães da colônia de Teresópolis para o vale do Rio Braço de Norte. Segundo Dall’Alba (op. cit., p. 53.) “muitos trabalhos de escola trazem a data de 1870. Monografias das prefeituras dão 1872. O livro do tombo de S. Ludgero, em página escrita em 1901, diz que a chegada foi em 1873. Os documentos do agrimensor Schalappal, de 1881, sempre marcam o início em 1874.” Embora a discrepância de datas, concordamos com a opinião deste autor quando este diz, baseado nas informações do livro do tombo, que isto deve ter ocorrido “de certo em fins de 1873.”

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tanto menos penosa quanto poderia ser em função de já terem aprendido, mesmo que com muito sacrifício, a enfrentarem as adversidades impostas pelo meio ambiente catarinense.

Sob um outro ponto de vista, cabe relembrar que estes colonos eram oriundos de uma mesma região da Alemanha, mais precisamente da região de Münster – Westfália. Embora não tenhamos encontrado elementos para afirmar que existia grau de parentesco entre eles e nem mesmo se estes mantinham relação de amizade em Münster, o fato é que estas famílias de colonos já eram conhecidas entre si, isto porque haviam convivido por vários anos na Colônia de Teresópolis, local de onde estavam migrando e que haviam inicialmente se estabelecido quando da sua chegada ao Brasil em 1862. Isto certamente deve ter facilitado bastante a adaptação das famílias no novo espaço para onde estavam se instalando, uma vez que a lógica leva a crer que estas deviam ser solidárias entre si.

Com relação à extensão das áreas de terras recebidas por cada família de colonos, Dall’Alba 63 apresenta duas versões, cujos valores expressos não são idênticos. Primeiro, na página 52 da obra citada, menciona que o Governo Imperial concedeu aos colonos “lotes de 150 braças 64 de frente, por 883,3 de fundo, ou 125000 braças quadradas, medidas à custa do [próprio] Governo” 65 e, posteriormente, na página 77 da mesma obra, cita o relatório datado de janeiro de 1879 e que foi efetuado pelo agrimensor Carlos Othon Schalappal (responsável pela demarcação das terras concedidas aos colonos), onde aquele diz que o tamanho dos lotes recebidos por cada família era equivalente a 605.000 m2 (60,5 hectares), sendo 330 m de frente por 1.833,3 m de fundos.

Já as informações contidas na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros indicam que cada família que se estabeleceu no Vale do Rio Braço do Norte recebeu entre 150 a 200 morgen (1 morgen = 2.500 m2) de terras, o que corresponde respectivamente a 37,5 hectares e 50 hectares.66

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DALL’ALBA, João Leonir, (a), op. cit.

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De acordo com o Dicionário Aurélio, “braça” é uma antiga unidade de medida de comprimento equivalente a 2,2 m.

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Percebe-se que há algum equívoco nos dados informados, uma vez que a multiplicação da metragem dos lados não corresponde ao valor apresentado para a área total dos lotes. (150 braças x 883,3 braças = 132.495 braças2). Por outro lado, considerando estes números, a área das propriedades seria equivalente a 64,12 hectares.

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ENCICOLÉDIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS. Volume XXXII. Planejada e Organizada por Jurandyr Pires Ferreira. IBGE/RJ, 1959, p. 42.

A desigualdade no tamanho das áreas disponibilizadas aos colonos estava relacionada à própria topografia do terreno, sendo que os lotes que apresentavam obstáculos de ordem natural e que por isto tendiam a dificultar o uso do solo (tais como a presença de morro, pântanos, pedreiras, etc.) possuíam maior extensão territorial.

Em que pese as diferenças existentes quanto ao tamanho de cada lote 67, o sistema de distribuição de terras baseou-se no modelo tradicional, ou seja, as propriedades foram projetadas em forma retangular, sendo que a frente dos lotes ficou sendo o rio Braço do Norte 68 e a outra extremidade era direcionada às encostas.

Mesmo que se tome como referência o menor registro de área concedida (37,5 hectares), consideramos que o tamanho dos lotes não só impuseram uma grande carga de trabalho inicial aos colonos – uma vez que as terras a serem ocupadas eram cobertas por uma densa floresta –, como também contribuíram para um relativo isolamento dos mesmos dentro das propriedades, dado que, em função das dimensões dos lotes, não havia possibilidade deles construírem suas habitações uma próxima das outras.

Esta situação era incomum aos colonos e contrastava significativamente com o modo de vida que estavam acostumados na Westfália. Lá estes se agrupavam em pequenas vilas, sendo que os espaços utilizados na atividade agrícola situavam-se nas áreas periféricas a estas. Com relação a este aspecto não há dúvidas que os colonos tiveram que se submeter a um estilo de vida diferente da que levavam na terra natal, inclusive tendo que abandonar parte de seu conhecimento tradicional de trabalho, uma vez que as técnicas de produção agropecuária a serem empregadas no solo brasileiro deveriam ser adaptadas às condições edáfico e climáticas locais, as quais diferiam das encontradas na Alemanha. Mais do que isto, uma vez que não dispunham de equipamentos mecanizados que os ajudassem no processo produtivo, os colonos tiveram que se resignar a exercerem os trabalhos à base de enxada e até mesmo da estaca de cavar.

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Cabe lembrar que, conforme foi visto anteriormente, vários autores apontam que o tamanho médio dos lotes nas colônias européias fundadas em Santa Catarina girava em torno de 25 hectares. Isto significa dizer que a área de terras concedidas aos colonos westfalianos que se transferiram da