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A REVOLUÇÃO VERDE E A TERRITORIALIZAÇÃO DO CAPITAL NA AGRICULTURA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Foto 5 e 6 – Vista aérea da disposição das benfeitorias em algumas propriedades rurais.

2. A MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL E SUAS IMPLICAÇÕES NO ESPAÇO RURAL E NA AGRICULTURA FAMILIAR BRASILEIRA

2.1 A REVOLUÇÃO VERDE E A TERRITORIALIZAÇÃO DO CAPITAL NA AGRICULTURA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Com o advento da Revolução Industrial (registrada a partir do início do século XVIII, na Inglaterra) e das inovações tecnológicas por ela geradas, ocorreram significativas transformações nos sistemas de produção agropecuários em que tais tecnologias foram inseridas, o que leva à conclusão que a influência de fatores externos sobre o mundo rural não é um fenômeno recente.

Particularmente no que diz respeito ao uso de insumos químicos, a literatura tem apontado que a influência do capital sobre a agricultura tornou-se mais acentuada a partir do período pós-guerra, quando as indústrias bélicas tiveram que encontrar alternativas para o consumo da matéria-prima utilizada na confecção de armas químicas cujo uso havia sido abolido nas frentes de batalha, mediante o acordo efetuado entre as nações na Convenção de Genebra. 113

Frente à impossibilidade de continuarem a utilizar os grandes estoques de produtos químicos disponíveis na produção de armamentos, após a Primeira Guerra Mundial os laboratórios industriais voltaram sua atenção para pesquisas que indicassem uma outra forma de uso para os gases venenosos que dispunham em estoque e para os que pretendiam continuar produzindo. Neste processo, os cientistas descobriram que tais produtos eram potencialmente eficientes no controle de insetos, seres vivos que não raro se multiplicavam em números alarmantes provocando grandes prejuízos nas plantações agrícolas. Criou-se assim um mercado alternativo para estes agentes químicos, que de matéria prima para confecção de armas bélicas destinadas a eliminar seres humanos passaram a ser utilizados no combate às pragas que atacavam as lavouras. 114

Surgiam, assim, as indústrias agroquímicas. Porém, o fato das indústrias terem encontrado um novo campo para o uso desses componentes químicos não

113

A ampla utilização de armas químicas durante a Primeira Guerra Mundial e os horrores causados por tais armas levaram à assinatura em 1925 do Protocolo de Genebra, que proibia o uso de gases asfixiantes ou venenosos e de métodos de guerra bacteriológicos. Esse Protocolo, cujo objetivo era banir o uso de armas químicas e biológicas em guerra, não foi assinado pelos EUA. (PINHEIRO, Sebastião. Retornando ao Futuro. In: PINHEIRO, Sebastião et al. Agropecuária sem veneno. Porto Alegre/RS: L&PM Editores Ltda., 1985, p. 11.).

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era, por si só, suficiente para resolver os problemas da demanda reprimida. Tornava-se imperativo que fosse criada uma estrutura ideológica que pudesse ressaltar as vantagens desses componentes e que incentivasse os agricultores a utilizá-los intensivamente nas práticas agropecuárias. Nesse sentido, os países mais interessados na questão (cuja liderança estava centrada nos Estados Unidos da América (EUA), e tinham os europeus e os japoneses como coadjuvantes) passaram a forjar e introduzir expressões inovadoras ao vocabulário usualmente utilizado nas referências ao setor agropecuário, cujo objetivo era estabelecer uma diferenciação entre os produtores rurais, sobrevalorizando a capacidade ou não destes conseguirem incorporar as novas tecnologias disponibilizadas pelas recém instaladas indústrias agroquímicas. A intenção era desqualificar qualquer modo de produção agropecuário que não tivesse por base o uso de insumos industriais, de forma a criar-se um mercado consumidor para estes produtos.

Buscando alcançar este objetivo, aqueles países passaram a considerar a agricultura praticada nos países subdesenvolvidos – onde o produtor rural decidia o que plantar conforme suas conveniências, associando a produção agrícola diversificada com a criação de animais –, como agricultura de subsistência. Esta expressão carrega em seu bojo uma clara intenção de colocar os produtores rurais que exercem seu ofício com base em técnicas tradicionais de trabalho na condição de inferioridade em relação aos seus pares dos países industrializados, ou seja, ela induz a pensar que a produção agrícola praticada nesses moldes não permite nada além do que a própria subsistência dos trabalhadores.

Tomando por base esta rígida delimitação, excetuando-se alguns países que já haviam conseguido chegar a um patamar tecnológico mais avançado (o que não significa dizer que esta tecnologia tenha sido incorporada linearmente em seus sistemas de produção agropecuário), descortinava-se um enorme mercado consumidor para os produtos agroindustriais, uma vez que os países ditos subdesenvolvidos – que detinham a maioria absoluta da população mundial – até então não tinham outra forma de exploração agropecuária que não a associada a esta “agricultura de subsistência”. No Brasil, por exemplo, até o final da década de 1940 raros eram os ramos de produção agropecuário que dispunham incorporados aos seus sistemas produtivos a tecnologia que já vinha sendo utilizada nos países industrializados. Em pequenos municípios do território brasileiro, como é o caso específico de São Ludgero, no Estado de Santa Catarina, onde a produção agrícola

se desenvolveu e concentrou em pequenas propriedades e onde a mão de obra familiar sempre foi o principal instrumento de trabalho, sem dúvida alguma as atividades agropecuárias ali desenvolvidas se enquadravam nesta delimitação. Sob esta ótica São Ludgero se constituía, assim como outros pequenos municípios do Brasil e de vários países do mundo, num alvo para os interesses comerciais do setor industrial.

Contrapondo-se a este tipo de agricultura, vista como atrasada e inoperante, apresenta-se a imagem ideal da agricultura moderna, que seria aquela em que se explora intensamente o solo, em que se utiliza em larga escala os insumos químicos e energia mecânica nas atividades produtivas, em que se procura produzir o que dá mais lucro, enfim, aquela que permite o aumento da produtividade e que, teoricamente, propicia um maior retorno financeiro aos agricultores. A difusão dessas rotinas operacionais a serem incorporadas às práticas agrícolas seria o suporte para o desenvolvimento e consolidação do modelo de produção que mais tarde viria a ser mundialmente conhecido como Revolução Verde. 115

Para que o capital internacional tivesse sucesso em sua empreitada tornava-se imperioso a desarticulação do saber tradicional campesino (entendido este como o conhecimento das técnicas tradicionais de produção agropecuária e que eram transmitidas de geração a geração), sendo este o principal obstáculo a ser superado para a expansão do comércio de insumos industriais (máquinas, ferramentas, fertilizantes, defensivos, etc.) entre os agricultores. David Lyon (apud Sanchez) utiliza as seguintes palavras para descrever a força destruidora de agentes externos sobre as relações socioeconômicas que caracterizavam e davam conotação ao modo de vida às populações rurais:

A modernidade, ao instaurar um novo projeto de vida, com seu estilo próprio, confronta-se com o anteriormente vigente baseado na autoridade da tradição. Era necessário, então, destruir esse projeto com o qual ela se confrontava para possibilitar a circulação das novas idéias, dos novos valores, do novo modus vivendi: a tradição

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O que se compreende por Revolução Verde é, na verdade, um conjunto de tecnologias (também conhecido por pacotes tecnológicos) que deveriam ser aplicadas simultaneamente nas lavouras, objetivando a melhoria da produtividade agrícola. Isso implicava necessariamente em alterar o sistema de cultivo tradicional e na adoção de práticas tecnológicas, que incluíam: emprego de variedades vegetais geneticamente melhoradas; utilização de fertilizantes químicos de alta solubilidade; uso de agrotóxicos com maior poder biocida; estruturação de um sistema para irrigação das lavouras e a motomecanização das atividades produtivas. Para maiores informações sobre este assunto ver: PINAZZA, Luiz Antônio & ARAÚJO, Ney Bittencourt de. Os desencantos com a “Revolução Verde”. In: Agricultura na virada do século XX: visão de agribusiness. São Paulo/SP: Globo, 1993, pp. 99-104.

sustentada pela vida da comunidade da aldeia, pela vida religiosa ou pela autoridade dos mais velhos é substituída pela disciplina e pela autoridade baseadas em princípios racionais e pela organização burocrática da vida social. 116

Embora trate da modernidade enquanto superação do modelo de sociedade medieval, o pensamento de Lyon foi aqui inserido porque é plenamente adaptável ao assunto que estamos abordando. Baseado neste autor, poderíamos dizer que a condição para a possibilidade de instalação em uma determinada sociedade de qualquer projeto – econômico, social ou cultural –, dependerá da força que dispõe esse projeto para apagar e/ou ocultar o modo de vida até então vigente nessa sociedade.

Apesar de no momento estarmos focando a problemática no plano internacional, nunca é demais registrar que a assimilação deste novo padrão de produção agropecuário pelos agricultores provocou mudanças significativas nas comunidades rurais, embora estas não se manifestem de forma linear e nem homogênea. Particularmente no que se refere ao município de São Ludgero, as últimas três décadas podem ser denominadas de período de destruição dos saberes

tradicionais (ver box 3), da autonomia familiar e da solidariedade comunal.

Conforme será visto no decorrer deste trabalho, a vida cotidiana (ver box 3) da população rural, até então assentada numa base de permanência, no trabalho ditado pelo ritmo da natureza, na religiosidade, numa relativa autonomia em relação ao mercado, na sobrevivência assentada na solidariedade comunal e na autoridade dos mais velhos 117, deu lugar à competitividade, a exclusão e a dependência do mercado.

Nesse sentido, não há dúvidas que a Revolução Verde ocupa um papel preponderante nas transformações que se processaram nos sistemas de produção rurais, sendo fruto de uma lógica utilizada pelo capital internacional para se expandir e multiplicar-se em outros setores produtivos.

Conscientes de que as sociedades não mudam seus padrões de comportamento de uma hora para outra, as indústrias agroquímicas se empenharam em imprimir uma nova mentalidade sobre o mundo rural. O mecanismo utilizado foi a instituição de uma estrutura ideológica/mercadológica cujo objetivo era estorvar o

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SANCHEZ, Wagner Lopes. Modernidade, pluralismo e reinvenção religiosa. Da possibilidade de pensar o pluralismo religioso a partir de Weber. ArtigoPlural-Weber99, pp. 1-18, São Paulo, p.2.

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processo de reprodução do conhecimento entre as gerações de agricultores, levando-os a abandonarem as técnicas tradicionais de trabalho e a se vincularem ao novo modelo de produção agropecuária, que tinha no uso de insumos industrializados a sua principal característica. No decurso desse evento o capital

Box 3

Saber Tradicional Vida Cotidiana No presente estudo, será

entendido como “saber tradicional” todo conhecimento obtido por legado geracional. Na medida em que é transmitido de geração à geração o saber tradicional tende a sofrer mutações, uma vez que a ele são agregados as experiências vividas pelos indivíduos durante o processo de desenvolvimento das atividades a que se propõem executar. Isto pressupõe aceitar-se o entendimento de que o saber tradicional não é uma forma estática de reprodução de conhecimento, mas a incorporação contínua de valores e hábitos assimilados ao cotidiano social e que são transmitidos de uma geração à outra. Com o advento da modernização tecnológica, as indústrias quebraram o elo que existia entre as gerações de agricultores, uma vez que lhes retirou a possibilidade de serem os transmissores do conhecimento. O aprendizado não se dá mais através das experiências do trabalhador em sua inter-relação com o mundo natural, mas sim através das inovações tecnológicas que inevitavelmente têm que incorporarem, e que são desenvolvidas e advindas de laboratórios industriais. As técnicas tradicionais de produção agropecuária estão desaparecendo com esse processo, carregando consigo muitos produtores rurais que não conseguem se modernizarem.

Cotidiano (vida cotidiana):

“vida cotidiana” aqui é entendida conforme definição dada por Heller 118, onde “o indivíduo é sempre, simultaneamente, ser particular e ser genérico”. Enquanto ser particular, a dinâmica básica do indivíduo é a necessidade de satisfação das necessidades do “eu”; enquanto ser genérico o homem “é produto e expressão de suas relações sociais, herdeiro e preservador do desenvolvimento humano”, ou seja, um ser socialmente integrado. Ainda segundo Heller, o homem se insere na cotidianidade através das relações com o mundo e o momento social em que vive, e também através de seu passado histórico.

Essa definição de cotidiano torna-se importante na medida em que permite o entendimento de que o produtor rural não é um ser socialmente isolado. Assim, mesmo que seja detentor de um conhecimento tradicional, ao se relacionar com os demais atores sociais este vai incorporando novos conhecimentos aos processos produtivos que visam atender suas necessidades os quais, em última análise, tenderão a transfigurar o conhecimento que até então detinha.

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industrial contou com o apoio de diversos setores da sociedade, inclusive dos profissionais da esfera acadêmica, sendo vários os trabalhos de cunho científico desenvolvidos sobre este tema, muitos dos quais contribuíram significativamente para a propagação deste modelo de exploração agropecuária.

Entre as obras que influenciaram os governos de países do Terceiro Mundo a implementarem mudanças em seus sistemas produtivos agropecuários, talvez a mais significativa tenha sido a de Theodore Schultz, publicada em 1965, sob o título Transformando a Agricultura Tradicional. 119

A teoria de Schultz estava centrada na idéia de que os agricultores dos países subdesenvolvidos eram pobres não devido à preguiça ou à ignorância, mas sim porque lhes faltavam condições técnicas para exercer seu ofício de forma mais produtiva. Para ele os produtores rurais do Terceiro Mundo podiam ser pobres, mas eram eficientes. Com este entendimento, em suas análises o autor defendia que a saída para alterar a agricultura de subsistência estava na utilização de insumos modernos e no necessário investimento industrial de forma a gerar inovações de alta resposta em termos de produção. Foi com base nos postulados teóricos de Schultz que se formaram muitos dos técnicos e profissionais responsáveis pela implantação de centros de pesquisa agropecuária, os quais acabaram por consubstanciar a Revolução Verde.

No Brasil, a obra de Schultz ainda se constitui um marco referencial nos estudos efetuados sobre a gênese do processo modernizante do setor agropecuário do país, sendo muito citado em trabalhos acadêmicos que versam sobre este tema. Assim é que, para Abramovay, ao analisar a condição socioeconômica em que se encontrava os povos que tinham por base a prática agrícola tradicional – como era o caso do Brasil –, Schultz defendia que

Sua emancipação da miséria depende, antes de tudo, que sejam alterados os meios com que trabalham. Caso contem com máquinas e insumos modernos, os agricultores saberão encontrar uma razão tal entre seus custos e resultados econômicos que seu comportamento maximizador se traduza por substancial aumento do produto. (...) Somente máquinas e insumos de origem industrial, combinados com um sistema de pesquisa e extensão (voltados precisamente para este tipo de modernização) podem elevar a produtividade do trabalho (...).120

119

SCHULTZ, Theodore. Transformando a agricultura tradicional. Rio de Janeiro: Zahar, 1965.

120

ABRAMOVAY, Ricardo. (a) Paradigmas do capitalismo agrário em questão. Campinas/SP: Editora da Unicamp, 1992, p. 84.

Outro pesquisador brasileiro que discorre sobre este assunto é Anjos, que procura sintetizar o modelo proposto por Schultz nos seguintes termos:

Schultz revela que o problema dos países pobres reside muito mais na existência de uma baixa produtividade do trabalho do que de uma má utilização dos fatores existentes, cabendo ao Estado a implementação de projetos de desenvolvimento com vistas a elevar a eficiência técnica e econômica das explorações agrícolas. 121

Depreende-se, das palavras de Anjos, que o capital multinacional não teria a função de ser o agente financiador nesse processo, sendo que o suporte aos agricultores desprovidos de condições financeiras para aquisição dos insumos agroindustriais (sementes melhoradas, adubos e defensivos químicos, máquinas e equipamentos agrícolas, etc.), ficaria a cargo do Estado.

Dessa forma, o padrão agrícola baseado na utilização de insumos químicos e na motomecanização das atividades agropecuárias foi difundido pelo mundo afora.

O entusiasmo generalizado de que era possível promover o desenvolvimento do setor agropecuário mediante a adoção dos preceitos estabelecidos pela Revolução Verde levou a que os governos dos países ditos subdesenvolvidos passassem a direcionar políticas de incentivo aos agricultores que adotassem este novo padrão de produção. A idéia corrente era a de que a absorção das novas tecnologias pelos produtores rurais iria redundar no aumento da produção e da produtividade e, como conseqüência natural, no aumento da renda familiar, sinônimo este de “desenvolvimento rural”.

Com relação à América Latina, Pinheiro frisa que o Paraguai foi a porta de entrada para a invasão e posterior domínio do capital agroindustrial. Através da Fundação Rockfeller, entidade que tinha poderosos interesses na agricultura, é aberto na capital Assunção o Escritório de Credito y Asistencia Rural, cujo objetivo era intervir na agricultura latino-americana. Num segundo momento foi instalado no Estado de Minas Gerais/Brasil o primeiro Escritório de Crédito e Assistência Técnica Rural, que viria mais tarde a se transformar no sistema ABCAR (Associação Brasileira de Crédito e Assistência Técnica Rural). Segundo o autor, não foi por acaso que o Estado de Minas Gerais foi escolhido para servir de sede para este Escritório. Devido às particularidades de sua população rural, que agregam fortes

121

SACCO DOS ANJOS, Flávio. A agricultura familiar em transformação: o caso dos colonos- operários de Massaranduba (SC). Pelotas/RS: Editora da UFPEL, 1995, p. 13.

traços de cautela e desconfiança, seria o local ideal para o aperfeiçoamento das estratégias a serem desenvolvidas em outros rincões. Em suas palavras, “o que desse certo em Minas poderia ser aplicado no Mundo com segurança e êxito, devido à cultura ‘desconfiada’, característica da população, especialmente a rural”. 122

Consubstanciado em tais parâmetros, a estratégia utilizada pelos países centrais para implementar o paradigma agroquímico se concentrou basicamente em três frentes de ações, a saber:

a) Propaganda maciça: foram efetuados grandes investimentos em

propaganda, onde se procurava demonstrar a abundância de alimentos e a riqueza que prosperava na agropecuária dos países industrializados ao mesmo tempo em que se dava grande destaque à desordem nos campos e à fome que afligia as populações dos países alvos. Na concepção de Paulilo 123, os próprios órgãos que foram criados ou ampliados para atuarem no meio rural se encarregaram de propagandear de forma intensiva junto aos agricultores os benefícios das máquinas e dos insumos modernos.

b) Investimento na formação de técnicos: de forma a divulgar este novo

modelo de produção agropecuária, foram proporcionadas inúmeras viagens e a promoção de cursos para funcionários públicos, cientistas e professores dos países alvos, a fim de que conhecessem o “paraíso agrícola”. No Brasil este programa ficou conhecido como P-4 (Ponto quatro). Foi neste contexto que, de acordo com Lago, no Estado de Santa Catarina foi criada a Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina (ACARESC) 124, “cuja idealização teve suporte nos compromissos firmados entre o Brasil e os Estados Unidos, relativos à política de ajuda americana a países subdesenvolvidos, pelo Ponto IV da Doutrina Truman”. 125 Sobre o papel desempenhado pela ACARESC, Lago descreve que este

(...) foi essencial, pesquisando condições de famílias rurais, treinando lideranças locais, formando extensionistas e estendendo uma rede de escritórios regionais, cujos agrônomos se tornaram agentes de mudanças em técnicas agrícolas junto às comunidades, sobretudo em relação aos pequenos proprietários rurais.

122

PINHEIRO, Sebastião, op. cit., p. 13.

123

PAULILO, Maria Ignez Silveira. (a) Produtor e agroindústria: consensos e dissensos. Florianópolis/SC: Ed. da UFSC, Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte, 1990, p. 83.

124

Sobre a criação da ACARESC ver também: LOHN, Reinaldo Lindolfo. Campos do atraso, campos modernos: discurso da Extensão Rural em Santa Catarina (1956-1975). Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em História, UFSC, 1997.

125

As lideranças agronômicas do Estado acreditavam que o problema do minifúndio antieconômico teria que ser enfrentado a partir de, entre outros fatores, mudanças comportamentais do pequeno agricultor para assimilar novas tecnologias agrícolas, desde as infra- estruturais, como a conservação dos solos e fertilização adequada, às que dizem respeito à seleção de cultivares de maior rendimento e produtividade, assegurados por “demonstração de resultados”. 126

c) Disponibilização de crédito: a baixa condição econômica dos

agricultores dos países subdesenvolvidos era um obstáculo para que pudessem adquirir os insumos produzidos pelas indústrias (fertilizantes, agrotóxicos, máquinas e demais equipamentos agrícolas). Abriram-se então linhas de crédito para que os