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PARTE II – O FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL DA PESQUISA CLÍNICA DE

CAPÍTULO 5 – DO DIREITO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO,

5.1 CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO 97

Francis Bacon, no século XVII, já considerava a ciência indispensável ao bem-estar do ser humano e a tecnologia como necessária a sua vivência sobre a terra211. Afirmando, ainda, “que o mundo moderno não tem como escapar à ideia de que a ciência e a técnica estão ligadas ao desenvolvimento social, econômico e educacional”212.

A ciência, a tecnologia e a inovação integram o ethos do desenvolvimento científico de uma determinada sociedade. Trata-se de prática milenar, responsável pelo progresso do ser humano e por sua evolução biológica, social e histórica. Na descoberta e no aprimoramento dos primeiros artefatos, tais como as ferramentas de pedra, a roda e o metal, já estavam presentes os primeiros resquícios de ciência.

O termo ciência deriva do latim scientia, que significa conhecimento. Etimologicamente consiste no “saber”; no “modo de conhecimento que procura formular, mediante linguagens rigorosas e apropriadas – tanto quanto possível, com o auxílio da linguagem matemática – leis por meio das quais se regem os fenómenos”.213 Trata-se do modo pelo qual o ser humano explora, conhece e descreve os fenômenos da natureza e do universo.

Segundo a UNESCO, “a ciência é o conjunto de conhecimentos organizado sobre os mecanismos de causalidade dos fatos observáveis, obtidos através do estudo objetivo dos fenômenos empíricos”214.

211 OLIVEIRA, Bernardo Jefferson de. Francis Bacon e a fundamentação da ciência como tecnologia. 2. ed. Belos Horizonte: Editora UFMG, 2010. p. 284.

212 BACON apud MIGUEL, Jorge. Curso de direito constitucional. 2. ed. Atlas, 1991. p. 309. 213 Ciência. In: MORA, José Ferrater. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p.

31.

214 UNESCO. Recommendation Concerning the International Standardisation of Statistics on Science,

A ciência aliada à técnica origina a tecnologia objetivando primordialmente unir a teoria e a prática, o conhecimento e a ação. A tecnologia, assim como a ciência, também pode ser conceituada como o conjunto de conhecimento de uma sociedade, entretanto, esse conjunto estará diretamente aplicado nas artes industriais, causando, por consequência, impactos diretos na sociedade.

Nas palavras de Dálcio Roberto dos Reis “a tecnologia fundamenta-se nos métodos e conhecimentos científicos, compreendendo o domínio dos materiais e processos, úteis para a solução de problemas técnicos e para a fabricação de produtos”215. Segundo o autor, ainda é impossível isolar a ciência da tecnologia, pois a evolução e a transformação da sociedade está diretamente relacionada ao processo cíclico ciência, técnica, indústria e sociedade.216

Contudo, restringir a tecnologia à mera aplicação da ciência também não parece o melhor caminho a seguir. Embora o ciclo de interdependência entre elas seja evidente na evolução da sociedade, conforme afirmou Reis, ciência e tecnologia são conceitos complementares, porém, com objetos distintos. A razão trabalhada na ciência não é a mesma razão trabalhada na tecnologia.

A razão, que nas palavras de Whitehead217, consiste em “promover a arte da vida”, pode ser diferenciada em duas vertentes quanto a sua função: a primeira, relacionada à transformação dinâmica da vida dos homens para “transformar uma boa existência em uma existência ainda melhor”; a outra, com a finalidade de buscar a compreensão dos fenômenos da vida e das realidades existentes, “o progresso de uma melhor compreensão”. A primeira relaciona-se com a tecnologia. A segunda, por sua vez, à ciência.

215 REIS, Dalcio Roberto dos. Gestão de inovação tecnológico. São Paulo: Manole, 2013. p. 35.

216 Ibid., p. 35.

O trabalho contínuo da evolução da ciência e da tecnologia nos últimos séculos deve-se ao fato da união entre a razão especulativa da ciência na busca teórica tanto com a razão prática da tecnologia quanto com as diversas metodologias de aplicação218. Como fruto da interdependência da ciência e da tecnologia nasce a inovação tecnológica, recentemente incorporada ao texto constitucional pela Emenda Constitucional no 85, de 26 de fevereiro de 2015, na categoria de direito fundamental.

A inovação consiste, segundo conceito exposto na Lei da Inovação (Lei 10.973, de 2 de dezembro de 2004), na introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo e social que resulte em novos produtos, serviços ou processos ou que compreenda a agregação de novas funcionalidades ou características a produto, serviço ou processo já existente que possa resultar em melhorias e em efetivo ganho de qualidade ou desempenho.

A inovação tecnológica219 representa o principal instrumento de mudanças e evolução da sociedade atual. Consiste no modo pelo qual o conhecimento técnico científico é produzido, aplicado, incorporado, transferido e difundido aos serviços e produtos. Tem o condão de trazer não só a aplicabilidade prática dos conhecimentos científicos, como o faz a tecnologia, como vai mais além: proporciona a aplicação em larga escala do desenvolvimento técnico-científico para que este seja prontamente incorporado à vida dos indivíduos.

Os medicamentos inovadores quando dotados de inovação radical constituem um exemplo evidente de ciência, tecnologia e inovação. Ciência, pois os medicamentos, evidentemente, são objeto de um estudo teórico capaz de determinar as ações terapêuticas ou as possíveis alterações cabíveis; tecnologia, pois a teoria das pesquisas é efetivamente aplicada nas bancadas dos laboratórios que viabilizam as modificações necessárias e as adequações para a realização das ideias pensadas; Por fim, de inovação, pois, quando viáveis para transferência em grande escala, são distribuídos aos indivíduos visando incorporar um novo produto à sociedade.

218 GARCIA. Limites da ciência, 2004, p. 38.

219 Deve-se diferenciar inovação de invenção, sendo que esta última está relacionada às ideias, do

campo científico, de mudança ou criação de um novo processo, sistema ou produto. Já a inovação relaciona-se diretamente com o potencial de comercialização e aplicação da invenção na sociedade.

É possível afirmar que a sociedade contemporânea se encontra no ápice de seu desenvolvimento científico e tecnológico. As grandes indústrias possuem núcleos especializados em Pesquisa e Desenvolvimento e Inovação (PDI) capazes de mover vultosos recursos financeiros, tecnológicos e humanos a favor dos avanços na área.

Inegável, porém, que o processo de inovação possui relação direta com o sistema capitalista e os meios de consumo da sociedade. O poder tecnológico das grandes indústrias são, hoje, os detentores do núcleo do sistema de inovação do país. É nesse contexto que alguns cuidados devem ser tomados, pois a confusão da essência do ethos da ciência com os interesses econômicos pode desvirtuar as finalidades pela qual a ciência e a tecnologia foram e são utilizadas: a melhoria constante da qualidade da vida humana.

Nesse sentido, Miranda afirma:

Hoje quem dirige e controla a pesquisa científica é o poder tecnológico, situado fora, inclusive, dos grandes centros de pesquisa, como as universidades. Estas perderam, em grande parte, o senso de ciência como pesquisa livre e com autonomia e se tornaram referência de pesquisas encomendadas por centros de tecnologia, feitas, inclusive, sem que os cientistas jamais saibam de sua finalidade.220

O fato de vivermos em uma época luminosa no campo científico não nos permite o esquecimento de que toda luminosidade traz em sua outra face resquícios de ensobreamento que podem recair, nas palavras de Whitehead, em um “obscurantismo espesso da natureza humana”221.

220 MIRANDA, Angela Luiza. Da natureza da tecnologia: uma análise filosófica sobre as dimensões

ontológica, epistemológica e axiológica da tecnologia moderna. 2002. 161f. Dissertação (Mestrado) – Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR).

Maria Garcia destaca que há

[...] impetrado no campo científico um pragmatismo imediatista e uma ética dos resultados ponderando um processo (aparentemente) sem fim, rumo aos três níveis básicos da ambição humana: riqueza, status e poder, com todas as consequências conhecidas pela Humanidade.222

É por esse motivo que corroboramos com o entendimento de Whitehead ao afirmar que o progresso no campo da ciência, da tecnologia e da inovação deve ser acompanhado de um avanço proporcional na sabedoria humana, a fim de distinguir os limites da ciência e a consecução dos seus fins.

Todavia, esse aspecto de conhecimento vai sendo gradualmente deslocado para um segundo plano pelo aspecto de poder manipulador da ciência. [...] Portanto, quando pretendemos considerar a influência da ciência sobre a vida humana, é necessário que levemos em conta três aspectos, que estão mais ou menos ligados entre si. O primeiro, é a natureza e a finalidade do conhecimento científico; o segundo, é o maior poder de manipulação que resulta da técnica científica; o terceiro, e último, são as mudanças na vida social e nas instituições tradicionais que fatalmente resultarão das novas formas de organização exigidas pela técnica científica. A ciência como conhecimento é a razão fundamental dos outros dois aspectos, pois todos os efeitos que produz resultam do conhecimento conseguido por ela. Até agora, o homem se viu impedido de concretizar suas esperanças por ignorar os meios de realizá-los. Mas, à medida que a sua ignorância vai desaparecendo, ele se torna cada vez mais capaz de transformar, no sentido que julgar melhor, o seu meio ambiente, o seu meio social e o seu próprio ser. Enquanto o homem for sensato, esta sua nova força pode ser benéfica, mas será contraproducente se for néscio. Por conseguinte, para que uma civilização científica seja uma boa civilização, é preciso que o aumento do conhecimento humano seja acompanhado por um aumento de sabedoria.223

222 GARCIA. Limites da ciência, 2004, p. 40.

5.2 DIREITO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO, TECNOLÓGICO E INOVAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Desenvolver nos remete à ideia de crescimento, progressão, aumento, melhora. No significado da palavra, desenvolver é fazer crescer ou crescer, tornar maior, mais forte.224 Desenvolvimento, por sua vez, é ato ou efeito de desenvolver, crescimento ou expansão gradual, a passagem gradual de um estágio inferior a um estágio mais aperfeiçoado, progresso, extensão, prolongamento, amplitude.225

Em uma sociedade o desenvolvimento se relaciona diretamente com a situação político-econômico e social, dividindo, inclusive, a depender de critérios internacionais, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)226, os países em desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos.

O direito ao desenvolvimento ganhou patamar de direito humano fundamental através da Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento de 1986, que considerou o ser humano como “o sujeito central do desenvolvimento e deveria ser participante ativo e beneficiário do direito ao desenvolvimento”227, e ainda que o direito ao desenvolvimento representa:

[...] um direito humano inalienável em virtude do qual toda pessoa humana e todos os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político, a ele contribuir e dele desfrutar, no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais possam ser plenamente realizados.228

224 HOUAISS. Dicionário…, 2009, p. 648. 225 Ibid.

226 Segundo o Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento: “O Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH) é uma medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde”. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/IDH/DH.aspx>. Acesso em: 18 de jun. 2016.

227 Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento de 1986. Disponível em:

<http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Infradesenvolvimento/declaracao-sobre-o-direito-ao- desenvolvimento.html>. Acesso em: 20 set. 2016.

A amplitude do direito ao desenvolvimento como direito humano é muito superior ao do direito ao desenvolvimento científico e tecnológico, o qual pode ser incorporado como parte do direito ao desenvolvimento, haja vista que também é fundamental para o progresso e a evolução das sociedades, no que tange a saúde, qualidade de vida, dignidade da pessoa humana assim como ao crescimento econômico e industrial de um país.

O direito ao desenvolvimento científico, tecnológico e inovação também é dotado de fundamentalidade, típica dos direitos fundamentais, dada sua correlação direta com o direito à saúde e ao desenvolvimento das nações. No âmbito constitucional, a primeira carta a trazer a disposição sobre a ciência – a Constituição de 1937 – dispunha em seu art. 128:

A arte, a ciência e o seu ensino são livres à iniciativa individual e à de associações ou pessoas coletivas, públicas e particulares. É dever do Estado contribuir, direta ou indiretamente, para o estímulo e desenvolvimento de umas e de outro, favorecendo ou fundando instituições artísticas, científicas ou de ensino.229

Em sequência, a Constituição de 1946 versou, de forma branda, sobre a promoção dos institutos de pesquisas em seu art. 174: “O amparo à cultura é dever do Estado. A lei promoverá a criação de institutos de pesquisas, de preferência junto aos estabelecimentos de ensino superior”230.

As Constituições de 1967 e 1969 também dispunham, de forma discreta, sobre o incentivo no campo científico e tecnológico: “As ciências, as letras e as artes são livres, ressalvado o disposto no § 8º do art. 153. O Poder Público incentivará a pesquisa e o ensino científico e tecnológico”231. As Constituições anteriores, portanto, dispunham sobre a liberdade da ciência e sobre o dever do Estado de apoiar a pesquisa, sem conceder um tratamento especial ao tema.

229 Constituição Federal de 1937. Disponível em:

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao37.htm . Acesso em 10 de novembro de 2016.

230 Constituição Federal de 1946. Disponível em:

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao46.htm .Acesso em 10 de novembro de 2016.

231 Constituição Federal de 1969. Disponível em:

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao69.htm .Acesso em 10 de novembro de 2016.

A Constituição de 1988, por sua vez, foi o primeiro texto constitucional brasileiro a reservar um capítulo exclusivo à ciência e a tecnologia, sendo incorporada posteriormente, através da Emenda 85 de 2015, a inovação. É no Capítulo IV do Título da Ordem Social, especificamente nos artigos 218 e 219 da CF/1988 que se encontram delimitados os deveres do Estado para com a ciência, tecnologia e inovação, consagrando o dever estatal com o desenvolvimento científico e tecnológico do país.

Pela primeira vez na história constitucional do Brasil foi reconhecida a importância da ciência e tecnologia para o desenvolvimento da sociedade. No mesmo sentido, afirma Miguel:

Pela primeira vez em toda história Constitucional brasileira é reservado à Ciência e Tecnologia um capítulo especial. Ciência é o conjunto dos conhecimentos humanos baseados na pesquisa. Tecnologia é o conjunto de conhecimento eficaz para uma atividade. Não é possível admitir um grupo humano, sem qualquer desenvolvimento tecnológico, ainda que primitivo e rudimentar.232

Denota-se da leitura do texto legal que ao Estado foi atribuída a função de promover e incentivar o desenvolvimento científico e tecnológico e o sistema de inovação do país. O legislador optou pela proclamação dos dois verbos – promoção e incentivo – justamente para conceder maior amplitude à finalidade da norma, pois, conforme afirmam Ives Gandra Martins e Celso Ribeiro Bastos: “Quem promove incentiva. Quem incentiva promove. Nem toda promoção, todavia, implica incentivos materiais, muito embora todo incentivo material implique forma de promoção. Preferiu o constituinte utilizar-se de dois termos”233.

232 MIGUEL. Curso de direito constitucional, 1991, p. 309.

233 MARTINS, Ives Gandra; BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à Constituição do Brasil. São

O art. 218234 deixa clara a distinção entre ciência e tecnologia ao mencionar que ambos são de responsabilidade do Estado. Distingue, ainda, os propósitos do desenvolvimento científico e os da pesquisa e da capacitação tecnológica. Entretanto, há um vínculo indissolúvel com o princípio da República, disposto no art. 3º da CF: II – garantir o desenvolvimento nacional. Ainda nas palavras de Martins e Bastos:

O art. 218 abre o Capítulo IV do Título VIII, dedicado à ordem social. O capítulo cuida da ciência e da tecnologia. Os temas são de sentido comum. Toda tecnologia decorre da evolução da ciência no setor, e toda ciência, voltada para a tecnologia, é tecnologia científica, razão pela qual os temas possuem certa equivalência. Mas nem toda ciência é tecnologia e nem toda tecnologia aplicada é ciência, muito embora a tecnologia em si mesma seja uma decorrência da evolução científica. Daí resulta a distinção pretendida pelo constituinte, ao cuidar como se de dois ramos se tratasse.

O dispositivo volta-se à função do Estado, que é aquela da promoção do desenvolvimento.

Cabe ao Estado promover e incentivar as atividades nesse campo.235

234 “Art. 218. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa, a

capacitação científica e tecnológica e a inovação.

§ 1º A pesquisa científica básica e tecnológica receberá tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o progresso da ciência, tecnologia e inovação.

§ 2º A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional.

§ 3º O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas áreas de ciência, pesquisa, tecnologia e inovação, inclusive por meio do apoio às atividades de extensão tecnológica, e concederá aos que delas se ocupem meios e condições especiais de trabalho.

§ 4º A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam em pesquisa, criação de tecnologia adequada ao País, formação e aperfeiçoamento de seus recursos humanos e que pratiquem sistemas de remuneração que assegurem ao empregado, desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da produtividade de seu trabalho.

§ 5º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica.

§ 6º O Estado, na execução das atividades previstas no caput, estimulará a articulação entre entes, tanto públicos quanto privados, nas diversas esferas de governo.

§ 7º O Estado promoverá e incentivará a atuação no exterior das instituições públicas de ciência, tecnologia e inovação, com vistas à execução das atividades previstas no caput”.

Diante do artigo mencionado é possível extrair que o Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa no campo da ciência e da tecnologia, promoverá a habilitação de pessoas a consecução desse fim bem como para o gozo dos avanços tecnológicos, enfim, promoverá meios eficazes para o alcance da tecnologia aplicada.236 Nesse sentido, Martins e Bastos destacam:

A primeira atividade cuja promoção e incentivo o Estado deve propiciar é a do desenvolvimento científico. Por desenvolvimento científico ‘lato sensu’ há de se entender tudo aquilo que o estudo da ciência pode proporcionar, sem qualquer limitação, inclusive o desenvolvimento tecnológico. Na dicção constitucional, é o mais lato possível o sentido pretendido.

[...]

Promover é incentivar, por outro lado, a pesquisa tecnológica. Isto é, no campo da ciência, aquela pesquisa voltada para a tecnologia. A tecnologia depende fundamentalmente da pesquisa, muito embora até no campo das ciências sociais se fale em pesquisas, com a apropriação da palavra por juristas, economistas etc., sem contestação de índole doutrinária. Por fim, como decorrência da pesquisa tecnológica, o Estado promoverá a “capacitação tecnológica”, isto é, a habilitação das pessoas para o exercício dos avanços tecnológicos, para seu uso e para seu proveito. Em outras palavras, a tecnologia aplicada é objetivo colimado pelo Estado, no capítulo dedicado à ciência e tecnologia”.237

Nos § 1º e § 2º do mencionado artigo é possível observar a preocupação do legislador em conceder um objetivo ao desenvolvimento científico e tecnológico, afirmando que a pesquisa se mostra essencial para o bem público e para o progresso da ciência e que “a pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional”.

236 MARTINS; BASTOS. Comentários à Constituição do Brasil, 2004, p. 848; 849. 237 Id.

Pinto Ferreira, de forma crítica, escreve sobre esse ponto:

A pesquisa tecnológica deve voltar-se preferencialmente para a solução dos problemas brasileiros e o desenvolvimento do sistema produtivo tanto nacional como regional. [...] A inteligência brasileira vive profundamente alienada, usando-se tal conceito de alienação como o de divórcio da realidade. Buscam-se teorias estrangeiras para a solução dos problemas nacionais, com evidente insucesso”238

Os § 3º e § 4º são diretamente relacionados aos recursos humanos envolvidos no desenvolvimento científico e tecnológico, com alcance socioeconômico. Pois, como é cediço, a área científica, além de recursos financeiros, necessita de grandes investimentos na área de recursos humanos para a capacitação de indivíduos aptos a promoverem os fins desse setor. Neste sentido, Wolgran Junqueira Ferreira esclarece:

A regra contida neste parágrafo é de grande alcance socioeconômico. Deverá lei ser editada pelo Congresso Nacional, prever apoio e estímulo às empresas que: a) invistam em pesquisa; b) invistam na criação de tecnologia adequada ao País; c) invistam na formação e aperfeiçoamento dos recursos humanos; d) concedam participação dos empregados nos ganhos econômicos resultantes da produtividade do trabalho.239

O § 4º traz a ideia de incentivos fiscais às empresas, possíveis concessões de créditos, isenções, por exemplo, os dispostos na Lei 10.973/2004240. A ideia é que o Estado reduza encargos financeiros como forma de incentivar as pesquisas científicas e fomentar as inovações, as quais, por si só, já demandam alto investimento.

238 FERREIRA, Pinto. Comentários à Constituição brasileira. Saraiva, 1995. p. 205. v. 7

239 FERREIRA, Wolgran Junqueira. Comentários à Constituição de 1988. São Paulo: Julex, 1989.

p. 1106. v. 3

240 Essa Lei dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente