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III A RELAÇÃO COMPLEXA ENTRE A CIDADE E O TURISMO: PROBLEMAS E DESAFIOS

III.1 A cidade e o turismo

Na atualidade, é evidente que a cultura entra, cada vez mais, de forma maciça, nos processos de criação de valor económico e é igualmente claro que, hoje, todos os centros urbanos que procuram uma estratégia minimamente coerente e de desenvolvimento ambicioso fazem da cultura, em si mesma, um dos principais mecanismos de alavancas para a ação.

Esta ação, que retomaremos adiante, pode-se exprimir na abertura de novos museus, experimentando uma maior difusão de atividades culturais no tecido da cidade, favorecendo a construção de processos de regeneração urbana em torno de intervenções-piloto culturais, cada vez maiores e complexas (ACRI, 2003).

O turismo urbano apresenta as seguintes caraterísticas (Conrady, Buck, 2014):  é, geralmente, complementar a outros tipos de turismo;

 é ligado a ofertas especiais, ou tem lugar durante um evento, uma festa ou uma exposição;

 carateriza-se por uma curta duração (máximo de 3 dias);

 o tempo para chegar ao destino escolhido nunca é mais de três horas de voo;  os praticantes deste tipo de turismo, ou "breakers cidade", costumam viajar em

pares ou com amigos e tendem a ter um salário alto.

Quando se trata de turismo urbano, é particularmente relevante o segmento do turismo cultural. De facto, na cidade, como será tratado posteriormente, estão presentes as principais instituições culturais (museus, teatros, bibliotecas, centros de investigação e universidades) os edifícios de valor histórico e artístico e as indústrias de maior importância cultural e criativa, como televisões, editoras e indústrias de cinema.

174 Na tentativa de definir os limites do turismo cultural urbano, destaca-se uma pesquisa realizada pela ETC Group Research (2005)114, que distingue entre un inner e outer circle do turismo cultural.

O primeiro, inclui o turismo de património - relacionado com os edifícios e a cultura do passado -, tanto o turismo da arte, ligadas a produtos culturais contemporâneos, como arquitetura, artes visuais e música ao vivo. O segundo, é formado por elementos secundários do turismo cultural, como os costumes, as tradições, a gastronomia e, mais genericamente, os estilos de vida e a atmosfera cultural de uma cidade.

Nesta ótica, o turismo cultural urbano representa uma das principais atividades turísticas na Europa, tanto que regista uma taxa de crescimento mais rápida em comparação com o turismo geral. Como salienta Pérez (2009 p. 294), «no caso europeu, as visitas culturais a cidades são protagonizadas por turistas dos países vizinhos que visitam pontos de interesse culturais (ex.: museus no caso de 41% dos respondentes), disfrutam da atmosfera do sítio, comem, bebem e fazem compras. Também existem diferenças por nacionalidades, assim por exemplo os gregos e portugueses dão muita importância à comida, os austríacos dão mais importância às visitas a museus, teatros e pontos de interesse cultural».

Mas nem todas as cidades de património são destinos de turismo cultural de sucesso. Como esclarece Martinelli (2010), é necessário que a cidade seja facilmente acessível: possuir um aeroporto internacional, e deve estar ligada a uma rede ferroviária e de autoestradas eficiente.

Portanto, em consequência, não se verificando as mesmas condições de acessibilidade, indiscriminadamente, em todo o território, resulta uma polarização do fluxos turísticos, em favor das cidades de património com melhores condições.

Considerando que a permanência dos visitantes nestas cidades é, em média, de duas ou três noites, tem um papal fundamental, em termos de atração turística, a imagem promovida pelos meios de comunicação e da publicidade da grande propaganda turística (Becheri, 2009).

Como facilmente se pode verificar, algumas cidades têm implementado estratégias eficazes de branding territorial, baseadas no turismo: o caso do "eu amo Amsterdam", "Only Lyon", "Seja Berlin" e "I love NY".

Observa-se, também, que, mesmo nos grandes centros, a multidões de turistas é polarizada em torno de alguns lugares ou monumentos simbólicos, em torno dos quais

114 http://81.47.175.201/stodomingo/attachments/article/122/CityTourismCulture.pdf (último acesso

175 gira a visão artística da cidade (o sítio arqueológico de Roma antiga com seus monumentos, Lisboa, com a Baixa Pombalina e do Mosteiro dos Jerónimos, etc..).

Note-se, também, como o balanço dos símbolos pode resultar numa visão simplificada do percurso, aos olhos do turista (Martinelli, 2010).

Nas últimas décadas, o turismo, em geral nas cidades históricas, aumentou de maneira bastante considerável, com sinais de ainda maior crescimento nos próximos anos (Becheri, 2009).

Numa outra perspetiva, a produção do turismo cultural está estreitamente associada às políticas de regeneração urbana face a processos de desindustrialização (Smith, 2003), como tem sido mencionado nos parágrafos anteriores.

A cultura é, deste modo, utilizada para o desenvolvimento económico da cidade, criando uma nova imagem, capaz de atrair capitais e investimentos externos, ao mesmo tempo que se tenta contribuir para a coesão da comunidade.

Entre os elementos que costumam ser utilizados na regeneração, destacam-se os eventos como as olimpíadas ou as exposições universais, os festivais e os equipamentos culturais, tais como os auditórios, os museus ou os centros de conferências.

Portanto, o turismo cultural urbano está associado ao urbanismo dos três “r” (requalificação, reutilização, revalorização), que se traduz em novos projetos urbanos para velhas áreas abandonadas (Gomes Domingues, 2000).

Na atualidade, o perigo é que se assiste, às vezes, a uma visão da cultura como uma simple gestão económica. Fala-se excessivamente de mercados, públicos-alvos, gestão empresarial, do nome do arquiteto do edifício (archistar) e do próprio ampliar da imagem do “produto” (Gomes Domingues, 2000).

Esta mercantilização da cultura tanto pode conduzir à limitação em excesso, como à completa massificação. Claro que a gestão empresarial não é errada, o que é problemático é que essa gestão se imponha e reduza o objeto ao qual isso se aplica, a uma pura gestão economicista, pois é uma questão de visão em conjunto.

A solução deste problema é atingir «um equilíbrio entre os projetos privados e as suas virtudes públicas, de forma a limitar a privatização da produção cultural e a promover a responsabilização das administrações públicas no âmbito da cultura» (Pérez, 2009, p. 295).

No passado, vários estudos têm focado o perfil e comportamento dos turistas culturais, com destaque para as caraterísticas deste tipo de turistas (Richards, 1996 e 2008).

176 Estas são pessoas com um nível económico e de educação médio e alto e que mostram um forte interesse para a cultura. Eles querem aprender coisas novas e tendem a viajar sem filhos. As motivações que estão na base da viagem são principalmente três:

• a procura de um destino escolhido, principalmente, por motivações ligadas à cultura (10-15% do mercado de turismo cultural da Europa);

• alguns vêem a cultura somente como um aspeto do destino, mostrando, assim, um interesse mais genérico (aproximadamente 50% do mercado);

• à aqueles que estão interessados em visitar as principais atrações culturais (por exemplo, São Pedro, em Roma, a Acrópole, em Atenas ...), à procura de uma mistura de diversão e relaxamento (cerca de 30% do mercado).

As pesquisas mostram, também, como essas motivações tendem a sobrepor-se umas às outras, realçando, assim, a tendência para conceber o turismo cultural como um produto "experimental", que vai intepretando em todos os seus aspetos e, não só, o valor cultural (Munsters, 2012).

Em particular nos últimos anos, emerge uma nova tendência: o aumento da autonomia dos turistas na organização das suas férias.

O crescimento, na Europa, dos voos de baixo custo (low cost) e dos comboios de alta velocidade mas, sobretudo, a facilidade de reservas através da internet, tudo isto tem ajudado a expandir o mercado dos turistas auto-organizados.

Hoje, a palavra “experiência” parece transformada em pedra angular no processo da escolha de um destino (Smith, 2006) e, graças às possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias, (Web 2.0), as cidades podem oferecer ao turista uma pre-living experience, baseada numa viagem virtual para diferentes culturas e tempos passados.

A partir do que foi escrito anteriormente, no âmbito do turismo cultural urbano, o segmento relacionado com o “smart tourism” e o “turismo criativo” representa os setores que mais crescem quanto ao interesse que despertam.

O termo smart tourism é derivado, por analogia, a partir do sentido smart city. Como aponta Ercole (2013), «a smartness de uma cidade é a capacidade dos atores sociais presentes na cidade de usar, em forma inteligente, as possibilidades oferecidas pela tecnologia para resolver os problemas humanos». Uma cidade, por consequência, é identificada como "smart" quando usa a tecnologia para adquirir e difundir informações e para fornecer serviços urbanos integrados, com o objetivo de reduzir resíduos e emissões nocivas e otimizar o uso dos recursos.

177 De forma semelhante, o smart tourism prevê o uso e aplicação da tecnologia por turistas e empresas individuais, que operam nos serviços do turismo.

Observa-se, assim, um número crescente de turistas que utilizam os dispositivos móveis da rede social para planear e organizar as próprias viagens.

Como sublinha Ejarque (2013), a informação social desempenha um papel importante no campo do turismo, em várias fases:

 na inspiração, lendo as opiniões on-line e inquirindo em canais sociais;

 na organização da viagem, que significa reservar transporte e alojamento (83% dos turistas culturais usam a Internet para esta finalidade);

 na reserva dos restaurantes e museus. Adquirem informações sobre lugares que são compartilhados, ao vivo, nas plataformas sociais, como Facebook, Twitter, Instagram e Foursquare. Após a viagem, continua a partilha;

 descrever as experiencias vividas no próprio blog ou fazer julgamentos sobre a qualidade em hotéis, restaurantes e e atrações, no TripAdvisor.

Se, de facto, no passado, a informação foi dirigida ao passo anterior na escolha do destino turístico, agora acabou por ser importante, também, na fase pós-chegada.

Nesta fase é importante a construção da reputação do destino e a fidelização dos turistas. A introdução da tecnologia móvel levou a uma profunda transformação: respeito pela utilização do computador pessoal, porque permite aos visitantes adquirir informações sobre os locais e produtos de forma imediata e faz parte da mesma experiência turística total.

Germann Molz (2012) identifica quatro caraterísticas do smart tourism:

 utiliza aparelhos smart, ligados à Internet e capazes de localizar, no espaço;

 inclui os utilizadoress que são co-produtores ativos e não, simplesmente, consumidores;

 oferece a oportunidade de interagir com a população local ou com outros turistas, localizados no mesmo destino;

 melhora a sustentabilidade nos campos sociais e ambientais.

.Como já foi tratado anteriormente (cf. parágrafo I.2.5), o turismo criativo é definido como «uma viagem direta para uma experiência autêntica e comprometida, com a aprendizagem participativa nas artes e na cultura do população local» (UNESCO, 2006).

178 Segundo Landry (2000), um destino pode oferecer turismo criativo só quando são integrados quatro diferentes níveis de criatividade: das pessoas, dos lugares, dos processos e dos produtos.

Portanto, uma cidade que pretende tornar-se num destino do turismo criativo deve atrair artistas e artesãos, possuir espaços para exposições e workshops de arte. Às vezes, estes últimos ficam em velhos edifícios abandonados, nas áreas industriais desmanteladas, como é o caso de Petersburgo ou Barcelona.

Além disso, o benefício da renovação de algumas áreas da cidade é elevado, não apenas para o setor do turismo, mas para todos os setores da economia.

Assim, os cidadãos podem tirar proveito das novas oportunidades de emprego, também com possibilidades de entretenimento inovadoras (Peck, 2005).

A criatividade tornou-se, assim, uma estratégia para as cidades que, deste modo, podem contribuir para promover a inovação e o desenvolvimento de habilidades individuais. Desta forma, o turismo cultural criativo pode tornar-se uma via alternativa em relação à reprodução em série de um turismo de massa, oferecendo aos turistas uma experiência mais flexível e autêntica (Garibaldi, 2012).

Em face deste aumento generalizado da procura, alimentada não só pelos fluxos turísticos europeus mas, sobretudo, por parte dos países emergentes, evidencia-se um possível espaço para o aumento da oferta, seja em termos de novos destinos urbanos, seja de relançamento de destinos já consolidados. Por outras palavras, os destinos devem envolver-se num esforço de promoção, para tentar atrair a atenção destes turistas, o que representa um enorme mercado, em constante expansão (Garibaldi, 2014).

Assim, como já foi antecipado anteriormente, até há poucas décadas atrás, a cidade era considerada um lugar de emissão de turistas, tanto que «o desenvolvimento turístico nos últimos dois séculos poderia ser descrito como o afirmar-se de um diferente modelo urbano centrado nas atividades recreativas e de saúde, em contraposição com a cidade industrial» (Battilani, 2009 p. 159).

Neste sentido, o turismo, no passado, era considerado como uma fuga da cidade para os lugares menos urbanizados, como o campo ou o mar, enquanto a progressiva consolidação da cidade como meta turística encontra a sua justificação no renovado interesse dos lugares ricos de vestígios culturais, favorecido, também, pela evolução das políticas de requalificação e de valorização dos centros urbanos, iniciadas pelas administrações locais.

179 Na verdade, se analisarmos a cidade segundo uma perspetiva histórica, pode-se afirmar que a estreita ligação entre cidade e cultura se concretiza, pelo menos, em três aspetos relevantes.

O primeiro deriva da ideia de que as cidades são lugares de origem da cultura e, como consequência, constituem um lugar privilegiado da produção artística em geral.

Em algumas línguas europeias (entre as quais o italiano), o próprio adjetivo de urbano qualifica não só o que pertence à cidade, mas o que abrange, também, o conjunto de comportamentos e de orientações que fazem referência à cultura e a refinados gestos e gostos.

Em segundo lugar, as cidades são os espaços de contínua produção de cultura. Os produtos culturais e artísticos estão fortemente ligados ao ambiente urbano. Este, por um lado, alimenta os produtores de cultura, através de estímulos gerados pela interação entre os artistas e os intelectuais; por outro, organiza a produção, o consumo e a comercialização dos produtos artísticos e culturais que oferece aos consumidores, por meio de múltiplas instituições, como os teatros, os museus, as exposições, etc.

O terceiro e último aspeto, talvez o mais significativo em termos sociais, considera a cidade como um lugar de inovação e de heterodoxia, em contraste com os territórios rurais, onde a conservação das tradições representa o elemento singular.

Segundo este conceito, nas cidades e, sobretudo, nas grandes metrópoles contemporâneas, formam-se continuamente grupos e correntes artísticas, que inovando a partir da base do património cultural local, propõem novas sínteses e expressões culturais inéditas; estas correntes têm, como condições necessárias para a sua criação e evolução, trabalhar nesta ou naquela cidade para reforçar a própria criatividade115.

Assim como foi referido nos parágrafos anteriores, a economia, para poder crescer, necessita de cultura e esta, por sua vez, necessita da cidade. Uma confirmação desta relação advém do sucesso de eventos culturais e artísticos, organizados nas cidades que atraem grandes quantidades de pessoas, estabelecendo, casualmente, novos recordes de presenças, enquanto provocam complexos problemas logísticos às metrópoles que os acolhem (Vicari Haddock, 2004).

115 Exemplos significativos podem ser: Florença do Renascimento, Paris dos Impressionistas e das

vanguardas do séc. XX ou, em tempos mais recentes, a Nova Iorque da Pop Art. Claramente, a origem e o desenvolvimento destas correntes pressupõe a existência de determinadas condições, como a estabilidade sociopolítica, o bom nível económico, etc.

180 Algumas cidades, em particular, apresentam uma excecional concentração de património cultural, as designadas cidades do património.116

Contudo, todas as cidades, principalmente aquelas de raiz mais antiga, podem ser consideradas como obras de arte por si mesmas, fruto de um lento acumular de saberes relativos à ciência e à arte e às relações sociais, económicas, políticas que, no seu conjunto, definem a singularidade e a unicidade do tecido urbano, capaz de se manifestar como um possível destino turístico. Neste caso, Burgers (1995) distingue, em função da própria origem, os seguintes tipos de cidades:

 A cidade da antiguidade.  O burgo medieval europeu.

 A cidade industrial dos séculos XIX e XX.  A cidade pós-industrial.

Cada cidade, com os seus espaços públicos, como o seu modo de vida e de habitar o espaço, é um produto da história e obedece à articulação entre vários modelos de urbanismo. Cada uma pode, potencialmente, atingir um interesse turístico.

Todos estes aspetos que, na sua complexidade, representam o fascínio da cidade, são capazes de satisfazer a procura da cidade, que é uma das caraterísticas da sociedade contemporânea (Amendola, 2010) e incluem, para além das figuras de turistas já descritas (cf. parágrafo I.1), novas figuras que fogem à definição internacional aceite.

As cidades têm uma importância fundamental na topografia mental do turista, nas redes de transporte e nos recursos que mobilizam (Brito Henriques, 1996). Por essa razão, o turismo poderia ser pensado como uma forma de urbanização orientada para o consumo de bens, de serviços e de lazer. A título de exemplo, existem indivíduos que se estabelecem em certos lugares por um longo período de tempo, talvez por tempos inferiores a um ano (a ser excluído na categoria de residentes), tais como aposentados abastados, que se estabelecem numa zona climática mais favorável, como sucede nas cidades da Riviera Francesa ou da Riviera Italiana (o conhecido efeito Florida).

116 De momento, não existe ainda uma definição oficial e unanimemente partilhada sobre o que é uma

cidade do património, mesmo que este conceito seja percetível por todos. Partindo do pressuposto «que cada cidade é por si mesma uma obra de arte» (Vicari Haddock, ob. Cit. p. 149), pode-se afirmar que a cidade de arte é um aglomerado, onde o aspeto monumental e o conteúdo de bens culturais são preponderantes ou altamente incidentes em relação a outras funções urbanas, como por exemplo a cidade de Veneza ou Florença (cf.. Atti del Convegno (1986) Città d’arte: significato, ruolo, prospettive in Europa. Giunti Barbera, Firenze).

181 A estas novas tipologias de utilizadores do espaço urbano deve-se acrescentar uma outra categoria, a dos sujeitos (flâneur)117, que se deslocam dentro da sua área de residência para viver, no próprio tempo livre, “emoções” de tipo turístico: são os fluxos de mobilidade internos de uma área, gerados pela capacidade atrativa de recursos, considerados geralmente turísticos, pela presença de estruturas para o entretenimento recreativo ou cultural e pelas atividades comercias que, geralmente, estão direcionados para uma clientela predominantemente turística. (Amendola, 1997). As cidades, pela primeira vez na história, modificam-se e adaptam-se em função daquelas que são as procuras dos cidadãos, ou melhor, da classe de serviço118 (Urry, 1995) - de resto, as cidades não foram

criadas pelo e para o turismo.

O desenvolvimento das atividades turísticas deve-se inserir num tecido socioeconómico, cultural e organizativo já consolidado, interagindo com as outras funções urbanas e sobrepondo-se à rede de relações e de fluxos de procura preexistentes (Law, 1993). Este fenómeno, por sua vez, pode apresentar certas diferenças, mesmo em relação à dimensão de uma cidade.

Contudo, para as grandes cidades, o turismo pode ser considerado como uma parte essencial da sua economia, ainda que estejam presentes outros fatores económicos significativos; e, em grande parte, concentra-se num núcleo compacto que, frequentemente, coincide com o aglomerado originário da cidade. Casos bem diversos são os destinos turísticos representados pelos centros de pequena dimensão, onde, frequentemente, o turismo representa o principal impulsionador do desenvolvimento local, determinando qual o valor acrescentado que consente uma diferenciação qualitativa.

O turismo é, dentro de certos limites, mais facilmente aceite nos destinos de pequenas dimensões, nos quais não se coloca a contraposição entre turista e residente, ao mesmo tempo que, nas grandes cidades, se verificam incompatibilidades com os diversos city

users, assim como entre o centro histórico e as outras zonas, em particular as periféricas.

Nesta ótica, Brito Henriques (2003) clarifica que a oferta turística urbana se articula em três componentes: primárias, secundárias e acessórias (Fig. 17).

117 O termo flâneur foi introduzido na análise cultural pelo filósofo Walter Benjamin (1892-1940) que,

reconsiderando uma intuição de Charles Baudelaire, quis descrever a figura típica e simbólica da modernidade urbana. Recentemente, também o sociólogo Zygmunt Bauman utiliza este termo para indicar os comportamentos caraterísticos da cidade da incerteza (Faggiani et. al., 2008).

118 A classe de serviço distingue-se da dos outros trabalhadores, sobretudo em relação à atitude cultural, ao

gosto e aos consumos. Homens e mulheres colocam-se numa posição afastada e baseiam-se numa série de símbolos e práticas de tudo o que é natural: comida saudável, vinho, medicina tradicional, recusa de fibras sintéticas. No turismo, tudo isto dá vida a uma procura inédita, na qual há uma preferência pelo bem-estar psicofísico, pelo campo, pelas tradições do passado e pela dimensão menor.

182 As primeiras, incluem os asset dos lugares, como o património histórico-artístico e ambiental do sítio e as atividades de atração turística, como os serviços culturais,