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III A RELAÇÃO COMPLEXA ENTRE A CIDADE E O TURISMO: PROBLEMAS E DESAFIOS

III.3 Custos e benefícios do turismo nas cidades do património

Em termos económicos, a atividade turística é considerada rentável quando os benefícios superam os custos. Dada a forte transversalidade do turismo, individualizar os custos ex ante não é tarefa fácil. No entanto, está claro de que se trata de uma atividade que produz um rápido rendimento e postos de trabalho, apresenta barreiras laborais bastante baixas, melhora a oferta de serviços (seja para os turistas, seja para os residentes), oferece oportunidades ao comércio e ao artesanato local, incentiva as empresas locais (Anholt, 2007) e, por fim, contribui para o conhecimento da história e da cultura locais, frequentemente desvalorizada pelos residentes e, por vezes, procuradas pelos turistas. Do lado oposto, o turismo alimenta a inflação e incita a atividade construtiva, ao ponto desta última não ser bem regulamentada, causando as principais destruições irreversíveis no ambiente. Além de provocar o aumento do tráfego, e da pressão antrópica sobre o ambiente, pode conduzir à excessiva especialização da economia, com a perda das tradições culturais e excessiva sazonalidade dos rendimentos. Por vezes, produz custos sociais, nem sempre compensados pelas empresas turísticas - com o consequente atrito entre residentes e visitantes. Mais detalhadamente, se se consideram estes custos turísticos em relação às cidades do património, é possível distinguir os custos diretos,

indiretos e induzidos.

Os primeiros reportam-se às despesas públicas para a promoção, organização e informação turística e aos investimentos privados para a gestão de estruturas turísticas.

191 Os custos indiretos são aqueles provenientes das despesas públicas para as infraestruturas e serviços não diretamente destinados aos turistas, mas utilizados por estes (estradas, recolha de resíduos, transportes).

Os custos induzidos, dificilmente quantificáveis e monetizados, são, por exemplo, a poluição atmosférica, sonora, o aumento do tráfego e a concorrência voraz pelos recursos e serviços tornados raros e preciosos (espaços verdes públicos, transportes públicos) e o aumento da inflação, devido ao crescimento dos preços praticados para o turista.

O desenvolvimento turístico nas cidades do património, com o consequente aumento do número de unidades hoteleiras, de restaurantes e de estruturas dedicadas aos turistas, provoca um acréscimo do valor do imóvel, em particular nas áreas de maior prestígio artístico, fomentando o progressivo desaparecimento das lojas de primeira necessidade ou tradicionais, para dar espaço a pontos de venda de produtos e serviços de destino preferencialmente turístico122.Mossetto (1992), com o objetivo de definir as recaídas

económicas do turismo nas cidades do património, evidencia três grupos de modelos evolutivos. O primeiro modelo é o de economia dependente e distingue a realidade urbana em que a arte e a cultura foram desenvolvidas (ou sofreram uma queda), como consequência dos processos económicos da cidade. É, então, o mesmo progresso económico que dita os tempos de desenvolvimento artístico e arquitetónico, sujeitando a procura turística a simples escolhas económicas e comerciais. Numa situação similar, a arte pode ser uma verdadeira expressão ou assumir um papel de simples atividade comercial. No segundo modelo, apelidado de cultura dependente, o sucesso turístico da cidade assenta na sua notoriedade artística e cultural. Uma situação em que a arte é o elemento motriz da economia local e que pode conduzir a um ciclo tanto virtuoso como viciante: no primeiro, a cultura é interpretada como um fator produtivo reproduzível, usado com sabedoria e racionalidade dentro do processo de crescimento económico; no segundo, o bem artístico constitui uma simples parte do sistema produtivo, uma matéria- prima que pode ser consumida sem necessidade de proteção, com o consequente risco de um crescimento incontrolado da procura turística e o desaparecimento do mesmo fator produtivo. No terceiro modelo, chamado residual, arte e cultura são efeito de um processo político externo, em resultado de se encontrar frequentemente uma cidade em fase de

122Tal fenómeno é chamado em economia efeito de crowding-out, ou seja, a afirmação da monocultura

turística dentro das cidades do património, onde as atividades turísticas que se tornaram mais rentáveis afastam, para além das fronteiras urbanas, as outras atividades. Desta maneira, a cidade corre o risco de perder o próprio tecido social, transformando-se num simples itinerário turístico com oferta banal e repetitiva (Formato, 2006).

192 transição ou desestruturada, onde os últimos vestígios de antigas civilizações se apresentam como verdadeiros museus a céu aberto.

Se o aspeto económico e o aspeto cultural contribuírem para criar um ciclo virtuoso capaz de alimentar o crescimento, passando por novos investimentos e novas produções de riqueza alcançando o limite de congestão, o terceiro modelo torna-se sinónimo de degradação e deterioração dos recursos artísticos. A cidade do património, no decorrer da sua história, resulta inserida numa ou mais tipologias ou, ao mesmo tempo, pode apresentar caraterísticas específicas de mais do que um modelo. É, assim, prioritário, em cada fase de análise para a promoção ou para o incentivo de uma localidade turística, avaliar estas “recaídas económicas” da cidade, a fim de implementar políticas turísticas idóneas orientadas para a sustentabilidade e durabilidade. Na Fig. 18 há uma síntese final dos custos e benefícios do turismo das cidades do património.

Fonte: elaborado pelo autor.

Fig. 18 - Custos e benefícios do turismo das cidades do património.

CUSTOS BENEFÍCIOS

PARA AS INSTITUIÇÕES: - Resíduos urbanos - Transporte e tráfego

- Parques de estacionamento - Desgaste dos recursos de

base - Concentração espacial - Ambiente e sustentabilidade - Estética da cidade - Vantagem posicional PARA OS RESIDENTES:

- Aumento dos preços de bens e serviços

- Perda de identidade - Aumento dos preços dos

imóveis

- Rendimento só para algumas categorias

PARA AS INSTITUIÇÕES:

- Mais impostos dos salários mais altos

- Setor motriz da economia - Imagem positiva

- Valor económico e social adicionado

- Integração entre as culturas

PARA OS RESIDENTES: - Mais ocupação - Mais lucro

- Melhoria dos serviços - Mais infraestruturas - Mais vantagem locativa

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