• Nenhum resultado encontrado

A evolução dos estudos sobre a relação entre turismo e território: o papel da geografia do turismo

UMA COMPARAÇÃO ENTRE A EXPERIÊNCIA ITALIANA E PORTUGUESA Introdução

II. TURISMO, TERRITÓRIO E CULTURA

II.1 O turismo: definição, origem e tipologias

II.1.8 A evolução dos estudos sobre a relação entre turismo e território: o papel da geografia do turismo

Como se sabe, a Geografia começa a organizar-se, como ciência, a partir da segunda metade do século XIX, numa altura em que o turismo estava numa fase embrionária. Como tal, esta disciplina constituía uma atividade humana capaz de induzir apenas alterações territoriais limitadas, como a recuperação agrícola, ou os processos de industrialização e a consequente urbanização.

É, então, possível afirmar que as razões do tardio interesse no turismo, por parte da Geografia, são essencialmente duas: a) o atraso do turismo no alcance de valores consistentes, capazes de produzir alterações pervasivas no ambiente; b) a escassez de dados científicos nas primeiras fases de arranque da atividade (Gomez, 1988). O interesse dos geógrafos para as questões do turismo data na metade do séc. XIX, precisamente quando Khol publicou, em 1841, um estudo que chama a atenção sobre as capacidades de transformação do ambiente, por parte de grupos de pessoas que se deslocam para fins recreativos e quando, alguns anos mais tarde, Elisée Reclus chamou a atenção sobre a importância do crescente fenómeno turístico, a nível mundial (Simões, 2011).

98 Na Itália, por volta dos anos vinte, surgem os primeiros estudos de Geografia relacionados com as temáticas do turismo e, entre estes, destaca-se o estudo sobre o Val Gardena, conduzido por Carlo Viesi, em 1926 (Scaramellini, 2007). O primeiro trabalho de geografia do turismo, realizado com o método científico, foi o de Umberto Toschi, intitulado "Taormina centro da economia turística" (Rocca, 2014), e como o título sugere, os primeiros estudos sobre o turismo são considerados dentro do contexto mais amplo da geografia económica, dado que o aspeto da mobilidade espacial de pessoas e dinheiro, pelo menos nesta primeira fase, constituía a parte mais evidente52. Só a partir do segundo

pós-guerra, em conjunto com a propagação exponencial do turismo a nível mundial, a disciplina foi caraterizada por extensos estudos e pesquisas interessantes. Em Portugal, devem ser referidos os estudos pioneiros de Carminda Cavaco, nos anos 60, a quem nos referiremos adiante, ela própria uma geógrafa natural do Algarve, região bem conhecida pela atividade turística, então emergente.

Os estudos sobre o turismo são caraterizados por uma abordagem interdisciplinar que interpreta o fenómeno do turismo não só do ponto de vista económico, mas também como comportamento social e como oportunidade de intercâmbio cultural (Smith, 1996) (cf. parágrafo I.1.1). Os argumentos abordados, segundo Pearce (1987), podem ser agrupados quanto à distribuição espacial da procura e da oferta turística:

• a analise das movimentações e dos fluxos turísticos;

• a determinação dos modelos de desenvolvimento do espaço turístico; • a avaliação dos impactos ambientais do turismo.

Mais recentemente, com o avanço desses estudos, surgiram novas dificuldades para descrever uma atividade que já tinha atingido uma dimensão global, tais como a limitação dos indicadores para descrever o enorme impacto do turismo e a elevada fragmentação dos atores envolvidos. Do ponto de vista evolutivo, é possível distinguir quatro estágios de evolução da disciplina (Scaramellini, 2007):

a) Definição dos fundamentos teóricos e metodológicos com bases

positivistas (1948-1965). Durante esta primeira fase, Toschi ainda publica o

"modelo geral do centro turístico", onde o local recetivo de turismo aparece como

52 A afirmação do funcionalismo em Geografia e, portanto, de uma conceção de espaço geográfico

entendido não somente em termos «absolutos», mas também «relativos», abriu caminho aos estudos baseados nas relações horizontais que caraterizam um território. De facto, se a primeira categoria de espaço geográfico, de tipo absoluto, se refere ao espaço entendido em termos topográficos e, portanto, num conjunto de lugares definidos por coordenadas geográficas, imutáveis no tempo; a segunda categoria, introduzida por Clozier, nos anos trinta, considera, por sua vez, os lugares que pertencem ao espaço geográfico tendo em conta as “funções” de mais variada natureza (económica, política, social, etc.), que podem ser realizadas neles e que, como demonstrado pela história, podem variar ao longo do tempo. É neste contexto que se inserem os primeiros estudos da geografia do turismo (Rocca, 2014).

99 um papel territorial apto para agir como motor de desenvolvimento para o território, capaz de dar origem a movimentações de pessoas, bens e dinheiro. Estas movimentações podem ocorrer de forma unívoca, como os pagamentos dos turistas, ou subsídios públicos em favor do centro turístico; ou de forma biunívoca, como os fluxos por motivos de negócio, o pagamento de impostos etc. Enfim, podemos distinguir movimentações internas ao sistema territorial, como a troca de bens produzidos dentro da região à qual pertence ao centro turístico considerado; ou, de forma externa ao sistema analisado, como é o caso dos fluxos de turistas ou de trabalhadores que veem das regiões externas ao lugar turístico (Rocca, 2014). O modelo proposto por Toschi, em grande parte, ainda é válido, embora faltem, claramente, as formas de turismo que se desenvolveram mais tarde, como o ecoturismo, o turismo de negócios, o turismo de congressos, etc. (Fig. 7).

Fonte: Rapporto della Società Geografica Italiana, 2008, p. 10.

Fig. 7- Modelo de circulação turística de Umberto Toschi (1948).

Considerando este período, vale a pena mencionar a publicação de Ullmann (1954), que se dedica às correlações entre o fenómeno turístico (definido como atividade recreativa) e o desenvolvimento regional53; e o trabalho de Christaller

53 Ullmann E.L. (1954) Amenites as a factor in regional growth in “The Geographical Review” n. 1 pp. 119-

100 (1955), autor de um artigo sobre a "geografia do movimento de estrangeiros"54,

que analisa as várias maneiras de localização das atividades turísticas e elabora, por fim, uma classificação das localidades turísticas, em função dos fluxos turísticos. A geografia do turismo começa a assumir uma autonomia no que diz respeito à geografia económica, transformando-se, assim, gradualmente, num ramo da investigação dentro da própria geografia humana. A partir deste momento, o objeto de estudo geográfico relacionado com o turismo não se limita apenas aos aspetos, embora fundamentais, de localização e de interação espacial, mas estende-se até à análise do impacto, ou seja, às transformações positivas e negativas que o turismo pode causar na paisagem, produzindo novas formas urbanas.

b) Expansão das temáticas e das metodologias alargadas (1965-1975). Durante esta década, aparecem muitos estudos e pesquisas que realçam, além da estreita relação de causa e efeito entre urbanismo e turismo, os numerosos danos ambientais produzidos pelo turismo em massa, gerados pela satisfação de necessidades psicológicas e culturais da sociedade da época.

O desenvolvimento turístico está, neste momento, intimamente ligado à presença de confortáveis e rápidas vias de comunicação, florescendo numa mudança, do ponto de vista urbanístico, nos destinos de férias mais populares, transformando-os em cidades com maior geração de fluxos turísticos. Os historiadores do turismo distinguem este período como a fase mais madura do turismo em massa (Berrino, 2011); amplos espaços costeiros e vastas áreas de montanha são, assim, atacadas pela construção, principalmente de "segundas casas". O fenómeno, caraterizado pela criação destas localidades sazonais, especialmente pelas de tipo balnear, é qualificado como "marbellizzazione", em homenagem ao famoso resort balnear espanhol que, como tantos outros na costa mediterrânea, consumiu, exacerbadamente, um alto número de espaço e recursos, modificando completamente o ambiente e a paisagem existente (Lozato-Giotard, 2002). Recentemente, alguns autores optam por se concentrar menos nos aspetos negativos que se encontram nas estadas de férias - em localidades (geralmente de pequena extensão) onde a presença excessiva de turistas conduz à perda da sua essência e autenticidade – enfatizando, por sua vez, o enorme crescimento das cidades e a homogeneização da sua aparência (mais sentida nos locais turísticos) - que toma o nome de síndrome de Trude. É

101 assim que o sociólogo Leoni (2004, p. 29), que descreveu este fenómeno pela primeira vez, o relata : «A doença expressa-se na mercantilização das relações, na posta em venda de todos os recursos disponíveis, desde os ambientais até os culturais, humanos e sociais, na estandardização e homogeneização dos lugares, dos gostos e sabores, das emoções e das experiências. A síndrome de Trude é o paradigma das contradições do turismo contemporâneo, sendo uma oportunidade para a reflexão sobre a crise da cidade»55.

Normalmente, este fenómeno tem sido particularmente agressivo nos países mediterrâneos, onde a falta de normas ou de planeamento urbano, juntamente com a presença de um poder local com pouca visão estratégica, deu início a uma mudança que não só afetou fortemente o ambiente físico, mas também criou um impacto sobre a regulamentação dos serviços essenciais, tais como a gestão de resíduos, o consumo dos recursos hídricos, o tecido económico e social; «no mundo inteiro, litorais anteriormente utilizados para outros fins, se tornam preciosas terras para praias turísticas, o mercado imobiliário transforma a inteira configuração social das pequenas e médias cidades, marginalizando frequentemente os residentes em subúrbios ou colonizando com o objetivo de um maior interesse turístico» (Minca, 2011, p. 78).

Desta forma, tais âmbitos territoriais assumem uma nova ordem territorial, onde cada atividade económica está orientada para o desenvolvimento do turismo. Dentro dos estudos geográficos que descrevem esta fase, consolida-se o conceito de "região turística", ou seja, uma região funcional particular, formada por «espaços caraterizados pelo peso e pelo impacto da afluência de turistas em vários municípios mais ou menos próximos, pertencentes à mesma área geográfica» (Lozato-Giotard, 2002 p. 22), e é sobre este tema que começam a florescer interessantes estudos na Europa Ocidental.

Com efeito, a partir da fase do turismo em massa (cf. parágrafo I.1.2), as transformações sobre o território, resultantes do turismo, começaram a ser particularmente significativas, tanto é que, neste período, se iniciaram os primeiros estudos sobre a classificação dos espaços turísticos (cf. parágrafo I.1.7). Estes estudos foram elaborados, primeiramente, por Fernández Fuster

55 A referência é o famoso livro de Italo Calvino, Cidades invisíveis, onde a cidade de Trude é uma cidade

igual a muitas outras cidades do mundo: «podes retomar o teu voo sempre que quiseres, disseram-me eles, mas chegaras a outra Trude, igual ponto por ponto, o mundo é coberto por uma única Trude, que não começa e não termina, apenas muda o nome no aeroporto» (1972, p. 61).

102 (1991) e Pearce (1995), mas é só com Lozato-Giotard (2002) que o argumento encontrou uma nova visão pluridisciplinar. O autor analisa a forma espacial dos estabelecimentos turísticos, em relação com o ambiente natural e humano, considerando apenas as variáveis geográficas, como a presença espacial do turismo (intensidade dos fluxos e subdivisão do espaço com as outras atividades económicas). Com esta ideia, é possível distinguir os espaços em três categorias (Simões, 2009):

 espaços turísticos polivalentes e abertos: a) os tipos balneares e lacustres; b) os tipos urbanos não balneares; c) os tipos rururbanos;

 espaços turísticos especializados e mais ou menos abertos: a) os tipos abertos; b) os tipos enclave;

 espaços turísticos regionais: a) espaços turísticos regionais fortemente polarizados; b) espaços turísticos regionais pouco ou não polarizados; c) os espaços de periferia turística.

Concentrando a atenção unicamente nas cidades turísticas pequenas e médias (cf. parágrafo VI.1), estas correspondem a espaços polarizados, onde os fluxos turísticos se concentram essencialmente dentro ou na proximidade do centro citadino, onde estão contidas a maior parte das riquezas de origem histórica, o que explica o caráter unipolar e mononuclear deste tipo de cidade turística (Fig. 8).

103 Fig. 8 - Tipos de estruturas de espaços urbanos turísticos.

Na Itália daqueles anos, emerge a análise exaustiva, realizada por Giacomo Corna Pellegrini sobre os Lidi Ferraresi56, onde, num contexto completamente

desabitado, ao longo da faixa costeira, foi construído um grande número de estruturas residenciais (principalmente segundas casas) e lúdicas, e que mostram sinais materiais particularmente relevantes, determinados pelo fenómeno do turismo. Da mesma forma, em Portugal, relata-se o estudo feito por Carminda Cavaco, antes mencionada, sobre o Algarve57, que, mesmo naquela

época, chegou a afirmar-se como uma importante área turística.

Apesar do tom de queixa, devido à agressão do meio ambiente e à especulação fundiária, a publicação saiu incólume de censura estatal (trata-se do período mais suave da ditadura, o da "Primavera Marcelista"). A análise centrou-se, principalmente, no centro de Albufeira, hoje estância balnear muito conhecida, que, naqueles anos, se transformou de uma simples vila de pescadores, a uma cidade de férias na praia, assim como tantas outras. Entre outras referências, o texto diz: «Setores de areais foram urbanizados, a costa mudou de feição, bem como a fisionomia da velha e densa rede urbana. Outras paisagens e novos meios sociais a definem, construídos em função dos interesses da economia nacional e das espontâneas iniciativas de particulares, sem subordinação a um plano orgânico de desenvolvimento regional onde coubessem os interesses gerais dos Algarvios» (p. 216).

Contudo, a Geografia portuguesa demorou a ocupar um espaço de relevo no âmbito da investigação em turismo. De facto, na conferência inaugural do 1º Colóquio Internacional de Geografia do Lazer e do Turismo, realizado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Carminda Cavaco lamentou que «os lazeres e seus territórios não terem merecido ainda atenção suficiente por parte das Ciências Sociais e em particular, por parte da Geografia, não obstante a importância crescente que lhes vem sendo atribuída pela maior parte da população dos países mais desenvolvidos» (Simões, 1996, p. 143).

56 Corna Pellegrini G. (1968) Studi e ricerche sulla regione turistica. I Lidi Ferraresi. Vita e Pensiero, Milano. 57 Cavaco C. (1968) Geografia e turismo no Algarve. Aspectos contemporâneos. Finisterra, Vol. IV, n. 8, pp.

104 Como sublinha Simões (2009, p. 48), os estudos de Cavaco foram fundamentais «no desenvolvimento e consolidação da investigação e do ensino da Geografia do Turismo na universidade portuguesa».

c)Conflito entre duas linhas de pensamento opostas (1975-1995). Em

meados dos anos setenta, a geografia humana foi dominada por duas linhas de pensamento opostas: de um lado, estava aquela ligada à evolução neopositivista, que tinha introduzido, na Geografia, elaborados esquemas conceptuais, focados na construção de modelos de orientação sistémica, mas sempre baseados na análise de factos objetivos; por outro lado, registou-se o início de um novo pensamento, mais relacionado com a esfera da perceção e do comportamento.

A primeira perspetiva de elaboração de modelos geográficos58 representou, para

a geografia do turismo, uma contribuição científica de grande importância para a compreensão e descodificação de uma atividade económica que tinha alcançado, naquele preciso momento, uma forte capacidade de transformação do território.

No entanto, deve, também, ser considerado que a contribuição científica oferecida pelos temas da geografia da perceção foi significativa para o estudo e a formação de alguns modelos interpretativos do fenómeno turístico, como por exemplo o de Miossec, assim como será analisado em seguida.

Dependendo do aspeto examinado, podem distinguir-se os seguintes modelos de turismo:

 Modelos de mobilidade turística (ex. Toschi, Leimgruber, Mariot, Campbell);  Modelos de origem-destino (ex. Thurot, Lungren);

 Modelos evolutivos do fenómeno turístico (ex. Butler, Plog Miossec)

De seguida, com o intuito de simplificar a discussão, apresentar-se-á apenas um exemplo para cada grupo destes modelos.

58 Tanto a geografia como a economia reduziram os complexos detalhes em que se articula o território

(sistema económico, sistema do edificado, sistema das relações, etc.) e as suas caraterísticas essenciais, através das quais é possível entender as dinâmicas escondidas atrás de um sistema organizacional (produtivo ou habitacional). Esta operação de simplificação toma o nome de modelo geográfico-económico (Bencardino F. Presioso M. 2006).

105 Em 1976, Walter Leimgruber, geógrafo suíço da Universidade de Fribourg, publicou um artigo em que propôs um dos primeiros modelos gerais sobre a dinâmica espaço-tempo das atividades ligadas ao tempo livre, relativas ao loisir, ao excursionismo e turismo, no sentido restrito (Rocca, 2014).

A análise é baseada na observação direta da realidade social nos países nórdicos, nos anos setenta.

Segundo a disponibilidade de percorrer distâncias maiores, de acordo com tempo que se tem à disposição, o autor identifica três tipos de utentes de tempo livre: os "ricreazionisti", que se deslocam por períodos muito curtos e estão dispostos a percorrer pequenas distâncias; os "excursionistas", ou seja, aqueles que estão envolvidos em atividades de lazer de médio alcance, com viagens efetuadas sobretudo de carro, e, finalmente, os "turistas", que têm mais tempo livre e estão dispostos a viajar por distâncias mais longas.

Neste contexto, utilizando um diagrama com escala logarítmica dupla, em que cada unidade de distância é de três quilómetros e cada unidade de tempo equivale a duas horas, os loisirs incluem-se nas atividades recreativas dentro de um pequeno raio de alcance, com limite máximo de 50 km, num tempo máximo de 5 horas, e assim sucessivamente, ao longo da escala (Fig. 9).

106

Fonte: Rocca, 2014, p. 140.

Fig. 9 - Modelo de Leimgruber.

Os modelos de tipo B, origem e destino, baseiam-se no pressuposto de que a maior parte dos espaços turísticos, a diferentes níveis, podem ser considerados áreas de origem e de destino de fluxos de turistas. No ano de 1980, Jean Maurice Thorot publicou um estudo que propõe um modelo geoeconómico relativamente aos fluxos turísticos nacionais e internacionais, interpretados em termos de oferta e procura, com referência ao mercado de turismo mundial. Este mercado é considerado um sistema "aberto" que, por razões de conveniência, se reduz a apenas três países, ainda que o modelo possa ser estendido a um número infinito de economias nacionais (Fig. 10). Para simplificar, pressupõe-se que os países indicados com as letras A e B são uma economia avançada, enquanto o país C é considerado uma economia em vias de desenvolvimento. Parte da procura gerada por B é satisfeita pelas suas estruturas, ao passo que a outra parte está orientada verso as estruturas dos países A e C. O mesmo se aplica ao país A, onde parte residual da procura, não satisfeita pelas suas próprias estruturas, encaminha-se para os países B e C. O país C não origina fluxos internacionais, mas satisfaz a procura dos países A e B.

107

Fonte Rocca, 2014 p. 135.

Fig. 10 - Modelo de Thurot.

Tal pode depender tanto do nível de vida da população ser manifestamente baixo, como da limitação a nível turístico, imposta pelo sistema político.

Entre os modelos de tipo C, o proposto pelo geógrafo canadiano R. Butteler, intitulado "ciclo de vida de um destino turístico" (Fig. 11), é, provavelmente, o que alcançou maior notoriedade. Baseia-se na definição das diferentes fases evolutivas do nível de procura de um destino turístico, de acordo com uma curva. Distinguem-se, portanto, as seguintes etapas:

- exploração - pressupõe que a localidade turística é ocupada por poucos turistas, as instalações são limitadas ou inexistentes, a recetividade é modesta e os retornos económicos do turismo não são significativos;

- impulsão - é caraterizada por dois aspetos fundamentais: o primeiro é o aumento significativo do número de turistas e o segundo é o aumento da oferta, ainda que seja limitada, de equipamentos e de serviços turísticos, principalmente oferecidos pelos moradores.

O impacto ambiental é, ainda, reduzido e, geralmente, os moradores apoiam o crescimento turístico;

- desenvolvimento - coincide com a ascensão da estância turística. O crescimento acentuado do turismo é confirmado pelos investimentos no setor, por parte de empresas, algumas delas, internacionais.

108 O território passa por mudanças profundas, tais como a conversão de terras agrícolas em áreas de construção, ou a remoção da flora costeira, em detrimento de praias organizadas. Daqui resulta uma mudança significativa na paisagem original, provocando inquietação na população residente. Do ponto de vista económico, há uma substituição gradual de pequenas atividades económicas locais, para grandes instalações comerciais e alojamento que, geralmente, pertencem a grupos estrangeiros;

- consolidação - Esta fase é marcada por um declínio na taxa de crescimento do número de turistas, apesar do aumento das atividades económicas do lugar. Atinge-se o limite de capacidade de acomodação e o turismo típico é em massa. A localidade é caraterizada pelos primeiros conflitos entre moradores e turistas; - estagnação - a capacidade de acomodação é atingida e ultrapassada, chegando ao valor mais alto de estadas turísticas, e, também, ao maior número de equipamentos. Consequentemente, surge o problema de alcançar determinados níveis de emprego que, juntamente com políticas de preços competitivos, reduzem as margens económicas, podendo conduzir a uma situação de crise nos negócios. Inicia a fase de conversão de alguns hotéis em outras atividades, como por exemplo, residências para idosos ou para estudantes;

- rejuvenescimento ou declínio - nesta última fase, que pode durar muito tempo, o local pode sair permanentemente do mercado turístico (declínio), ou