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UMA COMPARAÇÃO ENTRE A EXPERIÊNCIA ITALIANA E PORTUGUESA Introdução

II. TURISMO, TERRITÓRIO E CULTURA

II.1 O turismo: definição, origem e tipologias

I.1.5 Origem e evolução de um destino turístico

A partir dos anos noventa, o conceito de destino turístico, mesmo na sua versão inglesa

destination, era um termo pouco conhecido.

O recente interesse no conceito de destino é indicativo das mudanças profundas que têm afetado o setor do turismo nos últimos anos. A necessidade de definir o que é um destino turístico tem assumido importância no momento em que a escolha do turista assume os caracteres de uma seleção competitiva entre os diversos destinos alternativos, que podem responder às diferentes necessidades e motivações, tendo em conta o custo, o nível e a qualidade dos serviços etc.

Num contexto altamente competitivo, os lugares turísticos devem concretizar um passo evolutivo, assumindo a caraterística de um produto de mercado, escolhido entre as diferentes opções, tornando-se um destino. O destino, como tal, representa o lugar objetivo da viagem; do ponto de vista económico representa «o produto turístico48»

48 Define-se como produto turístico um conjunto integrado (numa perspectiva de cadeia) de componentes

tangíveis ou não tangíveis, que incluem: recursos e atrações turísticas, infra-estruturas, facilidades e serviços turísticos, imagens e valores simbólicos e oferecem benefícios que podem ser atrativos para grupos específicos de consumidores, para a satisfação das motivações e das expectativas relacionadas com o seu tempo livre.

84 (Cooper et al., 2007). É um conjunto de serviços que devem satisfazer as exigências do consumidor turista, mas dada à pluralidade das motivações e determinantes que influenciam o processo de decisão dos turistas, qualquer bem ou serviço pode, teoricamente, representar um objeto de interesse turístico. Um mesmo destino pode ser a escolha de diferentes turistas mas, por razões diversas, ou então pelo mesmo turista, em ocasiões diferentes, e, deste modo, mobilizar produtos turísticos diferentes, concluindo que a cada destino pode corresponder mais do que um produto turístico (Tamma, 2000). Há que acrescentar, ainda, que os limites e a identidade de um destino não são inequivocamente determinados, mas dependem de diversos segmentos turísticos e de diferentes ofertas e produtos turísticos organizados (Formato, 2004).

De tudo isto, depreende-se que o lugar se converte num destino turístico quando o mercado o reconhece e adquire uma consciência tal, que determina a origem da procura, também em virtude da capacidade de comunicar os serviços oferecidos.

Como já foi enfatizado eficazmente por Tamma (2002, p. 17), «três são os elementos, ainda que em modos distintos, parecem estar sempre presentes no momento de definição de um destino: a) um espaço geográfico, b) a referência a uma oferta (um produto) e a um mercado (de uns segmentos), c) um agregado de recursos, estruturas, atividades, atores que fornecem a oferta. O destino, assim como emerge dos diversos contributos, parece ser ao mesmo tempo, todas estes aspetos mas nenhuma destas em particular». Exprimindo, por outros termos, os destinos são, então, uma variedade de produtos, serviços e atracões variavelmente compostos num determinado espaço geográfico, destinados a potenciais turistas.

Deste conjunto, distinguimos os serviços que podem ser proporcionados especificamente para satisfazer as exigências da procura, seja ela turística, ou seja ela local, e que se dividem em (Formato, 2004):

• serviços turísticos de base, ou seja, aqueles que asseguram a fruição dos recursos atrativos que estão na base da viagem;

• serviços turísticos diretos, aqueles serviços necessários para satisfazer outras exigências de tal segmento da procura, mas que possam ser utilizados, também, por outros grupos de visitantes, ou pelos próprios residentes (acessibilidade e mobilidade, recetividade, acolhimento, etc.);

http://www.usaid.gov/sites/default/files/documents/2151/DMOworkbook_130318.pdf último accesso 21.10.2014).

85 • serviços e atividades de suporte, que compreendem os serviços e atividades que não preveem um contacto direto com os visitantes, mas que são essenciais para assegurar a eficiência e qualidade da cadeia de serviços (atividades de promoção e marketing, incentivos à atividade turística, cursos de formação, etc.);

• as condições do contexto, ou seja, todos aqueles elementos materiais e imateriais próprios do destino, que não fazem parte de maneira direta dos serviços, mas que são essenciais para o bom funcionamento destes (ambiente físico, segurança, contexto sociocultural, assistência sanitária, etc.).

Na fig. 5 há um esquema de síntese.

Os serviços de base e os serviços turísticos diretos conferem identidade ao produto turístico, mas são as condições do contexto, que conferem um enquadramento eficaz para a capacidade de atração e de acolhimento do destino.

Fonte: elaborado pelo autor.

Fig. 5 - Componentes do produto turístico do destino.

Além das qualidades das atrações e dos serviços, o sucesso de um destino turístico encontra-se ligado, também, à mudança da procura, que segue mecanismos variáveis no tempo e no espaço: uma localidade torna-se destino, apenas através da interação com o mercado, posicionando-se dentro das preferências dos turistas, sendo considerado como um lugar no qual estão disponíveis fatores de atracão, capazes de responder, de modo adequado (também sob o perfil económico), às específicas motivações da viagem (Rocca, 2014).

Numerosos são os fatores que podem decretar a afirmação de um destino no mercado turístico. É possível afirmar que estes fatores oscilam entre dois extremos: a estratégia deliberada, através da qual se atraem diversos visitantes, ou o processo espontâneo,

ATRAÇÕES SERVIÇOS TURÍSTICOS DIRETOS SERVIÇOS E ATIVIDADES DE SUPORTE CONDIÇÕES DE CONTEXTO

86 determinado pela chegada de turistas, sempre mais numerosos, atraídos pela qualidade de um território.

A história do turismo moderno fornece algumas indicações sobre as diversas modalidades a partir das quais se desenvolveram importantes destinos turísticos europeus. A título de exemplo, temos a época do Grand Tour (XVII-XVIII séc.), onde a elite europeia escolhia as maiores cidades italianas como destinos finais das suas viagens, sem que houvesse alguma estratégia de atracão precedente, por parte destas localidades. O clima romântico e a abundante presença de recursos artísticos determinaram o surgimento do turismo cultural em Itália.

Numa fase posterior, foram descobertas as localidades menores, eleitas como metas de viagem, conhecidas através das redes sociais e informais, em toda a Europa. As metas culturais do Grand Tour, em Itália, e as primeiras localidades balneares do Mediterrâneo, as localidades alpinas fornecem exemplos concretos do surgimento, no território, de atividades profissionais e de serviços para o turismo, longe de qualquer planeamento elaborado anteriormente. Inicia-se «um percurso que, gradualmente, começa a convencer a sociedade local, descoberta pelos fluxos de comunicação que interessam àquela época, que tinham coisas para valorizar, para vender àqueles estrangeiros tão interessados a visitar esse lugar, ainda que se confrontassem com um longo e perigoso caminho.» (Nocifora, 2001, p. 50).

Se se analisam os vários exemplos de desenvolvimento turístico espontâneo, podem-se individualizar algumas caraterísticas comuns: primeiro que tudo, encontra-se a presença de atrações artísticas e naturais de grande prestígio no território; em segundo lugar, regista-se um forte interesse naquele local, por parte de grupos específicos, como artistas, intelectuais, românticos, cientistas, aristocratas, talvez também testemunhado por obras literárias e artísticas que celebram aqueles lugares, criando interesse e curiosidade aos outros, ao ponto de incentivá-los a visitar. Em terceiro lugar, trata-se de fluxos turísticos inicialmente bastante limitados, que podem crescer lentamente, sem que isto comporte riscos particulares para as empresas que disponibilizam os serviços.

Diferente é o caso para as situações em que o desenvolvimento turístico representa o fruto de uma atividade planeada, onde, seguramente, os recursos naturais têm um papel marginal, quando comparados com o papel das facilidades primárias e secundárias, como é o caso da Costa Brava, em Espanha, do litoral do Mar Negro, na Roménia e Bulgária, do Algarve, em Portugal, ou do Dubai, no Golfo Pérsico. É redundante defender que a espontaneidade do desenvolvimento turístico seja limitada, ou quase inexistente.

87 Atualmente, pode-se afirmar que a maioria das políticas turísticas, em vigor, dizem respeito a um novo encorajamento turístico das localidades, já presentes no mercado por diversas décadas, em vez da promoção de novas áreas turísticas.