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3. DAS REDES AO CIRCUITO ARTÍSTICO

3.2. Circuito expositivo off-line e arte pós-internet

Nesta perspectiva, observamos, pois, o ambiente conectado das redes e sua permeabilidade em, praticamente, todas as instâncias da vida cultural. Temos visto que, junto à exploração da internet como meio para a criação artística, inicia-se um processo que toma forma em ações desenvolvidas no território off-line. Considerando os últimos trabalhos discutidos, indagamos, naturalmente, sobre os aspectos e circunstâncias nas quais as propostas virtuais migram para o espaço expositivo após circulação e consumo na web.

As proposições originalmente realizadas na internet começam a surgir em outras configurações de diversos tipos. Fotografias impressas, cartões-postais, ímãs de geladeira e livros de fotografia são apenas alguns dos objetos nos quais a imagem virtual surge remediada e interfaceada por outros suportes. Também soa pertinente verificar qual a natureza destes processos, especificamente, no circuito tradicional das artes visuais, entendido como exposições, mostras, festivais, além de qual denominação podemos atribuir a esse deslocamento ou desdobramento.

Sob a dinâmica desenvolvida, o objeto virtual, no caso da produção de Aleta Valente, Andressa Ce. e Laís Pontes extrapola o ambiente das redes sociais e migra para o contexto expositivo tradicional. Após o acesso e a interação do público usuário nas plataformas, o objeto deixa de ser preponderantemente virtual e sua apresentação também assume formatos em suportes impressos como fotografias e instalações. É sobre esse deslocamento territorial que interessa investigar, analisar e discorrer a seguir, a fim de visualizar seu modo de operação. Consideramos, para tanto, a visualização das estruturas de produção e mediação direcionadas do on-line para o off-line. Entram em cena a observação das propostas em territórios tradicionais de exposição constituídos por equipamentos culturais como galerias, museus, centros culturais, festivais de arte. Para tanto, perscrutamos aspectos do sistema da arte a fim de traçar um panorama da inserção dos trabalhos apresentados nos capítulos anteriores, além destes que serão comentados.

Dentro da complexidade do sistema da arte existem agentes, elementos e condições, além de instituições vinculadas, invariavelmente, aos processos históricos nos quais estão inseridos os processos artísticos. É na estreita relação com as transformações sociais pertinentes a cada época e, consoante à análise dessas relações que utilizamos o conceito ‘sistema da arte’ que, de acordo com Bulhões (2014) designa:

consumo de objetos e eventos por eles mesmos rotulados como artísticos e responsáveis também pela definição dos padrões e limites da arte para toda uma sociedade, ao longo de um período histórico. (BULHÕES, 2014, p. 15-16)

Inicialmente, com a intenção de caracterizar o circuito no qual inserimos e debatemos as práticas em arte e internet, podemos compreender por sistema da arte a configuração da relação entre a produção, o mercado e as instituições de arte. A fim de elucidar esse campo de enunciação, consideramos os agentes que vão além da figura do artista como responsável pela repercussão de seu trabalho. O sistema da arte no Brasil exige modos de leituras e abordagens que levem em conta os aspectos nos quais opera todo o circuito de arte, bem como as suas demandas originais e arranjos dispostos em termos de produtos e serviços.

A respeito das considerações sobre o sistema, ao perscrutar o trabalho de Laís Pontes, em especial, verificamos sua notável inserção no circuito expositivo, como a imagem de parte da mostra Capture and Release, realizada no International Center of Photography (ICP), em Nova York (2011).

Vista parcial da exposição Take Ten, no ICP, Nova York, 2015 Disponível em http://www.laispontes.com/born-nowhere/installation/ICP/

Observamos que as fotografias são acompanhadas de um tipo de legenda, disposta logo abaixo da imagem, além da descrição contida na ficha técnica da obra. Essa disposição faculta a identificação do projeto e descreve as características, ou seja, a identidade de procedência virtual da persona retratada. Também há um QR-Code permitindo ao usuário o rastreamento de informações com base nesse tipo de código, próprio da internet. Um

movimento que, se efetuado pelo espectador é capaz de remetê-lo de volta ao contexto virtual das imagens.

Detalhe de exposição, Atlanta Photography Group Gallery, Atlanta, 2013 Disponível em http://www.laispontes.com/

Detalhe de exposição Abject Subject, Inglaterra, 2015 Disponível em http://www.laispontes.com/exhibitions/_DSC3278/

Concebido como projeto de mídias sociais, Born Nowhere conta, além do ICP, com circulação por dezenas de importantes mostras e festivais que exploram e tematizam a linguagem fotográfica no contemporâneo. As exibições no formato de instalação preservam o componente interativo como característica da proposta originalmente desenvolvida na web.

Disponível em https://www.lensculture.com/lais-pontes?modal=project-109856

Nos eventos do circuito de arte internacional, as personas já foram expostas em mostras internacionais, como Extreme.Self (2018) em Frankfurt, Alemanha; Revolution no Diffusion Festival (2017) em Cardiff, Reino Unido; Input_Output. Reinventando el medio (2016) na Artecámara, Cámara de Comercio de Bogotá, Colômbia. O projeto tem sido apresentado ao lado de incríveis obras de arte de artistas como Anthony Antonellis, Roc Herms e Penélope Umbrico, entre outros artistas de projeção internacional.

Exposição Input_Output, Cámara de Comercio de Bogotá, 2016

Disponível em http://www.laispontes.com/exhibitions/7d41f892-a1f9-4f08-aa2a-802606033f4f/

Os retratos foram exibidos, também, em toda a vila de Marsoui-Gaspésie, no Canadá. Com isso, as meninas de Born Nowhere saíram para além das paredes da galeria e circularam cara a cara com seus espectadores, durante a 6ª edição dos Encontros Internacionais da Fotografia em Gaspé. http://www.photogaspesie.ca/ e @photogaspesie

Photogaspesie, Gaspé,

Fonte http://www.laispontes.com/born-nowhere/installation/photo-3/

Na sequência das imagens, vemos a série Virtual Mask ou Máscara Virtual, onde a artista se utiliza de superfícies refletoras como espelhos para compor novas imagens, tendo como matriz alguns retratos de Born Nowhere. O trabalho procura evidenciar a predisposição comum ao ser humano de interpretar o outro com base em si mesmo, como uma projeção de qualidades sobre o outro, mas que residem em nosso próprio inconsciente.

Virtual Mask

Disponível em http://www.laispontes.com/self-and-other/statement/

A iniciativa mistura a complexidade do espelho como objeto e a ideia invocada pelas mídias sociais, explorando a fusão entre o self, como parte da nossa estrutura psíquica e o mundo externo. Todo o trabalho apresenta retratos coloridos impressos em suportes de azulejos espelhados, cuja intenção é chamar para si a atenção do espectador numa espécie de

jogo ou competição com as formas gravadas no espelho. Como uma sobreposição de imagens de si e do outro, o espectador pode ver seu rosto refletido por entre os traços da persona.

Virtual Mask

Disponível em http://www.laispontes.com/self-and-other/self-and-other/IMG_5020_1182/

O mais intrigante desdobramento desta série de personas acontece com @eleonora_nowhere, uma legítima performance on e off-line criada e encarnada por Laís para uma residência no Diffusion Festival (2017), no Reino Unido, como parte das atividades do festival. Eleonora, assim como todas as mulheres criadas na família Born Nowhere, é formada pelo diálogo com os usuários do Facebook e o desempenho da persona é visto e acompanhado pelo Instagram.

A ideia inicial da artista era criar uma personagem que representasse uma mulher típica galesa. Por meio da busca na internet chegou ao resultado que expressava traços mais conservadores e estilizados, porém, em sua pesquisa off-line pelas ruas de Cardiff, a artista percebeu que o padrão contrariava o que ela observara das mulheres no local. Impressionou- se com a expressão vibrante das jovens mulheres galesas naquele ambiente urbano e multicultural.

Post no perfil do projeto Born Nowhere. Disponível em

https://www.facebook.com/Project.Born.Nowhere/photos/a.267787206572540/1606453889372525/?type=3&the ater

Laís, então, criou a imagem a partir de si mesma e compartilhou o post no Facebook, acompanhada pela questão inicial do projeto, indagando aos usuários sobre quem pensavam que aquela mulher poderia ser. Entre as respostas, obteve comentários que ela era doce, tímida, forte, ousada, de espírito livre, além disso, ela sempre quis tornar-se uma cantora famosa e provar para a família que era capaz de atingir seu desejo, apesar das críticas.

Print de página do Instagram @eleonora_nowhere

Disponível em http://www.laispontes.com/%40eleonora_nowhere/statement/

Assim, Laís viveu como Eleonora durante o Diffusion Festival e postou regularmente no Instagram as ações da persona. Cada post também fazia parte da performance, e o mais interessante é que a conta no Instagram tornou-se uma documentação arquivística do trabalho performático.

Imagens da performance de @eleonora_nowhere

Disponível em http://www.laispontes.com.br/%40eleonora_nowhere/on-and-offline-performance/

Em Born Nowhere o público usuário era convidado a interagir na rede social, era provocado com perguntas lançadas por Laís com intenção de construir colaborativamente as personas das imagens. Desta forma, o ato do espectador de disponibilizar seu corpo junto a um dispositivo e conectar-se a ele por meio da visualidade, pode sugerir a execução de um processo de transferência. Configurada neste sentido como um arquivo de dados, onde as percepções confluem para prosseguir na construção da representação imagética.

A esta altura do debate, o estudo sobre os usos do arquivo na arte contemporânea pode ser propício para investigar movimentos da arte e internet, e da arte pós-internet. O conceito e a incorporação da prática do arquivo constituem uma série de experimentações, pesquisas e obras realizadas por artistas. Além disso, na história da arte encontramos diversificadas formas de emprego da noção de arquivo como temática e objeto na composição de obras e propostas recentes.

No caso dos trabalhos de Aleta, Laís e Andressa, temos alguns atributos que nos permitiriam classificá-los e adaptar determinados arranjos conceituais em função do digital, de acordo com a noção original de arquivo. Tomando de empréstimo o pensamento de Arantes (2015, p.118-119) que investiga a presença do arquivo na arte, é importante compreender sua dimensão como uma operação intrínseca à parcela da arte contemporânea.

No contexto, deve ser entendido não como um depósito de documentos ou representação da obra original, e sim como gesto que, por ser lacunar e por não conseguir dar conta da obra na totalidade, abriria espaço para a compreensão da obra na multiplicidade de perspectivas desse fazer constante.

Os arquivos digitais compõem-se de uma estrutura diferenciada composta por dados algorítmicos hospedados no ambiente virtual. Por isso mesmo, é imprescindível reconhecê-los como portadores de camadas sobrepostas de significação. Considerar a dimensão da imagem fotográfica digital e do texto como fonte e objeto de pesquisa pode conduzir a uma exploração produtiva. Para revelar sua história, o ponto de partida é interrogar qual a especificidade dessa fonte e seus elementos constitutivos.

Nas relações estabelecidas entre arte e internet, verificamos atributos e formas de escritura mediadas por dispositivos tecnológicos na web. Neste princípio, situamos a rede como um grande repositório de dados com suas plataformas de interação social compostas, em grande parte, de posts, predominantemente criados por dados digitais. Semelhante a uma galeria, as publicações dispostas em colunas apresentam imagens fotográficas e textos, na forma de legendas, títulos, comentários, hashtags. Essa conformação visual remete a uma espécie de painel de visualização por onde podemos rolar a página e acessar o conteúdo. Por sua natureza intrínseca, é possível denominar as publicações das artistas de arquivos digitais, se considerarmos, igualmente, os conteúdos produzidos e armazenados como seus documentos. O ambiente da web que habitam na forma de dados mantém seu armazenamento como o conjunto de informações que representam.

Nas propostas apresentadas, a fotografia é manifestada enquanto técnica, linguagem, dispositivo de registro, suporte e objeto na qualidade e condição performativa das imagens em foco. Os documentos produzidos e acumulados pela entidade artista ou pela instituição no desempenho de suas atividades vêm a constituir a condição de obra artística e, posteriormente, o documento que a legitima como tal.

No circuito off-line da arte, Aleta Valente participou do evento “Uma noite com Aleta Valente aka ExMissFebem”, ação integrante do Festival de Teatro de Curitiba realizado em abril de 2019, conforme a imagem abaixo, do evento organizado via Facebook. No encontro, ela projetou arquivos de seu celular, entre memes, fotos e prints de conversas, enquanto falou de seu conteúdo ao público.

Print da página do evento no Facebook

Disponível em https://www.facebook.com/events/boiler-galeria/uma-noite-com-aleta-valente-aka- exmissfebem/256199175300995/

Na ocasião, o texto da chamada para o evento enunciava: “Uma noite com Aleta Valente abrindo seus arquivos e o coração. A mememaker Aleta Valente aka ExMissFebem aterrisa em Curitiba para uma deliciosa noite na Boiler Galeria. Aleta nos apresenta uma seleção de imagens, apropriações estas que fazem parte de seu repertório no Instagram. Este happening faz parte do programa Interlocuções do Festival de Teatro. Venha participar desta noite que promete ser inesquecível! ATENCION ATENÇÃO ATTENTION//ESTA OBRA CONTÉM MUITO HUMOR//ESTA OBRA TE FAZ PENSAR”.

Para além da evidência do arquivo digital como elemento na arte, a dinâmica do ciberespaço determina algumas funções da web e das redes sociais como espaços de arquivamento e memória. Nas plataformas, ficam armazenadas inúmeras galerias de imagens e textos que compõem o volume de arquivos digitais publicados diariamente, dos quais as páginas e perfis no Facebook, Instagram e no blog construído pelas artistas, são exemplos.

Outra situação de confluência da mídia social para o ambiente expositivo pode ser vista no trabalho de Aleta Valente, por meio das narrativas fotográficas e posts que saíram das redes sociais para outros contextos. Seguindo seus rastros virtuais foi possível identificar em notícias veiculadas por sites de instituições e revistas especializadas, algumas situações em que a artista, após ter sua conta censurada no Instagram, começou a realizar aparições fora das redes.

A partir da repercussão gerada pelo perfil quando ainda estava ativo, e, especialmente, após as denúncias que recebeu até o encerramento das contas nas redes sociais, Aleta passou a receber convites de instituições para expor seu trabalho. Uma dessas aparições públicas fora das redes virtuais pode ser conferida na mostra Histórias da Sexualidade, no MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) em cartaz entre 20/10/2017 e 14/02/2018. Formada por mais de 300 obras de diversos artistas reunidas em núcleos temáticos, a coletiva exibiu a reprodução de um post, utilizando como suporte um monitor de LED junto aos respectivos comentários de usuários em uma rede social.

Aleta Valente, exposição Histórias da Sexualidade no MASP, 2018 Foto: Marta Montagnana

Diferente do que foi visto em circulação na rede virtual, o cenário é outro, pois a configuração do museu como território tradicional de exposição é amparado por um espaço físico e legitimado como tal. Pode-se dizer que a forma de acessar às imagens foi modificada, ao mesmo tempo em que algumas permanecem na rede virtual, e podem ser acessadas ao comando do usuário a partir do seu dispositivo móvel ou computador.

As personas, identidades, avatares que se configuram, também, como perfil na rede social tomam no espaço expositivo um corpo que se assume como fotografia, compreendida como linguagem e suporte físico. Seu lugar de proveniência da imagem que antes era um ‘lugar nenhum’, como o próprio título daquele trabalho de Laís Pontes sugere, transfere o foco para este corpo de trabalho, ou seja, o suporte impresso. Já refletido para o exterior da rede é capaz de incitar conexões em outras linguagens, por meio da participação do público que visita a exposição.

Parece especialmente importante destacar que na proposta de Laís e Aleta o componente de interatividade do público usuário continua ativo no modo off-line. Com as imagens expostas na galeria, Laís propõe o uso de QR-Codes e situa o trabalho num espaço entre linguagens. Utiliza a interface digital como mediadora, ou seja, a imagem nasce on-line, vai para o off-line e retorna, de alguma forma, pela inserção da visualização do código na rede. Ao adotar o compartilhamento dos retratos impressos e sua posterior publicação no Instagram, também utiliza a mediação entre o usuário, a interface digital conectada e o objeto artístico.

Por outro lado, no trabalho de Aleta, a imagem também nasceu on-line e migrou para off-line, entretanto, não estava mais disponível para acesso virtual, uma vez que a conta foi encerrada e o post tornou-se indisponível. No espaço do museu o que restou ao observador foi contemplar a imagem, ler os comentários do post e tecer suas considerações no nível da opinião pessoal. A percepção dos trabalhos, nos dois casos, pode ser modificada significativamente visto que não se pode retornar a ele na internet.

Convém ressaltar que no caso de exposições, podemos considerar que esse tipo de arte demanda o uso de aparelhos e de garantias técnicas para sua veiculação e manutenção, o que requer das instituições a incorporação de investimento financeiro na compra de telas e monitores, por exemplo, entre outros componentes como o acesso a uma rede de internet com qualidade para usufruto das propostas pelos espectadores. Em termos de estrutura para receber e disponibilizar ao público os objetos que servirão como suporte das imagens, tais equipamentos técnicos necessitam de provisão e manutenção por parte da instituição cultural ou pela instituição que agencia as artistas ou as ações propostas. Na impossibilidade de efetuar tais aquisições ou de oferecer ao artista as condições mais adequadas para que as imagens sejam mostradas, corremos o risco de inviabilizar a exposição do trabalho ou mesmo de condicionar sua realização a alguma mudança brusca na concepção do projeto, interferindo na ideia original ou mesmo transformando radicalmente sua construção ou modo de operação.

Outro aspecto de repercussão e desdobramento da proposta artística originada na internet e fomentada por uma instituição ocorreu com o blog Histórias nem tão reais nem tão fictícias, criado por Andressa Ce. Em 2014, o blog foi acompanhado durante seis meses pela residência LabMIS de fotografia e resultou na exposição intitulada Sobre lugares e gestos, que ocorreu entre outubro de 2013 e maio de 2014, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Os artistas que participaram da residência apresentaram seus trabalhos integrando o Maio Fotografia no MIS 2014.

Exposição Sobre lugares e gestos, 2014. Na sequência, Pedro Hurpia, Andressa Ce., Breno Rotatori. Foto: Letícia Godoy/MIS.

É interessante apontar que neste trabalho, à semelhança das propostas de Laís e Aleta, foram criadas personagens pela artista, confluindo para um tipo de investigação autoral que também extrapolou o território on-line. Indo do virtual para o espaço expositivo em forma de mostra fotográfica resultante do trabalho em residência artística, entretanto, Andressa Ce. foi representada como a autora da curadoria das imagens expostas, assumindo outra função e ampliando a proposição original do blog. Cabe ressaltar que os formatos expositivos na arte contemporânea operam, desta forma, também como interface dentro do sistema das artes visuais.

Diferentemente de outros campos, como no caso das ciências naturais ou mesmo da história, no sistema das artes visuais, a exposição não desempenha apenas uma função comunicativa ou de “mediação”. O que se define como arte – no caso das visuais, especialmente - é resultado de uma relação de reciprocidade entre o trabalho de arte, o lugar onde este trabalho se espacializa e o observador/interagente, em um tipo de inscrição espaço-temporal. A exposição – aqui considerada no sentido das diferentes configurações através das quais uma obra pode instalar-se no espaço e também como evento -, é de ordem constitutiva para o campo das artes visuais, tanto no que concerne à produção artística, quanto a teórico-crítica. (CARVALHO, 2012,