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2. O CORPO DA MULHER E A CENSURA ON-LINE

2.2. Corpografia e identidade(s) on-line

Na inscrição da história da arte ocidental como a conhecemos estão registradas, datadas, catalogadas, expostas, arquivadas, colecionadas ou mesmo anônimas inúmeras obras com representações do corpo da mulher nos mais diversos estilos e suportes. Desde trabalhos concebidos em meios formais tradicionais como pinturas, desenhos, esculturas, além da proeminência de fotografias, entre retratos e autorretratos, passando pela performance, body art, vídeos, até alcançar os nossos dias com a exuberância das imagens digitais. Como bem sintetiza Santaella (2004, p.67), “quer os artistas trabalhem ou não com dispositivos tecnológicos, o corpo veio se tornando objeto nuclear das artes porque as mutações pelas quais ele vem passando produzem inquietações que se incorporam ao imaginário cultural”.

Podemos verificar que a multiplicidade de imagens do corpo refletidas nos movimentos contemporâneos promove a leitura da arte como um processo corporal. Ora, seria possível conceber um objeto, um conceito ou projeto, em qualquer medida, desvinculado de processos próprios do corpo do artista? Provavelmente, não. O corpo é o seu instrumento de trabalho, caracterizado como o veículo, o meio catalisador de qualquer proposição, seja material ou conceitual e, por isso mesmo, condição obrigatória para sua existência e, por que não afirmar, também, a estrutura vital de sua subsistência, de sua resistência.

Os novos meios de produção e circulação do digital trouxeram uma inevitável expansão e podemos existir, praticamente, de forma simultânea em plataformas virtuais como extensão de nosso cotidiano. É fato que nossos corpos orgânicos, biologicamente construídos vivem, na era virtual, imersos nas tecnologias com ampla oferta de ferramentas digitais permitindo conexões que são estabelecidas, preponderantemente, à internet. Através de desdobramentos materiais com dispositivos digitais e de circulação para além do espaço da web, nosso corpo é um corpo conectado, plugado, operando em rede, uma espécie de convergência ou extensão como um corpo tecnológico.

O aprendizado intelectual e experiencial, assim como os projetos que tornam possível a reflexão sobre a condição das mulheres e sua potencial autonomia em relação às relações dialógicas com os Outros, alteridade que deve ser reconhecida como legítima e relevante à vida humana, passará aos poucos, junto com o aumento do número de mulheres participantes, a co-habitar cada vez mais as novas redes que se conectam via Internet, que nada mais é do que um espelho filtrado economicamente das esferas sociais correntes. É também um espaço a ser ocupado. (WELLS In MAYER, 2017, p.45)

linguagem do corpo para o ciberespaço na condição corpográfica dimensionada no avatar. Provocam a reflexão sobre estereótipos de representação do corpo feminino não somente pela expressão da composição visual de poses, gestos e cenários. O ato técnico e conceitual da conversão desse corpo em imagem, se analisado, conduz à percepção da imagem na forma do pixel composto na linguagem numérica e, uma vez compartilhado será visualizado por outro corpo conectado, o usuário da rede, ao mirar a tela do dispositivo (computador, celular). Num movimento atribulado, inquieto, ansioso, a web parece não dar conta de abarcar leituras alternativas devido à velocidade e efemeridade características dos processos de circulação dos posts; há uma impossibilidade de total contemplação do poder das imagens. Surgem, então, elementos contrastantes, qualidades antagônicas caracterizadas por construções remidiadas, formas de identidades, alteridades que evocam sensações e percepções tão plurais quanto suas inscrições.

Situação semelhante é vista em Born Nowhere. Ao projetar-se corporalmente diante da câmera fotográfica, Laís edita e reedita exaustivamente a própria imagem que deixará de ser a matriz imagética de suas sucessoras, ainda que conserve traços fisionômicos permitindo a identificação do referente. As produções resultantes desse processo de desdobramento, nas etapas subsequentes, acontecem após a edição e reinserção desse corpo gráfico ou corpográfico no ciberespaço. Neste momento, passam a constituir corpos gráficos autônomos, seus próprios corpos, pois que só existem neste espaço virtual inscritos sob o signo da corpografia. Não podem ser denominados como reproduções visto que não reproduzem exatamente as mesmas conformações. No máximo, carregam vestígios do seu referente que, ao revelar contato com as camadas de manipulação apontam o caminho para refletir sobre as possibilidades representativas deste corpo que se apresenta on-line.

A noção de corpografia, entre outras acepções possíveis, é aqui utilizada como uma apropriação conceitual transposta para o universo das artes visuais mediadas pela web. “Esse conceito está pautado não na representação da língua, mas no simulacro da língua, pensando a escrita na internet, e propõe em seus traços uma forma corpográfica do pensamento” (DIAS, 2008, p.12). A autora compõe a elaboração a partir da perspectiva de um modo de inscrição do corpo que se materializa na escrita algorítmica mediada pelo computador, integrando as tecnologias digitais e a web. Com a disseminação das funções dos computadores, dispositivos móveis e outros equipamentos digitais, o fenômeno técnico antes reservado aos programadores adquire uma dimensão social como um corpo conectado. Neste estudo, portanto, aplica-se a ideia constitutiva da corpografia à visualização de uma escritura do corpo em imagens e textos, constituindo o repertório imagético originado e compartilhado nas redes

virtuais.

Em diálogo com essa concepção, situamos o blog Histórias nem tão reais nem tão fictícias onde o trânsito digital das narrativas mobiliza o potencial on-line. Articulam uma profusão de textos visuais traduzindo a corpografia como projeção no mundo virtual. O corpo que produz história por meio da linguagem com palavras ou imagens grava camadas de sentidos que narram sua própria existência. Abordar a inscrição da corpografia pode, portanto, elucidar um padrão dessa experiência na qual as imagens do corpo seriam capazes de indicar o desejo e a necessidade de relacionar-se com o outro, própria de movimentos percebidos na internet.

Aproximando-se de uma atividade etnográfica, os posts fazem uma espécie de recompilação dos fragmentos de vidas de suas autoras e de outras pessoas. Para Prada (2012), e entre outros trabalhos sobre os quais disserta, a apropriação ou remix de imagens encontradas em diversas propostas representaria “um desejo imanente a essa multidão interconectada de singularidades ativas: sua avidez de comunicar, de intercambiar, de expressar-se publicamente, de desfrutar através de imagens de suas vidas criadas por si mesmas e de compartilhá-las” (PRADA, 2012, p.53).

Sibilia (2005) aponta que, na utilização dos blogs, é possível vislumbrar rastros de um gesto tipicamente romântico, pois:

[...] foi no auge desse movimento estético-filosófico que os diários íntimos e as autobiografias se multiplicaram pelo mundo ocidental: nos românticos séculos XVIII e XIX, a configuração de valores que acabou conformando o individualismo moderno estava afinando seus contornos, e o culto à singularidade individual se encontrava na ordem do dia. Era preciso desvendar essa prenda misteriosa, cavando nos meandros interiores de cada eu para descrever no papel todas suas peripécias e torções. Não há dúvidas que hoje persiste esse culto à singularidade individual e essa vontade de ser diferente, uma palavra de ordem que tem se tornado um imperativo das mensagens publicitárias e um ingrediente básico da sedução consumista. (SIBILIA, 2005, p.46)

As duas imagens a seguir, criadas a partir de imagens captadas do blog Histórias nem tão reais por meio de download, oferecem um panorama das imagens postadas por Ella A. agrupadas pela categoria paisagens e/ou lugares e detalhes do corpo e autorretratos, conforme aparecem nas publicações do blog. Esta configuração apresenta as imagens fotográficas reunidas no formato paisagem, à semelhança da tela do monitor. Poderíamos afirmar que as imagens atuam como janelas que promovem aberturas para a leitura de seus signos através de uma espécie de jogo entre secretos e visíveis. Então, o que as imagens podem evocar quando recaptadas e dispostas sem os textos ou legendas que as acompanham?

Imagem criada utilizando aplicativo on-line, a partir de download das imagens do blog Histórias nem tão reais nem tão fictícias

Imagem criada utilizando aplicativo on-line, a partir de download das imagens do blog Histórias nem tão reais nem tão fictícias

Neste ponto, a observação das imagens fora do seu contexto de publicação do blog podem levar a pensar sobre o valor dessas imagens enquanto valor intersubjetivo, ou seja, a imagem fotográfica adquire, na época da internet um valor de conexão, um valor de linguagem que pode dar a ver algo que não está, propriamente, expresso em palavras com um texto ou legenda que possa defini-la. Tal movimento se caracteriza por uma espécie de escrutínio das atividades da percepção, do pensamento, da memória, da imaginação, das emoções e também da linguagem dos indivíduos, na busca da interpretação de seus próprios corpos e seu lugar no mundo. Os conteúdos apresentados incluem o desejo de encontrar qualidades para expressar reflexões sobre o que os próprios heterônimos expõem no blog, e também sobre o que não revelam.

Ao contrário de Ella A. verificam-se as publicações de Sam Terri que deixa aparente sua atitude visceral frente à vida e a constante exposição de seus pensamentos, desejos e vivências íntimas. Entram em cena posts que contam intimidades em histórias insinuantes e sensuais, permeadas por um humor lascivo e imagens do corpo que surge explicitado por fotos de nudez. Aliás, para Sam, a própria identidade é preservada e sua expressão ocorre através de uma relação com imagens do corpo de outras pessoas.

Post ‘Para”

Disponível em https://historiasnemtaoreais.com/author/samterri/page/2/

Post “Apenas corpo”. Disponível em https://historiasnemtaoreais.com/author/samterri/page/5/

Sam se apresenta como alguém que curte a vida ao máximo, além de indicar entre os posts algumas referências ao universo on-line citando movimentos nas redes sociais e aplicativos. Numa sociedade marcada pela informação, velocidade e ubiquidade a condição da experiência é indicada pela profusão de imagens do corpo, do desejo e da necessidade de relacionar-se com o outro, de ver e ser visto, própria dos movimentos percebidos cotidianamente na internet. De fato, nesse sentido, ver e ser visto por meio da fotografia, de

acordo com Prada (2018), configura uma espécie de relação que caracteriza a fotografia praticada nesta época como um sistema de conexão entre as pessoas.

Post “A menina iludida”

Disponível em https://historiasnemtaoreais.com/2018/03/04/a-menina-iludida/

A referência ao universo virtual aparece no texto (em negrito) do post: Naquele dia eu já cheguei bêbada na festa. Eu tinha acabado de vir de outro aniversário, em um bar com muita gente chata, onde não tinha muito o que fazer além de beber. Logo, eu estava tão bêbada quanto você possa imaginar. É muito estranho entrar em um ambiente que nunca antes viu sóbria. As percepções não tem um referencial, então é tudo muito exagerado. O som parece muito mais alto, as paredes muito mais largas e as pessoas muito mais atraentes. Como na maioria das festas, os grupos divididos falavam de um assunto em comum: a vida amorosa de alguém. Passei por alguns deles para decidir qual história me interessava mais. Em um canto tinha uma menina apaixonada por outra que não estava respondendo suas mensagens direito, e todos ao redor liam cada virgula das mensagens enviadas em busca de brechas para interpretar as intenções que me pareciam muito claras: ela não estava interessada. Banal. Próximo! No outro canto era apenas um menino se gabando de como tinha encontrado seu par perfeito. Eu tenho certa preguiça de pessoas muito apaixonadas, então não dei atenção. Próximo! Do outro lado o clima era de mistério e minha curiosidade atiçou. Uma garota contava que tinha conhecido um cara em um aplicativo, e que ele era incrível: bonito, gostoso, carinhoso, divertido. Eles já estavam ficando havia alguns meses, mas sempre na casa dela. Ele desviava do assunto sempre que ela falava de conhecer a casa dele, a família dele. Não tinha nenhuma rede social ou

qualquer registro online. Ao redor, cada pessoa sugeria uma possibilidade para aquilo tudo. Uma falou que ele com certeza estava usando um nome falso, outro completou dizendo que provavelmente porque já tinha uma família, outra questionou se ele não seria um refugiado da justiça. Alguém bastante cético disse que era tudo coisa da nossa cabeça, que uma pessoa não pode ter rede social que já é suspeito. Outra pessoa achou que talvez ele não tivesse casa. Depois de certa insistência, a menina mostrou uma foto dele no aplicativo e eu logo o reconheci, mas tentei fingir surpresa como todos os outros. Aquele era o cara mais babaca que eu já tinha conhecido na minha vida, tinha estudado com ele na escola. Ele tinha rede social sim, casa, não tinha outra família nem era um criminoso. Ele era só babaca que não sabia ser sincero com seus sentimentos e tava só usando aquela menina para sexo. Eu me questionava como poderia contar aquilo para aquela garota iludida, mas me chamaram para comer bolo e, como toda bêbada, só percebi que esqueci de avisá-la no dia seguinte ao acordar de ressaca.

No post acima, a cibercultura é representada em elementos que a descrevem e a incluem nas narrativas; o paradoxo da experiência que ocorre na virtualidade, uma vez que constitui um conto ficcional, mas que poderia ser também real quando exprime situações sobre a vida. Sam fala de si e de outras pessoas, da sua rede social pessoal e da vida virtual como uma só realidade envolta em relações interconectadas.

As publicações com foco em selfies e imagens do corpo assinalam, como diz Santaella (2004) que, em nossa época, existe uma grande transformação na relação do artista com o corpo, não somente o próprio corpo, mas o corpo em geral, fato originado em grande medida pelo avanço da tecnologia. “Conforme tenho repetido em muitas ocasiões, essa transformação está sendo e será, provavelmente, muitíssimo mais impactante do que foi, no século XX, a auto-apropriação pelo artista do seu corpo como sujeito e objeto da experiência estética” (SANTAELLA, 2004, p.74).

De fato, observamos que na história da arte a relação de artistas com o corpo como protagonista de suas narrativas é um movimento recorrente. Antes do surgimento da fotografia predominava o estudo e registro do corpo através da pintura e da escultura.

Até meados do século XIX, quando germinou a tecnologia fotográfica, um retrato pintado ou desenhado era um luxo restringido à nobreza e à alta burguesia. Mas, para além dessas questões econômicas e da fantástica capacidade de reprodução que a nova técnica inaugurou, uma característica foi crucial para definir sua importância no registro de rostos familiares: a foto rompeu com uma longa tradição de representações ao permitir uma relação inédita entre a imagem e o objeto representado. (SIBILIA, 2011, p.129)

Em relação à observação de proposições realizadas em outras épocas, percebemos que a linguagem fotográfica instaurou novos paradigmas de registro e capacidade de reprodução da imagem aperfeiçoando processos e técnicas até a atualidade. A contemporaneidade firma um novo regime de visualidades e conexões que alteram nossos paradigmas. É possível observar que o corpo assume o foco de estudos culturais, visuais e feministas codificados em imagens impulsionadas na interface tecnológica digital.

Para aqueles que estão refletindo sobre as novas formações culturais na era digital da comunicação em escala planetária, esse fenômeno pode ser em parte explicado pelas inquietações provocadas pelos processos de corporificação, descorporificação e recorporificação propiciadas pelas tecnologias do virtual e pelas emergentes simbioses entre o corpo e as máquinas. (SANTAELLA, 2004, p.133)

Assim, por meio do gesto performático que se realiza na operação fotográfica, as imagens integram-se para tornar visível o que poderíamos denominar como o ‘corpo’ de Sam Terri:

Imagem criada utilizando aplicativo on-line, a partir de download das imagens do blog Histórias nem tão reais nem tão fictícias

O trabalho de Andressa Ce. revela a originalidade da ideia mais presente nas formas de relacionar os processos que confluem para lhe dar corpo, do que da origem da ideia em si. Resgata os princípios da fenomenologia como técnica para tentar acessar a estrutura fundamental essencial e invariável das coisas, investigando vários tipos de experiências.

Os autores desses diários do ciberespaço realizam operações de congelamento do tempo, como se fotografassem certos momentos de suas vidas e os fixassem em um imenso quadro-negro virtual de alcance global. Pílulas de tempo próprio congelado e parado, faíscas do próprio presente sempre presentificado, fotografado em palavras e exposto para todo o mundo ver. (SIBILIA, 2005, p.47)

Seguindo o pensamento da autora, visualizamos o momento presente constantemente relatado. Nos blogs, à semelhança de diários íntimos, conformamos uma coleção de instantes e memórias que enaltecem a percepção do eu como um evento ou espetáculo digno de publicização. Em nossa época, devido à disseminação das funções dos computadores, dispositivos móveis e outros equipamentos digitais, o fenômeno técnico antes reservado aos programadores adquire outra dimensão social, passamos a atuar como um corpo conectado. É possível inferir que, na época da internet a corpografia está associada, de maneira preponderante, às imagens e textos, incluindo suas formas de circulação e propagação que operam na rede.

Já para San Cornelio (2008), as páginas pessoais de perfil e blogs são muito sugestivas para realizar análises da representação da identidade, devido ao espaço que conferem à imagem. A autora indaga sobre a possibilidade de falar de retratos e biografias on- line, e quais os sentidos compreendidos por tais relações. Reais ou ficcionais, as histórias dos perfis concebidas como pessoais caracterizam o sentido de identidade através do seu conteúdo, pois, quando falamos de identidade a primeira imagem que costuma aparecer em nossa mente é a de um retrato.

A utilização massiva de fotografias realizadas como autorretratos apontam o caminho para refletir sobre as possibilidades representativas da identidade que se apresenta on-line. Grande parte do trabalho fotográfico explora a questão da imagem e da identidade como um percurso visual e subjetivo.

Cada vez mais, o que cada um é, mostra-se na superfície visível do corpo, na epiderme trabalhada como um objeto de design. E, também, na auto-estilização inspirada nos personagens cinematográficos, de preferência exposta em uma tela. Eis uma pista que talvez possa explicar esse curioso ‘detalhe’ dos novos diários íntimos publicados na internet, tão opostos a seus ancestrais genuinamente privados: o fato de nascerem com vocação exibicionista, para serem vistos e lidos por milhões de olhos alheios nas infinitas telas da rede. (SIBILIA, 2005, p.46)

Neste sentido, então, podemos afirmar que as formulações da escritura do corpo trazem para a rede conectada reflexos das novas ideias de identidade on-line mediadas pela fotografia e dispositivos tecnológicos na web.

de retorno à figura do eu, com o regresso à vida íntima, o mundo narrado na internet corresponde à vivência pessoal, à opinião, às atualidades comentadas, próprias do ser que escreve ou propõe a reflexão sobre o que é sentido, o que é pensado, o que é criado”. A partir desse pensamento, a nossa interação com o mundo é estabelecida na série de relações constantemente interfaceadas com algo ou alguém. Além disso, a profusão de imagens e palavras que compõem o trânsito das narrativas inscrevem a corpografia em marcas e sinais digitais. Com relação a tais princípios, é possível compreender que as imagens fotográficas e elementos textuais encontrados nos trabalhos analisados incorporam as projeções do mundo virtual e exploram o potencial on-line de representação mediada pela internet.

As dezenas de mulheres inventadas em Born Nowhere mostram que o binômio imagem-identidade está gravado em nossos padrões visuais ao evocar o retrato como representação descritiva do retratado. Desta forma, como observa Cotton (2013, p.15) podemos afirmar que as fotografias do tipo selfie retomam convenções da prática do retrato próprias do século XIX e início do XX, o que demonstra que a fotografia contemporânea