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2. O CORPO DA MULHER E A CENSURA ON-LINE

2.3 Potências políticas do virtual e a censura on-line

O desenvolvimento do ciberespaço que pode ser entendido como um fenômeno cultural e social afirma, ao longo dos séculos XX e XXI, sua presença no cotidiano entre modos de operação, condutas e hábitos instaurados nas relações mediadas a partir da virtualidade.

A proliferação de redes sociais e de plataformas de produção e compartilhamento de conteúdo na Internet adiciona novos vetores aos processos de visibilidade presentes em blogs, fotologs e videologs. Se por um lado as temáticas da exposição do eu e da privacidade se tornam mais evidentes e entram na pauta das disputas comerciais, jurídicas e midiáticas, elas se complicam e só podem ser analisadas em conexão com processos coletivos, públicos e políticos que se produzem nestas mesmas redes. (BRUNO, 2013, p.8)

No desenvolvimento do consumo midiático que demanda nossa presença on-line, identificamos alguns princípios expressos pelos processos de visibilidade virtual e de compartilhamento. Os novos regimes de constituição do eu atuam, justamente, através dos relatos do eu, sugerindo que está em curso uma reconfiguração da ideia de identidade individual. Sibilia (2005) aponta que tomar o passado como algo válido a resgatar através da permanência de uma memória acerca de si perde força, enquanto o potencial de definir o que cada um é provém de constante reatualização. Além disso, e por consequência do

enfrentamento saudável e dos questionamentos internos e externos a nós, assistimos constantemente aos fluxos e refluxos de nossas próprias identidades conectadas.

Especificamente sobre a potência dos blogs, recurso anterior à era Facebook, Sibilia (2005) compara o movimento à produção literária originada dos diários íntimos ao longo do século XIX e na primeira metade do século XX. Indaga qual seria a viabilidade de um diário íntimo no atual contexto marcado por uma era sem memória, viciada na instantaneidade e que, por conseguinte, estaria obcecada por um substituto digital para a memória orgânica. À época, a autora afirmava que “o sucesso editorial das biografias e das autobiografias, por exemplo, excede as margens de um mero fenômeno de mercado: há uma revalorização das histórias individuais e familiares, e um revigorado interesse pelas vidas alheias” (SIBILIA, 2005, p.45-46). A autora observa, também, que nas mais diversas mídias percebemos uma voracidade com relação a tudo que remeta a ‘vidas reais’. Com o auge dos blogs, tornam-se uma novíssima espécie de ‘diário íntimo’ publicado na internet por usuários de todo o mundo.

Como diários íntimos, podemos considerar os blogs precursores das redes sociais no sentido da exposição de relatos e assuntos da vida cotidiana em textos e imagens, por exemplo. Absorvendo a ideia das publicações, as redes sociais mais populares como Facebook e Instagram estão sinalizadas por status de perfil que, atualmente, delineiam aspectos pessoais do indivíduo que escreve ou publica. Em nossas incursões frequentes pela timeline, percebemos inúmeros e distintos pontos de vista expressos em comentários nas publicações, e atuamos no trânsito virtual carregando e descarregando informações, transportando-as de um domínio a outro, de uma rede a outra, de um post a outro, de um dispositivo a outro. Envolvidos pelo movimento de regime virtual nossos corpos contemporâneos trafegam conectados em sistemas de processamentos como bancos de dados. A exemplo do que reflete Sibilia (2002, p.19), “assim, entregue às novas cadências das tecnociências, o corpo humano parece ter perdido a sua definição clássica e a sua solidez analógica: inserido na esteira digital, ele se torna permeável, projetável, programável”.

Seguindo a linha de pensamento da autora, nessa perspectiva, soaria legítimo indagar se estaríamos construindo um corpo virtual paralelo ao físico? E mais, seríamos meros habitantes ou transeuntes dos espaços virtuais onde hospedamos, circulamos e refletimos existências paralelas ou já teríamos assumido condição própria como existências paralelas coexistindo? Para onde o nosso corpo (o que é esse corpo?) nos leva ao conectar e acessar o sistema da rede? Estaríamos recriando nossas configurações como avatares, personas, heterônimos?

dinâmicas geradoras de processos subjetivos entre os dispositivos digitais e os circuitos mentais com suas interfaces, na medida em que influenciam, sobretudo, a constituição dessas identidades articuladas operando na lógica de compatibilidade como software e hardware. As nomenclaturas e formatos de ser e estar no mundo virtual cooptadas sob o domínio da figura de perfil, avatar, persona ou heterônimo abordam o conceito de identidades a partir da experiência interestética. Neste âmbito, os perfis permeiam as experiências artísticas alinhadas a tópicos contemporâneos mais recentes que nos circundam e afetam cultural e politicamente.

Nestas observações, para além da exploração reflexiva em relação ao objeto técnico propriamente dito e ao impacto das tecnociências na vida cotidiana e seus meandros, interessa pensar sobre o espectro da arte realizada com a internet, e após o contato com a rede. A multiplicidade de desdobramentos conceituais como potências narrativas do eu que fala através dos posts denota uma das habilidades principais no mundo digital: a de reconfigurar e atualizar a própria versão de perfil, por meio de ações e botões ou, ainda, ao executar o comando de recortar, curtir, copiar, excluir, comentar, colar, bloquear, compartilhar, deletar. É inegável que a profusão de plataformas digitais, câmeras de fotografia e vídeo, recursos textuais e imagéticos representam as possibilidades narrativas desse eu que se redesenha na internet. Com os discursos do eu em evidência nas práticas cotidianas, entram em cena o aspecto público e o privado, a intimidade e a exterioridade, a interioridade e a sociabilidade.

Dos reality shows às redes sociais, convida-se o outro, numa espécie de voyeurismo simulado, a penetrar na intimidade, naquilo que aí ocorre de mais corriqueiro. Aquele que por ora está na condição de espectador é chamado a participar ativamente nestas novas modalidades de exposição de si. Se o eu se constitui na imagem e como imagem, é preciso que ele tome para si seus atributos contemporâneos, ampliando a sua margem de interatividade. O eu-imagem deve ser reativo ao olhar do outro. Sua autenticidade não mais se esconde por trás de signos a interpretar, mas se constitui no ato mesmo de se fazer ver pelo outro. (BRUNO, 2013, p.69)

Através de uma tela de computador ou dispositivo móvel existe uma multidão de indivíduos interconectados que respondem a essa ânsia por algo a contar de suas vidas, além de algo a comentar sobre as vidas dos outros. Bruno (2013) aponta o surgimento de questões de ordem estética, política e social em direção às dinâmicas de produção e circulação dessas imagens envoltas em uma mistura de ativismo, vigilância, jornalismo, voyeurismo e autoria. Nas ações em questão, “o lugar onde o eu se realiza e se efetiva é na proximidade do olhar do

outro, na sua potencialidade de ser visto [...]” (BRUNO, 2013, p. 70).

Sem dúvida, para a articulação destas novas visões do mundo, o ver e ser visto como princípio de acionamento das partilhas em redes virtuais é demandado por um excesso de exposição e visibilidade correspondentes. É desse modo que as experiências no âmbito digital constituem os vetores da própria necessidade humana em registrar suas vivências, lembranças e memórias.

Em diálogo com as questões da linguagem midiática na web, a arte operaria segundo a estética da interface. Numa tentativa de resgate de alguns postulados anteriores, Arantes (2009) aborda Vilém Flusser, um dos diversos pensadores que teceram teorias sobre as mídias e a fotografia, já no século passado. Em Filosofia da Caixa Preta utiliza a fotografia para construir uma crítica sobre as relações do binômio tecnologia-sociedade. Nessa concepção, com o termo ‘imagens técnicas’ disserta sobre a fotografia como um dispositivo que serve de base e perpassa outros modelos que virão, como a TV, o cinema, o vídeo, até alcançar a volumosa expressão nas mídias digitais contemporâneas. O que fica de suas reflexões é a constatação de que a considerável produção de imagens tecnológicas modificou substancialmente nossa forma de nos relacionarmos com o mundo e com nós mesmos, uma percepção já incorporada aos nossos modos de ser e estar, pensar e expressar, atuar e representar nas dinâmicas do ciberespaço. A respeito desse pensamento a autora conclui que nesta circunstância a fotografia funciona como um pretexto, um veículo para verificar o funcionamento de nossa sociedade estabelecida pela hegemonia das imagens midiáticas.

Consideramos que o protagonismo das imagens fotográficas é devido ao seu fator característico de representação de um eu real como atributo quase que existencial para o reconhecimento de um indivíduo. Desse modo, nas redes sociais é impulsionado pelo recurso das câmeras conectadas aos dispositivos. Neste sentido, seria válido, também, explorar as funções e relações do recurso textual que retorna à cena como um elemento da ordem visual, além de representativo deste eu que fala, a exemplo da noção anterior dos diários íntimos. A introdução de textos formatados como legendas nos posts, pequenos contos junto às fotos ou comentários nas publicações caracterizam um ponto nevrálgico das redes sociais, sobre os quais serão tecidas algumas reflexões.

Conforme já abordado, o Instagram @ex_miss_febem criado por Aleta na forma de selfies adquiriu, pouco a pouco, maior número de seguidores que davam feedback por meio de curtidas, comentários e compartilhamentos. Com a visibilidade do perfil a artista consolidou um tipo de narrativa ficcional que falava da sua realidade. Por meio do avatar, Aleta Valente transitou pelo território virtual exibindo seus pensamentos e pontos de vista. O fato é que o

sistema da rede social, no caso de perfis públicos ou dos privados que aceitam seguidores mediante convite, oferece espaço para comentários sobre os quais não se tem controle até o momento em que são revelados pelos usuários.

Arraes (2017) afirma que nos últimos anos muitas conquistas foram efetivadas por mobilizações feministas feitas pela internet. De acordo com a autora, “o feminismo feito nas redes tem rendido ótimos resultados, não somente pelas ações que consegue emplacar, mas, também, porque tem democratizado o acesso à informação, tornando mais acessíveis conteúdos, textos e teorias diversas; aos poucos, muitas mulheres têm se aproximado do movimento” (ARRAES In MAYER, 2017, p.47).

Um exercício de aproximação entre o trabalho de Aleta e Andressa pode soar produtivo para delinear aspectos deste corpo fotografado e exaltado. A disposição de suas narrativas, nesse sentido, pode definir estratégias para canalizar processos de reconfiguração no discurso contemporâneo. Numa publicação de Sam Terri, heterônimo de Andressa Ce., assim como da @ex_miss_febem foi abordado um tema que ainda é tratado como tabu. Na imagem que causou polêmica nas redes sociais, @ex_miss_febem posa para retratar o episódio da menstruação.

@ex_miss_febem, Aleta Valente, 2015-2017

Disponível em https://geraldthomasblog.wordpress.com/aleta-valente/

Aliada ao gesto de mostrar os pelos na axila, a artista sobrepõe na imagem as questões que tratam sobre o livre gerenciamento do próprio corpo não submetido a padrões sugeridos às mulheres, frequentemente, pelas mídias publicitárias. Cria uma composição

declarada de confrontação da ideia social que reforça a menstruação e também os pelos como algo que deve ser escondido, e não exposto. Para ser ainda mais enfática, perfila uma série de imagens como essa para comunicar a mensagem, como é o caso da fotografia que, após a viralização polêmica gerada na rede integrou mostra coletiva na exposição Histórias da Sexualidade no MASP, em 2018.

O post circulou entre as publicações mais populares da @ex_miss_febem com a legenda: O patriarcado está vazando. A misoginia está vazando. Não seremos censurados. Vítima da contrariedade de pessoas usuárias das redes sociais, a foto rendeu à artista uma enxurrada de mais de duzentos comentários irados, de sentido pejorativo e ofensivo: Que merda é essa? Nojenta... menstruar é natural, porém não precisa anunciar ao mundo! Isso é porquice! Até minha cachorra quando está em período fértil e sangrando pelos cantos tenta se limpar o melhor possível, tadinha. Aí vem uma imunda dessa que nem pode ser comparada a um animal irracional! Já tô até vendo os bancos dos lugares públicos, tipo ônibus, ensanguentados porque elas querem liberdade!

Vazo, @ex_miss_febem, 2016,

Vídeo, som, cor, 8”, Exposição Lento Crepúsculo, Foto Mirele Pacheco

Exibido em um monitor digital, o vídeo mostra a rolagem dos comentários postados no Facebook e também fez parte de mostra coletiva curada por Chico Soll, Fernanda Medeiros e Gabriel Cevallos. O trabalho integrou a exposição Lento Crepúsculo, realizada na quinta edição do Festival Kino Beat apresentado na Pinacoteca Ruben Berta em Porto Alegre/RS, de 13 de novembro de 2018 a 13 de janeiro de 2019.

usuários que vociferavam seus discursos de ódio e nojo, literalmente. Termos como “nojenta”, “nojo desse tipo de mulher”, “sebosa”, “imundo” e “feminazi” foram empregados sem nenhuma parcimônia, além de “feministas porcas passando dos limites” e indignações do tipo “isso é patriarcado?”.

Com as publicações, @ex_miss_febem reativa um pensamento cultural que faz referência à noção de patriarcado e enfatiza a necessidade de sua confrontação. Marcia Tiburi explica que a ideia de patriarcado caracteriza uma forma de poder composto por ideias, certezas, dogmas e leis que não podem ser questionadas, acarretando violência, sofrimento e culpa praticada por pessoas a quem somente interessa a manutenção de seus privilégios de gênero, sexuais, raça, classe. Na observação contundente, a autora manifesta a dinâmica engendrada nesta concepção:

Desmontar a máquina misógina patriarcal é como desativar um programa de pensamento que orienta nosso comportamento. O patriarcado é um verdadeiro esquematismo do entendimento, um pensamento pronto, que nos é dado para que pensemos e orientemos a nossa ação de um determinado modo, sempre na direção do favorecimento dos homens brancos e de tudo o que sustenta seu poder. (TIBURI, 2018, p.41)

De posse do esclarecimento teórico podemos vislumbrar a estrutura que sustenta o padrão de pensamento gravado em nossa cultura. O feminismo, de acordo com a autora, é o seu contradispositivo, uma espécie de agulha que fura essa bolha. O post e sua repercussão negativa confirmam que, para além de um espaço de reconhecimento e legitimidade desse tipo de prática artística que foca na exposição do corpo com objetivo de escancarar e confrontar estereótipos, padrões, preconceitos e opiniões, as redes sociais também abrigam posicionamentos ditos virtuais que refletem as práticas de censura, desqualificação, abuso e agressão à mulher.

Grande parte do público seguidor de @ex_miss_febem alinhou-se à pauta da artista ao apoiar e seguir suas publicações que colocam no centro do debate o corpo da mulher e sua existência nos padrões instituídos pela construção do pensamento social. No entanto, um número considerável de usuários destilou ódio em comentários, despejando sobre a artista um verdadeiro linchamento virtual. Como se não bastasse o tom repreensivo e ofensivo dos comentários escritos por usuários homens, ainda se lê comentários de mesmo teor agressivo expressado por mulheres. Do ponto de vista do pensamento feminista, em relação à ocorrência de opiniões discordantes na internet, Arraes (2017) pondera:

A discordância não deve ser necessariamente um problema; encontrar pontos de debates mais profundos, ou que precisam ser encarados de maneira diferente, faz parte da dialética necessária aos movimentos sociais, que

precisam acompanhar a sociedade para compreender o que está em curso e, assim, propor formas mais eficientes de resolver problemas. O que podemos afirmar enquanto feministas com atuação na rede é que o espaço para discordância, às vezes, é confundido com uma licença para atacar e agredir, em incontáveis tentativas de desqualificação entre ativistas. (ARRAES In MAYER, 2017, p.48)

De acordo com Tiburi (2018, p.39), para quem a violência pode ser pregada em palavras e atos, “a misoginia é o discurso de ódio especializado em construir uma imagem visual e verbal das mulheres como seres pertencentes ao campo do negativo” e, nesse sentido, os atos de violência verbais ou físicos também são linguagem com uma lógica diabólica que transforma em negativo tudo aquilo que visa a destruir. A filósofa se refere a negativo para classificar aquilo que está fora do poder. “A misoginia está presente quando se associa as mulheres à loucura, à histeria, à natureza [...]” (TIBURI, 2018, p.39).

A naturalização de certos tipos de comportamentos e atitudes de misoginia que representam desprezo, preconceito e hostilidade contra a mulher reforçam e retroalimentam padrões de repreensão e punição. Se a mulher for uma artista, então, a tendência é que o dano seja bem intenso no sentido de prejudicar sua atuação profissional. Outras publicações geraram denúncias e notificações para Aleta, de acordo com a política de regras do Facebook e do Instagram. Constituído no desafio de questionar padrões instituídos em imagens, tanto na mídia publicitária quanto no campo da arte, o perfil que gerava intensa atividade artística foi alvo de comentários de todo o tipo. Retirado do ar por excesso de denúncias, um projeto artístico, ativista e político foi abortado pela censura do público, mecanismo possível e previsto pela política de violação dos padrões da rede Fcebook e Instagram que censura, principalmente, imagens de corpos e nudez.

Observamos que a questão da naturalidade do nu feminino exposto choca-se com a tendência do espectador à erotização, fetichização, associação a clichês, além de certa autorização para expressar discordância com agressividade, comportamentos que povoam o imaginário cultural e as práticas sociais. O fato de as imagens trafegarem no ambiente virtual pode interferir de maneira decisiva sobre a apreensão desse tipo de fotografia como produto ou objeto cultural e artístico. Essas imagens não estão expostas em um museu, por exemplo, e por isso mesmo não estariam sacralizadas sob a aura da autenticidade e originalidade artística, dentro da concepção tradicional de que o espaço institucional do museu é autorizado a legitimar, validar e exibir o que é considerado arte.

Como um mecanismo de controle virtual as regras são taxativas nos termos da política de dados e privacidade das plataformas operando a partir de uma espécie de controle

da informação alheia por parte dos próprios usuários. Através da denúncia do post à administração da rede, uma notificação é emitida ao responsável pela publicação, além da imposição de sanções de silenciamento que podem tornar o perfil off-line ou fora de circulação. No caso do perfil da @ex_miss_febem as notificações resultaram em bloqueios da conta e culminaram na suspensão definitiva, causando a interrupção do trabalho artístico da forma como foi concebido.

A possibilidade contemporânea de uma visibilidade máxima, pós mídias digitais, e a contínua exposição da intimidade em um regime de “privacidade pública”, nas redes sociais, têm produzido reações, comentários, juízos, interações, que funcionam como um verdadeiro exorcismo coletivo diante de imagens dos corpos das mulheres, fazendo emergir temas e questões que ainda provocam reações violentas. Esse temor, interdição e censura que incide especialmente “contra a autonomia de tudo que é feminino” e que se convencionou chamar de “intimidade das mulheres”, é um campo particularmente conflagrado de narrativas e regras em disputa. (BENTES, 2017, p. 97)

Disposta a afrontar os padrões, foi com a publicação do post L’0rigine du nouveau monde que Aleta polemizou definitivamente a rede atraindo a manifestação de usuários em desacordo com a imagem, até disparar a sanção definitiva a todo seu trabalho. O post é uma fotografia onde estava retratada a vagina com pelos pubianos a escorrer sangue menstrual. Não bastasse a exposição do nu com o sangue, visto como elemento abjeto, a artista utilizou como legenda a referência a uma tradicional obra de arte do século XIX, intitulada L’Origine Du monde, um quadro pintado pelo pintor realista Gustave Courbet em 1866. Com o registro dessa provocação, Aleta expõe a parte considerada mais íntima do corpo da mulher em uma fotografia na rede social, ato esse que, certamente, não passaria impune aos tribunais do Facebook. Apesar de inúmeras manifestações favoráveis, a postagem foi denunciada e removida com o consequente encerramento da conta de perfil artístico.

L’Origine du monde, Goustave Courbet (Reprodução)

L’origine du nouveau monde, @ex_miss_febem

O que podemos colher de tal experiência é a intensidade com que a artista apropria-