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As iniciativas de Andressa, Laís e Aleta exprimem o fenômeno das selfies que nos conduzem a refletir sobre o que é possível reproduzir ou compartilhar sobre nossas identidades, os momentos ou as experiências vividas. A ideia contida na profusão dos

autorretratos pode refletir a necessidade, e não a opção, de mostrar que estamos incluídos no mundo e sob quais perspectivas a própria existência pode ser concebida como forma de arte. Observa-se um modo de operação por meio dessas performatividades que poderiam ser consideradas, também, autobiográficas como um relato semi fictício, deixando abertas as possibilidades de novas camadas de significação.

De fato, nos posts de Ella A. podemos perceber uma coletânea de memórias arquivadas onde esses fragmentos de vida cotidiana são revelados. Um deles, publicado em 08/04/2018 sob o título “Dois” traz uma reflexão pautada por uma espécie de evocação de memória com referência a algum fato marcante para tentar gerar algum sentido existencial. Todas as suas reflexões, no entanto, denotam esse paradoxo de acordo com a própria descrição da persona no blog: uma incansável procura por revelar a sua identidade que, na verdade, não poderá ser encontrada porque não existe.

Post “Dois”

Disponível em https://historiasnemtaoreais.com/2018/04/08/dois/

A imagem mostra dois pássaros pequenos pousados sobre um rochedo à luz do sol, em algum lugar que não pode ser facilmente identificado. A composição e o enquadramento imprimem na percepção do espectador a ideia de que a cena poderia representar qualquer localização geográfica e em qualquer tempo. O texto diz o seguinte: Ao por a mesa, colocava dois copos, dois pratos, dois conjuntos de talheres. Eram duas toalhas de banho no banheiro, duas escovas de dentes, dois roupões. A cama era de casal, com dois travesseiros. Acostumou a ser dois, e deixou de perceber que sempre foi um. Não sabia mais ser um, acabou virando metade.

Ainda nos escritos de Ella A. encontra-se outro pequeno conto junto à fotografia de um penhasco abrigando uma casa no topo entremeado por alguma vegetação, porém, o que

absorve quase dois terços da fotografia é a imagem de extremo vazio representado pelo céu, ao que o texto remete: Quando resolveu se isolar, já se sentia sozinho fazia bastante tempo.

Post “Solidão”

Fonte: https://historiasnemtaoreais.com/2018/03/25/solidao/

Publicado um mês antes, outro post com uma imagem que parece evocar o mesmo tipo de visualidade contendo um lugar isolado, rochedos e céu, poderia levar a pensar que as três imagens e contos são fragmentos fotográficos que indicariam no conjunto uma estrutura narrativa mais ampla. No conto Boa esperança aparece a fotografia de um rochedo que poderia ser proveniente do mesmo local das fotos anteriores (ou não) acompanhando as palavras: Bastante ao sul do planeta, ali embaixo, num cantinho. Um lugar tempestuoso, era lá que muitos navios afundavam. Parecia uma ideia questionável, ruim até, usar aquele trajeto com tantos perigos, riscos. Melhor era se manter seguro. Isso até perceber: apesar dos pesares, era o caminho que levava aonde queriam chegar. O que era das tormentas por fim se tornou da boa esperança.

Post “Boa esperança”

O formato de apresentação leva a pensar sobre a possibilidade de estruturar as imagens e textos a partir de perspectivas de caráter subjetivo, a fim de realizar uma leitura dessas histórias concebidas como pessoais. Analisando as publicações nessa forma específica de trabalho percebemos que não há preocupação centrada em apenas publicar ou reproduzir ou apropriar-se de imagens, mas, principalmente um interesse no modo de substituição em relação ao contexto e a sobreposição de sentidos das imagens que se somam aos contos. Reais ou ficcionais, imagens e textos caracterizam um dos pontos principais para criar um novo contexto para a ideia que se pretende representar. Através do deslocamento e da descrição que imprime um sentido novo, podemos arriscar a possibilidade de visualizar além do que a narrativa poderia conter nos limites de enquadramento da tela.

Assim, o trabalho conduz a uma espécie de dupla exposição com relação à linguagem fotográfica, pois, ao fazer referência a alguma entidade que narra a memória da experiência, ao mesmo tempo, opera com o significante recaptado de seu contexto atual. Constrói uma imagem mental composta por diferentes telas, no sentido dos três posts, como se a ideia fosse reunir em uma imagem mental única a identidade que fala sobre elas. Esta viabilidade do sistema expressivo por meio dos arranjos da linguagem fotográfica e escrita é recorrente em práticas verificadas por autorias que assumem diferentes personalidades fictícias. Quais seriam, então, as novas linguagens das escrituras mediadas pelos dispositivos tecnológicos e compartilhadas na web?

Se, neste fenômeno de retorno à figura do eu com o regresso à vida íntima, o mundo narrado na internet corresponde à vivência pessoal, à opinião, às atualidades comentadas, próprias do ser que escreve ou propõe a reflexão sobre o que é sentido, o que é pensado, o que é criado, compreendemos que há uma presença de formas expressivas em torno da necessidade pessoal de expressão, de ser escutado, e que busca expressão por meio dos posts. O blog de Andressa Ce. põe em foco a autonomia das imagens e textos que circulam na rede como que dotadas de vida própria. Ressalta a circulação pública e o compartilhamento de registros como uma necessidade de comunicação, atividade que em determinados momentos pode ser sobreposta à necessidade de registros como memória. As imagens dos posts analisados mostram territórios não identificados e que podem, contudo, fazer parte do repertório visual de muitos leitores, sendo facultada a pessoas leitoras do blog a operação de associação com as próprias memórias evocadas de experiências reais. Tal possibilidade de transposição não é percebida em primeiro plano, contudo, concorre para promover a interação com a proposta em um nível situado além da mensagem exposta. Se as três publicações fossem dispostas lado a lado poderia surgir outra ideia sobre seus sentidos.

Ainda pensando sobre as poéticas visuais em torno do blog, Prada (2016) ressalta, com relação à web, que a sociedade da informação passou a ser a sociedade de acesso aos meios de informação e, posteriormente, pela introdução das redes sociais passou à sociedade dos meios pessoais de acesso e emissão de informação. Nossa atenção voltou-se às informações mais pessoais, mais próximas ao nosso universo íntimo. Nesse aspecto, verificam-se as múltiplas intimidades narradas por meio dos heterônimos de Andressa Ce.

Outro exemplo é o texto escrito por Ella A. numa postagem intitulada Quero ser Sophie Calle, de 10 de abril de 2013, que diz o seguinte: Histórias reais é um livro de Sophie Calle que contém fotografias acompanhadas de pequenos textos contando histórias de sua vida. Estou longe de ter uma vida tão legal quanto Sophie, e histórias nem tão reais é o que me resta. O blog é isso. E é, não tem muito o que explicar. Minto, tenho mais uma coisa importante para explicar sim. Este blog pertence a dois pseudônimos em uma tentativa de heteronímia. Ella A. representa a fantasia, a inocência. Sam Terri é o carnal, a malícia. Muito prazer, seja bem vindo.

Post “Quero ser Sophie Calle”

Disponível em https://historiasnemtaoreais.com/2013/10/04/quero-ser-sophie-calle/

A referência à Sophie Calle (1953), uma artista plástica e fotógrafa francesa nascida em Paris, denotam uma admiração de Ella A. pela artista. De acordo com o blog do coletivo Nítida – Fotografia e Feminismo, Sophie utiliza suas experiências pessoais como ponto de partida para construir narrativas que desprezam os limites entre realidade e ficção; transformando situações banais em poesia, atingindo um público que transcende o mundo artístico. (...) Sophie Calle faz de sua vida uma sequência de performances que giram em torno de regras como em um jogo.

Essa investigação das experiências, sentimentos, percepções e da própria consciência dos fenômenos acompanha Ella A. desde as primeiras publicações. Por meio das fotografias e

contos expõe suas reflexões que se mostram como peças de um jogo de quebra-cabeças. As publicações, mesmo as mais curtas ou as que trazem somente a imagem e suprimem o texto, têm em comum os elementos da natureza em composições e enquadramentos que retratam territórios isolados. Na maioria deles, aparecem figuras de animais para fazer referência a sensações e sentimentos, porém, o uso da figura humana em imagens é restrito; está presente no texto, embora nem sempre apareça nas fotografias. Mesmo as postagens que mostram a presença da figura humana o fazem também por fragmentos, imagens difusas, apagamentos, além da exposição de detalhes de arquitetura. Nada é facilmente identificável ou reconhecível, a não ser pela estreita relação com memórias de lugares, pessoas e situações que poderiam ser reconhecidas por estarem armazenadas na mente de qualquer um de nós.

A propósito, a essência do conteúdo de Ella A. repousa em qualidades descritivas sobre a mente, o tempo e a experiência. No sentido de experiência não é possível afirmar o que teria surgido primeiro, se a imagem desencadeou o conto ou se o conto deu origem à imagem que o ilustra. O que pode ser também um sentido de ambiguidade ou dualidade provocado intencionalmente. Neste sentido, não é o caso de afirmar que as imagens sempre necessitem de palavras para explicá-las ou que palavras devam coexistir com imagens, contudo, neste caso afirmam estreita relação e constroem uma cumplicidade narrativa. Os posts a seguir procuram dar conta de explicitar a presença das noções de mente, tempo e experiência.

Post “Cabelo branco”

Disponível em https://historiasnemtaoreais.com/author/ellamatrioska/page/7/

O texto da publicação diz: Ele sofreu tanto da primeira vez que encontrou um cabelo branco! Arrancou-o rápido e, sem ninguém perceber, o jogou ao chão. Percebeu, atordoado, que já estava ficando velho. Dizem por aí que quando se arranca um fio branco, nascem dois

no lugar. Estão quase certos, porque o que aconteceu foi que nasceram cinco outros fios pouco depois. Ele arrancou todos, que voltaram a nascer, acompanhados de muitos outros. Em cinco horas já estava com a cabeça toda coberta de cabelo branco e mal de Alzheimer.

Post “A história de quando ele passou a vida toda em busca de um sentido para ser”

Disponível em https://historiasnemtaoreais.com/author/ellamatrioska/page/7/

Também pode, ainda, apontar para reflexões sobre a finitude da experiência de vida quando faz, por exemplo, referências à ideia da morte, como nos posts Inseto Narcisista, Vazio e Suicídio:

Post “Inseto narcisista”

Disponível em https://historiasnemtaoreais.com/author/ellamatrioska/page/8/

No post Inseto Narcisista: Acho que ele foi beber água e caiu. Não acho não. Acho que ele se apaixonou pelo próprio reflexo, pulou na água para tentar se abraçar e acabou morrendo afogado. Ou talvez as coisas em casa não estavam tão bem. A vida não está fácil para ninguém, às vezes ele se afogou porque quis. Do que eu estou falando? Ele pode ter

morrido enquanto voava e só depois caído na água. Posso estar sendo mórbida, talvez. O inseto não seria o único a gostar de flutuar para relaxar. Eu devia ter perguntado para ele.

Post “Vazio”. Disponível em https://historiasnemtaoreais.com/author/ellamatrioska/page/1/

No post Vazio: No canto da sala tinha uma planta. Apesar de todo o cuidado, ela morreu. Daí não adiantou continuar regando, ela já estava morta, não tinha volta. Isso faz parte. Tudo que é vivo, morre. O problema era achar que só podia tirar ela de lá se tivesse outra para colocar em seu lugar. Não tem problema deixar o espaço vazio enquanto não tem outra planta. Deixa o espaço vazio. É no vazio que se tem o ar.

Post “Suicídio”. Disponível em https://historiasnemtaoreais.com/author/ellamatrioska/page/2/

Em Suicídio: Ele sempre achou que suicídio surgia do desespero, do desgosto. Sempre entendeu que o suicídio era a última saída, última solução, um ponto que alguém só chegaria quando já bastava. Uma maneira enlouquecedora de acabar com o sofrimento. Uma loucura. Só quando leu aquela carta de adeus que entendeu. O suicídio às vezes pode ser tão lúcido.

No contexto do blog, as publicações oferecem elementos para a articulação dos relatos em formas e sentidos que serão determinados no momento da leitura. As dinâmicas envolvidas nos processos de produção de sentidos são facultadas pela estrutura utilizada em blocos de informações que constituem os posts de cada heterônimo. Interconectadas pela assinatura de cada um deles contribuem para configurar uma imagem mental dessas autorias.

Desta forma, é possível afirmar que na interface arte e tecnologia está presente a ideia de objetividade dos dispositivos tecnológicos e a subjetividade do campo artístico. A utilização das mídias digitais como suportes, além da ruptura com o conceito de obra de arte e da fotografia tradicional está entre os conceitos norteadores da produção contemporânea. As artistas apresentam-se como pesquisadoras e pensadoras que desafiam consensos sobre as ordens sociais, as redes de comunicação ou os vínculos entre indivíduos e seus modos de relacionamento. Os questionamentos multiplicam-se à medida que adentramos o blog e as redes sociais e constatamos as experiências que renovam as formas de perguntar, traduzir e trabalhar com o incompreensível ou o surpreendente. As estratégias utilizadas incitam a refletir em que medida a internet e os dispositivos digitais interferem neste atributo específico do contemporâneo on-line. A relação mediada pelo digital transforma e transpõe territórios, simultaneamente, quando instaura o modo de ver a imagem como uma grande ou pequena tela de monitor, um computador, tablet ou smartphone, onde se mesclam janelas de conexão. Multiplicam-se ideias pautadas na exposição de referências sobre o caráter existencial e da presença no mundo afirmada nos textos, contextos e imagens.

As redes atraem as artistas dedicadas a explorar criativamente recursos tecnológicos e midiáticos em suas elaborações que reverberam aspectos sociais e políticos, além do próprio conceito tradicional de arte pautado na materialidade dos objetos. Num movimento constantemente atualizado ou reeditado, a web possui um modo de operação característico dos processos de circulação dos posts. Ainda que seja fluída e efêmera pode evocar sensações e percepções devido a elementos contrastantes, qualidades antagônicas que reproduzem, em grande parte, o imaginário do cotidiano.

Assim como ocorre em outros meios de expressão as artistas acompanham a tecnologia que vem modificando a forma como o público consome o conteúdo visual, constituindo-se no modo operacional estabelecido pelo território virtual. Características como temporalidade, presença, ubiquidade e simultaneidade integram as experiências visuais atuais, alterando códigos perceptivos nas pessoas. Esse princípio surge no espectro de abrangência da rede, sobretudo, a noção de território virtual que deixa de ser um repositório de imagens e textos para conformar um sistema caracterizado em relações de participação.

Em consonância aos estudos de PRADA (2016), afirmamos que a arte na época das redes sociais está relacionada à linguagem visual como todas as formas de montagem, combinação e transformação de dados captados da rede. Está configurada como linguagem sobre linguagens existentes e tal expressão se dá como resultado de um repertório, de um catálogo de elementos combinados de diversas maneiras. As artistas se utilizam, portanto, de estratégias e recursos que as próprias plataformas disponibilizam devido à internet.

A experimentação da linguagem dos blogs e redes sociais não parece caracterizar somente a experimentação dos meios, mas, principalmente de perceber a ação da artista inserida neles, pois, diante do olhar de muitos outros leitores concluímos que somos, fundamentalmente, o nosso tempo registrado, compartilhado, exibido. A ideia tem raízes no pensamento de Priscila Arantes quando afirma que a partir dos anos 1950 ocorreram significativas mudanças em alguns elementos norteadores da produção artística, incluindo a preocupação com a participação do público. De acordo com a pesquisadora, a arte se mistura com a vida, e o público é chamado a ‘viver’ a obra, pois, no lugar do mutismo contemplativo há uma produção que reclama a participação do espectador. “Ao mesmo tempo, a participação ativa do espectador na produção da obra de arte sugere a ideia de processo, chamando a atenção para a maneira como a obra se manifesta entre o público” (ARANTES, 2012, p.37).

A fim de compreender esse emaranhado sistema, poderíamos pensar a ideia de processo a partir da noção de interface. A estética da interface presente nas poéticas virtuais estaria centrada mais no aspecto processual do que conceitual dos trabalhos analisados. Ações reverberadas pelas mídias digitais sugerem que, através da mediação entre pessoas e dispositivos tecnológicos seja possível visualizar pistas para ler e compreender aspectos do mundo em que vivemos. Nesse sentido, a nossa interação com o mundo é estabelecida como uma rede de relações constantemente interfaceadas com algo ou alguém. Um sistema complexo, porém, fluido e por vezes caótico da internet que constantemente explicita mensagens nas janelas do computador ou dispositivo móvel.

Isso significa que as artes em mídias digitais e a própria estética ganham um estatuto ontológico e epistemológico de explicação e de modelo para o mundo. Dito com outras palavras, as artes em mídias digitais, com suas interfaces, colocam em evidência uma dimensão epistemológica que vai além da própria estética, pois servem de modelo para entendermos a maneira como nos relacionamos com o mundo. Assim, a obra-mundo só se manifesta na medida de sua inter-relação com o interator-observador: ambos fazem parte de um mesmo sistema, de um mesmo conjunto de inter-relações. Interfaceados, esses domínios não podem ser percebidos separadamente. (ARANTES, 2012, p.73-74)

relações com as imagens, pois, as formas de compartilhamento que sugerem a participação do público espectador, o interator do sistema, pressupõem vias de comunicação e conexão que operam por adição de camadas. Arantes (2012, p.74) enfatiza que “a interface é assim considerada numa visão sistêmica, como uma espécie de membrana que, ao invés de promover o afastamento entre dois ou mais domínios, os aproxima, permitindo uma osmose, uma influência recíproca entre as partes”. Para além de uma aproximação por semelhança, podemos inferir que a arte proveniente da internet coloca em evidência e questiona a crise em que o próprio modo de vida contemporâneo se estabeleceu, questiona incessantemente seu lugar utópico, errante, de devir por meio da linguagem adotada no domínio das subjetividades latentes da web.

Quanto à questão da linguagem fotográfica intensamente alimentada por dispositivos digitais e móveis, a fotografia praticada nesta época adquire a dimensão de ato pós- fotográfico. Contemplada como disciplina contemporânea que envolve tanto a reflexão quanto a prática da linguagem fotográfica desde o advento das mídias digitais e da internet, a pós- fotografia reclama posicionamento na discussão. Na manifestação da pós-fotografia a imagem não estaria pronta no ato da captação, ao contrário da imagem na fotografia como a entendemos tradicionalmente. Joan Fontcuberta, professor, crítico e pesquisador aponta que, hoje, há certa urgência da imagem por existir que prevalece sobre as suas próprias qualidades. Nesse cenário, o protagonismo deriva do desenvolvimento de novos dispositivos digitais de captação e processamento das imagens, e que lança ao mundo visual um sintoma de massificação sem precedentes na cultura imagética. A intensa proliferação do recurso da câmera acoplada ou incorporada a outros dispositivos móveis como smartphones, tablets e webcams faz com que o recurso de registro da imagem seja uma operação extremamente acessível e corriqueira.

De acordo com o autor, a ideia predominante é a de que tudo isto nos imerge num mundo saturado de imagens, uma vez que vivemos na imagem e a imagem nos vive e nos faz viver. A diferença entre a fotografia tradicional praticada antes e a fotografia praticada na época digital reside no fato de que “hoje, todos nós produzimos imagens espontaneamente, como uma forma natural de relacionar-nos com os demais, a pós-fotografia se erige numa nova linguagem universal” (FONTCUBERTA, 2011, documento eletrônico). O desafio de compreensão da estrutura e função que essa imagem adquire, entretanto, não pode ser delegada apenas ao fator da substituição do procedimento técnico que envolve a forma de