• Nenhum resultado encontrado

O primeiro crítico, a nosso ver, que pensou de maneira mais complexa e sistemática a questão nacional foi José Veríssimo. As contradições pelas quais passa Sílvio Romero são amenizadas pela crítica de Veríssimo, que consegue pensar literatura e sociedade no Brasil de forma bem mais integrada e, além disso, com uma percepção por vezes deveras impressionante. No texto ―Das condições da produção literária no Brasil‖ (1900), José Veríssimo liga a possibilidade de desenvolvimento artístico às determinações materiais, notando que a incaracterização da literatura brasileira adviria da falta de organicidade da própria sociedade local: ―uma sociedade incaracterística não pode produzir senão uma literatura incaracterística‖ (1977, p. 53). Nota, nesse sentido, um caráter ―cortesão‖ ou ―áulico‖ em nossa literatura, advindo do isolamento de escritores e do público leitor frente ao conjunto da sociedade, fato notado não apenas na colônia, mas também no Segundo Reinado e na República. Assim, cita estatisticamente os dados do analfabetismo brasileiro – provindos de pesquisa oficial realizada em 1890, que constata algo em torno de 16 ou 17% de alfabetizados – e afirma:

Assentado este fato, verifica-se que à literatura aqui falta a condição da cultura geral, ainda rudimentar e, igualmente, o leitor e consumidor dos seus produtos. (...) Falta-lhe pois, para viver a atmosfera indispensável, que são os leitores que lhe fazem, e não fica sendo senão uma literatura de poucos, interessando a poucos. Os escritores, de fato sem comunhão com o seu povo, com a sua nação, são forçados também a viver espiritualmente fora dela, no comércio quase exclusivo, não direi só da literatura, mas do mesmo pensamento, da mesma emoção alheia (1977, p. 57).

Este trecho apresenta sumo interesse para nossos fins, já que relaciona, de maneira muito interessante para a época, a questão da ausência de leitores à difícil consolidação e prática da literatura no país, sugerindo uma inorganicidade social de fundo da qual o analfabetismo seria apenas uma de suas manifestações. Veríssimo também sugere a questão do sentimento de importação presente na literatura, um sentimento de desterro que, como se verificou, é bastante comum na literatura oitocentista, e a relaciona com a falta de contato entre intelectual e público, pela ausência de relação entre escritor e seu meio social. A impressão de ―emoção alheia‖ presente na literatura é símbolo da impossibilidade verificada de intervenção no debate público, de participação no processo de desenvolvimento das ideias, que apenas um processo social interno dinâmico poderia garantir. A percepção de Sílvio Romero em relação à exclusão dos elementos populares encontra, assim, em Veríssimo um desenvolvimento mais elaborado, mais complexo, e praticamente imune da utilização das teorias raciológicas. A ―ausência de povo‖ em Veríssimo não se liga mormente a um problema racial ou de meio, nem a uma apatia natural do povo, mas na sugestão de um problema social de fundo mais complexo, de referência à cisão de classes interna.

No texto ―O que falta a nossa literatura‖ (1899), afirma algo semelhante, embora com maior desenvolvimento:

Faltou [à literatura brasileira] sempre o elemento transmissor, o mediador plástico do pensamento nacional, um povo suficientemente culto para interessar-se por esse pensamento, ou, ao menos, apto a deixar-se influenciar por ele. Na constituição de uma literatura o povo tem simultaneamente um papel passivo e ativo: é dele que parte e a ele que volta a inspiração do poeta ou do pensador. Um e outro não se podem abstrair, antes fazem parte integrante dele (1977, p. 65).

Esta relação íntima entre público leitor – ou ―povo‖ – e escritor não representa, a nosso ver, apenas uma visão romântica da literatura como expressão cultural localizada e em unidade com o todo social. Ela é, pensamos, elemento essencial para que o desenvolvimento da literatura possa se dar de maneira mais orgânica, sem o vinco social que lhe parece ser atribuído. Esta questão, referente à literatura, aparece de maneira homóloga à exclusão da grande maioria da população dos destinos da nação, da cidadania, da vida econômica. Uma expressão cultural destacada, como quase sempre foi nossa norma, do conjunto da população, não possui vida própria, ou melhor, não parece se mover por uma dinâmica que revele a fecundação entre os aspectos concretos do país e sua produção. Sem cair no exagero, que seria idealizar a participação popular nos países centrais do capitalismo, poderíamos dizer que em ambiente de exclusão substantiva, política, econômica e intelectual, a produção literária e cultural, num sentido geral, pouco pode produzir senão impacto em uma camada diminuta da

sociedade, o que não raramente configura a impressão de prática caprichosa, importada, destacada da vida social brasileira. Os recorrentes e atuais debates sobre a relativa pequena inserção econômico-cultural do produto intelectual – do cinema, do livro, da educação –, apenas ecoam esta questão de fundo social, polarizando as questões em seu viés político – um (neo)liberalismo que não leva em conta as deficiências do país na propugnação de uma concorrência desleal, ou então uma cultura erudita, mas não elitista, que não consegue penetrar no circuito fechado estabelecido pela mídia de massa.31 Estas questões, que devem

ser atuais em todo o mundo, causam particular sensação desagradável no Brasil, dada a modernização manca que sempre houve por estas paragens, isto é, a coexistência das mais modernas formas de divulgação e circulação cultural com a base social mais precária, escorada pela lógica do capital. Estes foram os dilemas de muitos intelectuais brasileiros, empenhados na construção de uma sociedade nacional moderna, tendo em vista o modelo que emanava do capitalismo avançado. As contradições, assim, representadas em suas produções, são as contradições às quais puderam ser sensíveis, incorporando a dinâmica do país à sua própria forma de pensá-lo.

Do que falamos, deve-se ter em vista o amplo complexo de problemas que o intelectual brasileiro tinha a confrontar. Da propugnação nacionalista, durante o movimento romântico, à sua recorrência ao longo da história literária brasileira, o problema pode ter mudado de feição, mas não, pensamos, de causas. O nacionalismo romântico, semioficial, patrocinado pelo Estado brasileiro, não constitui de modo algum uma ideologia que deve ser descartada, dados seus intuitos de conformação e delimitação de uma simbologia nacional, já que trabalha com elementos da estrutura social brasileira, representados formalmente nas obras literárias, que perfazem uma espécie de tradição do modo de pensar o país. Nesse sentido, a questão de uma cultura dominada pelas elites brasileiras, que detém o controle ideológico e dos bens culturais no tocante à nação não encontrava, sempre, realização simplesmente apologética, ainda que a intenção possa ter sido esta. Nos romances de Alencar, de Macedo, de Aluísio Azevedo, na crítica romântica ou naturalista, ocorre a incorporação de contradições presentes na estrutura social brasileira, que se escoram no sentido de missão atribuído a esta literatura – isto é, contribuir para o desenvolvimento nacional – e na percepção da precariedade do meio local, sobre a qual ela se debruça. A literatura, neste

31 ―O atraso incrível do Brasil, durante os últimos cinquenta anos do século passado [XIX] e outro tanto deste, é

um pano de fundo sem o qual se torna incompreensível qualquer manifestação da vida nacional, incluindo sua mais fina literatura e com mais razão o tosco cinema‖ (GOMES, 1966, p. 8).

sentido, passa a ser aspecto representativo das precárias condições brasileiras, incorporando em suas obras a preocupação com sua superação, bem como um certo sentimento de continuidade e perenidade, que parece encontrar no plano social sua justificativa. A exclusão da maior parte da população da cidadania política, das próprias condições de exercer um papel para além de mero objeto do desenvolvimento, não poderia deixar de incomodar os intelectuais comprometidos com a construção nacional. A utilização por parte destes da ideologia nacionalista não apaga em suas produções a preocupação com o papel que o país representaria frente à norma do capitalismo moderno, e os problemas e contradições advindos deste intuito integrativo, os impasses do desenvolvimento brasileiro, aparecem em suas obras em dualidades por vezes insuperáveis, redundando em soluções formais que apontam para um não fechamento do problema, isto é, apresentam as forças em luta, mas quase nunca conseguem apontar para a solução da questão, para a superação dialética do dilema. Isso, a nosso entender, não se trata de uma falha, mas de uma resposta possível às condições dadas, a qual varia de solução formal ao longo do tempo, porém resguardando uma espécie de tradição de representação da sociedade, a que chamamos a forma dual.

Talvez uma das melhores definições deste sentimento de missão por parte do intelectual esteja presente em Nabuco, em passagem presente no livro Minha formação (1900), no qual o dilema do intelectual não se coloca diretamente frente ao problema do atraso brasileiro, mas alia-se ao sentimento da desigualdade e à simpatia pessoal pelos excluídos, símbolos do desenvolvimento brasileiro. Nesse texto, Nabuco narra sua infância em um engenho em Pernambuco, tentando aliar a questão política de sua formação como abolicionista às impressões deixadas em seu espírito pela convivência íntima com os escravos:

Nessa escravidão da infância não posso pensar sem um pesar voluntário... Tal qual o pressenti em torno de mim, ela conserva-se em minha recordação como um jugo suave, orgulho exterior do senhor, mas também orgulho íntimo do escravo, alguma coisa parecida com a dedicação do animal que nunca se altera, porque o fermento da desigualdade não pode penetrar nela (NABUCO, 1964, p. 232-233).

A passagem é verdadeiramente interessante e revela em seus dilemas a preocupação do intelectual por seu país e por seu povo, de certo modo contrariada pelo sentimento de que a camada social pela qual se inclina sequer toma conhecimento do problema que a aflige. Assim, à parte alguma idealização da escravidão e certo orgulho elitista, será este o sentimento de boa parte da produção intelectual brasileira, que percebe a necessidade de que o país deva se modernizar, sobretudo através da participação popular cidadã, como demandaria

a norma liberal do capitalismo moderno, embora contrariada pela infecundidade da luta política por meio da produção literária, referendada ainda pela permanência da ordem de coisas. A ideia liberal é contrariada amiudadamente, não encontrando sua manifestação apenas em Nabuco: basta conferir as lamentações sobre a pouca vitalidade da vida política e intelectual brasileira, geralmente atribuída à falta de interesse ou apatia do povo – encontrada em intelectuais como Alencar, Aluísio Azevedo, Sílvio Romero, entre outros – e reiterada diversas vezes no século XX, nos seus vários movimentos literários que tinham por ponto de fuga a mudança ou a crítica do status quo, movimentos estes de baixa inserção nos grupos sociais aos quais se dirigiam ou que poderiam representar as fontes de mudança, as camadas populares. Este dilema, entre engajamento nacionalista ou identitário com vias à modernização, e uma subjacente desesperança com a alteração da sociedade brasileira, gera aquela dualidade formal que notamos nraizada no desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo brasileiro e na sua sustentação lógica, a exclusão: ―[a] escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil‖ (NABUCO, 1964, p. 232).

Em passagem de seu ―Auto-retrato intelectual‖, Celso Furtado expõe perfeitamente o que pensamos sobre o interesse e o engajamento do intelectual por seu país. Tendo por pano de fundo a ideia nacionalista de superar as dificuldades econômicas com vias a atingir o estado dos núcleos orgânicos do capitalismo, o engajamento intelectual parte de um incômodo pessoal com as estruturas presentes, que não dão conta de resolver as questões sociais de fundo que determinam a absurdidade da miséria e do atraso.

Muitas vezes me pergunto se o desejo insaciável de penetrar na realidade do próprio país não encobre outro desejo ainda mais fundamental: o de conhecer-se a si mesmo. Como superar as limitações do quadro psicológico pessoal sem penetrar nas condicionantes sociais e culturais? Até que ponto meu interesse pelo Nordeste decorre de uma simpatia profunda pelo mundo que mais conheço (o de minha infância e adolescência) ou reflete principalmente a consciência que tenho de que sou prisioneiro das estruturas sociais em que me formei, mesmo quando contra elas me revolto? Como desalienar-se sem alcançar a lucidez que nos permite ver através de todas essas estruturas, que são nosso segundo código genético? Quiçá as duas razões confluam e se reforcem mutuamente (1983, p. 38).

Tanto no pensamento social quanto na literatura, portanto, encontramos uma linha de força importantíssima, que diz respeito à superação das precariedades da formação social brasileira. Esta linha de força, como se vê, se escora não apenas num projeto político modernizador, mas também no trabalho com o sentimento de atraso e de exceção à norma capitalista que o intelectual experiencia. Nesse sentido é que pensamos todo o trabalho intelectual nacionalista ou de estabelecimento de uma identidade nacional, no sentido de dar conta das agruras da

vida social em um país atrasado. Este sentimento, independentemente se vinculado à literatura ou às ciências sociais, parte, portanto, do mesmo objeto, e suas dificuldades e êxitos terão por pano de fundo sempre uma experiência matriz, que destoa do padrão das promessas. Nosso objetivo é, então, o de procurar na forma literária as representações deste dilema, do que ele pode esclarecer em relação à forma, e do que esta pode iluminar em relação àquele. A exposição e a análise de nossos autores, assim, devem revelar o que a literatura pode contribuir para o entendimento de nossa formação nacional, bem como para situar a experiência individual e social nesta formação específica.

4 A nação sobre os ombros de José de Alencar

―a uma nação de história curta, a profundidade do tempo lendário‖ Antonio Candido, Formação da literatura brasileira Se Domingos José Gonçalves de Magalhães fora, por dez anos, no dizer de Antonio Candido, a literatura brasileira (CANDIDO, 2007, p. 375), pode-se afirmar que José de Alencar intentara recriar, de roldão, toda essa literatura. Mais: Alencar planeja construir não apenas romances ligeiros – o que também fez, aliás – mas construir uma mitologia e um imaginário para a nação nascente. Assim, os interesses de Alencar, que não se restringiam à literatura, denotam uma fidelidade e uma devoção às causas do país, construindo um modo de interpretar e representar o Brasil para seus próprios cidadãos. O interesse de Alencar de intervir nas questões relativas à língua portuguesa falada no Brasil, a disposição em opinar – muitas vezes, de maneira ofensiva ao próprio imperador D. Pedro II – nos assuntos de administração do Estado, sua própria participação na dinâmica política do Segundo Reinado, completam bem a figura de um intelectual que ousara se colocar à parte do aulicismo da literatura brasileira romântico-nacionalista, sem, no entanto, cerrar fileiras contra a ideia da criação de uma literatura local que exprimisse as possibilidades estéticas do Brasil e dos brasileiros.

Alencar foi provavelmente o elemento mais emblemático na construção de nossa imagem nacional. Sua militância na construção de uma literatura brasileira é candente, e estende-se por toda a sua obra. Pode-se dizer, pois, que a prática literária e política de Alencar se orientou em três sentidos, segundo este intuito nacionalista: a) a consolidação de uma literatura nacional, a fim de que a literatura brasileira deixe de ser mera continuação da portuguesa ou caudatária das literaturas dos grandes centros; b) a construção de uma imagem, uma identidade distintiva frente a outras nacionalidades; c) o intuito ―patriótico‖ de interferir na formação social brasileira. Estes três aspectos, que nos interessam de perto, relacionam-se perfeitamente ao que Antonio Candido chama de caráter interessado de nossa literatura (CANDIDO, 2007, p. 19-20; 28-29), ou seja, sua atenção para uma dimensão não apenas estética, mas para a própria formação de uma cultura e literatura nacionais, bem como para a discussão dos problemas de formação do jovem país. Além disso, essa diversidade de ocupações e alvos do intelectual brasileiro aponta para a circunstância específica de um

intelectual em país periférico, que alia diversas preocupações, culturais, literárias, políticas, nas quais avulta o intuito patriótico (PÉCAUT, 1990, p. 11).

Dono de extensa obra, sempre orientada pela responsabilidade que se atribuía frente ao país, Alencar versou sobre temas tão díspares como a escravidão, o indígena, a constituição de uma língua e de uma literatura genuinamente brasileiras, as crises econômicas e políticas do império, e outros. Todos estes interesses estão contemplados nos seus textos literários – romance, teatro e poesia – em ensaios inseridos como prefácios ou posfácios de suas obras, nas cartas, nas polêmicas, nos escritos políticos e também nas crônicas. Assim, mesmo privilegiando as produções literárias de Alencar, em razão de sua ―dupla militância‖ (RICUPERO, 2004, p. XX), política e cultural, não é possível isolar apenas alguma manifestação de sua obra, visto que, como em sua biografia,32 estão perfeitamente

relacionadas. Alencar toma a si a difícil empresa de construir uma literatura num país de analfabetos, defender a representação popular onde cidadania era vocábulo ornamental, exercer a política onde liberalismo e conservadorismo eram na prática rótulos sem conteúdo ou base social delimitada fora dos estreitos círculos das elites. Como conservador convicto que era, Alencar não titubeou em defender a extinção gradual – pela lenta mudança dos ―costumes‖ e da ―índole‖ da sociedade (ALENCAR, 2009, p. 328) – da escravidão, o que gerou danos à sua imagem na própria época em que tomava a tribuna política. À parte os reparos postos pela história à imagem do político Alencar, é ele a mesma pessoa que escreve e discursa reclamando a representação das minorias nas eleições do Segundo Reinado (SANTOS, 1991, p. 27), ou que se reportaria à ausência de direitos das camadas mais pobres brasileiras, em momento no qual se debatia a reforma eleitoral (ALENCAR, 1991, p. 85), ou ainda quando da publicação dos volumes das Cartas de Erasmo dirigidas ao povo (ALENCAR, 2009, p. 135-136). Posicionando-se frequentemente contra a maré, tanto em sua atuação literária quanto política, Alencar, colocando a nação sobre seus ombros, não pôde deixar de sofrer com as limitações presentes na dinâmica cultural e política brasileira dos oitocentos. Machado de Assis, em texto sobre Alencar, notou a desilusão de Alencar ao final de sua vida:

32 Mário de Alencar, filho do escritor, disse que a obra política de seu pai ―conjuga-se à ação viva e pessoal do

autor, e sem esta não pode ser bem entendida‖ (ALENCAR, 1960, p. 18). Acrescente a esta declaração à autobiografia intelectual de Alencar, Como e porque sou romancista (1965a. p. 101-121), na qual as considerações sobre a vida política, principalmente a de seu pai, aparecem junto à sua formação especificamente artística.

Descontada a vida íntima, os seus últimos tempos foram de misantropo. Era o que ressumbrava dos escritos e do aspecto do homem. Lembram-me ainda algumas manhãs, quando ia achá-lo nas alamedas solitárias do Passeio Público, andando e meditando, e punha-me a andar com ele, e a escutar-lhe a palavra doente, sem vibração de esperanças, nem já de saudades. Sentia o pior que pode sentir o orgulho de um grande engenho: a indiferença pública, depois da aclamação pública (ASSIS apud MAGALHÃES JÚNIOR, 1977, p. 390).

Ainda notou Machado, comentando a morte do autor de O guarani, que seu passamento era assaz digno de comover a opinião nacional (apud MAGALHÃES JÚNIOR, 1977, p. 402- 403). Não o foi, porém. Alencar fora vítima de uma cultura e de uma sociedade incipientes, nas quais a participação política e a vida cultural eram prerrogativas de uma pequena parcela do público, sem que as malhas do direito de cidadania e a possibilidade de tomar corpo uma cultura verdadeiramente autônoma tivesse tomado lugar. Serve, pois, ele próprio, como símbolo dos projetos falhados de nação, como tantos outros que ainda iriam tomar forma. No tocante à sua produção artística, Alencar deixara, no entanto, um vasto monumento literário que sobreleva sua memória de compromisso com a literatura brasileira e com o país. Fundara, por assim dizer, não uma história do Brasil, mas para o Brasil.

4.1 O romance e a fundação nacional: páginas de política e literatura em José de