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O elemento que opera a transição na cadeia de comando do romance, com Peri, é Cecília. A filha de D. Antônio de Mariz é o personagem pela qual a submissão inicial de Peri ocorre, nos termos já expostos. Porém, além de representar o elemento europeu na formação da nova sociedade, a garota tem uma particularidade que escapou a muitos leitores de O

guarani: ela tem por mãe-pátria o solo brasileiro. Embora nascesse na cidade do Rio de

Janeiro, não nos sertões brasileiros (ALENCAR, 1964, p. 269), Cecília não carregava com ela o fardo de subordinação direta ao poder português, tal como o pai fidalgo. Como D. Pedro II, que nascera de pai e linhagem portugueses, mas, no dizer de Gonçalves de Magalhães, ―fora ao nascer pelas auras da América bafejado, e pelo sol dos trópicos aquecido‖ (2006, p. 151), Cecília vive no romance a passagem de uma filiação ao elemento paterno, ao reconhecimento de novos elementos que devem orientar a formação da nova sociedade; por ―pai‖, neste caso, entenda-se a filiação alegórica entre Portugal e D. Antônio. Cecília nos parece a representação de uma classe dominante local, que se ―nacionaliza‖ a partir do momento em que a cadeia de comando primitiva é desmontada, isto é, homologicamente, a queda do domínio político português e a morte, pelo fogo, de D. Antônio.

A passagem de ―Cecília para Ceci‖ – este último nome, atribuído por Peri – se dá claramente entre a parte do romance onde a cadeia de comando ainda está armada e o epílogo, quando é desmontada em analogia direta com o plano mitológico indígena. Nesse sentido, a consciência de si da heroína e a visão que possui dos elementos ao seu redor, incluindo Peri, contrastam fortemente entre um e outro movimento do romance, indicando, de maneira clara, as diferenças entre a filiação anterior e o novo projeto civilizatório. Na descrição de seu sonho, logo no início do romance, a linguagem do narrador e a imagem construída dão a dimensão tanto da relação de superioridade hierárquica que possuía, primitivamente, sobre Peri, quanto de sua consciência com relação a si própria:

Ela sonhava que uma das nuvens brancas que passavam pelo céu anilado, roçando a ponta dos rochedos, se abria de repente, e um homem vinha cair a seus pés tímido e suplicante.

Sonhava que corava; e um rubor vivo acendia o rosado de suas faces; mas a pouco e pouco esse casto enleio ia se desvanecendo, e acabava num gracioso sorriso que sua alma vinha pousar nos lábios.

Com o seio palpitante, toda trêmula e ao mesmo tempo contente e feliz, abria os olhos; mas voltava-os com desgosto, porque, em vez do lindo cavalheiro que ela sonhara, via a seus pés um selvagem.

Tinha então, sempre em sonho, um desses assomos de cólera de rainha ofendida, que fazia arquear as sobrancelhas louras e bater sobre a relva a ponta de um pezinho de menina.

Mas o escravo suplicante erguia os olhos tão magoados, tão cheios de preces mudas e de resignação, que ela sentia um quer que seja de inexprimível, e ficava triste, triste, até que fugia e ia chorar (1964, p. 42). O clima construído pela linguagem do narrador, a reiteração do ―sonho‖ e o ambiente diáfano proposto – as nuvens, o azul –, se conjugam com a qualificação de ―menina‖, ―pezinho‖, na construção de um elemento do par erótico, cuja primeira manifestação só pode se dar no plano de seu pensamento. Ainda, nota-se a filiação aos termos do elemento hierárquico anteriormente descrito, a rainha e o escravo, bem como a qualificação por ―selvagem‖ do intruso de seu sonho. Desse modo, é construída uma primeira imagem de Cecília, ainda completamente enquadrada dentro do plano primitivo da hierarquia do romance, cujo ideal, portanto, nunca poderia ser o de um selvagem para compor sua contraparte masculina, mas um ―lindo cavalheiro‖. A descrição, presa ao universo juvenil de Cecília, parece representar a própria juventude de uma consciência local que não se encara como tal, pois filiada ainda ao pai português e à sua ordem de valores. Essa analogia com a dinâmica política, porém, só pode ser entrevista com a descrição presente no epílogo do romance, já depois da destruição do solar de D. Antônio e com a morte de toda a cadeia de comando da hierarquia primeva do romance.

No último capítulo do romance, a mudança de atitude de Ceci com relação a Peri encontra-se configurada em vários aspectos, compreendendo desde a descrição do cenário natural, distante do casario medieval de D. Antônio, até uma nova configuração do erotismo, tal como posta pelo narrador. A própria mudança no caráter de Ceci encontra respaldo, portanto, na alteração dos elementos que primitivamente organizavam a hierarquia do romance:

Toda a sua vida estava mudada; a desgraça tinha operado essa

revolução repentina, e um outro sentimento ainda confuso ia talvez

completar a transformação misteriosa da mulher.

Em torno dela tudo se ressentia dessa mudança; as cores tinham tons harmoniosos, o ar perfumes inebriantes, a luz reflexos aveludados, que os seus sentidos não conheciam.

Uma flor que antes era para ela apenas uma bela forma, parecia-lhe agora uma criatura que sentia e palpitava; a brisa que outrora passava como um simples bafejo das auras, murmurava ao seu ouvido nesse momento melodias inefáveis, notas místicas que ressoavam em seu coração (1964, p. 260, grifo nosso).

A alteração na percepção da garota sobre os elementos naturais que a circundam se complementa com a nova qualificação de ―mulher‖ em transformação; do mesmo modo, se inicialmente a tranquilidade diáfana do sonho era o ambiente para sua percepção do mundo, agora já se pode falar em ―sentidos‖; a flor, que outrora era apenas forma, é agora uma criatura palpitante – uma clara metáfora da transformação operada na heroína. As qualificações do narrador, somadas à descrição das percepções de Ceci, nesse sentido, marcam o ponto de guinada no romance, após a derrocada da sociedade dos Mariz:

Ela mesma não saberia explicar as emoções que sentia; sua alma inocente e ignorante tinha-se iluminado com uma súbita revelação; novos

horizontes se abriam aos sonhos castos do seu pensamento.

Volvendo ao passado admirava-se de sua existência, como os olhos se deslumbram com a claridade depois de um sono profundo; não se reconhecia na imagem que fora outrora, na menina isenta e travessa (1964, p. 260, grifo nosso).

Na continuação da cena, sua atenção se volta a Peri, que a acompanhava:

Contemplando essa cabeça adormecida, a menina admirou-se da beleza inculta dos traços, da correção das linhas do perfil altivo, da expressão de força e inteligência que animava aquele busto selvagem, moldado pela natureza.

Como é que até então ela não tinha percebido naquele aspecto senão um rosto amigo? Como seus olhos tinham passado sem ver sobre essas feições talhadas com tanta energia? É que a revelação física que acabava de iluminar o seu olhar, não era senão o resultado dessa outra revelação moral que esclarecera o seu espírito; dantes via com os olhos do corpo, agora via com os olhos da alma.

Peri, que durante um ano não fora para ela senão um amigo dedicado, aparecia-lhe de repente como um herói; no seio de sua família estimava-o, no meio dessa solidão admirava-o.

Como os quadros dos grandes pintores que precisam de luz, de um fundo brilhante, e de uma moldura simples, para mostrarem a perfeição de seu colorido e a pureza de suas linhas, o selvagem precisava do deserto para

revelar-se em todo o esplendor de sua beleza primitiva.

No meio de homens civilizados, era um índio ignorante, nascido de uma raça bárbara, a quem a civilização repelia e marcava o lugar de cativo. Embora para Cecília e D. Antônio fosse um amigo, era apenas um amigo escravo.

Aqui, porém, todas as distinções desapareciam; o filho das matas, voltando ao seio de sua mãe, recobrava a liberdade; era o rei do deserto, o senhor das florestas, dominando pelo direito da força e da coragem.

As altas montanhas, as nuvens, as catadupas, os grandes rios, as árvores seculares, serviam de trono, de dossel, de manto e cetro a esse

monarca das selvas cercado de toda a majestade e de todo o esplendor da natureza.

Que efusão de reconhecimento e de admiração não havia no olhar de Cecília! Era nesse momento que ela compreendia toda a abnegação do culto santo e respeitoso que o índio lhe votava! (1964, p. 261-262, grifo nosso). Nesta passagem, a transição operada em Ceci se espraia para Peri, seguindo a junção entre o olhar do narrador e da heroína: se no início era primitivo, de raça bárbara e escrava, em seu meio transforma-se em senhor, monarca, majestade. Nota-se, assim, a mudança referida anteriormente: ainda que a linguagem europeia e seus termos permaneçam – reino, senhor, trono, manto, dossel, cetro – elas não operam exatamente como forma de equiparar o índio,

diferente, pela sua semelhança, ao português; agora, sua semelhança é que justificará sua

posição enquanto senhor indígena, local, do seu meio – ficando, assim, o elemento local com preponderância, na ausência de um elemento hierarquicamente superior, D. Antônio, que emita a comparação. Dessa forma, compõe-se a figura contraditória de Peri: ainda que seja clara a intenção do narrador de deslocar o foco do primitivo escravo para o senhor que já se entrevia anteriormente na comparação vocalizada por D. Antônio, ele não abdica dos valores portugueses, como forma de encaminhar a construção do novo país. Nesse sentido, Peri é uma espécie de bárbaro que pode empreender a civilização, desde que herde os valores antigos. Estes, porém, agora não servem para justificar sua subordinação, mas para aventar sua possibilidade de dominação, ―pelo direito da força e da coragem‖.

Nos parece, portanto, que há um excesso na ênfase do ―sacrifício‖ indígena, no dizer de Alfredo Bosi (2001, p. 189-190), como fator de construção nacional, ao menos no caso de

O guarani. O índio tão pouco indígena, construído pela ficção, ainda que guarde os valores

portugueses como insígnia da potência de construção nacional, é o caráter sobre o qual o mito incide. Se é construído por valores outros, isso, sem deixar de ser deplorável para nossa autoimagem, é um símbolo maior da ausência de possibilidades, no projeto de nossas elites, de uma construção nacional autônoma, dentro dos preceitos da civilização ocidental. É, além disso, a possibilidade posta, a seu tempo, de uma construção nacional; ora, hoje ainda não nos batemos a favor da ―modernização‖, recuperando um projeto nacional cujas bases, dadas desde pelo menos o século passado, parecem solapadas pelo avanço do capitalismo mundializado? A questão posta, nesse sentido, pelo sacrifício de Peri, nos parece não ceder tanto a uma depreciação de sua figura, mesmo porque criada numa representação idealizada; veja, por contraste, a representação dos aimorés, não menos figurativamente realizados, mas em chave negativa, como os que rejeitam os valores civilizatórios. A ênfase do romance está,

pois, numa troca da cadeia de comando, da externalidade metropolitana para a elite dependente, contraditoriamente nacional e subordinada, cuja possibilidade de ditar os rumos da nação nos parece ter sido aferida positivamente ao longo da tradição da política brasileira. Não se trata, pois, de mera capitulação; mas de uma constante de nosso pensamento e de nossa prática política que encontra, até hoje, valores positivos na construção nacional. A forma pela qual, hoje, essa construção pode se dar de maneira satisfatória, permanece sem resposta, mas O guarani a responde, a nosso ver, ficcionalmente, desde meados do século XIX, dando margem a suas várias constituições ao longo da prática intelectual e política brasileira. No caso de Iracema, por exemplo, onde seria muito mais evidente a questão do sacrifício, os valores indígenas perdidos tentam, formalmente, ser recuperados pela linguagem do romance. A própria morte da heroína e o nascimento do ente típico de uma interpretação do Brasil clássica – Moacir, o filho da dor, junção de duas de nossas ―três raças tristes‖ – revelam, de maneira mais crua, ainda que no plano do mito em cariz poético, a necessidade da formação nacional sem o descarte do elemento local – não apenas o índio, mas o projeto de formação de uma sociedade autônoma. Se essa formação se dá de maneira contraditória, reativando a necessidade de encará-la como uma forma de dualidade interna e externa ao plano constitutivo da nova civilização, não é exatamente algo a ser invectivado, ao contrário: deve ser reconhecido, reconstituído como um precedente importante para a futura série de leituras do Brasil, na literatura como no pensamento social. Como afirma Renato Janine Ribeiro, em leitura de Iracema:

O propósito de Alencar está em encontrar nossas raízes, descartando o que delas escapa, mas sem pôr em cheque um povo ou outro. (...) Buscar as raízes é, para Alencar, pluralizar a origem, assumindo o elemento ameríndio, mas, já pelo projeto, isso implica não repudiar a invasão do continente (2005, p. 407).

Na sequência desta descoberta de Peri por Ceci, o reconhecimento do domínio do local, o espaço do romance, como a relação entre os personagens, sofre a transformação frente ao que fora narrado na primeira parte do romance. Esta questão se dá pela mobilização do mito de Tamandaré, definido por Alencar, em nota ao romance, como o ―Noé indígena‖ (1964, p. 280). O mito assume uma função que corrobora as contradições apontadas na figuração dual dos personagens: o narrador não expõe o mito judaico-cristão, mas o mito indígena que deve dar a tonalidade local necessária para o estabelecimento da nova nação. O mito guia, assim, a ascensão de Peri e Ceci a fundadores da nova raça, devendo povoar a terra a partir do momento em que desçam da palmeira-jangada no episódio final do romance. Porém, em consonância com o que já foi exposto sobre o papel de Peri na troca da cadeia de

comando, o mito não vale apenas por si, mas enquanto representa, localmente, a ideia ocidental de purificação; no caso de O guarani, a purificação de uma nova civilização que deve se moldar pelo que as sociedades civilizadas representam. Nomear o mito de Tamandaré como ―Noé indígena‖ é o retrato ideal desta dualidade da construção que Alencar intenta, ao utilizar o elemento local enquanto fundador, mas apenas a partir do momento em que esse elemento possa dar continuidade à tradição ocidental. Uma troca da cadeia de comando a figurar a dependência, portanto.

Assim, desde que Ceci decide ficar na selva com Peri – símbolo da escolha da nova civilização – a representação da fundação tem início, e a tonalidade contida dá lugar ao plano da mitologia evocatória da mudança e da purificação. Completando a modificação de Ceci, o narrador afirma:

Ela pertencia, pois, mais ao deserto que à cidade; era mais uma virgem brasileira do que uma menina cortesã; seus hábitos e seus gostos prendiam-se mais às pompas singelas da natureza do que às festas e galas da arte e da civilização.

[Cecília diz:] – (...) Viveremos juntos como ontem, como hoje, como amanhã. Tu cuidas?... Eu também sou filha desta terra; também me criei no seio desta natureza. Amo este belo país!... (1964, p. 269-270).

Não à toa, pouco após essa passagem, a tempestade que dará o final do romance se avizinha, configurando um novo espaço, no qual o rio Paquequer, outrora contido dentro das rédeas de seu curso – com todas as devidas metáforas ao imaginário feudal –, transbordará, rompendo os liames da antiga subordinação, simbolizando a emergência do novo país:

Com efeito, uma montanha branca, fosforecente, assomou entre as arcarias gigantescas formadas pela floresta, e atirou-se sobre o leito do rio, mugindo como o oceano quando açouta os rochedos com suas vagas.

A torrente passou, rápida, veloz, vencendo na carreira o tapir das selvas ou a ema do deserto; seu dorso enorme se estorcia e enrolava pelos troncos diluvianos das grandes árvores, que estremeciam com o embate hercúleo. (...)

Tudo era água e céu.

A inundação tinha coberto as margens do rio até onde a vista podia alcançar; as grandes massas d‘água que o temporal durante uma noite inteira vertera sobre as cabeceiras dos confluentes do Paraíba, desceram das serranias, e de torrente em torrente, haviam formado essa tromba gigantesca que se abatera sobre a várzea (1964, p. 272-273).

A rememoração dos termos utilizados desde o começo da narrativa – arcarias, tapir, deserto – agora são superados pelo novo que se gesta pelo dilúvio. Desse modo, a troca na cadeia de comando é operada, dando início à narrativa mítica de Tamandaré, narrada pela alegoria local, Peri. A superação do elemento feudal, que perfazia a ordenação hierárquica, bem como a

inundação do deserto selvagem, indicam uma superação dupla, em que os elementos contraditórios a formar a nação devem se originar não de um ou outro polo, mas de ambos: valores ocidentais e atores locais. Peri é, agora, em sua condição de índio cristianizado, o guardião da possibilidade de criação, da fecundação da nova ordem, em suas permanências e suas alterações. É ele, aliás, quem, a partir de um lance heroico, retira a palmeira sobre a qual ele e Ceci estavam ilhados, e a utiliza como uma espécie de jangada, que seguirá o curso da água, agora indômita:

Fez-se no semblante da virgem um ninho de castos rubores e lânguidos sorrisos: os lábios abriram como as asas purpúreas de um beijo soltando o vôo.

A palmeira arrastada pela torrente impetuosa fugia... E sumiu-se no horizonte... (1964, p. 276)

A projeção em que o romance termina, é a própria projeção da formação: a construção nacional que ela sugere, ainda incompleta, deve se dar nos planos de uma aliança entre o elemento local e a inspiração externa, única possível, no entender da obra, de dar conta de criar uma nova nação. Assim, forja-se a conciliação, referendada na integração das duas alegorias que representam os elementos locais, seja na que faz referência ao passado heroico, seja na que é a guardiã, dentro de sua própria caracterização, dos valores civilizatórios. Peri e Ceci, ao final do livro, portanto, indicam a projeção de uma nação mestiça, em seu caráter fisionômico e em sua constituição política. No dizer de Valéria De Marco, define-se ―(...) uma aliança política necessária‖ (1993, p. 70). A conciliação política entre as classes dirigentes, da qual David Treece vê O guarani como representante estético, se refere, agora, não apenas ao momento político no qual Alencar vivera, mas a um tipo de acomodação de interesses, do qual as classes dominantes brasileiras nunca se afastaram: seu caráter de articulação elitista, frente à massa dos marginais do processo, bem como sua articulação cosmopolita com os centros do poder, parece encontrar sua homologia nesta obra. Ainda que não se refira apenas aos problemas de prática econômica ou política, seu horizonte cultural permanece o mesmo. Como pensar alternativas, frente à intensa separação entre elite e povo, dado ainda a dependência intrínseca entre um projeto nacional e a dominação externa? A alegoria de Peri, agente local e senhor da nova cadeia de comando, é a representação por excelência dessa dinâmica; um personagem vinculado ao chão pátrio, embora liberado para a assunção ao controle devido à adequação frente às possibilidades civilizatórias garantidas desde fora. A contradição do nacionalismo de Alencar, como a de outros de nossos romancistas e pensadores, encontra aí seu ponto nevrálgico, que se espraia em consequências por outros

espaços da trama narrativa: como conciliar marginais, elementos fora da ordem, às novas possibilidades civilizatórias? Ou, trazendo a questão para o plano histórico de Alencar, como quando pensara a escravidão: como incluir a massa escrava, caso a escravidão fosse abolida? A superação do nosso ―antigo regime‖ terá se realizado, de maneira satisfatória? As transições históricas no Brasil, seu caráter de mudança na permanência, parecem encontrar uma homologia interessante com a troca da cadeia de comando em O guarani. Alencar diagnostica, assim, contraditoriamente, as possibilidades da fundação de uma nação pela via conservadora.66

4.5 Alencar descolonizado: as respostas estéticas locais frente à forma literária