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CAPÍTULO IV – PESQUISA COREOGRÁFICA

5ª FASE mar-set

4.1.3. O Processo Colaborativo.

4.1.3.2. Colaboração Complementar.

A colaboração complementar é a relação que se estabelece entre os diferentes agentes na fase de criação de elementos complementares como poemas, ambiente sonoro, figurino e luzes. A fase de criação complementar tanto pode ser considerada como pertencendo ao processo coreográfico como ao processo performativo. Há alguns elementos que são criados durante o processo coreográfico e que o podem influenciar, como foi o caso da escrita dos poemas e da conceção do ambiente sonoro, ou num momento mais avançado, já durante o processo performativo, como foi o figurino, as luzes e as gravações no estúdio de som.

Fui o agente principal na fase de criação complementar, na qualidade de bailarina- coreógrafa. A meu cargo ficou a criação do ambiente sonoro da obra coreográfica, a gravação da voz off dos poemas, o desenho do figurino e o desenho das luzes. A Mestre de Yoga foi a autora de todos os poemas que são parte integrante da obra coreográfica e contou com a colaboração pontual de uma aluna, especialista em Literaturas Modernas, que fez a revisão da escrita dos poemas. Para fazer o figurino foi necessário recorrer a costureiras, mas o desenho do fato é da minha autoria, portanto a colaboração aconteceu apenas na confeção do fato. Recorri a um técnico de áudio para captar a minha voz na leitura dos poemas que ia utilizar no espetáculo.

Os 20 poemas que compõem a obra coreográfica foram todos escritos pela Mestre de Yoga Judite Duarte entre 2011 e 2015, ou seja, antes e durante o meu processo coreográfico. Quando em 2011 falei com a minha mestre e lhe disse que gostaria de fazer um espetáculo de Dança e de Yoga que simbolizasse a importância que a prática do Yoga teve na minha vida profissional e pessoal, a mestre sugeriu-me dançar as palavras do Profeta, de Khalil Gibran. É um livro muito bonito e profundo, mas quando iniciei a pesquisa coreográfica no âmbito do doutoramento começou a fazer mais sentido para mim dançar os poemas que a

minha mestre foi escrevendo sobre os ensinamentos que me transmitia durante as aulas particulares de Yoga que eu tinha iniciado em 2008. A organização e ordenação dos poemas foi sempre feita por mim, em função da estrutura coreográfica que idealizei para a obra, ao relacionar os poemas com as 9 palavras/tema que escolhi e com as coreografias que fui compondo. Selecionei 6 poemas da coleção que foi sendo escrita nas sessões particulares de Yoga (antes do início da pesquisa prática), e os restantes 14 poemas foram criados durante o processo coreográfico, entre junho de 2014 e novembro de 2015. O poema inicial foi escrito em junho de 2014, logo no início do processo coreográfico, e o poema final, em março de 2015. O poema/ensinamento sobre a Respiração foi escrito em outubro de 2015 para compor o conjunto de poemas incluídos na versão de 6 minutos apresentada na Aula Magna na conferência TEDxLisboa, no dia 31 de outubro de 2015. Os restantes poemas foram criados em novembro de 2015 para comporem o conjunto de poemas incluídos na versão de 20 minutos apresentada no Auditório do DeCa na conferência Post-ip’15 no dia 9 de dezembro de 2015, e para comporem o conjunto de poemas da versão completa da obra coreográfica.

Logo desde o início do processo coreográfico comecei a conceber também a composição do ambiente sonoro da obra. Trabalhei sempre sozinha, inicialmente pesquisando na internet por sons de natureza open source como água, vento, coração ou respiração e gravando os poemas com o gravador de áudio do meu telemóvel. Editava e compunha todos os sons no programa Adobe CS4 durante os ensaios coreográficos, fazendo assim os ajustes necessários consoante os movimentos que ia criando. Numa fase mais avançada do processo coreográfico tive oportunidade de participar na conferência TEDxLisboa, em outubro de 2015, onde se proporcionou o contacto com a empresa responsável pela produção do evento e que generosamente me deu a oportunidade de fazer o registo áudio dos poemas da obra coreográfica no seu estúdio de gravação. Numa segunda gravação que foi possível fazer em dezembro de 2015, no mesmo estúdio, gravei todos os poemas e textos da obra coreográfica e experimentei gravar também os sons de espanta-espíritos e de taças tibetanas (o meu objetivo era evitar utilizar sons extraídos da internet). Foi possível regressar uma vez mais ao estúdio em março de 2016 onde voltei a gravar todos os poemas e textos, tentando dar mais expressão à voz, por sugestão da minha professora de Yoga, e experimentei gravar mais sons, como os sinos tibetanos, a minha respiração e o batimento do meu coração. Esta última gravação foi muito importante porque permitiu-me utilizar no espetáculo apenas sons produzidos por mim. Esta colaboração do técnico de captação e pós-produção áudio não teve influência direta no meu processo coreográfico ou performativo, mas permitiu-me acelerar o processo de construção definitiva da estrutura sonora da obra.

Relativamente ao figurino, desde o início do processo coreográfico comecei a idealizar um fato completo da cor da pele que evidenciasse a estrutura do corpo. Não consegui encontrar o que queria nas lojas especializadas em roupa de dança e comecei a procurar uma costureira para confecionar o que tinha imaginado. Resolvi que o primeiro fato seria apenas uma experiência para ver se me sentia confortável com um fato todo justo. Comprei uma malha barata e mandei fazer o fato a uma primeira costureira que utilizou um molde pré-existente. O corte não estava adaptado às medidas do meu corpo e foi preciso fazer vários ajustes. A costureira justificou-se com a falta de elasticidade do tecido, mas eu percebi que o problema estava no corte. Este não seria o fato definitivo, mas percebi que a minha ideia ia resultar. Comprei então um tecido com melhor qualidade e mudei para uma costureira que se mostrou mais recetiva a escutar a minha opinião. Infelizmente, este fato também não ficou bem, mas por razões diferentes. O tecido não resultou e as costuras do peito podiam ter sido evitadas. Decidi fazer um 3º fato com um tecido idêntico ao primeiro que comprei e regressei à primeira costureira. Apesar de comunicar melhor com a segunda costureira percebi que a primeira tinha mais experiência com este tipo de fatos e era mais rápida. Pensei que podia tentar comunicar melhor e com alguma sorte iria conseguir que tivessem em conta o meu parecer. O fato ficou suficientemente apresentável para poder dançar com ele, mas continuava com o mesmo erro de corte do primeiro. Não desisti e resolvi procurar outra costureira. Por indicação da minha Mestre de Yoga encontrei uma senhora com a qual foi possível dialogar e que confirmou as minhas suposições relativas aos erros que era necessário corrigir. Esta costureira fez o fato num dia e fiquei com um figurino bem confecionado e adequado ao meu corpo.

Quanto ao desenho de luzes para o espetáculo, apesar de ter idealizado um espetáculo despojado, sem cenário, com um figurino simples, sem grandes produções, pensei, logo desde o início do processo, que podia trabalhar as luzes de forma a criar uma ambiência um pouco mais elaborada. Tinha previsto que talvez pudesse fazer uma curta residência artística num teatro e trabalhar em colaboração com o técnico de luz para criar um desenho de luzes para o espetáculo, mas esta situação não se proporcionou e tive de trabalhar sozinha para encontrar alternativas. E a solução que encontrei foi simples. Comprei 3 projetores de luz e fiz algumas experiências em estúdio para decidir como e onde poderia utilizar este material. Coloquei os 3 projetores na frente do palco, um ao centro, outro à direita e outro à esquerda, criando 3 sombras projetadas na parede do fundo, no entanto a obra pode adaptar-se a diferentes tipos de espaços e funciona bem com a luz natural do dia, sem necessidade de recorrer aos projetores.