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Coletânea de material para a pesquisa

4 DO COTIDIANO PARA A CIÊNCIA: TRAJETÓRIAS PARA TORNAR O LINCHAMENTO

4.1 Coletânea de material para a pesquisa

Mesmo antes de definir o objeto desta pesquisa, estava sempre atenta às práticas dos internautas nas redes sociais. Percebendo que as pessoas passavam muitas horas conectadas, sobretudo pelo uso constante de aparelho celular, resolvi buscar nas estatísticas (quadro 1) uma compravação. Obtendo resposta positiva, decidi que era sobre aquele meio que queria investigar.

A opção pelo “lichamento virtual” surgiu com um fato que causou comoção nacional: uma mulher morrera vítima de linchamento que teria sido incitado nas redes sociais. Isso nos levou a alguns questionamentos sobre a tecnologia e a virtualidade nas relações socias contemporâneas.

Trouxemos este caso pelo fato de ele ter virado referência quando se fala em “linchamento virtual” no Brasil. Talvez pelo fato desse episódio retratar um lichamento físico, mas com estopim na Internet. Tornou-se popularmente conhecido por sua ampla divulgação nas mídias, tais como: telejornais, jornais impressos ou on-lines e em redes sociais (destas destacamos alguns trechos que estão presentes neste trabalho).

Além disso, na academia diversas áreas – Publicidade e Propaganda61; Linguística62; Direito63 - trouxeram esse caso à tona para discussões importantes, das quais também nos apropriamos a leitura para compor esta pesquisa.

61 DE SOUSA, L. N.; DOURADO, P. H. C. Br.; MARTINS FILHO, T. B.. Guarujá Alerta: A influência das redes sociais na

Formação de Multidões.

62 DE BARROS, D. L. P. O Discurso Intolerante na Internet: Enunciação e Interação. Disponível em: <

http://www.mundoalfal.org/>. Acesso em: 04 out, 2015.

63 DE SOUZA FURTADO, L.; JUNIOR, W. F.. O Linchamento de Guarujá e a Violência Mimética De René Girard.

Disponível em: < http://www.revistaiurisprudentia.com.br/>. Acesso em: 04 out, 2015 e; CUNHA, R. S.; DOS SANTOS, M. A. M.. Violência Simbólica nas Redes Sociais: Incitação à Violência Coletiva (Linchamento). In: Anais do VII Congresso Brasileiro de Direito da Sociedade da Informação, p. 10-22, 2014.

Isso fortificou nosso embasamento por uma abordagem interdisciplinar, já que se tratava de um problema complexo e que não seria totalmente esclarecido por apenas um campo do conhecimento.

Definido o objeto, passou-se a procurar por episódios semelhantes tanto na mídia eletrônica como em artigos científicos. Fazendo uma busca pela Internet usando a palavra- chave “linchamento virtual” chegamos a algumas matérias on-line, tais como: “ Linchamentos Virtuais”64; “A vida por um tuíte”65; “Vai um linchamento aí, freguesa?”66, “Justiça pelas

próprias mãos: o chocante linchamento virtual num site feminista”67. Dessas matérias, retiramos os casos 1, 4 e 6 (na ordem: Justine Sacco, Alícia Lynch e denúnica de agressão em blog feminista).

Pela maioria delas retratar, dentre outras histórias, a de Justine Sacco, entendemos a popularidade do caso e sua forte ligação com o termo estudado: a partir desse conjunto de materiais, a história de Justine tornou-se uma referência relevante quando o assunto é o “linchamento virtual”, por isso o trouxemos para esta Dissertação.

Esse caso relatado é um dos muitos casos de humilhação pública nas redes sociais descritos por Ronson em seu livro, que teve uma versão em Português lançada no Brasil em 201568, o que facilitou o acesso aos dados (entrevista, tuítes) e, consequentemente, um entendimento melhor sobre o fenômeno em si. A escolha desse epiódio perante os outros do livro é devido a sua popularidade no Brasil e nos Estados Unidos, provavelmente pela dimensão que tomou a publicação.

Outros casos foram aparecendo no decorrer da pesquisa e foram armazenados em um arquivo texto.

A escolha de quais casos trazer para esta pesquisa, aconteceu durante a escrita em que cada parte da teoria remetia a lembrança de um caso específico. Por exemplo, o caso 7 (enfermeira) é de publicação mais localizadas, porém é representativo de um tipo de episódio recorrente nas redes sociais.

64 Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/03/27/tecnologia/1427463790_681602.html>. Acesso em: 01 abr,

2015.

65 Disponível em: <http://www.com.ufv.br/cibercultura/a-vida-por-um-tuite/>. Acesso em: 01 abr, 2015.

66 Disponível em: <http://entretenimento.r7.com/blogs/andre-barcinski/vai-um-linchamento-ai-freguesa-20150323/>. Acesso

em: 01 abr, 2015.

67 Disponível em: < http://www.diariodocentrodomundo.com.br/justica-pelas-proprias-maos-o-chocante-linchamento-virtual-

num-site/>. Acesso em: 26 mar 2105.

Quando tínhamos de fazer escolha, por termos mais de um que se enquadrava no perfil desejado, optávamos pelo caso que teve maior repercursão, que “viralizou” nas redes sociais e/ou trouxe mais discussão nas mídias eletrônicas, como os casos 5 e 8 (Fabíola e Idelber Avelar, respectivamente), sendo que este foi sugestão da banca examinadora da Qualificação. Assim, buscando em várias notícias, pudemos ter acesso às republicações das postagens originais, além de ter contato com diversas opiniões, o que enriqueceu o debate de ideias e as reflexões inerentes a esta pesquisa.

No entanto, surgiram algumas dificuldades no caminho. Primeiramente, as postagens no Facebook podem ser excluídas. Por exemplo, dois meses após o linchamento no Guarujá, em julho de 2014, foi procurada, porém não foi encontrada a suposta notícia inicial na página “Guarujá Alerta”, a qual exibia um retrato falado, que teria dado início ao boato. Posteriormente, conseguimos recuperar a imagem pelo Google.

Também foi buscado no Facebook pela chave “#sequestradora”, porém nenhuma ocorrência foi exibida, sendo que a época da notícia do linchamento (maio de 2014) ainda era possível localizar postagens que mencionavam o caso com essa hastag. Como esse caso passou a ser investigado pela polícia, leva-nos a crer que muitos usuários tenham excluído essas postagens com receio de serem interrogados. A ferramenta de busca pela hashtag também se mostrou muito eficiente para encontrarmos outros casos.

Surgiu então um novo entrave: depois de algum tempo os jornais on-line disponibilizam a notícia apenas para assinantes. Dessa maneira, guardar somente o link da notícia não nos propiciaria uma recuperação futura. A solução encontrada foi gerar um arquivo em formato texto (PDF) da página da notícia, para que fosse recuperada posteriormente.

Para os casos em que já não era possível localizar as postagens nas redes sociais, recorreu-se ao site de busca Google a fim de recuperar principalmente as imagens para ilustrarmos este trabalho.

Sobre os artigos científicos, a maior dificuldade foi as inúmeras denominações para o fenômeno, conforme descrito no capítulo dois. A busca pelo termo “linchamento virtual” não foi muito eficaz no Google Acadêmico, visto que esta é uma denominação da mídia. Então, fizemos busca com outros termos, como “Facebook”, “redes sociais”, “humilhação on-line”, “discurso de ódio” e em inglês: cyberbullying, flaming, publicly

shamed, social networks, virtual lynching. Após uma leitura prévia, separamos os artigos que

mais se relacionavam com os casos desta pesquisa.

No entanto, episódios de linchamentos virtuais ainda são uma constante nas redes sociais e é impossível mapearmos todos, principalmente se: (i) não aparecerem na linha do tempo da rede social da autora e; (ii) não forem divulgados na mídia.

Posteriormente, criamos um blog: Linchamentos Virtuais (https://linchamentosvirtuais.wordpress.com) com a plataforma Wordpress (disponível gratuitamente on-line). O intuito do blog foi reunir os casos de linchamentos virtuais coletados para esta pesquisa tanto os que utilizamos neste trabalho, como os outros que não estão presentes aqui.

Com o conjunto de casos no blog, teremos uma base de dados on-line, mesmo que singela, e isso permitirá interagir com estudiosos de diversas áreas, bem como internautas que se identifiquem com os casos. Além disso, ela poderá ser muito útil em trabalhos futuros, como artigos científicos e pesquisa de Doutorado.

A inspiração em usar a imagem da postagem do blog para ilustrar os casos nesta Dissertação veio do livro “Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e subjetividade” (BRUNO, 2013).

As imagens QR-Code que ligam os casos desta Dissertação à publicação do blog foram criadas com o aplicativo QR-Code Genarator69, disponível gratuitamente on-line.