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Liberdade de expressão e dignidade da pessoa humana: embate de direitos fundamentais

3 A INTENSA PRESENÇA DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA

3.4 Liberdade e controle: intervenções do poder jurídico

3.4.2 Liberdade de expressão e dignidade da pessoa humana: embate de direitos fundamentais

As pessoas acreditam piedosamente que o Facebook além de democrático é o palco perfeito para se exercer o direito à “liberdade de expressão”. Por isso, postam facilmente informações sobre sua vida pessoal e pensamentos (opiniões que muitas vezes são ecos de outros discursos, como da Igreja, do Estado, de associações, etc.).

Além disso, o que percebemos com a coletânea de material para essa pesquisa é que em alguns casos em que se expôs a pessoa publicamente nas redes sociais, foi no sentido de denúncia e, assim, de se tentar fazer justiça por alguma transgressão que ela tenha praticado. Muito semelhante aos casos de justiçamento com as próprias mãos, nos casos de linchamentos físicos. Se as pessoas que cometeram qualquer um dos tipos de linchamento, forem interrogadas, afirmarão que tiveram um bom motivo para fazê-lo.

Por outro prisma, grupos minoritários e excluídos da sociedade encontram nas redes sociais, sobretudo no Facebook, o mais popular entre os brasileiros, um potente instrumento de divulgação e denúncia, pois acreditam que assim estariam alertando possíveis vítimas ou ainda fazendo com que a punição tenha efeito imediato (casos: 1, 6, 7 e 8).

Mesmo consideradas injustas e demoradas são as leis do Estado que prevalecem e cabe ao poder judiciário definir vítimas e culpados. No âmbito dos casos da Internet, os juízes de direito terão de avaliar caso a caso, pois há uma linha muito tênue entre esses dois direitos fundamentais, que apresentaremos a seguir: liberdade de expressão e a dignidade da pessoa humana, que se atacada, configura-se em crime.

A liberdade de expressão é um direito previsto na Constituição Federal53, artigo 5º, que assegura o indivíduo da censura:

IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, art. 5º).

Também está descrita na Declaração Universal dos Direitos Humanos:

Artigo 19. Todo indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão54 (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1948,

art. 19).

No direito à liberdade de expressão inclui-se notícias sobre fatos, propaganda de ideias, opiniões, comentários, convicções, avaliações ou julgamentos sobre qualquer assunto, enfim, de qualquer forma de comunicação. A liberdade de expressão engloba também o direito da pessoa não se expressar (ou não se informar), manifestações não-verbais (como artes plásticas) e expressões musicais. No entanto, ela não pode estar em confronto com outros direitos fundamentais estabelecidos na Constituição Federal.

O caráter de direito fundamental atribuído à liberdade de expressão tem por finalidade impedir que as ideias e mensagens que o indivíduo queira divulgar tenham de perpassar por uma aprovação do Estado, isto é, pela censura, o que não impede, todavia, que o indivíduo assuma as consequências cíveis ou penais do que tenha expressado. Portanto, essa lei é exercida contra as interferências do poder público.

Contudo, o problema em questão levantado por esta pesquisa trata-se de ataques a pessoas comuns por pessoas comuns. Nesse caso, em relação a particulares, o direito à liberdade de expressão, deverá ser analisado caso a caso, ponderando o interesse das partes.

Ressalta-se, contudo, que a liberdade de expressão, como qualquer outro direito fundamental, não é ilimitada e, “ portanto, poderá sofrer recuo quando o seu conteúdo puser em risco uma educação democrática, livre de ódios preconceituosos e fundada no superior valor intrínseco de todo ser humano” (MENDES e BRANCO, 2014, p. 459). É preciso considerar que há outros direitos fundamentais na Constituição brasileira, no mesmo grau de importância, que devem ser respeitados.

Na própria Constituição, em seu artigo 220, há uma ressalva para a manifestação livre do pensamento, criação, expressão e informação, em observância aos outros preceitos do artigo 5º. Assim, a liberdade de expressão poderá ser limitada para: (i) impedir o anonimato; (ii) impor direito de resposta e indenização por danos materiais, morais e à imagem; (iii) manter a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e imagem das pessoas; (iv)

exigir qualificação profissional daqueles que lidam com os meios de comunicação como ofício; (v) assegurar a todos o acesso à informação (FURTADO, 2015, p. 26).

Quando se trata de criança e adolescente, Mendes e Branco (2014) afirmam ser dever do Estado e da sociedade assegurar-lhes o direito à vida, à educação, à dignidade, sobrepondo, portanto, a qualquer liberdade de expressão que agrida a esses direitos:

A liberdade de expressão, num contexto que estimule a violência e exponha à juventude à exploração de toda sorte, inclusive a comercial, tende a ceder o valor prima facie prioritário da infância e da adolescência (MENDES e BRANCO, 2014, p. 459).

Ainda nesse contexo, o Estatuto da Criança e do Adolescente recebeu adequação quanto à Internet, pela Lei nº 11.829, de 2008, que prevê:

Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa (BRASIL. Lei 11.829, 2008, art. 241-A).

A liberdade de expressão tem uma forte relação com a democracia, sendo um dos alicerces do Estado Democrático de Direito55. Para Vieira (2012 apud FURTADO, 2015), a

inauguração de um modelo liberal de organização ampliou as concepções dos direitos fundamentais do homem e a liberdade de expressão tornou-se pressuposto para exercício desses direitos.

[...] transpondo os discursos para o campo jurídico é que as questões envolvendo liberdade de expressão se fazem tão importantes. Elas se ligam diretamente ao quão democrático é um Estado e qual o tamanho da noção igualitária que os cidadãos de uma sociedade detêm (VIEIRA, 2012 apud FURTADO, 2015, p. 28).

Embora seja um princípio democrático, há casos em que a liberdade de expressão apareça mais como um abuso do meio de comunicação sem dar as mesmas chances de respostas aos citados. Como exemplo, Furtado (2015) cita em seu trabalho o discurso da jornalista Rachel Sheherazade, no jornal do SBT, em fevereiro de 2014: após noticiar que um

55 Estado Democrático de Direito: organização política em que o poder emana do povo, que o exerce diretamente, ou por

meio de representantes, escolhidos em eleições livres e periódicas, mediante sufrágio universal e voto direto e secreto, para o exercício de mandatos periódicos” FERREIRA FILHO, M G. apud VIEIRA, H. L. A liberdade de expressão e os discursos de humor: a democracia é bem humorada? In: BRANCO, P. G. G. (Org) A liberdade de expressão na jurisprudência do STF. 1 ed. Brasília: IDP, 2012, p. 100.

jovem fora amarrado nu a um poste, por ter cometido alguns furtos na região e sofrido agressões de “justiceiros”, a jornalista disse ser compreensível a atitude da população56.

Após esse episódio, segundo uma matéria do jornal Folha de S. Paulo57, houve um aumento dos casos de “justiça com as próprias mãos”, que desrespeitam princípios como o da dignidade da pessoa humana, do contraditório e da ampla defesa.

Esse episódio retratado por Furtado (2015) cruza com os estudos desta pesquisa. Na época em que Fabiane foi linchada pela população do Guarujá (maio de 2014), o jornal Folha de S. Paulo publicou a notícia em sua página no Facebook. Vários usuários faziam referência a esse comentário de Sheherazade, como sendo um dos fatores que motivou a ação dos linchadores; outros, todavia, afirmavam que houve má interpretação de texto sobre o que realmente a jornalista quis dizer. Retratamos abaixo alguns desses comentários, mantendo o anonimato:

Internauta M: “Adotem um “justiceiro” agora. Bando de animal”. Internauta N: “isso que dá bater palmas pra Rachel Sheherazade”.

Internauta O: “isso que dá não saber interpretar textos e ir na onda do oba oba né cara. A jornalista NUNCA disse que fazer justiça com as próprias mãos é uma coisa certa. Ela disse que é compreensível que em um país onde reina a impunidade e as leis só protegem os bandidos, algumas pessoas acabam perdendo a cabeça e tentem fazer esses atos, que logicamente são errados, ninguém deve fazer justiça com as próprias mãos...”.

Internauta P: “pura falta de interpretação de texto... A grande Rachel Sheherazade nunca defendeu a violência e, sim, a ausência do Estado nessas situações”. (FACEBOOK, maio de 2014).

A falta de consenso entre os internautas mostra que alguns telespectadores podem realmente ter interpretado o comentário da jornalista como incentivação aos justiçamentos populares, já que o Estado não cumpre com a sua função corretamente, mesmo que, talvez, não tenha sido examente essa a intenção de Rachel.

Isso requer uma certa cautela da grande mídia, já que por não estar apenas nos jornais impressos ou na televisão, mas também na Internet, implica um alcance muito maior. Quem não assistiu ao jornal do SBT naquele dia, poderia ver e rever quantas vezes quisesse e de onde estivesse o vídeo com a reportagem e o comentário da jornalista. Igualmente, o vídeo

56 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=gTOaznW4EcE&feature=youtu.be>. Acesso em: 08 mai, 2014. 57 Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/153091-com-as-proprias-maos.shtml>. Acesso em 15, mai

sobre o linchamento no Guarujá, filmado por algum participante ou expectador, foi disponibilizado na Internet, inclusive reproduzido pela Folha de S. Paulo no Facebook.

Pelo exposto, esse caso serve para a ilustrar que a liberdade de expressão, principalmente das grandes mídias, por ser democrática, não deve prevalecer a interesses individuais, mas sim, se preocupar com a coletividade e com os grupos mais vulneráveis econômica e socialmente (FURTADO, 2015).

É inegável que a liberdade de expressão melhora as perspectivas da democracia, bem como quanto mais democracia, mais espaço para a liberdade de expressão. No entanto, “talvez a liberdade de expressão gere perigos para a democracia. É possível, por outro lado, que a democracia, alguma vezes, ponha em risco a liberdade de expressão” (MICHELMAN58

apud FURTADO, 2015, p. 40).

Os perigos que a liberdade de expressão pode acarretar à democracia, referem-se à violência simbólica (por meio de discursos) ou incitação à violência física à determinda pessoa ou a grupo de pessoas. Seria preciso, então, impor limites a esses discursos?

As redes sociais têm sido território fértil de denúncias e acusações, o que tem fomentado os linchamentos virtuais, que se caracterizam por publicação de uma foto, vídeo, ou mesmo de uma publicação de outro usuário, acompanhada de acusações e, assim, ganha

status de verdade, mesmo podendo ser um remixing. O intuito desse tipo de publicação é criar

ira na massa e, consequentemente, desencadear uma onda de moralismo e prejulgamentos. Entretanto, sem levarem em conta o grande alcance desse meio computacional, ao incitarem a violência, também poderão ocasionar danos concretos à vítima.

Num caso de linchamento virtual, a luz do Direito, há vários crimes que podem ser configurados, tais como: discurso de ódio, incitação à violência, injúria, violação da intimidade. Vimos no caso 5, sob a análise jurídica, os crimes pelos quais o marido pode responder. No caso 8 (a seguir), o professor também entrou com uma ação criminal contra todos os blogs e postagens que citaram o nome dele remetendo ao episódio.

O discurso de ódio, já conceituado no capítulo 2, constitui-se em crime, pois fere a dignidade da pessoa humana, direito fundamental estabelecido no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal brasileira, de 1988:

58 MICHELMAN, F. I. Relações entre democracia e liberdade de expressão: discussão de alguns argumentos. Tradução:

Marcelo Fensterseifer e Tiago Fensterseifer. In: SARLET, I. W. (org) Direitos fundamentais: informática e comunicação: algumas aproximações. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2007, p.50.

Art 1.º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Direito Federal, constitui-se como Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania; II – a cidadania;

III – a dignidade da pessoa humana (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, art. 1º).

Além da Constituição Brasileira, está contida, primeiramente, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que é um tratado internacional, firmado em 1948. Para melhor compreensão sobre o que engloba a dignidade da pessoa humana, usaremos o conceito de Sarlet (2007)59:

[...] a dignidade da pessoa humana é a qualidade intrínseca e distinta reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa proteção contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano... (SARLET, 2007 apud SANTOS & CUNHA, 2014, p. 15).

Assim, o Estado existe para servir a pessoa e proteger a dignidade do ser. Para Fiorillo (apud FURTADO, 2015) para respeitar a dignidade, primeiramente o Estado deveria assegurar os direitos sociais, constantes na Constituição, que garantam à pessoa: saúde, educação, segurança, trabalho, previdência social, lazer, assistência aos desamparados, manutenção de meio ambiente, proteção à maternidade e à infância.

Além do poder público, Sarlet (2007 apud SANTOS & CUNHA, 2014) afirma que mesmo a pessoa não se comportando de modo digno, todas são iguais em dignidade e, portanto, é dever dos indivíduos respeitar reciprocamente a dignidade de cada um. Nessa direção, Nunes60 (2010 apud FURTADO, 2015) é enfático ao afirmar que a dignidade é o primeiro fundamento de todo o sistema constitucional e deve servir como primeiro comando do intérprete.

Deve-se analisar o princípio da dignidade da pessoa humana levando-se em consideração aspectos como social, político, religioso e outros relacionados ao acontecimento, pois no mundo contemporâneo há cenários distintos e complexos. Pode haver ainda, casos em

59 SARLET, I. W. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. Porto Alegre:

Livraria do Advogado, 2007.

60 NUNES, R. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana: doutrina e jurisprudência. 3 ed. São Paulo: Saraiva,

que duas ou mais dignidades entram em rota conflitiva e ao final do julgamento, uma delas irá prevalecer.

O ataque à dignidade pode ocorrer não somente com um indivíduo, mas de todo um grupo social, como visto no caso 3 (ataque aos nordestinos e a todos os eleitores de Dilma) e na figura 1 (ataque aos negros na pessoa da Maju). Assim, há vitimização difusa, pois o vitimado teve sua dignidade violada ao pertencer ao grupo discriminado. Ressalta-se ainda que todos aqueles que compartilharam do discurso do ódio podem ser enquadrados na violação da dignidade da pessoa humana.

Santos e Cunha (2014) citam como possíveis estímulos ao discurso de ódio, considerando o ambiente virtual: o individualismo como responsável pela intolerância, uma sociabilidade peculiar desse ambiente e a aparente possibilidade de anonimato. A intolerância tem gerado um sentimento de banir o outro diferente da sociedade. No entanto, é um tipo de atitude, que talvez jamais fariam sozinhas e, por isso, compartilham em redes para formarem grupos. A ideologia do grupo fortalece a coragem da pessoa em expor seu discurso de ódio, na esperança da não identificação dos autores. No contexto virtual, os usuários podem até se esconderem na massa eufórica ou criarem fakes, mas isso não impede a identificação pela polícia e a devida aplicação da lei.

Atualmente, a justiça pode ser acionada por alguém que se sentiu lesado com as publicações, como em situações de injúria, preconceito, difamação. Engana-se quem pensa em despistar a polícia, excluindo a mensagem, pois alguém já pode ter: compartilhado; utilizado o comando printscreen - que serve para capturar a tela; ou mesmo localizado pelos

sites de busca. Além disso, todo dispositivo ligado a Internet possui um endereço, o IP, que

também pode ser rastreado.

Não só o discurso de ódio se constitui em crime como a maneira como isso é posto em rede pode-se caracterizar em incitação à violência e culminar em outros crimes. Então, faz-se necessário também analisarmos aqui a incitação à violência no âmbito legal. Como violência define-se:

do latim violentia e é conceituada como constrangimento físico ou moral, qualquer força material ou moral empregada contra a vontade ou a liberdade de uma pessoa [...] um produto das relações históricas de dominação nos espaços sociais, que passa a residir também nos espaços online (SANTOS & CUNHA, 2014, p. 12).

Conforme esses autores, incitar violência constitui crime e tal é previsto no artigo nº 286 do Código Penal, classificado como crime contra a paz pública. Há, ainda, na Lei nº 7.716, art. 20, 1989, a definição dos crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional e cria uma qualificação para os crimes cometidos por intermédio de meios de comunicação social. Como não há uma regulamentação específica, pode-se incluir nesses meios não só as redes sociais como toda a Internet.

As redes sociais on-line possibilitam e pontencializam os linchamentos morais, que são geradores de uma ideologia de destruição a grupos e formadores de estereótipos e estigmas que incitam à violência. Sendo assim, as redes sociais são ao mesmo tempo formadora, propagadora e objeto final da violência. Lembrando que essa violência pode se tornar física, pois os comportamentos das pessoas se misturam entre o mundo virtual e o mundo atual.

Sendo assim, “a partir do momento em que o indivíduo inicia um agrupamento de pessoas objetivando atos de violência virtual, não se trata do exercício de liberdade de expressão e sim em conduta ilícita” (SANTOS & CUNHA, 2014, p. 18). Mendes e Branco (2014), contrabalanceando discurso de ódio e liberdade de expressão também afirmam: “a contumaz desqualificação que o discurso de ódio provoca tende a reduzir a autoridade dessas vítimas nas discussões de que participam, ferindo a finalidade democrática que inspira a liberdade de expressão” (p. 462). Furtado (2015), em sua pesquisa afirma que liberdade de expressão, não pode ser exercida se ferir a dignidade humana de outrem. Para esses autores, portanto, os linchamentos virtuais, por conterem discurso de ódio e incitação à violência física ou moral, não são respaldados pela liberdade de expressão.

Entretanto, Santos e Cunha (2014) afirmam ainda que é preciso analisar os casos com cautela e ponderação para evitar quaisquer atos que se aproximem mais de uma simples censura, abolida nos Estados Democráticos, do que realmente a violação de qualquer princípio.

Conclui-se, portanto, que há um paradoxo perturbador ao discursar em redes on-

line de relacionamento, pois “o internauta tem direito a liberdade de expressão, mas deve

respeitar o princípio da dignidade da pessoa humana, haja vista que inexiste hierarquia entre os direitos fundamentais” (SANTOS E CUNHA, 2014, p. 16).

Para reforçar esse caráter paradoxal, trouxemos o caso 8, elecando os argumentos dos dois lados: (i) a liberdade de expressão requerida pelas mulheres, que veem na Internet um instrumento de autodefesa e um meio de reunir pessoas que tiveram experiências semelhantes ou que simplesmente estão lá para apoiá-las, dando um basta a certos tipos de abusos; (ii) o desrespeito à dignidade do professor, como ser humano, ao expor suas conversas privadas na rede mundial de computadores, já o sentenciando como culpado.

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