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Colonização e povoamento

No documento Historia Do Rio Grande Do Norte (páginas 46-53)

CAPÍTULO II – RIO GRANDE DO NORTE: DA ORIGEM À COLONIZAÇÃO

3. Colonização e povoamento

 Após a fundação de Natal, as autoridades da capitania começaram a tomar providências com a nalidade de desenvolvê-la economicamente. A colonização da capitania, no início do século XVII, praticamente restringia-se à área litorânea próxima a Natal. A capitania destacava-se como núcleo de defesa militar contra a persistente ameaça francesa, visto a sua presença no Maranhão.  Assim, quase nenhuma política de povoamento foi levada à frente.

Ao completar quinze anos de vida, “a Cidade do Natal do Rio Grande tinha maior nome que número de moradas”. Eram 12 casas ao todo. Foi o Capitão-mor João Rodrigues Colaço, substituto de Jerônimo de Albuquerque, que começou uma política de concessão de sesmarias, objetivando o povoamento, bem como o desenvolvimento econômico da capitania. Tal política foi seguida pelo seu sucessor Jerônimo de Albuquerque, pela segunda vez Capitão-mor do Rio Grande.

O historiador maior da cidade, Câmara Cascudo diz terem sido os primeiros 34 anos da cidade “lentos, difíceis, paupérrimos”. Ao rei interessava “a situação estratégica, o ponto militar de defensão territorial”. Natal era cidade “apenas no nome”, com uma “capelinha de taipa forrada de

palhas e os moradores (...) espalhados nos sítios ao redor, plantando roças, caçando, colhendo frutos nos tabuleiros, pouca criação de gado que se desenvolveria vertiginosamente a ponto de ter  20.000 cabeças em 1633, e as pescarias, de anzol, rede e curral” (1999, p. 58). Medeiros Filho, baseando-se no mapa elaborado por João Teixeira Albernaz, cosmógrafo do rei de Portugal, faz uma descrição detalhada de Natal no início do século XVII. Segundo ele, nas proximidades do 17º GAC, às margens do rio Potengi, existiam três casas “de um pescador francês” e, já próximo ao “Canto do Mangue encontravam-se as quatro casas de Gaspar de Magalhães”. Passando o riacho que vinha da Lagoa do Jacó, “cujo despejo ocorre no chamado Canto do Mangue, há referências a ‘Casas de Mangues’”.

O espaço hoje correspondente à praça Augusto Severo, no bairro da Ribeira, aparece sob a denominação de “Campina Rasa”, limitado por dois riachos paralelos, auentes do Potengi.

No local adjacente à praça André de Albuquerque acha-se representada a CIDADE, na qual havia 14 edicações. Já se tem idéia da futura rua Santo  Antônio (antigamente, o Caminho do Rio de Beber Água), àquela época com

4 casas. A primitiva igreja, ocupando o mesmo local da atual Matriz de N. S. da Apresentação, tinha como vizinhas 2 casas, que se lhe seguiam em direção àquele rio de beber.Defronte à matriz, já havia o início de um dos lados da atual praça André de Albuquerque, com apenas 4 edicações; uma delas, certamente, a Casa da Câmara e Cadeia. Tal rua receberia o nome Rua da Cadeia. Por detrás da mesma, na atual rua Presidente Passos, duas casas. Finalmente, ocupando terreno hoje correspondente à rua Passo da Pátria, uma casa isolada.

Natal contava (...) [com] quatorze construções na Cidade Alta e sete na Ribeira. Segundo o Auto de Repartição das Terras da Capitania do Rio Grande (21.02.1614), existiam doze casas em Natal, no sítio que fora assinalado para sua fundação. Excetuando-se os dois prédios correspondentes à igreja e à Casa da Câmara, existiam na Cidade Alta doze residências (...).

Depois da Cidade [há referências] ao “Ribeiro de água doce, de que bebe a cidade”. Trata-se do atual Rio do Baldo, cujas águas serviam à população natalense até o início do deste século. O mesmo provém da atual Lagoa de Manuel Felipe, no Tirol (2001, p. 77-78).26

Para o interior da capitania existiam alguns poucos engenhos, entre os quais destacamos Cunhaú, Uruaçu e Ferreiro Torto, nos atuais municípios de Canguaretama, São Gonçalo do  Amarante e Macaíba, respectivamente, sendo Cunhaú o mais importante entre eles. As terras do

engenho de Cunhaú coube à capitania do Rio Grande quando, em 1611, foi feita a demarcação com a Capitania do Sul. À Paraíba coube o engenho de Camaratuba e ao Rio Grande, o de Cunhaú, com a divisa estabelecida no rio Guaju (CASCUDO, 1999, p. 59). A data e a sesmaria, porém, só estão estabelecidas a partir de 21 de fevereiro de 1614, conforme registra Olavo de Medeiros Filho no seu livro sobre o Engenho de Cunhaú (1993, p. 7).

As duas principais sesmarias do Rio Grande, na primeira metade do século XVII, foram, segundo Monteiro (2000, p. 34-35), as do vale do rio Cunhaú, concessão feita por Jerônimo de  Albuquerque a seus lhos, e a concessão de terras aos jesuítas, em 1603, próxima à Povoação dos

Reis. Olavo de Medeiros, no prefácio do livro História de Santos Reis: a capela e o bairro, de José Melquíades (1999, p. 17), arma que, em 30 de março de 1602, “João Rodrigues Colaço concedeu a Manuel Rodrigues e Antônio Freire, cunhados, um porto de pescaria junto à fortaleza ‘desde

o Recife até o riacho primeiro’”, concessão depois transferida pelo Governador-Geral Gaspar de Souza “à serventia dos soldados da fortaleza, que nele passaram a pescar com rede”.27

 A política de concessão desenfreada de sesmarias provocou uma onda de queixas e reclamações, que ecoaram em Lisboa e determinaram uma série de medidas, ordenadas pela Metrópole em provisão de 28 de setembro de 1612, para regularizar a situação.

Do cumprimento desta obrigação foram incumbidos Alexandre Moura e Manuel Pinto Rocha, respectivamente Capitão-mor e Ouvidor de Pernambuco, que chegaram aqui em fevereiro de 1614, e lavraram um ato de repartição de terras públicas, de 14 de fevereiro, conrmando ou revogando as concessões feitas anteriormente. Governava a capitania o capitão-mor Francisco Caldeira Castelo, futuro fundador da cidade do Presépio de Belém do Grão Pará (CASCUDO, 1999, p. 59).

E a capitania praticamente vegetava. Não passava de 80 o número de homens brancos moradores do Rio Grande. Quase todos ociais e praças da Fortaleza dos Reis, sem suas famílias. Nos arredores alguns pescadores e roceiros (MOURA, 1986, p. 78). Nem toda terra se prestava do cultivo da cana-de-açúcar. Uma costa estreita de 30 a 60 km de largura era destinada a esse m. E uma conseqüência direta da expansão da economia açucareira “foi o quase desprezo pelas atividades acessórias ao modo de vida dos colonos, relegadas ao setor de subsistência”, e o gado “fornecedor de carne ruminante força motriz dos engenhos foi um deles”. O crescimento da renda com a exportação do açúcar fez crescer também “a ocupação dos solos e, destarte, a demanda pelo gado, visto que” todos os que estavam envolvidos na produção de açúcar comporem a “sua dieta à base da carne bovina, e” necessitarem também “da força tracional dos bois para o transporte e a moagem da cana” (MACÊDO, 2005, p. 33). O gado bovino só tomou o interior da capitania na segunda metade do século XVII. Antes disso, o Rio Grande desempenhou um papel primordial na história do Brasil. Como diz Hélio Galvão: “Conquistado o Rio Grande, foram dois os proveitos: afastamento dos corsários e encurtamento das distâncias, um e outro assegurados pela presença da Fortaleza, que servia ao seu destino antes de estar concluída” (1979, p. 71). A Fortaleza dos Santos Reis, ainda por acabar, oferecia uma segura base de apoio para a expansão colonial. De Natal, partiram as expedições que conquistaram o Ceará, o Maranhão e o Pará, comandadas por Martim Soares Moreno, Jerônimo de Albuquerque e Francisco Caldeira Castelo Branco, respectivamente. Raul Valença Costa (apud MEDEIROS, 1985, p. 142) destaca essa característica de primordial importância: “Em todo o curso da sua história, assinalamos a inuência marcante dos fatores geográcos. Em todas as épocas, o Rio Grande do Norte tem sido sensível às inuências exteriores decorrentes do cenário internacional, variáveis com o momento histórico que as caracteriza”. Encurtando as distâncias e aproximando a história, Natal e a Fortaleza do Rio Grande tiveram “a mesma função que viria a ter o Aeroporto de Parnamirim na Segunda Guerra Mundial”, demonstrando a singularidade que o destino e a geograa reservaram a Natal, como plataforma de lançamento “para a Conquista do Norte, integrando-o na comunidade nacional que se formava. Base para a travessia transoceânica, quando a navegação aérea apenas se iniciava. A ligação Europa-América somente foi possível pela via Dakar-Natal, o famoso estreito de Dakar (...) e “na II Guerra Mundial, plataforma logística que permitiu às forças norte-americanas a presença decisiva nas diversas frentes do teatro de operações e o patrulhamento do Atlântico Norte” (GALVÃO, 1979, p. 71-72). Manuel Correia de Andrade (1981, p. 17) chega a armar que a ocupação “do espaço norte-rio-grandense não preencheu uma nalidade em si mesma, de vez que esta porção do território nordestino, após a fundação da cidade de Natal, foi transformada em ponto de apoio da expansão para o Oeste”. O governo luso-brasileiro estava, no início do século XVII, preocupado com “a expansão para além do São Roque e sobre ela emitiu opiniões muito criteriosas” (CAPISTRANO DE ABREU, apud GALVÃO, 1979, p. 72).

27Segundo Olavo de Medeiros, em prefácio à obra de José Melquíades (1999, p. 17), a sesmaria seria o atual bairro de

Santos Reis, então “marcado pela presença de dunas estéreis e de um riozinho, chamado de ‘riacho primeiro’ no histórico da carta de doação de 1602”.

 A preocupação portuguesa com a presença de agentes de outras nações européias nas suas terras coloniais no Brasil não parou com a conquista do Rio Grande, pois somente o total domínio da região garantiria a posse denitiva da colônia, visto que as capitanias do Maranhão e do Amazonas e Grão-Pará eram tão vulneráveis aos ataques estrangeiros por mar quanto as capitanias do leste (...). A continuidade da conquista, agora em direção ao norte, passou então a contar com a presença de soldados portugueses seguros no Forte dos Reis Magos como um posto avançado, que garantiria um contingente militar  disponível e melhor posicionado, assim como o repouso e o fornecimento de água e mantimentos para as expedições saídas da Paraíba e Pernambuco (LOPES, 2003, p. 54-55).

Para o Governador-Geral, D. Diogo de Menezes, as informações acerca do que ocorria mais para o norte teriam de vir das autoridades do Rio Grande, baseadas na Fortaleza dos Santos Reis, pois aquela era a localidade mais próxima, mais segura e mais credenciada para informar  da presença francesa ou do estado de ânimo dos índios. A missão foi dada ao capitão Diogo de Campos Moreno, jovem ocial, “que além do conhecimento próprio, tinha aqui a serviço, identicado com os índios, um sobrinho ilustre e bravo, Tenente Martim Soares Moreno”. Desde logo, Diogo Campos compreendeu a importância política e estratégica da Fortaleza dos Santos Reis, divisando as diversas funções que ela desempenharia: “afastamento denitivo dos franceses, abrigo para navios desgarrados, posto avançado para as jornadas do norte, além daquela que parecia ser a única: sentinela da Barra do Rio Grande” (GALVÃO, 1979, p. 72-73).28

 A conquista do Ceará foi empresa demorada e incerta, iniciada em 1603 e concluída somente em 1612, e teve em Martim Soares Moreno o seu mais destacado militante (HOLLANDA, 1989, p. 198-202). A conquista do Ceará foi uma preliminar para a conquista do Maranhão. Da Fortaleza dos Santos Reis partiu “Martim Soares Moreno, Padre Baltazar e seis soldados para a conquista e fundar o Forte do Amparo”. Na verdade a missão de Soares Moreno foi o complemento daquela iniciada pelos padres Francisco Pinto e Luís Figueira na serra da Ibiapaba. A malograda missão da Ibiapaba foi selada de forma sangrenta, com o martírio do padre Francisco Pinto. Foi um dos fracassos portugueses no Ceará e no Maranhão. Os outros dois foram de Pero Lopes de Sousa e de Martim Soares Moreno. Fracasso, no dizer de Seram Leite, no intento de chegar ao Maranhão, mas sucesso se se pensar na experiência que cou – conhecimento das terras e dos povos. Foram os percalços dos primeiros que permitiram o sucesso de Soares Moreno (GALVÃO, 1979, p. 73-74).  Assim narra Sérgio Buarque de Hollanda os feitos de Martim Soares Moreno a conquista denitiva

do Ceará:

Depois de instalar-se com o gentio junto ao Rio Ceará, chegou-lhe a notícia da aproximação de um navio de franceses e, deliberando tomá-lo, deixou manhosamente que os tripulantes desembarcassem para, em terra e desprevenidos, poder dar cabo deles. Dirigiu a operação o próprio Martim, entre seus índios, nu, de arco em punho, barba raspada e todo sarapintado à maneira deles. (...) Tais proezas seriam o prelúdio do primeiro estabelecimento denitivo dos portugueses em terras do Ceará (HOLLANDA, 1989, p. 202).

 A expulsão dos franceses e a conquista do Maranhão pelos portugueses teve no mameluco Jerônimo de Albuquerque uma de suas grandes personagens. A presença francesa no Maranhão data do século XVI, mas consolidou-se com a fundação, em 1612, de São Luís, que representava

28 Pero Lopes de Sousa naufragou numa praia entre Macau e Touros e lá deixou um lho morto. Os sobreviventes do

a gênese da França Equinocial, projeto de colonização americano acalentado pelos franceses. O interesse português pelo Maranhão era decorrente da presença de navegadores franceses que tracavam pau-brasil e da “da proximidade da foz do rio Amazonas, da crença na possibilidade de serem atingidas as minas peruanas” (WEHLING, 1994, p. 111).

A região da foz do rio Amazonas era estrategicamente importante para os países europeus, sendo consenso nas cortes européias e entre colonizadores que como a área permitia o acesso à imensa bacia uvial da região e que por ali seria possível chegar às minas do Peru, ingleses, irlandeses, franceses e holandeses saíram na frente e montaram bases na região. A expedição que conquistou o Pará partiu de Natal em 1615. Em 1616, Caldeira Castelo Branco fundou o Forte do Presépio, origem da atual cidade de Belém (WEHLING, 1994, p. 111). Assim descreve um dos mais ilustres historiadores brasileiros a conquista do Pará:

 A expedição de cento e cinqüenta homens, encarregada dessa última conquista, (...) [cou] aos cuidados de Francisco Caldeira, a quem foi passado regimento, depois de escolhidas três embarcações providas de todo o necessário, inclusive de víveres bastantes para seis meses. No dia de Natal de 1615 iniciava-se assim a Nova Jornada do Grão-Pará e Rio das Amazonas. A 10 de janeiro de 1616 chegariam os expedicionários ao sítio que lhes pareceu melhor para um estabelecimento duradouro e capaz de assegurar-lhes o domínio de uma das bocas do rio-mar, objeto, já então, da cobiça dos franceses, ingleses e holandeses.  Ao forte de madeira que logo se começou a construir, coube o nome de Presépio. E à cidade cujos fundamentos se lançaram pela mesma ocasião, o de Santa Maria de Belém (HOLLANDA, 1989, p. 233).

O reconhecimento inicial da Amazônia deu-se com a viagem de Pedro Teixeira que, em 1637, com mil índios e setenta soldados, subiu o rio Amazonas até a nascente, invertendo o sentido da expedição de Francisco Orellana, que foi do Peru à foz, em 1539 (IGLÉSIAS, 1993, p. 39).

 Apesar de ser posto de sentinela avançada da colonização portuguesa no Brasil, Natal não passava de um pequeno povoado, com pouco mais de uma centena de habitantes, excluindo- se os moradores da Fortaleza dos Reis, tendo, em 1607, “vinte e cinco moradores e cerca de oitenta nos arredores, pescando, caçando e plantando roçarias, ajudados pela escravaria vermelha e negra”. A indiada e seus descendentes miscigenados eram maioria, e os bancos eram tão poucos “que, em 1609, apenas existiam em Natal duas mulheres alvas” (CASCUDO, 1999, p. 111-112). 29

 As principais atividades eram desempenhadas pelos militares e religiosos. As principais atividades econômicas eram a pesca, a pecuária, a extração de sal e algumas roças de subsistência. A terra era boa, segundo frei Vicente do Salvador (apud HOLLANDA, 1989, p. 197), apenas para pastos e gados. A pesca abastecia as capitanias vizinhas da Paraíba e de Pernambuco. A pecuária atingiu um nível relativamente bom a partir de 1630, tendo sido, certamente, um dos motivos pelos quais os holandeses invadiram a capitania. As informações sobre o primeiro quarto de século da história nort e- rio-grandense são muito precários, mas apontam a lentidão com que se dava o estabelecimento dos núcleos coloniais, prejudicados pela fraqueza da terra “para roçados e canaviais, com escassez de chuvas, mais adaptável para a criação de gado” (SUASSUNA; MARIZ, 2002, p. 39).

29Segundo Cascudo (1999, p. 113), em três séculos a população indígena praticamente desapareceu, principalmente a que

vivia “próxima aos grandes núcleos de população. Natal matou seus indígenas rapidamente. Não os aldeamos como houve pelo interior depois da guerra dos cariris. O que indígena que cou por aqui era servo, humilde, sem direitos, assombrado de estar vivo”, tendo sido xados “nas povoações de Igapó para o vale do Ceará-Miim, especialmente em Extremoz, Veados. Em 1808 os índios domésticos em Natal era 169 apenas”.

Tavares de Lyra (1998, p. 63-64), sem desconsiderar os passos lentos, assevera que o território do Rio Grande já não era inteiramente desconhecido, com o sul da capitania, litoral e algumas léguas do interior, devidamente ocupado, principalme nte os vales “dos rios Pitimbu, Pirangi, Trairi, Jacu, Curimataú, Guaju e outros em trabalho persistente e intenso de desbravamento do solo”. O norte da capitania era ocupado de maneira mais lenta, com o povoamento não ultrapassando Maxaranguape. O vale do Ceará-Mirim e as margens do Potengi e do Jundiaí também eram áreas muito procuradas pelos colonos. De fato áreas de ocupação da capitania estavam mais ao sul de Natal, destacando-se o que Monteiro (2000) chama de corrente sul, “a única em que efetivamente o povoamento teria por base a atividade açucareira”. Foi nessa faixa, a Zona da Mata, que

as condições de solo e clima propiciaram o cultivo e beneciamento da cana-de- açúcar. O primeiro engenho da capitania, aí estabelecido, deu origem à Povoação de Cunhaú que, juntamente com a Cidade do Natal, constituía os dois núcleos populacionais então existentes. Enquanto Natal constituía o centro do poder  político-administrativo da capitania do Rio Grande, a Povoação de Cunhaú era o centro econômico. O engenho aí situado, exportando açúcar para Pernambuco – além de milho e farinha –, constituía então a fonte de renda básica da capitania.

Nos primeiros trinta anos do século XVII, teve o Rio Grande (do Norte) uma existência relativamente pacíca. Porém, novos perigos vieram assombrar a população do Brasil e da capitania: a ameaça da invasão holandesa.

A notícia da tomada da Bahia pelos holandeses correu por toda costa, alarmando os colonos e produzindo os maiores receios, sobretudo entre os colonos mais desprovidos de recursos de defesa. Em junho de 1625, os holandeses recolheram muito gado e umas 200 caixas de açúcar  abandonadas no engenho de Cunhaú. Porém, a invasão holandesa só se consumaria, no Rio Grande (do Norte), em 1633.

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