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Pernambuco na vanguarda

No documento Historia Do Rio Grande Do Norte (páginas 96-105)

CAPÍTULO V – BRASIL INSURGENTE

3. Pernambuco na vanguarda

As guerras napoleônicas e a abertura dos portos brasileiros favoreceram a expansão do comércio de gêneros tropicais. Os produtos brasileiros (café, açúcar algodão, etc.) tinham mercado garantido na Europa. Essa situação satisfazia os proprietários de terras no Brasil, que, sem o rigoroso controle metropolitano, realizavam grandes lucros. O m das guerras napoleônicas trouxe de volta ao mercado a concorrência dos produtos tropicais de outros países e colônias. O Brasil não estava mais sozinho no mercado. A concorrência trouxe um aumento na oferta de gêneros tropicais e a conseqüente queda dos preços desses produtos. Além disso, como cita Emília Viotti (In: MOTA, 1974, p. 82), embora as leis decretadas pela Coroa portuguesa contribuíssem para destruir  o sistema colonial,

não foram capazes de modicar todo o sistema, e nem mesmo tinham a intenção; daí a persistência de privilégios e monopólios. Permanecia o oneroso e irracional sistema scal, a emperrada máquina administrativa, as inúmeras proibições: proibição de se deslocar livremente, de abrir caminhos, discriminações e privilégios que separavam portugueses e brasileiros, criando animosidade entre eles.

Em 1801 a conspiração movida pela família Suassuna, em Pernambuco, representou um preâmbulo do que veio a ocorrer em 1817. Personalidades envolvidas em 1801 estiveram, de alguma forma, presentes em 1817, casos de José Inácio Borges e André de Albuquerque Maranhão. Sociedades secretas, sob o disfarce de Academias, difundiam-se por Pernambuco e serviram como vetores para a difusão dos ideais propagados pela Revolução Francesa. Os irmãos Suassuna, Francisco de Paula (Comandante de Ordenanças da freguesia do Cabo) e José Francisco (capitão do Corpo de Artilharia da Praça do Recife) e Luís Francisco (capitão de milícia) organizavam em sua casa de sobrado, no Recife,

umas reuniões suspeitas, muito concorridas, o que ensejou uma delação feita por  José da Fonseca Silva e Sampaio, que revelou o fato de que naquelas reuniões, “se tratavam idéias facciosas e revolucionárias sobre liberdade e mudança de governo”. Estaria em marcha uma conspiração que tinha por objetivo (...) implantar  em Pernambuco uma República sob a proteção de Napoleão Bonaparte. A conspiração, na realidade, não ultrapassou o plano das idéias, nem chegou a concretizar-se em atos de rebeldia. A delação abortou o movimento ideológico, ocorrendo então a prisão dos principais acusados.

Por ocasião da devassa de 1801 em Pernambuco, foram inquiridas oitenta testemunhas, inclusive ANDRÉ DE ALBUQUERQUE MARANHÃO, apontado por  três depoentes como sendo uma das pessoas que entravam com mais freqüência na casa dos Suassuna, gozando ademais de muita familiaridade e particularidade com José Francisco de Paula e seus irmãos (MEDEIROS FILHO, 1997, p. 187- 188).

O Nordeste foi, em 1817, novamente convulsionado. Uma vez mais aorou a percepção da consciência nacional e da unidade nacional. Pernambuco ocupava uma posição dominante em relação aos seus vizinhos – Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Sergipe. Os cinco eram áreas articuladas através do pólo econômico mais dinâmico, subordinando-se aos estímulos e aos movimentos conjunturais que partiam do porto de Recife, para onde convergiam os principais produtos (açúcar, algodão, pau-brasil, etc) da região Nordeste. As diculdades econômicas no Nordeste serviram de pretexto para a eclosão de um movimento liberal, que tinha como um dos

objetivos a proclamação da independência do Brasil. Ideologicamente, segundo Lopez (1993, p. 24), a fermentação revolucionária nordestina exprimia “as múltiplas contradições que agitavam a base social”, visto que a elite econômica e política, contrária ao sistema monopolista e ansiosa por ter mais autonomia administrativa, “se inclinava para um republicanismo federalista do tipo norte-americano”, enquanto as camadas sociais mais baixas “oscilava entre um jacobinismo democrático e uma revolução radical do tipo haitiano”. O antilusitanismo fornecia a massa que unia essa “heterogênea composição social dos descontentes do Nordeste brasileiro da época”. O centro irradiador da conjuração, como não poderia deixar de ser, foi Pernambuco. E sendo Pernambuco o principal pólo econômico, político e administrativo do Nordeste, a insurreição rapidamente se espalhou pelas capitanias vizinhas, inaugurando um ciclo revolucionário no Nordeste (1817, 1824 e 1848). Do movimento revolucionário de 1817 participaram padres, comerciantes, proprietários de terras e intelectuais. Os revoltosos, liderados pelo capitão José Barros de Lima, os padres José Inácio de Abreu e Lima (padre Roma), João Ribeiro e Miguelinho, além de Domingos José Martins e José Luís Mendonça, expulsaram o governador, tomaram o poder em Pernambuco, enviaram emissários às capitanias do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Bahia e a Londres, Washington e Buenos  Aires, buscando obter reconhecimento para a nova república. Foi elaborada uma Lei Orgânica,

base para formulação de uma Constituição. Essa Lei Orgânica garantia liberdade religiosa e de pensamento, adoção de uma República, abolição de vários impostos e manutenção da escravidão.

Referindo-se ao movimento de 1817 diz Cascudo (1984, 135), poeticamente, ter sido

a mais linda, inesquecível, arrebatadora e inútil das revoluções brasileiras. Nenhuma nos emociona tanto nem há guras maiores em tranqüila coragem, serenidade e compostura suprema, decisão de saber morrer, convencidos da missão histórica assumida e desempenhada. Morrem fazendo frases, dignos, certos de uma participação pessoal no futuro que só se evocaria com a lembrança apaixonada dessas sionomias graves, fervorosas e enamoradas do idealismo político.

De acordo com Andrade (1995, p. 25), o espaço norte-rio-grandense foi profundamente alterado na transição do século XVIII para o século XIX, com a capitania/província alcançando uma população de 50.000 habitantes em 1815. Dois gargalos sufocavam-na: um de ordem econômica, a falta de estradas e de portos aparelhados; outro de ordem política, a dependência em que vivia em relação a Paraíba e a Pernambuco.46

 A Revolução de 1817 foi um movimento, no Rio Grande do Norte, praticamente arquitetado e liderado pela família Albuquerque Maranhão, tendo em vista que nove dos líderes da insurreição eram daquele grupo familiar, mas com forte presença da Igreja Católica e da Maçonaria, instituições que, juntas, trabalharam com o mesmo intento, proclamar a independência do Brasil e implantar  a república. Diz Cascudo (1973, p. 48) que André de Albuquerque possivelmente pertenceu “à ‘Loja Paraíso’, sociedade maçônica de Recife, e estivera em contínuas confabulações com os conspiradores”. Duvida, porém, o próprio Cascudo (1973, p. 48), que André de Albuquerque, mesmo conhecendo “o aranhol da conspirata (...), por si mesmo avançasse na realização da doutrina nevoentamente percebida”, sendo antes “um sugestionado” por amigos mais lidos e persuasivos e a quem ele “entregara uma admiração sem limites”. Os amigos eram os padres João Damasceno Xavier Carneiro e Antônio de Albuquerque Montenegro.

46De 12 de dezembro de 1687 a 18 de março de 1818, a Comarca do Rio Grande do Norte foi dependente da Paraíba; de

Segundo Monteiro (2000, p. 106-108), a maioria dos envolvidos na Revolução, no Rio Grande do Norte, era de padres e militares, não sendo muito diferente, portanto, do que ocorreu em Pernambuco, onde o Movimento era “composto, essencialmente, por proprietários rurais, comerciantes de nacionalidade brasileira que brigavam por um setor monopolizado e um grande número de padres, alguns deles formados no Seminário de Olinda – centro de idéias liberais – e outros pertencentes a ordens religiosas que também eram proprietários de terras e engenhos de açúcar”. Dos 28 implicados e processados pela participação no movimento, três eram senhores de engenho (André de Albuquerque Maranhão, senhor de Cunhaú; Luís de Albuquerque Maranhão, dono do engenho Belém; e um outro André de Albuquerque Maranhão – primo do senhor de Cunhaú  – proprietário do engenho Estivas), quatro padres e 16 ociais de milícias, alguns deles membros

da família Albuquerque Maranhão. Foi “uma revolução de letrados, juízes, advogados, gente rica, cinqüenta padres seculares e cinco frades”, com de outras Capitanias, sem a participação do povo. “Numa hora e outra os mesmos membros do Governo Republicano viraram devotos angustiosos do amantíssimo Soberano” (CASCUDO, 1984, p. 135-136).

Quando soube das vitórias conquistadas pelos revolucionários em Pernambuco, o governador do Rio Grande do Norte José Inácio Borges manifestou-se através de uma circular  emitida no dia 12 de março, citada por Tavares de Lyra (1998):

Povos da capitania do Rio Grande do Norte: no dia 9 deste mês apareceu nesta cidade uma notícia confusa de que na vila de Santo Antônio do Recife, de Pernambuco, havia aparecido na tarde do dia 6 um tumulto popular, do qual se tinham seguido algumas mortes, sem contudo assinar-se o motivo que o tinha operado, e na noite do dia 12 por carta que dali tive de pessoa dedigna, que não teve parte naquele lamentável acontecimento, nem nas suas conseqüências, fui avisado de que o resultado daquele tumulto e sedição produziu a saída imediata do general daquela capitania para o Rio de Janeiro e que alguns daqueles facciosos, por efeito a mais inaudita rebeldia, haviam assumido e usurpado a  jurisdição do governo, permutando deste modo a paz e tranqüilidade de que gozavam os habitantes daquela capitania pelos horrores de uma espantosa anarquia. Não me importando averiguar a origem e progresso daquele detestável atentado, e cumprindo-me só ilustrar-vos sobre ele, recordar-vos a vossa inata delidade para com o legítimo Soberano, que até agora nos tem regido com direito de Senhor e desvelo de Pai, no augusto nome do Senhor D. João VI, Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em África Senhor de Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, vos declaro que estão acabadas as nossas relações e correspondências com todo e qualquer governo ou autoridade levantada atualmente em Pernambuco, e enquanto não nos constar que um general ou outro legítimo delegado de Sua Majestade restabeleceu ali a sua soberania, e reclamando de vós o solene  juramento de delidade que lhe tendes prestado, e que tem sido sancionado pela

nossa Santa Religião, vos convido para que vindos a mim, e debaixo das suas Reais Bandeiras, conservemos pura e sem mácula a nossa nunca interrompida obediência e vassalagem, e possuídos de sagrado entusiasmo gritemos em altas vozes:

Viva, Viva, Viva El-Rei Nosso Senhor (LYRA, 1998, p. 214-215).

Num esforço para conter o ímpeto revolucionário, José Inácio Borges viajou, no dia 23, dez léguas até Goianinha para se avistar e conferenciar com André de Albuquerque Maranhão, com quem se encontrou na tarde do dia 24. Após conversa de quase duas horas, Borges voltou para o engenho Belém, de propriedade de Luís de Albuquerque Maranhão, onde pernoitara. Já quase ao raiar do dia, “estava cercado de tropas, cavalarianos, ociais, populares, dirigidos por André de

Cunhaú”. Dali seguiu, no dia 3 de abril, para Recife, onde cou preso na fortaleza das Cinco Pontas (CASCUDO, 1973, p. 51-52). Impossível, diz Cascudo (1984, 136-137), que José Inácio Borges pudesse ser mais explícito em sua atitude de resistência. A correspondência que mantêm com  André de Albuquerque é enfática na recomendação de vigilância das fronteiras. Tavares de Lyra

(apud NONATO, 1971), porém, não comunga com a posição de Cascudo:

 Afrma Dias Martins (“Os Martyres Pernambucanos”) que José Ignácio Borges hesitou em condemnar o movimento, só o fazendo após a reunião de um conselho que, divergindo da opinião de André de Albuquerque, deliberou, por maioria de votos, que elle fosse combatido. E acrescenta que foi depois disto que o referido governador encarregou André de Albuquerque do commando das forças que deviam guarnecer parte da fronteira do sul, impedindo a invasão da capitania. Si o facto é verdadeiro, cabe-lhe, realmente, a pecha de governador hypocrita com que o fulminou o sanguinário Dezembargador Teixeira Coutinho Alves de Carvalho, Presidente da Alçada: o seu acto valeu por uma irrecusável prova de felonia e de má-fé. O que é certo é que elle se sentiu mais tarde na necessidade de justica-lo (LYRA, apud NONATO, 1971, p. 76-77).

Referindo-se a José Inácio Borges, Tavares de Lyra (1972) arma ser ele homem dotado de espírito culto de apreciáveis talentos, que rapidamente conheceu o descontentamento que grassava na capitania e que

com louvável solicitude, procurou captar a estima e o apoio dos que, pela sua inuência, estavam no caso de tornar mais fácil a sua ação administrativa. Essa atitude – que não logrou evitar na capitania a repercussão do movimento revolucionário de Pernambuco, vitorioso no Recife a 6 de março de 1817 – foi mais tarde acoimada de vacilante e dúbia, sendo fora de dúvida que, num momento dado, ele se tornou realmente inexplicável. A sua ida ao engenho Belém é – qualquer que seja o modo de a justicar – um ato senão criminoso, imprudente e leviano ante a iminência de uma sublevação. Ela importou no abandono da Capital, em ocasião em que mais necessária se fazia a presença do representante do poder público, a m de organizar a resistência e dar homogeneidade aos elementos de defesa de sua autoridade, vigiando pela manutenção da ordem e da segurança, que, ainda mesmo que não estivessem ameaçadas internamente, corriam sério perigo nas fronteiras. É verdade que José Inácio Borges condenara explicitamente a revolução, declarando a capitania desligada de Pernambuco e criando uma alfândega em Natal; mas muitos outros, inclusive André de  Albuquerque, o zeram também, sem que isto tivesse sido obstáculo à sua

posterior adesão (LYRA, 1972, p. 27-28).

Vitorioso o movimento em Pernambuco, as autoridades enviadas pela Coroa foram afastadas, sendo constituído um governo próprio, “do qual participam alguns dos principais da capitania. O novo governo teve sua bandeira e enviou emissários aos Estados Unidos, Rio da Prata e Inglaterra, em busca de apoio”, havendo mesmo a pretensão de “unir-se a franceses descontentes com a situação para libertar Napoleão, preso na ilha de Santa Helena”. Os revolucionários enviaram ao Rio Grande do Norte o padre João Damasceno Xavier Carneiro, ex-vigário de São José de Mipibu, para conseguir a adesão da capitania. O governador do Rio Grande do Norte, José Inácio Borges, cortou relações com Pernambuco e preparou-se para resistir, inclusive instando, no dia 6 de março, a André de Albuquerque Maranhão, Coronel de Ordenanças do Distrito Sul e senhor de Cunhaú, que garantisse a integridade da capitania face às investidas dos revolucionários que poderiam vir 

pela Paraíba, sendo, por isso, preso no engenho Belém, em São José de Mipibu, no dia 25, pelo Regimento comandado pelo próprio André de Albuquerque com quem o governador pensava poder  entender-se. Dali, o governador José Inácio Borges foi encaminhado para Recife, juntamente com sua mulher (LEMOS; MEDEIROS, 1980, 77).

Cascudo (1984) assim descreve a prisão do governador e a submissão de várias autoridade s às ordens de André de Albuquerque Maranhão:

Viaja o Governador na tarde de 23, a cavalo, com o intuito de revigorar o espírito bélico dos soldados e ociais. Pernoita no engenho Belém, pertencente a um primo de André, Luís de Albuquerque Maranhão, próximo à atual cidade de Nísia Floresta, antiga Papari, dez léguas de Natal, (...). Prossegue a jornada na manhã seguinte, 24, avistando-se com André em Goianinha, conversando durante duas horas, das três às cinco da tarde, sobre os assuntos militares. Volta e vem dormir no mesmo engenho Belém. Pela madrugada de 25 a casa-grande do engenho está cercada por André e seus parentes e cerca de 400 homens de seu Regimento. Chega outro primo, da Paraíba, João de Albuquerque Maranhão, com um lho e mais tropa. O padre João Damasceno está presente. Borges protesta, diz que a revolução é árvore sem raízes. André manda chamar  autoridade em Natal, o Comandante da Companhia de Linha, Antônio Germano Cavalcanti de Albuquerque, a quem o Governador havia conado a guarda da Cidade, o Provedor da Fazenda Real, o coronel da Infantaria miliciana e o seu major. Todos cumpriram a ordem e apareceram na manhã d 26. Em nenhum ponto houve a mais leve reação. O Provedor, Manuel Inácio Pereira do Lago, e o sargento-mor João Rabelo de Siqueira e Aragão pernoitaram no sítio Taborda (ainda existente no município de São José, à margem da rodovia que segue de Natal) porque os cavalos cansaram (CASCUDO, 1984, p. 137-138).

No dia 25 de março, o movimento revolucionário obteve vitória no Rio Grande do Norte e, no dia 28, André de Albuquerque Maranhão, chefe do movimento revolucionário na capitania, entrou em Natal com suas tropas, instalando, no dia seguinte, o governo provisório, composto por  ele, coronel André de Albuquerque Maranhão, capitão de Infantaria Antônio Germano Cavalcanti de Albuquerque, coronel de Milícias José Joaquim do Rego Barros, capitão de Milícias Antônio da Rocha Bezerra e o padre Feliciano José Dornelas, vigário da freguesia, todos homens de posses ou bem assentados na máquina estatal.

O governo revolucionário em Pernambuco enviou, no dia 30 de março, ao Rio Grande do Norte um regimento comandado por José Peregrino Xavier de Carvalho para apoiar a revolução. Segundo Iglesias (1993, p. 101), a repressão foi imediata. Mesmo tendo um sucesso circunstancial na Paraíba, no Rio Grande do Norte e no Ceará, foi frustrante a tentativa de levar a luta para a Bahia.

Forças navais foram organizadas no Rio de Janeiro para reprimir os rebeldes. Da Bahia também partiram, por terra e mar. A esquadra bloqueou o Recife. Em vão os rebeldes tentaram negociar a capitulação, a idéia foi recusada. Os soldados governistas desembarcaram no dia 20 de maio. Os revolucionários tentam ir para o Norte, mas debandam: há suicídios, prisões sem conta (IGLESIAS, 1993, p. 101-102).

O Regimento partiu da Paraíba e foi, enquanto esteve no Rio Grande, o anteparo e a sustentação do governo de André de Albuquerque. Ao se retirar, o governo arriou, pois, sem contar  com o apoio popular – o povo não se entusiasmara com a Revolução – o clima era desfavorável

para André de Albuquerque, com os monarquistas reunindo-se com freqüência, na residência do alfaiate Manuel da Costa Bandeira (CASCUDO, 1984, p. 138-139), para conspirar contra o governo. O governo de André de Albuquerque sucumbiu, na visão de Denise Monteiro (2000, p. 108), porque as divergências na Junta Provisória de Governo deixaram André de Albuquerque isolado, e também porque “a repressão desencadeada pelas forças portuguesas pôs m ao movimento em todas as capitanias do Nordeste nele envolvidas”. A saída das tropas de Peregrino da capitania deu oportunidade aos monarquistas de arquitetar uma contra-revolução. O sino da Matriz anunciou o início da reação. Nove badaladas (sinal de mulher em trabalho de parto) é a senha. Na madrugada de 25 de abril, o prédio do governo foi invadido pelos monarquistas, que partiram da casa do alfaiate Manuel da Costa Bandeira, “agitando armas, vivando El-Rei e dando morras à Liberdade, convencidos da incompatibilidade entre os dois símbolos”. Não houve reação. A sala onde estava  André de Albuquerque foi invadida e ele ferido na virilha e levado preso para a Fortaleza dos Santos Reis, onde veio a falecer no dia 26 de abril, depois de agonizar o dia e a noite inteira. (CASCUDO, 1984, p. 140). O martírio de André de Albuquerque, o Andrezinho de Cunhaú, foi brilhantemente descrito por Iaperi Araújo no livro Auto do Guerreiro.

Estava terminada a Revolução no Rio Grande do Norte, pelo menos na área litorânea; o governo republicano durou quase um mês, de 29 de março a 25 de abril.

Difícil explicitar o legado do governo de André de Albuquerque, tendo em vista a ação de José Inácio Borges, reempossado como governador, toda a documentação acerca do movimento revolucionário. Diz José Inácio Borges em ordem emanada no dia 10 de julho de 1817:

Para todos as câmaras da capitania:

Sendo indispensável como medida política extinguir como se nunca existissem todos os escritos que estejam derramados por esta capitania produzidos pelo bando de rebeldes que temporariamente usurpara a Real Soberania, ordeno a Vossas Mercês que já e já, publicado por editais esta minha ordem, façam recolher todas as determinações, cartas e mais papéis que se axaram ou existirem nas mãos dos empregados e ainda mesmo dos particulares dessa vida, não excetuando os militares, e, arrecadados que sejam, nos remetam fechados, vindo apensos os que também houverem no seu arquivo, compreendidos mesmo alguns termos que se zessem em livros, cujas folhas serão arrancadas, fazendo-se disto novo termo. No edital que publicarem farão saber que se algum dia me fora denunciada a existência de alguns destes papéis nas mãos

de qualquer pessoa cará, por esse só fato, reputada cúmplice dos rebeldes e

como tal punida (grifos nossos) (José Inácio Borges, apud LYRA, 1998, p. 227).

Com o fracasso do movimento revolucionário nas capitanias vizinhas, os revoltosos pernambucanos caram isolados em Recife. A cidade foi bloqueada e, em poucos meses, os revolucionários foram vencidos pelas tropas éis ao Rio de Janeiro, sendo a ordem monárquica

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