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O movimento republicano no Rio Grande do Norte

No documento Historia Do Rio Grande Do Norte (páginas 159-161)

CAPÍTULO I – DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA À REPÚBLICA OLIGÁRQUICA

1. O movimento republicano no Rio Grande do Norte

Uma sistemática propaganda republicana no Rio Grande do Norte data de 1851, quando o  jornalJaguarari,dirigido por Manuel Brandão fazia eco aos incipientes ideais republic anos defendidos no centro-sul do país. Depois, Joaquim Fagundes José Teólo fundou, em 1874, a revista Eco Miguelinho, já no período de maior organização do núcleo republicano na província. Entretanto, o movimento republicano só tomou impulso a partir de 1870, com a participação de expressivas lideranças políticas e econômicas.

Em 30 de novembro de 1871, senhores de engenho, fazendeiros e comerciantes, entre eles  Antônio Basílio, Manuel Januário Bezerra Montenegro e outros, enviaram ao Clube Republicano um documento através do qual declaravam o intuito de aderir ao movimento republicano, acirrando a oposição ao republicanismo na província, representada pelos partidos Conservador e Liberal, e os seus respectivos órgãos de imprensa, A Gazeta de Natal e oCorreio de Natal . A fragilidade desses dois partidos, principalmente do ponto de vista ideológico, facilitou o desenvolvimento dos ideais republicanos no Rio Grande do Norte.

Com uma economia instável, dependente e fraca, e uma sociedade agrária e patriarcal não é de estranhar a conturbada e desorganizada vida política do Rio Grande do Norte na segunda metade do século XIX. Segundo Almir Bueno (2002, p. 46-48), os partidos políticos eram um “ajuntamento de parentes, compadres, agregados e clientes”, não se constituindo em “instituições representativas de setores sociais determinados”. As lutas políticas eram encarniçadas entre liberais e conservadores e, desde 1888, o Partido Liberal e o Partido Conservador reivindicavam vitória nas urnas para preenchimento das vagas da Assembléia Provincial.

O movimento republicano só apresenta músculos fortes no centro-sul do país, “particularmente no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul”, apresentando mesmo nessas províncias “diferenças marcantes quanto a sua composição social, à forma de luta e mesmo ao seu conteúdo político-ideológico” (BASILE, IN: LINHARES, 2000, p. 268). Como em quase todas as províncias do norte do Brasil, o movimento republicano no Rio Grande do Norte era fraco. No Nordeste a elite agrária manifestava o seu descontentamento com o governo monárquico, acusando-o de privilegiar o sul e esquecer o norte. Assim, de acordo com Monteiro (2000, p. 161), “à força do republicanismo no Sudeste somou-se a falta crescente de apoio à Monarquia no Nordeste”. Paulistas e uminenses, da rica região cafeeira, ponticavam junto ao imperador. Senhores de engenho e do algodoal caram relegados ao segundo plano (SODRÉ, 1998, p. 293). Mas a questão era mais conjuntural e associada a interesses contrariados, não se constituindo em nada ameaçador para as instituições monárquicas. Segundo Bueno (2002, p. 58), tirando Pernambuco, quase nenhuma província do norte do Brasil teve um movimento republicano coeso e consolidado, ainda que tivessem ocorrido

algumas iniciativas para divulgar idéias republicanas na província norte-rio- grandense durante os anos 70, levadas a cabo quase sempre pelo bacharel pernambucano Joaquim Teodoro Cisneros de Albuquerque (1835-1914), então exercendo a magistratura no Rio Grande do Norte, foram efêmeras e isoladas.

Diz Bueno (2002, p. 59) que somente na década de 1880, com a difusão das idéias abolicionistas, é que novos temas políticos e sociais vieram à baila no Rio Grande do Norte. Entretanto, temas explosivos como a abolição da escravidão e o nascente movimento republicano praticamente só chamavam a atenção dos lhos da elite agrária e comercial local “que passavam pelas escolas superiores de Medicina e Direito, de Pernambuco e do Rio de Janeiro, centros de circulação e debates de idéias, e que ocupavam os cargos públicos da província” (MONTEIRO, 2000, p. 161).

Não é de estranhar que o movimento republicano norte-rio-grandense tenha tido como um de seus principais próceres Janúncio da Nóbrega Filho, um legítimo da boa cepa de potentados rurais seridoenses, estudante de Direito em Recife e redator do “Manifesto Republicano”, publicado n’O Povo, jornal de Caicó, em abril de 1889, e fundador, juntamente com seus irmãos e outras eminentes guras caicoenses, do “Centro Republicano Seridoense” (MONTEIRO, 2000, p. 161- 162).

O outro pólo do movimento republicano no Rio Grande do Norte era Natal. Segundo Bueno (2002, p. 63-64), Natal não “manifestava sentimentos profundos de aversão à Monarquia”, tendo recebido calorosamente o conde D’Eu em agosto de 1889. Mas, a despeito da aceitação ou da passividade dos natalenses em relação à Monarquia, coube a João Avelino, abolicionista e republicano, em contato com “republicanos norte-rio-grandenses há muito radicados na Corte” a criação, no nal da década de 1880, de “um movimento republicano mais organizado no Rio Grande do Norte”.

Outra importante liderança republicana no Rio Grande do Norte foi o médico Pedro Velho de  Albuquerque Maranhão, membro de uma das mais importantes famílias da província. Antes mesmo

da fundação do Partido Republicano norte-rio-grandense (27 de janeiro de 1889), Pedro Velho, instado por Tobias Monteiro,1no mesmo mês de agosto da visita do conde D’Eu a Natal, “chear o

republicanismo local” ao qual se liou e assumiu a liderança em dezembro de 1888, constituindo-se num de seus principais próceres na província (BUENO, 2002, p. 66). O jornal, A República, fundado por Pedro Velho em 01 de julho de 1889, publicava matérias que atacavam a monarquia e enaltecia os ideais republicanos.

A notícia da proclamação da República chegou ao Rio Grande do Norte através de um telegrama enviado por José Leão Ferreira Souto à direção do Partido Republicano.

Após a proclamação da República, Pedro Velho recebeu um telegrama de Aristides Lobo, um dos principais articuladores da queda da monarquia, conclamando-o a assumir a chea política e administrativa do Rio Grande do Norte, anulando a pretensão dos membros do Partido Liberal de car a frente do Executivo da província, através de Antônio Basílio Ribeiro Dantas. No dia 17 de novembro de 1889, Pedro Velho assumiu o posto de Presidente do Rio Grande do Norte, tendo sido logo substituído por Adolfo Gordo. Após a substituição de Pedro Velho, o Rio Grande do Norte passou por um período de instabilidade política, com a posse e o afastamento de sucessivos presidentes. 2

1Tobias do Rego Monteiro, segundo Bueno (2002, p. 65), de importante e tradicional família norte-rio-grandense, era jornalista

e funcionário público, radicado no Rio de Janeiro. Foi um dos incentivadores de Pedro Velho, de quem posteriormente divergiu e rompeu.

2Após Pedro Velho, presidiram o estado: Adolfo Gordo, Xavier da Silveira, João Gomes Ribeiro, Manuel do Nascimento

Castro e Silva, Amintas Barros, José Inácio Fernandes Barros, Francisco Gurgel de Oliveira, Miguel Joaquim de Almeida Castro, uma Junta Governativa composta por três membros, e Jerônimo Américo Raposo da Câmara.

No documento Historia Do Rio Grande Do Norte (páginas 159-161)