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Focos no Rio Grande do Norte

No documento Historia Do Rio Grande Do Norte (páginas 108-111)

CAPÍTULO V – BRASIL INSURGENTE

5. Focos no Rio Grande do Norte

 Após a derrota dos revolucionários de 1817, reassumiu o governo José Inácio Borges para um segundo governo, que se estendeu de 17 de junho de 1817 a 03 de dezembro de 1821. Na sua segunda gestão, o Rio Grande do Norte adquiriu autonomia judicial (1818) e scal (1820).48

No segundo governo de José Inácio Borges, começaram a surgir divergências entre os defensores da independência e os partidários da recolonização do Brasil, sendo o próprio José Inácio Borges um partidário da independência, tendo como adversário político Mariano José de Brito Lima, ouvidor da comarca de Natal (LYRA, 1998, p. 263).

Explodiram pelo Brasil movimentos favoráveis às Cortes portuguesas, depondo os governadores e criando juntas provisórias de governo, e a “revolução iniciada no Porto, triunfante em Portugal e ramicada no Pará, Bahia e outros pontos do Brasil, levou D. João VI a jurar previamente a constituição que as Cortes iam fazer, urgido pela marcha dos acontecimentos que explodiram em 1821 no Rio de Janeiro” (LYRA, 1972, p. 31).

Era o Rio Grande do Norte uma província, diz Cascudo (1973, p. 11), que contava com oito municípios [Natal, Estremoz, Arez, Portalegre, São José, Vila Flor, Vila do Príncipe (Caicó), Vila Nova da Princesa (Açu)] e tinha aproximadamente 71 mil habitantes, dos quais 800 moravam em Natal. Aqui, num novo governo de José Inácio Borges, manifestaram-se as primeiras divergências entre os grupos que defendiam a independência do Brasil e os que apoiavam as pretensões recolonizadoras da Coroa portuguesa. Para Tavares de Lyra, essas divergências não eram fruto de idéias e princípios, mas apenas “das lutas de facções que procuram apoderar-se do governo”, trazendo apenas a perturbação da ordem pública, produzindo anarquia e não produzindo “qualquer  ordem à província: pelo contrário, paralisam o seu natural desenvolvimento, entregando os seus habitantes a estéreis agitações” (1972, p. 31).

Em 1821, José Inácio Borges foi substituído por uma Junta Constitucional Provisória composta por sete membros, muitos deles partidários da independência, e que tinha o apoio do governador deposto, José Inácio Borges que, é bom frisar, “era partidário franco da causa da independência, tendo mesmo se incompatibilizado com os recolonizadores, cujo guia e inspirador  era o dr. Mariano José de Brito Lima, ouvidor da comarca, que encontrara no exercício de seu cargo campo vasto para abusos e prevaricações” (LYRA, 1972, p. 32).

Diz Monteiro que a Junta Provisória instalada no Rio Grande do Norte, em 1821, era composta por muitos integrantes do Movimento de 1817, como o coronel Luís de Albuquerque Maranhão,49 o que demonstra a difusão das idéias pró-independência na província. Segue-se um

período de instabilidade política na província, reexo do conturbado quadro nacional, com o regente D. Pedro recusando-se a acatar as determinações de Lisboa e tomando posições favoráveis à independência do Brasil. Militares portugueses que serviam no Rio Grande do Norte, juntamente com os defensores da manutenção dos vínculos Brasil-Portugal, ameaçaram a Junta, destituindo-a, e exigiram da Câmara de Natal a eleição de um Governo Temporário, até que uma nova Junta fosse eleita, sob o argumento de que a Junta Constitucional Provisória havia sido eleita fora dos trâmites legais. Dizia o decreto expedido pelas Cortes Constituintes em 21 de setembro de 1821 que as  juntas nas capitanias subalternas deveriam ser compostas de cinco membros, e não sete como era

o caso do Rio Grande do Norte. Sem força para resistir às i nvestidas dos grupos reacionários, a

48Em 1820 foi criada a alfândega no Rio Grande do Norte.

49A Junta Governativa era composta, segundo Lyra (1998, p. 264) pelo coronel Joaquim José do Rego Barros (Presidente),

Manoel de Melo Montenegro Pessoa (Secretário), padre Francisco Antônio Lumache de Melo (membro), coronel Luís de  Albuquerque Maranhão (membro), capitão Antônio da Rocha Bezerra (membro), sargento-mor Manoel Antônio Moreira

Junta passou a administração ao governo temporário, constituído no dia 7 de fevereiro. Cidades e vilas do interior da província (Portalegre, Príncipe e Princesa) recusaram-se a reconhecer o novo governo (MONTEIRO, 2000, p. 109-110; LYRA, 1998, p. 266-270).

Diz Tavares de Lyra (1998) que o governo temporário

esteve à frente da administração de 7 de fevereiro a 18 de março de 1822. Nenhum ato praticou que mereça menção especial. Quase que se limitou a dar  providências sobre o processo que o governo decaído tinha mandado instaurar  contra o ouvidor Mariano José de Brito Lima e o capitão Joaquim Torquato Raposo da Câmara; os organizadores do movimento que o haviam levado ao poder, processo que não prosseguiu depois de encerrada a devassa (LYRA, 1998, p. 272).

Caído o governo temporário, uma nova Junta50 foi eleita por 24 eleitores de paróquia,

convocados pelo Senado da Câmara, no dia 17 de março. Segundo Lyra (1998, p. 273), a Junta é vacilante nas posições assumidas, só tomando publicamente a defesa das determinações de D. Pedro a 6 de junho. Em 13 de julho de 1822, ela passou a apoiar integralmente as medidas de confronto com as Cortes portuguesas que D. Pedro estava tomando. Assim sendo, a declaração de independência não representou surpresa alguma no Rio Grande do Norte. A notícia da independência, chegada ao Rio Grande do Norte a 2 de dezembro, tampouco provocou nenhu ma reação contrária,51

pois a repressão governamental de 1817 ainda estava muito presente. Ninguém ousava contrariar  a ordem recém-instaurada. Somente em 2 de dezembro de 1822, chegou ao Senado da Câmara de Natal a notícia da aclamação de D. Pedro de Alcântara como Imperador do Brasil; a 11 de dezembro o mesmo Senado “decidiu solenizar o acontecimento com missa e Te-Deum, celebrados na Matriz da Capital, a 22 de janeiro de 1823” (LYRA, 1972, p. 56).

 A aclamação de D. Pedro, em Natal, foi feita “com grandes festas e, nesse mesmo ano, dois representantes (Francisco de Arruda Câmara, médico formado em Coimbra, e Tomás Xavier de  Almeida, advogado formado na mesma universidade) da província do Rio Grande do Norte foram

eleitos para participar de uma Assembléia Constituinte, convocada pelo Imperador para elaborar a primeira Constituição da nova Nação” (MONTEIRO, 2000, p. 110; CASCUDO, 1984, p. 147).

É fato que no Rio Grande do Norte, como diz Tavares de Lyra, “a revolução partiu do Poder: a Província, o Povo, em sua maioria, era indiferente ao movimento”. Cascudo reforça: “o movimento da Independência desce do Governo para o Povo. Não sobe do Povo para o Governo, como a  Abolição” (apud SUASSUNA; MARIZ, 2002, p. 139-140). Mas isso pouco diferiu do processo em

todo o território nacional, mesmo nas regiões mais desenvolvidas. O propósito do movimento de independência foi resguardar os interesses econômicos da elite brasileira, garantindo os preceitos do liberalismo econômico. Dessa forma, a independência política do Brasil constituiu-se num processo sem grandes alterações na “estrutura interna, do ponto de vista econômico, político e social”, sendo tão-somente “uma transição conservadora” (MONTEIRO, 2000, p. 110).

50Segundo Lyra (1998, p. 273), a Junta eram composta pelo padre Manoel Pinto de Castro (presidente), Manoel Antônio

Moreira (secretário), João Marques de Carvalho (membro), Agostinho Leitão de Almeida (membro) e Tomás de Araújo Pereira (membro).

No documento Historia Do Rio Grande Do Norte (páginas 108-111)