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As novas bases do poder oligárquico

No documento Historia Do Rio Grande Do Norte (páginas 161-177)

CAPÍTULO I – DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA À REPÚBLICA OLIGÁRQUICA

2. As novas bases do poder oligárquico

A transição do Império para a República foi a primeira grande mudança de regime político ocorrida no Brasil desde a proclamação da independência. Lideranças republicanas de perl mais reformador pretendiam que a mudança de regime político tivesse como resultado uma maior  participação da população na vida política brasileira. Como registra Maria do Carmo Campello de Souza (IN: MOTA, 1974, p. 163), a implantação de um regime federativo, republicano e que garantisse a ampliação do regime representativo são os caminhos por onde busca trafegar a Primeira República. No entanto, as novas formas de governo (republicana) e de Estado (federação) trouxeram poucas mudanças para a maioria da população, pois a maior parcela das lideranças republicanas, incluindo os militares, não estava disposta a oferecer às camadas populares o direito a participação política. Permaneceu o modelo de exclusão política praticado desde a independência.  A condução do processo político era executado pelas oligarquias estaduais. Os métodos utilizados

nas eleições permaneceram os mesmos: a fraude e a violência.

Após o dia 15 de novembro de 1889, entraram em confronto três projetos distintos de República: o democrático, o militar e o oligárquico. Os militares foram os responsáveis pelos acontecimentos que precipitaram a proclamação da República e eram favoráveis à implantação de uma ditadura militar, com um governo forte e reformista. Os oligarcas, por sua vez, defendiam uma República que garantisse autonomia aos estados, controlados pelas elites políticas locais (grandes proprietários de terras). O grupo democrático, formado por uma parcela dos grupos médios urbanos, teve poucas oportunidades de pôr em prática o seu projeto político. Os três projetos desaguaram na discussão acerca da forma de Estado. A questão básica é a organização federativa, “tendendo ora ao predomínio da União, ora ao dos estados, ou unionistas e federalistas” (IGLESIAS, 1993, p. 199). Em junho de 1890 foram convocadas eleições para a Assembléia Nacional Constituinte, que conrmou, com a promulgação da Constituição de 1891, o projeto político das oligarquias estaduais, principalmente a cafeicultora, garantindo a descentralização política-administrativa e uma maior  autonomia estadual, porém com algumas restrições, como assinala Francisco Iglesias:

Os unionistas, liderados pelo ministro Rui Barbosa, foram vitoriosos. (...) A atribuição de tarefas e recursos acirrou os ânimos, sobretudo quanto às rendas – as da União e as dos estados. A fórmula vitoriosa atentou mais para o poder central que o dos estados. (...) Adotou-se um federalismo mitigado, não um federalismo sem peias, como era pedido pelos positivistas da bancada do Rio Grande do Sul (1993, p. 199-200).

Segundo Souza (IN: MOTA, 1974, p. 164), a proposta de constituição de uma federação surgiu “em atendimento às necessidades de expansão e dinamização da agricultura cafeeira”. Logo, a ação do Estado republicano no período 1889-1930 correspondia “ao desenvolvimento e às necessidades do novo setor da economia”.

 Apesar de acabar com o voto censitário, a grande maioria da população foi mantida afastada do processo político, pois a Constituição proibia os analfabetos, as mulheres, os membros regulares de ordens religiosas, os praças militares de votar. Mesmo o aparato legal permitindo o funcionamento de um regime democrático, os grupos dirigentes brasileiros não compartilhavam o poder político com ninguém. Ainda que pregasse a instituição de uma democracia liberal, a elite política “agia de modo que a participação política se restringisse a seus representantes” (SOUZA, IN: MOTA, 1974, p. 167). Dessa forma, aproximadamente 95% da população cou excluída das eleições. Além disso, a Constituição de 1891 concedeu grande autonomia aos estados (como passaram a se designar as antigas províncias), fortalecendo as oligarquias agrárias estaduais, que controlavam as eleições nas

unidades federadas, principalmente após a distorção do federalismo, “sobretudo depois de 1898, como se demonstra na análise da conhecida política do presidente Campos Sales” (IGLESIAS, 1993, p. 200). As oligarquias mais poderosas (São Paulo, Minas Gerais e, depois, Rio Grande do Sul) monopolizavam o poder a nível federal.

No período monárquico, o Brasil foi governado por uma família, a Família Real, apoiada pelos grupos políticos estabelecidos nas províncias. Com a proclamação da República, o poder político passou a ser diretamente exercido por várias famílias espalhadas pelos estados da federação. Como os conitos entre os grupos oligárquicos estavam aumentando de intensidade, cuja conseqüência imediata era o fracionamento do Congresso, o presidente Campos Sales consolidou o poder das oligarquias estaduais, instituindo um pacto intra e inter-oligárquico, conhecido como Política dos Governadores. Campos Sales decidiu garantir “o suporte das grandes bancadas de Minas, São Paulo e Bahia”, mudando o Regimento Interno da Câmara e impondo ao Congresso um certa linha de conduta na fase de reconhecimento dos poderes” (SOUZA, in: MOTA, 1974, p. 183).

Por esse pacto, as oligarquias estaduais davam total apoio ao governo federal, e este, em troca, comprometer-se-ia a não intervir nos estados, deixando as oligarquias governá-los como lhes conviesse.

Os estados protagonizavam esta política. De acordo com Campos Sales, era dos estados que se governava a República, naqueles encontrava-se a política nacional. A losoa que norteou sua adoção fundamentava-se no princípio da troca de interesses, na qual os estados, por intermédio de seus representantes no Congresso, dariam apoio ao governo da União e esta asseguraria a plena autonomia dos estados (PENNA, 1991, p. 90).

A mudança de regime político, como dissemos anteriormente, não trouxe mudanças signicativas para a sociedade brasileira, que durante a Primeira República estava desigualmente dividida entre a cidade e o campo, “com uma população na maioria analfabeta, pobre e desassistida em tudo, sem saúde e sem escolas, marginalizada do processo social” (IGLESIAS, p. 205). Enquanto o país passava por um processo relativamente rápido de urbanização, a esmagadora maioria da população ainda vivia no meio rural ou em cidades que tinham pouco de vida urbana, completamente submetida aos interesses dos grandes proprietários rurais. Os governos republicanos não expressavam os anseios da sociedade. Os trabalhadores rurais tinham vínculos muito próximos aos fazendeiros, devendo-lhes favores. Não eram poucas as lideranças políticas estaduais que deviam a sua carreira a coronéis. Ademais, segundo Maria do Carmo Campello de Souza,

o quadro político republicano não deve ser entendido como uma série de momentos de suposta luta entre interesses contraditórios do setor exportador e urbano interno. Ligado umbilicalmente à economia cafeeira, crescendo à sombra de sua política econômica-nanceira, o setor interno não apresentava qualquer  oposição fundamental à estrutura vigente que levasse seus representantes a tentativas de superá-las. Como a evolução do sistema industrial se faz nitidamente vinculada à economia exportadora, surge como problema o estabelecimento de eventual diferenciação ideológica entre seus representantes. A análise da política republicana se torna mais frutífera na medida em que se questiona a natureza e o signicado dos laços de solidariedade existente entre a estrutura agrária e a urbana nascente (IN: MOTA, 1974, p. 165).

As oligarquias mais ricas, principalmente as de São Paulo e Minas Gerais, passaram a se revezar no governo federal. As menos poderosas participavam do governo federal como “sócias” menores e controlavam politicamente os seus estados de origem. No nível municipal, o coronel , grande proprietário de terras, controlava as eleições, obrigando os eleitores a votar nos candidatos indicados pela oligarquia estadual. Como o voto era aberto, os capangas dos coronéis pressionavam os eleitores, impedindo-os de votar na oposição. Outros artifícios utilizados pelos coronéis eram a compra de votos e a fraude eleitoral. Quando todos esses mecanismos falhavam, entrava em ação a Comissão de Vericação de Poderes, “controlada” pelo Presidente da República, que impedia a diplomação dos eleitos pela oposição (degola).

As oligarquias norte-rio-grandenses também se utilizavam da violência e das fraudes para vencer as eleições. Os líderes políticos estaduais ordenavam às lideranças municipais a utilização de atas falsas, o alistamento de eleitores mortos ou ausentes, a proibição do alistamento aos eleitores da oposição, etc.

Utilizando-se desses artifícios, as oligarquias estaduais mantiveram-se no poder por  mais de 30 anos, sem maiores sobressaltos, subvertendo o regime republicano, pois evitavam a rotatividade no poder, elemento essencial da democracia. Os conitos que ocorreram nesse período foram decorrência de disputas entre as próprias oligarquias.

O Rio Grande do Norte no período da República Velha (1889-1930) foi controlado politicamente por duas oligarquias: Albuquerque Maranhão e Bezerra de Medeiros. Esta defendia os interesses econômicos dos grupos ligados à atividade algodoeira; enquanto aquela, envolvida desde o início do povoamento e colonização do Rio Grande do Norte com os interesses do açúcar, defendia a atividade açucareira.

Os eleitores pouco ou nada podiam fazer para mudar a situação. Os fazende iros controlavam com mão de ferro os eleitores nos municípios em que eram senhores. Ferreira (1992) conta uma história que retrata a que ponto os grupos oligárquicos dominavam a vida política estadual. Aldo Fernandes, que se tornou assessor de interventores e governadores, lhe condenciou que, depois de diplomado pela Faculdade de Direito do Recife, recebeu o convite do governador Juvenal Lamartine, pouco antes da Revolução de 1930, para candidatar-se a deputado estadual. Alegando precisar, para isso, “entrar em entendimentos com os chefes políticos do interior”, recebeu uma resposta tranqüilizadora do governador: “Não se incomode. Deixe isso comigo”. Passados alguns dias, viu estampado n’A República: “Realizaram-se, ontem, em todo o Estado, as eleições para a  Assembléia Estadual. O pleito decorreu na mais completa ordem”, e logo abaixo “uma relação de telegramas de prefeitos de algumas cidades, todos mais ou menos iguais: “Presidente Juvenal Lamartine: comunico que eleição se realizou sem incidentes. Bem votados os nossos candidatos. Oposição não compareceu”. Aldo Fernandes fez a sua estréia “de braços cruzados, sem despender  um só tostão”, elegendo-se deputado estadual (FERREIRA, 1992, p. 11-12).

No pleito de 1890, que elegeria os constituintes federais, Pedro Velho deu o primeiro passo para consolidar a sua liderança, reunindo os vários núcleos republicanos do estado. Num trabalho politicamente bem urdido, Pedro Velho reuniu quase todas as grandes lideranças políticas do estado no Partido Republicano. Foram lançados como candidatos ao Senado: o líder seridoense José Bernardo de Medeiros, Amaro Cavalcanti e um parente de Pedro Velho, José Pedro de Oliveira Galvão. Para deputado federal, os liderados de Pedro Velho também zeram maioria. A oposição foi praticamente aniquilada no estado. Aquela eleição praticamente rearmou o que se congurava desde o nal da década de 1880, com a consolidação do Partido Republicano como a mais forte agremiação partidária do Rio Grande do Norte e a conrmação do prestígio político e eleitoral de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, eleito pelo voto direto deputado federal e, posteriormente, a 28 de fevereiro de 1892, Presidente do Rio Grande do Norte, pelo Congresso Estadual. Há de se ressaltar, porém, que os

redutos eleitorais restringiam-se a alguns municípios da região litorânea, por onde se espalhavam seus familiares.O grande contingente eleitoral encontrava-se no sertão do Seridó e oeste do estado. E no nal do século XIX, 95% da população norte-rio-grandense era interiorana, o que demonstra o imprescindível apoio dos caciques municipais a Pedro Velho (MARIZ; SUASSUNA, 2002, p. 204).

 A aliança com os caciques do interior, José Bernardo (Seridó) e Francisco Gurgel (Mossoró), sofreu um pequeno abalo quando, em abril de 1892, o grupo seridoense abriu uma dissidência no Partido Republicano do Rio Grande do Norte ao se aproximar do presidente Floriano Peixoto, o que manteve Pedro Velho, presidente do estado, sob constante ameaça de deposição armada (BUENO, 2002, p. 130).

Pedro Velho de Albuquerque Maranhão governou o Rio Grande do Norte em dois momentos: o primeiro (de 17 de novembro a 06 de dezembro de 1889), quando assumiu provisoriamente pouco após a proclamação da República, em substituição ao tenente-coronel Antônio Basílio Ribeiro Dantas; o segundo (de 28 de fevereiro de 1892 a 31 de outubro de 1895), quando foi eleito pelo Congresso Legislativo, em 1892.

Os dezenove dias em que esteve provisoriamente a frente dos destinos do estado do Rio Grande do Norte, Pedro Velho pouco pôde fazer. O período é marcado pelos atritos entre ele e os republicanos históricos, alijados que foram da equipe de governo. A equipe montada era composta por indivíduos da mais alta expressão política e cultural, mas que tinham como traço político marcante o anti-republicanismo. Quando tentava acomodar republicanos na equipe de governo, Pedro Velho foi substituído por Adolfo Gordo, um paulista de Piracicaba.

À demissão de Pedro Velho seguiu-se um conturbado e instável período político, com o Rio Grande do Norte sendo dirigido, no curto espaço de tempo de dois anos e três meses (novembro de 1889 a fevereiro de 1892), por oito governadores e uma Junta Governativa.3

Com a eleição de Pedro Velho4 pelo Congresso Legislativo, crescia o poder de pressão

da família Albuquerque Maranhão e começava no estado uma campanha de nepotismo sem precedentes. Pedro Velho conseguiu a indicação e, depois, a eleição do irmão Augusto Severo para deputado federal; nomeou seu irmão Alberto Maranhão Secretário do Governo; seu primo João Lira Tavares foi nomeado Chefe dos Correios no estado. Mas também não há dúvida, é fato, que a eleição de Pedro Velho permitiu ao estado do Rio Grande do Norte gozar uma certa estabilidade política.

O Legislativo estadual era dominado pela oligarquia Albuquerque Maranhão. Nas eleições para o Senado e Câmara Federal, os Albuquerque Maranhão elegeram a maioria dos representantes do estado àquelas casas legislativas. Demonstrando uma considerável força política no cenário nacional, a oligarquia Albuquerque Maranhão conseguiu a nomeação de Amaro Cavalcanti como Ministro da Fazenda do governo de Prudente de Morais.

3Governaram o Rio Grande do Norte, segundo Itamar de Souza (1989, p. 217-226), no período: Adolfo Gordo (30/nov/1889

a 08/fev/1890); Joaquim Xavier da Silveira (10/mar/1890 a 19/set/1890); João Gomes Ribeiro (08/nov/1890 a 06/dez/1890); Manuel do Nascimento Castro e Silva (07/dez/1890 a 03/mar/1981); Francisco de Amintas Barros (03/mar/1891 a 13/  jun/1891); José Inácio Fernandes Barros (13/jun/1891 a 06/ago/1891); coronel Francisco de Oliveira (06/ago/1891 a 09/ set/1891); Miguel Joaquim de Almeida Castro (09/set/1891 a 28/nov/1891); Junta Governativa (28/nov/1891 a 21/fev/1892), formada por pedrovelhistas: Cel. Francisco de Lima e Silva (presidente) Manuel do Nascimento Castro e Silva e Joaquim Ferreira Chaves.

4A eleição de Pedro Velho representou a consolidação da máquina oligárquica que dominou o Rio Grande do Norte durante

toda a República Velha. O vice-presidente de Pedro Velho era Silvino Bezerra de Araújo Galvão, irmão do coronel José Bezerra, principal chefe político do Seridó. Lembramos que durante a República Velha o Rio Grande do Norte foi cheado pelos Albuquerque Maranhão e, posteriormente, pelos Bezerra de Medeiros.

Segundo Souza (1989, p. 226-227), a marca do governo Pedro Velho não foi a realização de obras materiais, e sim “a organização em todos os setores” da atividade do estado, implementando uma série de medidas como o estabelecimento do Corpo Militar de Segurança e a Guarda Republicana, a regularização do processo eleitoral, a regulamentação da instrução primária e secundária; instituiu o Serviço Sanitário do Estado, aumentou a arrecadação, regulamentou o Batalhão de Segurança e a Secretaria do Governo, consolidou a legislação sobre o governo e a divisão dos municípios, organizou a legislação sobre as terras, instalou o Tribunal de Justiça e instituiu o montepio dos funcionários estaduais (pedra fundamental da previdência social no Rio Grande do Norte).

Mas se é fato que Pedro Velho foi o “Organizador do Estado Republicano”, no dizer de Cascudo (Apud SOUZA, 1989, p. 227), é igualmente verdadeiro que foi Pedro Velho quem liderou politicamente um grupo que deturpou e subverteu os ideais republicanos, arraigando a “corrupção inerente à prática oligárquica”, através de medidas que beneciavam somente ao seu grupo político, notadamente à sua família. Foi Pedro Velho, por exemplo, quem

conseguiu a aprovação de um decreto de 1890, elevando a 10% o imposto de importação de açúcar, nacional ou estrangeiro, favorecendo a produção açucareira dos engenhos dos Albuquerque Maranhão, na medida em que dicultou a concorrência que lhes podia ser feita pelo produto importado. A família, porém, não descuidou da parte de seus negócios que diziam respeito ao comércio: no mesmo ano, o governo contratou Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão, pai de Pedro Velho, para a construção de uma estrada, com mão-de-obra de retirantes da seca de 1889-90, que, partindo da capital, dirigia-se à Casa Comercial fundada por seu avô e administrada por seus descendentes, em Macaíba. Nem mesmo o sal escapou: Adelino Maranhão, irmão de Pedro Velho, conseguiu tornar-se o arrematador do imposto sobre esse produto (MONTEIRO, 2000, p. 168).

 Apesar de ter montado a primeira máquina oligárquica no Rio Grande do Norte, Pedro Velho não a fez sem percalços, como mostra Almir Bueno (2002, p. 160-162), descrevendo os atritos entre o chefe da oligarquia Albuquerque Maranhão e José Bernardo, principal líder político seridoense, motivado pela insistência do chefe do clã Maranhão em indicar o irmão Augusto Severo para concorrer à Câmara Federal, nas eleições de 22 de maio de 1892. Inconformado com a atitude, José Bernardo solicitava ao governador Pedro Velho o cumprimento de compromissos e exigia “lealdade e gratidão para com correligionários tão éis como os do Seridó, sem os quais Pedro Velho não teria sido eleito”. Como o governador ignorou o pedido e insistiu na indicação do irmão, Janúncio da Nóbrega interpretou o gesto “como sendo ‘a primeira manifestação de oligarca que se fazia na República, com deturpação de princípios republicanos’, precipitando o rompimento, que José Bernardo não pôde mais evitar”, desgastando a imagem de Pedro Velho e isolando-o politicamente no estado e em nível nacional até o nal do seu mandato.

Outro fator que desgastou politicamente Pedro Velho foi, segundo Mariz e Suassuna (2002, p. 210), a eleição que renovaria um terço do Senado em 1893. Segundo os autores, o presidente

Floriano Peixoto apoiava como candidato Amaro Cavalcanti, político de sua conança, de grande saber jurídico e nanceiro e que se destacava nas grandes discussões (...) pela competência. O chefe do governo estadual indicou e elegeu Almino Álvares Afonso para a vaga do senado. Esse seu comportamento político fez com que passasse a ser apontado como oligarca, ocasionou o desentendimento e rompimento com o bloco do Seridó, liderado por José Bernardo de Medeiros.

Em 1895 foi realizada, no Rio Grande do Norte, a primeira eleição direta que escolheria o chefe do Executivo estadual. Escolhido por Pedro Velho, o desembargador Ferreira Chaves venceu com facilidade a eleição e, como el aliado da família Albuquerque Maranhão, continuou a obra do seu padrinho político, ou seja, continuou com a política de favorecimento do grupo político ao qual pertencia.

O apoio de Pedro Velho foi de grande importância para assegurar a vitória de Ferreira Chaves sobre o oposicionista José Moreira Brandão Castelo Branco. Segundo Mariz e Suassuna (2002, p. 211), a indicação de Ferreira Chaves pelo Partido Republicano do Rio Grande do Norte para governar o estado contrariava “os anseios dos chefes municipais que esperavam a indicação de um nome da região sertaneja”. Como retribuição, o seu governo, que se estendeu de 1896 a 1900, participou de todos os conchavos montados por Pedro Velho.

Ferreira Chaves fez algumas obras importantes durante o período em que esteve a frente dos destinos do estado: construiu açudes no interior (em Martins e em Pau dos Ferros), iniciou a construção do Teatro Carlos Gomes e fez reparos em alguns importantes prédios públicos.

Um momento dramático do seu governo foi o crescimento, em 1898, do movimento messiânico na Serra de João do Vale (município de Campo Grande), que desorganizava a vida produtiva naquela região, tendo em vista os sertanejos abandonarem os seus afazeres para acompanhar o agricultor místico Joaquim Ramalho. Itamar de Souza (1989, p. 230) descreve os detalhes da origem daquele movimento, uma espécie de Canudos norte-rio-grandense:

Durante o seu governo, assumiu proporções alarmantes o movimento de fanáticos na Serra de João do Vale no município de Campo Grande (...). A trajetória de Canudos estava bem viva na memória coletiva da nação brasileira. As autoridades locais, assombradas (...), temiam que este movimento messiânico fosse a repetição de Canudos e surgisse, no sertão potiguar, um novo Antônio Conselheiro (...). Em 1898, na Serra de João do Vale, Joaquim Ramalho, agricultor robusto e de tendências místicas, certo dia agonizou no pátio da casa, jogou-se ao chão e começou a cantar hinos religiosos. No dia seguinte, repetiu-se a mesma cena.  A notícia espalhou-se veloz por toda a redondeza. Gente de toda parte acorreu

ao local para ver a novidade. Cessada a hipótese de doença, surgiu o espírito do Vigário Velho de Triunfo, Pe. Manuel Bezerra Cavalcanti, ora o espírito do Vigário de Macau, Pe. Manuel Fernandes, ambos falecidos e muito estimados naquelas

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