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COM LOCALIZAÇÃO SOCIOESPACIAL DISTINTAS: DIFERENÇAS QUE IMPACTAM A

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO

Na realidade pesquisada, observamos que o diálogo e parceria entre diferentes setores da política social (escola, posto de saúde, serviço social etc.) se manifestam como possibilidade para, por um lado, favorecer um atendimento mais global à criança e, por outro, facilitar o trabalho da escola que poderá desenvolver suas ati- vidades com uma criança melhor assistida, sendo uma forma de melhorar as condi- ções de escolarização dos estudantes.

Interessa-nos de início destacar que, embora nas realidades analisadas as ins- tituições do chamado “terceiro setor”9 sejam relevantes interlocutoras de ação, se-

gundo os relatos obtidos junto aos partícipes da pesquisa, havendo ações emergen- ciais essenciais para o atendimento aos estudantes, especialmente com atividades contraturno e assistência à alimentação e vestimenta, defendemos que é a partir da atuação do Estado que se vislumbra real melhoria das condições materiais de vida dos sujeitos. Isso porque é dele o papel fundamental de prover não apenas o direito à educação, mas os demais direitos sociais constitucionalmente previstos para que, em rede, as diferentes instâncias (educação, saúde, serviço social, habitação, mo- bilidade, dentre outros) possam assegurar aos sujeitos condições dignas de vida e desenvolvimento.

Essa organização e relação a que poderíamos chamar de “rede de apoio”, mas que se consubstancia na busca pela efetivação da intersetorialidade entre as políticas públicas sociais, pressupõe um arranjo entre as instituições de forma a garantir o diálogo e encaminhamento de demandas horizontalmente colocadas, havendo, na diferença de papéis e no desenvolvimento de trabalhos integrados, a cobertura das várias áreas necessárias para o bem-estar do estudante.

9 Para uma discussão mais ampla sobre o que representa o “terceiro setor” dentro do projeto de de- senvolvimento da sociedade e de sua relação com a (re)produção do capital e da manutenção/extinção dos direitos sociais, ver Montaño (2002).

Discutindo mais especificamente a apropriação pelas famílias de seu desen- volvimento social nos cenários locais, a partir das ações das diferentes instituições, Bernal (2009, p.191, tradução nossa) explicita a indispensabilidade de interação en- tre os setores em vias de promoção integral do atendimento às necessidades básicas dos estudantes:

Diante dessa realidade todos os serviços sociais, especialmente a escola, a educação infantil, o parque, o hospital, as bibliotecas, devem se constituir em redes de apoio comunitário que atendam às necessidades das pessoas, gerando processos de integração social que partam da discussão e acordos de programações coletivas em função de responder às necessidades das crianças e jovens [...]

A constituição dessa rede de apoio de modo intersetorial, supõe trocas que passam tanto pelo âmbito das relações políticas e organizacionais, quanto propria- mente técnicas, já que não há equivalências nas ações realizadas, mas o reconheci- mento da necessidade de todos eles para o desenvolvimento integral das crianças, as quais, seja por questões biológicas, emocionais ou socioeconômicas, precisam de apoio para suprirem suas necessidades que, por vezes, são essenciais para que o trabalho da escola possa ser adequadamente desenvolvido.

Tendo visibilidade nos diferentes setores envolvidos, a intersetorialidade per- mitiria, em vias recíprocas, demandar atenção a aspectos aos quais os estudantes estejam expostos e que pudessem ser supridos para melhorar as condições gerais de suas vidas. Esses aspectos, à medida que não podem ser sanados dentro da própria família, poderiam ser aportados dentro da rede de apoio no entorno social, ampa- rando necessidades específicas das crianças.

Pelo viés da escola, essa comunicação e cobertura permitiriam que diferentes dimensões necessárias para que o bom desenvolvimento da organização do trabalho pedagógico fossem supridas, as quais por sua natureza fogem do âmbito de atuação da instituição escolar e têm no aluno a centralidade da ação de diferentes setores

presentes na estrutura de oportunidades do bairro10, como procuramos esquemati-

zar na figura a seguir:

Figura 1: Rede de apoio intersetorial para atendimento ao aluno

Fonte: Almeida (2014).

Todavia, chama-nos a atenção a evidência de que tanto o trabalho intersetorial nem sempre se configura como tal - já que ao invés de uma integração entre os se- tores em muitos casos há apenas uma justaposição ou, no máximo, uma articulação entre suas ações11 - quanto o acesso a essa rede se evidencia como desigual e aparen-

temente relacionada às condições do entorno social das escolas, em que observamos menor possibilidade de mobilização nas instituições que atendem às famílias mais empobrecidas12.

10 Por estruturas de oportunidades podemos compreender a possibilidade de acesso a bens, serviços ou ao desempenho de atividades, os quais incidem sobre o bem-estar das residências por permitirem aos moradores do domicílio a utilização de seus próprios recursos ou por prover recursos novos (KA- ZTMAN, 1999). A estrutura de oportunidades seria, então, os recursos disponíveis para a população em um dado território/bairro.

11 Semanticamente, o dicionário Aurélio define integração como “tornar inteiro, cabal”, justaposi- ção como “pôr junto, contiguidade” e articulação como “unir ou ligar por meio de articulação”. Dessa forma, uma política realmente intersetorial daria espaço à integração das políticas para atendimento ao sujeito.

12 Importante destacar que mesmo localizada em Zona de Vulnerabilidade Social Absoluta no mapeamento para eleição das escolas pesquisadas, a Escola 2 tem como diferencial, por questões his- tóricas e de ocupação do espaço urbano, sua localização em um bairro melhor estruturado e com ca-

Durante a coleta de dados ficou evidente que o acesso ao setores ligados tanto à provisão estatal (como saúde, serviço social, dentre outros) quanto não estatal (como segmentos de instituições religiosas e organizações não governamentais - ONGs) é compreendido pelos atores da escola como importante meio para manu- tenção e/ou melhora das condições de bem-estar das famílias e, consequentemente, do trabalho nas escolas, acesso nem sempre acessível e suficiente para a demanda colocada, especialmente nas escolas que atendem à população socialmente mais vulnerável.

Ao observarmos a relação entre a escola e a rede de apoio existente em seu entorno social, constatamos que o acesso e contato parece mais usual nas Escola 1 e Escola 2, localizadas em entorno social mais favorável, do que nas Escola 3 e Es- cola 4. Embora nenhuma delas apresente um trabalho verdadeiramente integrado e, portanto, que corresponderia ao que se defendeu aqui como intersetorialidade, as duas primeiras, ao se depararem com problemas que nomeiam como “desestrutura familiar13” ou necessidades diversas, acionam sua rede de apoio, como vicentinos14,

ONGs, posto de saúde e conselho tutelar, para que acolham as famílias/crianças, enquanto nas duas últimas o diálogo se restringe mais ao encaminhamento para o setor da saúde, havendo uma relação mais efetiva, ainda que não integrada, na Escola 3.

Na Escola 3, embora haja a menção ao atendimento de crianças em ONGs, o que se destaca na análise dos dados é o relacionamento com o Posto de Saúde, o qual ocorre tanto pela demanda por atendimento às crianças por intermédio da família, quanto da relação direta da escola a partir de reuniões nas quais alguns profissionais da saúde comparecem à escola auxiliando em questões específicas, conversando sobre os casos atendidos pelo posto e desenvolvendo ações como a “campanha pela higiene bucal”.

racterísticas diferentes da região em que se encontra. Havendo um nível socioeconômico e estrutural positivamente diferenciado em relação aos demais bairros que, em termos de região, são classificados como Zona de Vulnerabilidade Social Absoluta. – Para maior esclarecimento e acesso à discussão e explicitação da questão, consultar Almeida (2014).

13 Nomenclatura comumente utilizada por nossos entrevistados, o termo “desestrutura familiar” no contexto aqui expresso se associa a uma organização familiar que não garante as condições adequadas no lar para que as crianças se desenvolvam de forma positiva.

14 Segmento da Igreja Católica que tem como uma de suas atividades o amparo às famílias com necessidades materiais insatisfeitas.

Na Escola 4, não vimos indícios de diálogo entre as instituições, o que se ob- servou foi a menção ao atendimento de alunos por ONGs e pelo posto de saúde, mas sem uma interação direta entre os profissionais que ofertam os diferentes ser- viços. Em relação à ONG, há o atendimento dos estudantes no contraturno, mas a atividade não é acompanhada pela escola. Em relação ao serviço de saúde, ocorre o encaminhamento a partir de um pedido/relatório da escola, mas sem comunicação direta com o posto, ou o desenvolvimento de alguma ação específica e não contínua do posto na escola, como a de orientação à escovação desenvolvida pelo dentista sem um planejamento integrado.

Analisando as diferenças entre as escolas, observamos que as Escola 1 e Escola 2, em situação de entorno social mais favorável, não mostram grande dificuldade em acessar outros serviços, tendo certa facilidade em encaminhar seus alunos para o atendimento tanto da saúde, quanto de atividades e benefícios de outra natureza, como atendimento em ONGs e amparo a necessidades específicas. Em relação à área da saúde, conseguem encaminhar alunos para avaliação e atendimento no posto de saúde mais próximo e quando a questão se relaciona às condições da fa- mília ou de atenção à criança, possuem bom diálogo para demandar ajuda, tanto em relação à instituição religiosa do bairro (igreja católica), quanto de outras que possibilitam ações para melhorar de forma pontual a vida dos estudantes (academia, escolinha de futebol, ONGs, serviço social), como podemos perceber pelos trechos destacados a seguir:

[...] O fato de a gente ter educação especial nas escolas municipais ajuda muito, porque a gente encaminha muita criança com alguma síndrome, com dislexia ou com problemas mesmo mentais para acompanhamento. E esse acompanhamento acontece com parceria com o postinho que é maravilhoso. Todos os encaminhamentos são atendidos e os psicólogos vêm aqui fazer parceria com a gente. Os psicólogos e psiquiatras fazem parceria, falam com a gente, falam com os professores e com o OP [Orientador Pedagógico]. E o Conselho Tutelar também, todas as vezes que eu precisei do Conselho Tute- lar ele fez a parceria conosco. Todas as vezes que eu os procurei por carta ou telefone eles acudiram a família, fizeram ações junto à família. Mesmo a Vara da Infância e da Juventude todas as vezes que precisamos nos reportar a ela fomos atendidos. Mas são casos muito raros aqui na escola e que não são tão raros na periferia e em outros locais (Entrevista, Escola 1 – Gestor 1).

[Você sabe de alguma instituição do bairro que tenha procurado fazer um tra- balho conjunto com a escola?] A igreja próxima (católica) e uma comunidade ligada a ela (os vicentinos) que atuam e inclusive nós recorremos a eles. Não posso dizer que muito, pois as crianças daqui têm um padrão socioeconômico mais estável, sendo poucas em situação de vulnerabilidade quanto aos trajes e alimentação, são situações raras de acontecer, mas quando ocorrem nós já re- corremos aos vicentinos. Então eles ajudam a família com cesta básica, roupa e até mesmo para localização de moradia (Entrevista, Escola 1 – Gestor 2). A gente tem interação com o núcleo comunitário e o posto de saúde, isso bas- tante, em termos de interação com a escola para favorecer a vida das crianças. Faço bastante reunião com o núcleo comunitário. Então a gente acompanha de perto. [...] no núcleo as crianças vão no período oposto à escola e têm esporte, teatro, artesanato e as crianças que ficam ociosas as mães levam se quiserem, mas as que a gente vê que ficam sozinhas a gente entra em contato, faz reuniões, pedimos vagas para estas crianças, explicamos o porquê, a gente faz reunião com os psicólogos, com os pedagogos para eles verem como está na escola e a gente como está indo lá. Isso para favorecer a educação de um modo geral das crianças... e temos tido bons resultados (Entrevista, Escola 2 – Gestor 2).

[Funcionário] – Vou colocar a questão dos núcleos. Tem dois nos bairros vizinhos e a gente na secretaria faz declarações para lá, pois a preocupação deles é de no tempo oposto à escola esses alunos terem atividade. Então se interfere aqui na escola, interfere sim porque esse aluno estando lá em um curso, numa atividade coordenada interfere no comportamento do aluno na escola, ele melhora, porque lá eles têm as obrigações e as normas para cumprir e isso é um retorno bacana para a gente, melhora o aprendizado desse aluno, o comportamento, então interfere... [Gestor] – Esses centros são da Feac [Fe- deração das Entidades Assistenciais de Campinas]. Em outra escola a gente tinha até mais contato porque fizemos um projeto junto com a escola. E esses núcleos são de grande valia porque eles têm projetos, oficinas (teatro, esportes etc.). Tem um momento de reforço que eles podem fazer lição de casa e tem um grupo de especialistas muito legal com quem a gente tem um contato direto e faz parceria, porque não adianta só estar lá, a gente faz reuniões para saber como estão nossos alunos lá e para saber no que podemos ajudar lá e eles aqui. Tem psicólogo, pedagogo, assistente social.... Não tem a terapia in- dividual, mas tem a terapia para a família... Tem um aluno que ontem eu falei com a psicóloga, ele está com um certo problema e estamos de olho e temos que acompanhar sempre. Inclusive tem que ter a declaração de frequência dos alunos daqui. E alunos nossos que não conseguem, mas necessitam (como os

da rua que falamos), a gente liga e, demora um pouco, mas a gente consegue colocá-los. [...] (Grupo Focal, Escola 2).

Como evidenciado a seguir, as Escola 3 e Escola 4 não mostram a mesma faci- lidade de diálogo e acesso a outras instituições que poderiam oferecer atendimento às crianças e suas famílias. Na Escola 3, embora haja grande proximidade física ao posto de saúde do bairro e tentativa de parceria, não há vazão ao alto número de pedidos/necessidades de atendimento encaminhados pela instituição escolar. Já na Escola 4, há dificuldade em encontrar atendimento nos setores de saúde e assis- tência, sendo mencionado o atendimento aos estudantes pelas ONGs, mas sem parceria citada com a escola para acompanhamento dos casos.

Conversando com o vice-diretor e diretor, eles afirmaram que a escola tem parceria com o posto de saúde e comentaram do serviço de psicologia que atende algumas crianças da escola e vem uma vez por mês em reuniões de professores para falar sobre os alunos atendidos e fazer orientações mais ge- rais (Diário de Campo, Escola 3, 12/08/2010).

[...] Por exemplo, se vários alunos precisam de fono, não tem no bairro, não tem no posto de saúde... Precisa de atendimento de psicopedagogia, não tem no bairro... Então isso prejudica muito e o acesso também fica comprome- tido, pois a família nem sempre tem tempo ou situação financeira para ficar levando, porque as famílias trabalham, são famílias que têm muitos filhos e não têm com quem deixar os menores... Então são casos bem diversificados e muito frequentes (Entrevista, Escola 3 – Professor 5).

Fora a limitação do aluno, a gente vê que ele precisa de um atendimento, mas não um atendimento lento, imediato; demora muito... Falta por parte da família, do assistente social, da saúde, porque a burocracia é muito grande. A gente identifica o aluno no início e no final do ano ele ainda não foi atendido. [...] (Entrevista, Escola 4 – Professor 5).

[Moderador – Nesse sentido, vocês acham que a organização do bairro (ins- tituições não governamentais, associação de bairro, igrejas etc.) influencia o desenvolvimento das crianças?] [Pai/Responsável] – Sim e muito, porque de- pois que meu filho entrou para a instituição ele se desenvolveu bastante, ele melhorou bastante... Ele conseguiu tirar da cabeça dele a história [referência a um trauma sofrido – abuso sexual], não digo que apagou totalmente, mas a professora disse que de agosto para cá ele melhorou bastante, ele fica quieto,

ele presta atenção... Ele só não está tendo desempenho, ele tenta, mas não consegue. [...] [Professor]– Então, as instituições são um grande apoio para a escola. Se não tivessem todas as que têm aqui as crianças ficariam na rua, não estariam aprendendo... Quer dizer, estariam aprendendo outras coisas, não as questões escolares... Além disso, as instituições ajudam também a fazer a lição, dá a parte de reforço e tudo isso ajuda o trabalho da escola (Grupo Focal, Escola 4).

Todavia, vale ressaltar que essa relação com a rede de apoio parece ser tanto uma postura das próprias escolas que estão mais ou menos abertas a manter diálo- gos e assim abrirem espaço de demanda mútua, quanto uma consequência do não estabelecimento de um movimento intersetorial entre os serviços públicos de aten- dimento aos estudantes e suas famílias, o qual potencializaria o trabalho integrado. Podemos inferir, baseados em nossos dados que evidenciam o acesso aos serviços, sua demanda e oferta, que nas Escola 3 e Escola 4 há uma maior demanda pelos serviços gratuitos, enquanto muitas famílias das Escola 1 e Escola 2 não precisam utilizá-los, já que possuem outros meios para acessar os serviços dos quais necessi- tam, assim como as condições materiais para subsistência. Aspecto evidente tanto na declaração de muitos pais das Escola 1 e Escola 2 - ao mencionarem a contrata- ção de serviços especializados para acompanhamento dos filhos, quanto nas falas de alguns profissionais - a exemplo dos gestores da Escola 1, citado anteriormente, em relação ao baixo número de famílias atendidas em situação de maior precariedade, e do gestor da Escola 2, abaixo, que ao ser indagado sobre o número de crianças para as quais demandou acompanhamento junto à ONG com a qual a escola estabelece parceria cita apenas oito.

[Você tem o número de crianças atendidas?] Em estado de risco mesmo são 8, acompanhadas muito de perto. Fora os outros que frequentam e que não sei quantos são, mas esses 8 são os que a gente sentou junto, pediu e faz rela- tório bimestral para ver como está (Entrevista, Escola 2 – Gestor 2).

A partir dos dados analisados, fica clara as diferenças que se impõe às escolas, a partir das desigualdades sociais existentes no espaço urbano, já que algumas aten- dem uma parcela da população mais socialmente vulnerável que outras. Parece-nos

essencial, por essa via, a efetivação de um espaço de integração das diferentes ins- tituições dentro da estrutura de oportunidades existente no bairro, assim como a demanda de serviços por vezes inexistentes ou insuficientes, favorecendo a garantia de condições para que as crianças se desenvolvam, à medida que facilite a provisão de serviços e atendimentos diversos às famílias e às crianças.

Serviços que devem ser disponibilizados, em nosso entendimento, pelo Esta- do, mas que na realidade das escolas vem sendo supridos também por organizações não governamentais as quais, embora importantes para a ação imediata tendo em vista as condições objetivas de muitas famílias, não devem ser tomadas a longo prazo como forma primordial de atuação e garantia de atendimento. Isso porque fazê-lo significaria desresponsabilizar o Estado pela provisão dos direitos sociais previstos em nossa Constituição Federal, implicando na existência de um modelo estatal em que os menos favorecidos estão sujeitos à condição de dependência do serviço prestado por organizações religiosas e filantrópicas, em nível de voluntaria- do e benevolência, para garantia de vida e bem-estar social.

É muito importante a mobilização da sociedade contra a fome e a miséria, como o programa do “Betinho” e ações solidárias. Porém o problema é, pri- meiramente, ignorar que se tratam de ações emergenciais que, dando respos- tas imediatas e assistenciais, não resolvem a médio e longo prazos as causas da fome e da miséria, consolidando uma relação de dependência dessa popu- lação por estas ações. Por outro lado, o problema consiste em acreditar que nestas ações devem-se concentrar e esgotar todos os esforços reivindicatórios e as lutas sociais (MONTAÑO, 2002, p. 18).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando a educação como direito social garantido na Constituição Fe- deral e assumindo a escola como instituição primordial para oferta de uma educação de qualidade socialmente referenciada, não podemos pressupor que essa instituição seja capaz de, sozinha, suprir todas as necessidades para efetivação do desenvol-

vimento dos estudantes. Isso porque as condições de escolarização das crianças e jovens interferem na possibilidade de efetivação da organização do trabalho peda- gógico.

Nas diversas necessidades postas para a salvaguarda de condições apropriadas de escolarização, a garantia dos diferentes direitos sociais já previstos na Consti- tuição Federal de 1988 é essencial. Nesse sentido, a integração entre os diferentes setores, intersetorialidade, consubstancia a possibilidade do estudante ser assistido de forma mais global. Como destaca López (2005a, p. 167, tradução nossa), “mais especificamente, se pode argumentar que a meta de uma educação de qualidade