Com a Palavra: Os Jogadores-artistas

Para uma análise da proposta descrita, transcrevo alguns depoimentos de alguns jogadores-artistas realizados após a finalização desta etapa do experimento.

Os depoimentos em relação à vivência durante o processo na aula- espetáculo “O quinto criador: O público” foram colhidos de maneira livre; utilizando o gravador de áudio de um celular. Alguns aspectos são comuns a todos e outros diferem na reflexão individual. Acredito que as diferenças existentes têm a ver com as diferentes funções no jogo cênico proposto: o ator, o diretor, o sonoplasta, dentre outros.

Quando perguntados sobre o que ficou de positivo na memória da experiência, muitos pontos comuns podem ser observados nos trechos a seguir:

A experiência como jogador-ator no experimento “O Quinto criador: O público”, desde a participação na oficina (fase que considero de extrema importância no processo) até à apresentação do experimento, me despertou o interesse pelo atuar jogando. Falo da interpretação que mesmo com texto gravado, ensaiado, o ator permanece em estado de jogo contínuo, não se apoiando apenas na mímese, nos artifícios, há uma necessidade de releitura dramatúrgica a cada atuação. Em caráter estatístico, das vezes em que participei de audições de atores para cinema ou teatro, me sair melhor (melhor performance, atuação) quando era cena improvisada. Geralmente a

situação (ação dramática) do personagem era dada no momento do teste. Participar do experimento de Teatro Improvisacional como esse foi de grande importância para minha formação de ator e professor de teatro. Durante minha formação acadêmica no Curso de Licenciatura em Teatro na UFBA tive contato com jogos improvisacionais diversos com objetivos variados, era sempre um momento de exercitar a atuação (Informação verbal)17.

Desde o momento que conheci a proposta achei uma experiência interessante e desafiante. Fica na minha memória a imagem de um jogo complexo, com muitas possibilidades de desenvolvimento. No meu caso participei como diretora em uma das apresentações e como facilitadora na oficina de preparação de atores. Fiquei com vontade de aprofundar mais na proposta, de testar combinações, possibilidades de jogo que involucrassem a todos os criadores envolvidos, estímulos nascidos desde a dramaturgia e iluminação, e evidentemente com o público. O que me lembro do experimento é o potencial da proposta, acredito que é estimulante para pensar a cena e a relação do público com ela (Informação verbal)18

A importância da oficina preparatória que antecedeu a aula-espetáculo “O quinto criador: O público” foi outro ponto destacado nos depoimentos dos jogadores- artistas. Momento relevante para a integração dos jogadores-atores com os jogadores-diretores, além do aprimoramento improvisacional – vital para um jogo cênico como o proposto.

As oficinas foram essenciais para ganhar repertório para improvisar, ao mesmo tempo em que ampliou minha percepção para com os outros jogadores. O que me fez perceber o estilo de cada um, facilitando as ações durante as jogadas. As experimentações em sala nos prepararam para a construção das cenas em palco, e a equipe que construiu o experimento estava muito integrada e entregue (Informação verbal)19.

Participei antes das apresentações, em um ou dois encontros e achei importante porque são muitos elementos para lidar no momento da apresentação, então, este diálogo prévio situa os artistas participantes na proposta (Informação verbal)20.

Achei a oficina um espaço muito relevante, não apenas como uma forma de treinamento dos atores e diretores, mas também como uma forma de configurar um grupo de trabalho. Acredito que o jogo da improvisação precisa um conhecimento entre os brincantes, de forma de afinar a conexão entre eles. Tive a oportunidade de participar de várias sessões da oficina de preparação e isso também me ajudou

17

- Depoimento do professor de Teatro, ator, Saulo Santos, dado após o segundo experimento, 2013.

18

-Depoimento da diretora, atriz e pesquisadora, Melissa Mardones, dado após o segundo experimento, 2013.

19

- Depoimento da professora de Teatro, atriz, Joseane Santana, dado após o segundo experimento, 2013.

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para conhecer os atores e poder criar um vocabulário comum para poder dirigir eles na cena. Acho que em novas versões do experimento seria uma contribuição investir maior tempo na consolidação das equipes que finalmente vão participar do experimento, com o objetivo de que cada criador, na sua função, possa entender a função e os processos criativos que operam nos seus parceiros de jogo (Informação verbal)21.

A descrição da experiência, através dos depoimentos de cada jogador- artista durante as apresentações da aula-espetáculo, demonstra as dificuldades enfrentadas, alguns caminhos encontrados e outros que ainda terão de ser percorridos (investigados) para o aperfeiçoamento contínuo deste estudo.

Para mim, o primeiro dia foi o mais difícil. Tive dificuldade em me inserir nas cenas, em participar, em entrar na improvisação. Nós, adultos, com nossos modelos, regras e convenções morais, acabamos tolhendo nossa habilidade criadora, tornamos prisioneiros de nossa rotina e obrigações. E assim foi o segundo dia. A vontade era de não sair de cena; era tudo tão gostoso e a sensação de leveza e fluidez nas cenas era impagável (Informação verbal)22. A iluminação me encantou por poder operar enquanto atuava, assim como poder compor meus acessórios em cena também me deixou fascinada. Sim, meu relato é extremamente encantado (...) encantada em poder ter o público construindo junto, opinando durante a cena, mudando, reformulando, criando!(Informação verbal)23.

Fui a DJ/sonoplasta. Acho a proposta legal, mas, diante do fato de que não se sabe exatamente o que vem, penso que o áudio tende a ser mais abstrato, embora, por vezes, os demais participantes demonstrem ter outra expectativa. Querer que o DJ sincronize o áudio com as situações fica parecendo gincana. Sendo assim, a direção de cada apresentação precisa entender que é difícil acertar o timing entre o surgimento de uma situação e encontrar um áudio “condizente”. É tudo muito rápido! Por outro lado, áudios muito óbvios ficam fakes. Em uma das apresentações, alguém disse que uma vaca tinha caído e soltei o áudio de um mugido. Lembro que pensei: “não ficou interessante”. O som também é importante, tem que ser encarado como proposta e não pode ser somente o coadjuvante. Claro que uma trilha é criada em função de uma dramaturgia, mas no caso de um espetáculo de improviso é que você vê como a composição de uma trilha não é algo puramente técnico. O improviso demonstra isso muito bem. E também demonstra como os demais veem o som, como elemento puramente acessório. Só os grandes artistas conseguem tornar a trilha um elemento narrativo,

21

- Depoimento da diretora, atriz e pesquisadora, Melissa Mardones, dado após o segundo experimento, 2013.

22

- Depoimento da professora de Teatro, atriz, Amanda Shapovalov, dado após o segundo experimento, 2013.

23

- Depoimento da professora de Teatro, atriz, Joseane Santana, dado após o segundo experimento, 2013.

uma ilustração das subjetividades dos personagens ou mesmo um personagem. Tipo nos filmes “Taxi Driver” (Martin Scorsese) ou o “Corpo que cai” (Alfred Hitchcock). Enfim, o elenco e a direção até podem pedir um determinado áudio, mas não pode insistir em um pedido, tem que lidar com a proposta da trilha assim como lida com as demais propostas(Informação verbal)24.

Foi uma experiência muito fluida, o público entrou no jogo de forma colaborativa, facilitando a cena. Fiquei com a sensação de que algumas pessoas poderiam se sentir co-criadoras do espetáculo, entendendo-se de alguma maneira como responsáveis do devir do jogo (sucesso ou fracasso). Minha sensação é que o público ficou envolvido com a proposta (Informação verbal)25.

A presença durante o experimento do dramaturgo, do diretor, dos atores, do iluminador, do sonoplasta, dentre outros, pode possibilitar que o público vivencie, além do jogo poético proposto para criação das cenas, um processo também formativo – para a compreensão destas funções do teatro. Este foi outro aspecto comentado pelos jogadores-artistas em seus depoimentos.

Acho que o público vivencia um processo formativo e observo um grande potencial no projeto, justamente neste sentido. Achei que deveria acontecer em escolas, associações de bairro, etc. Aproxima o fazer artístico do cidadão comum, sem tirar a magia, a aura mágica do palco, do teatro (Informação verbal)26

Acredito que sim, já que visibiliza as funções envolvidas na criação teatral. O experimento de alguma forma evidencia essa complexidade. O experimento deixa uma sensação de estar assistindo não apenas a cena, mas também ao que acontece atrás dela. Acredito que isso é estimulante para o público, já que lhe empodera para intervir na criação, afastando-lhe do papel de espectador passivo e tornando-lhe, de alguma forma, co-criador (Informação verbal)27.

Os depoimentos, informalmente dados pelos jogadores-artistas após a realização dessa etapa do experimento, serviram como base para avaliar os procedimentos executados e refletir acerca do aspecto pedagógico inerente ao estudo. Percebi o quanto a oficina preparatória de treinamento em técnicas improvisacionais foi uma etapa relevante e necessária para a proposta da aula-

24

- Depoimento da DJ/sonoplasta, Adriana Prates, dado após o segundo experimento, 2013.

25

- Depoimento da diretora, atriz e pesquisadora, Melissa Mardones, dado após o segundo experimento, 2013.

26

- Depoimento da DJ/sonoplasta, Adriana Prates, dado após o segundo experimento, 2013.

27

- Depoimento da diretora, atriz e pesquisadora, Melissa Mardones, dado após o segundo experimento, 2013.

espetáculo aqui investigada. Dessa forma, a abordagem de uma pedagogia do olhar através de um dispositivo poético-pedagógico-colaborativo poderá ser efetivada por meio de oficinas preparatórias para a participação do jogo cênico proposto neste trabalho.

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DESMONTAGEM CÊNICA III: TERCEIRO EXPERIMENTO

“O ouvido ouve. A mente escuta. O corpo ouve e a mente escuta” Anne Bogart (2005)