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EXPERIMENTO III: AULA ESPETÁCULO “O QUINTO CRIADOR: O PÚBLICO”

Tinha planejado que esse experimento aconteceria em setembro ou outubro de 2015, após a finalização de todas as oficinas no Colégio Estadual Luiz Viana Filho, porém, com a greve de docentes das universidades públicas da Bahia no período de junho a agosto de 2015, muitas ações e atividades planejadas para

serem desenvolvidas com os alunos-bolsistas e com o Colégio parceiro, tiveram que ser remanejadas. Além disso, havíamos decidido fazer, como finalização do Subprojeto do PIBID, a apresentação da aula-espetáculo na Sala zero da UESB, e tivemos que mudar de espaço porque seria no mesmo período em que houve nova paralisação dos docentes da Universidade.

Assim, o Experimento III foi realizado em dezembro de 2015, em uma sala de aula do Colégio. Contudo, não tivemos muitos espectadores-alunos da instituição por conta de os mesmos estarem envolvidos na semana de provas da última unidade do ano letivo, com isso, o horário e o espaço que a escola nos cedeu para a realização do experimento chocou com a atividade avaliativa das disciplinas obrigatórias dos alunos(infelizmente).

Conseguimos, mesmo assim, ter a presença de alguns alunos- espectadores e de público externo ao Colégio.

Nesse último experimento, da mesma maneira que os anteriores, buscou- se refletir acerca das aprendizagens adquiridas e nas ideias trazidas pelos participantes. Dessa forma, passarei a descrever o formato que elaboramos.

Tivemos três encontros semanais, nas terças-feiras, que antecederam o experimento para a elaboração do formato que atendesse às nossas expectativas e a nossa realidade. Nos encontros, como para estímulo, apliquei alguns exercícios de improvisação com todos os alunos-bolsistas – para que observassem a inesgotável possibilidade de jogo que pode acontecer em uma proposta como a investigada – porém, todos já tinham escolhido suas funções como jogadores-artistas que foram: Atores, Dramaturgia, Diretor-encenador e sonoplastia. Nesse experimento não tivemos as demais funções como Iluminação, Maquiador, Cenógrafo, dentre outras, posto que as mesmas não foram escolhidas pelos participantes.

Elaborei então um roteiro com a contribuição de algumas sugestões dadas pelos alunos-bolsistas e apresentei um novo formato de jogo com duração total de uma hora.

Alguns aspectos foram modificados na medida em que novas ideias ou dificuldades apareceram:

Introdução (duração de 15 minutos) – as passagens de tempo seriam feitas pelo sonoplasta com a entrada de música alta ou algum tipo de ruído previamente definido por todos. Procedimento: Público entraria no espaço;

instruções; estímulo – cenas de “O amante”, de Harold Pinter (duas pequenas cenas que foram criadas anteriormente durante as oficinas); público escolheria qual das duas cenas desejaria que fosse ampliada com improvisação;

Etapa um(duração de 15 minutos) – as passagens de tempo seriam feitas pelo sonoplasta com a entrada de música alta ou algum tipo de ruído previamente definido por todos. Procedimento: A cena escolhida seria ampliada com improvisação e com a escolha do público para a entrada de novos personagens (escolha feita com a utilização de envelopes coloridos e dentro dos mesmos, as opções de novos personagens);

Figura 43– Envelopes coloridos com personagens diferentes. 09 de dezembro de 2015, sala do

Colégio Luiz Viana Filho, Jequié-BA.

Fotos: Arquivo dos alunos-bolsistas do PIBID.

Etapa dois (duração de 15 minutos) – as passagens de tempo seriam feitas pelo sonoplasta com a entrada de música alta ou algum tipo de ruído previamente definido por todos. Procedimento: Espectadores escolheriam bolas espalhadas pelo espaço e elas seriam estouradas. Dentro de cada bola escolhida pequenos cartões com propostas de novas situações ou lugares para a ampliação da cena;

Figura 44 – Bolas espalhadas pelo espaço e dentro delas novas propostas de situações e de locais.

09 de dezembro de 2015, sala do Colégio Luiz Viana Filho, Jequié-BA.

Etapa três (duração de 15 minutos) – as passagens de tempo seriam feitas pelo sonoplasta com a entrada de música alta ou algum tipo de ruído previamente definido por todos. Procedimento: Nesta última etapa seria feita uma espécie de ensaio, com possibilidade do diretor-encenador fazer algumas mudanças para melhorar a cena ampliada com improviso. O sonoplasta poderia trazer interferências com novos estímulos ou possibilidades sonoras para a finalização da cena; o dramaturgo se faria presente em todas as etapas para, através da observação da cena improvisada durante todo o jogo, inspirar-se e escrever posteriormente uma cena dramatúrgica; o diretor-encenador, também presente, teria a função de conduzir o diálogo com a plateia e com os atores, com o dramaturgo e com o sonoplasta, além de organizar a cena esteticamente para ser finalizada.

Essa foi a elaboração inicial para o experimento. Logo após, Lincoln, um dos alunos-bolsistas que tinha escolhido a função de sonoplasta, deu a ideia da criação de um vídeo para apresentação das instruções no início de cada bloco, além disso, ele sugeriu criar também um vídeo para divulgação da aula-espetáculo com algumas informações básicas (data, hora, local, dentre outros). Achei a ideia muito interessante; teve uma boa repercussão em redes sociais antes da apresentação (divulgação) e também durante a aula-espetáculo42.

O espaço da sala de aula cedido pelo Colégio para a apresentação era próxima do formato da Sala Zero, onde iríamos apresentar se não fosse pela paralisação dos docentes da Universidade. Uma sala retangular, porém, menor – com capacidade, diante da organização que fizemos para a aula-espetáculo, de aproximadamente 35 lugares. Caso chegasse mais gente do que o limite de cadeiras, tínhamos combinado de colocar as pessoas sentadas no chão, organizadas em uma fileira na frentedas cadeiras. Entretanto, tivemos um público menor e todos puderam sentar apenas nas cadeiras.

A organização espacial foi pensada antes de iniciarmos a apresentação. Além das cadeiras de costas para as paredes, colocamos duas mesas em lados opostos para o jogador-dramaturgo e para o jogador-sonoplasta.

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- Vídeo pode ser verificado no link:

Figura 45– jogador-dramaturgo (imagem à esquerda) e jogador-sonoplasta (imagem à direita).09 de

dezembro de 2015, sala do Colégio Luiz Viana Filho, Jequié-BA.

Fotos: Arquivo dos alunos-bolsistas do PIBID.

Como não tínhamos uma iluminação cênica no espaço escolar, espalhamos oito luminárias pelo ambiente na tentativa de dar uma iluminação mais aconchegante.

Figura 46–Luminárias espalhadas no espaço. 09 de dezembro de 2015, sala do Colégio Luiz Viana

Filho, Jequié-BA.

Fotos: Arquivo dos alunos-bolsistas do PIBID.

O figurino foi composto nas cores: branco, preto, cinza e vermelho. Os alunos-bolsistas tinham experimentado usar essas cores em outros momentos e todos tinham peças de roupa nessas cores. Cada um compôs seu figurino com empréstimo e peças de um e de outro.

Figura 47– Jogadores-artistas com figurino. 09 de dezembro de 2015, sala do Colégio Luiz Viana

Filho, Jequié-BA.

Fotos: Arquivo dos alunos-bolsistas do PIBID.

Os jogadores-artistas, antes de iniciarem a apresentação, fizeram aquecimento vocal, corporal e alguns exercícios para estimular a prontidão para a improvisação. Tinha na sala uma estante onde foram colocados alguns objetos e adereços que poderiam ser utilizados durante a apresentação pelos jogadores- atores.

Os estudantes do Colégio estavam impossibilitados de assistir e de participar da aula-espetáculo – por conta da atividade avaliativa acontecer no mesmo horário cedido pela direção da instituição para a apresentação –por isso resolvi, com os alunos-bolsistas e com a autorização obtida pela Prof.ª Antonieta – supervisora do Subprojeto do PIBID no Colégio – que faríamos as cenas na entrada do público, portaria da escola.

Figura 48– Cena prólogo apresentada na chegada do público. 09 de dezembro de 2015, portaria do

Colégio Luiz Viana Filho, Jequié-BA.

O Colégio cedeu espaço e o horário das 19 horas para a apresentação acontecer. Às 19 horas e 30 minutos os estudantes entraram em suas salas de aula para fazerem as atividades avaliativas. O início da aula-espetáculo ocorreu com um pouco de atraso e a maioria do público presente foi externo ao Colégio. Poucos alunos do Colégio puderam assistir e os poucos que ficaram até o fim eram dos turnos matutino e vespertino.

Figura 49– Público chegando para a apresentação. 09 de dezembro de 2015, sala do Colégio Luiz

Viana Filho, Jequié-BA.

Fotos: Arquivo dos alunos-bolsistas do PIBID.

Os vídeos com as instruções foram projetados em um telão antes de iniciar cada etapa, ao finalizar, o jogo passava para etapa seguinte. Assim que a projeção do vídeo com as instruções para a etapa um finalizou, as duas cenas com fragmento da peça “O amante”, de Harold Pinter foram apresentadas. O vídeo explicou que os espectadores assistiriam às duas cenas e depois escolheriam qual delas gostariam que fosse ampliada com improvisação através dos envelopes escolhidos e, com isso, se daria a inserção de novos personagens e foi o que aconteceu.

Na etapa dois, novamente a projeção do vídeo deu as instruções e, dessa vez, o público escolheu bolas para serem estouradas e dentro delas continham cartões com novos estímulos de lugares e de situações para a ampliação da cena.

Na etapa três, a última, após as instruções do vídeo, foi o momento do ensaio para a apresentação final, a direção, a sonoplastia e os atores tiveram a oportunidade de melhorar algo na cena, de escolher um som ou música para fazer a trilha sonora.

Figura 50– Jogador-diretor (vestido de branco) dando indicações aos jogadores-atores. 09 de

dezembro de 2015, sala do Colégio Luiz Viana Filho, Jequié-BA.

Fotos: Arquivo dos alunos-bolsistas do PIBID.

O público também pôde solicitar troca de ator para determinado personagem ou alguma outra sugestão para o desfecho da cena criada. Inclusive, isso foi um diferencial dos experimentos anteriores. Como o jogo foi criado a partir de uma cena inicial escolhida para ser ampliada, durante o processo, através das escolhas do público (envelopes, bolas, etc), alguns jogadores-atores já estavam com personagens fixos e na Etapa três, uma pessoa da plateia solicitou a troca de personagens de alguns jogadores-atores. No momento inicial da solicitação, senti um certo receio dos jogadores-atores por conta, talvez, de não terem pensado nessa possibilidade, porém, entraram no jogo e conseguiram manter a mesma estrutura que já vinha sendo mostrada, obviamente, com alguns novos detalhes devido à mudança de ator, o que requereu de todos maior concentração e versatilidade.

Destaco também outros momentos relevantes que durante o improviso para ampliação da cena aconteceram. Em dado momento, durante o jogo, uma das personagens criadas, um policial, quis saber se os moradores da casa (outros personagens criados) tinham uma bíblia. Uma pessoa da plateia, inesperadamente, entregou um pedaço de uma página da bíblia para a personagem do policial que leu algum trecho da página em voz alta; outro momento foi a inserção pelo jogador- sonoplasta de um som de telefone ou celular tocando e outra pessoa do público começou a falar com um dos jogadores-atores como se fosse a mãe de uma das personagens. Por fim, destaco um momento mágico. Uma pessoa do público trouxe uma criança, seu filho, um menino de cinco anos mais ou menos, para assistir o experimento. Chegaram após ter começado a cena e a criança no início estava muito inquieta, porém, em um dos momentos que o jogador-diretor solicitou que

alguém escolhesse uma bola para estourar e ler o novo estímulo que estava dentro da mesma, o menino pediu para ele escolher e estourou a bola. Provavelmente, todos nós ficamos tensos com o receio do que poderia acontecer dali para frente. Contudo, o jogador-diretor teve a ideia de o menino entrar na cena, acompanhado de um jogador-ator (personagem de vendedor).

Figura 51– Garoto entra no jogo acompanhado de um jogador-ator.09 de dezembro de 2015, sala do

Colégio Luiz Viana Filho, Jequié-BA.

Fotos: Arquivo dos alunos-bolsistas do PIBID.

E assim, a criança entrou rapidamente, depois quis voltar para a plateia e ficar ao lado da mãe. O que mais me chamou atenção foi à constatação de como a criança realmente tem facilidade para entrar em um jogo e como depois desse acontecimento o garoto ficou mais quieto. No final de toda a cena ampliada, um dos personagens resolveu envenenar todos os outros com uma bebida, todos morrem, esse personagem também toma a bebida e morre e o menino quando viu a cena pergunta: “Tomou?”, ou seja, quis saber se o personagem que envenenou todos também tinha tomado à bebida.

Figura 52–Finalização da cena ampliada. 09 de dezembro de 2015, sala do Colégio Luiz Viana Filho,

Jequié-BA.

De uma maneira geral, as etapas foram seguidas, entretanto, as interferências-escolhas do público poderiam ter sido mais exploaradas como por exemplo, foram feitas pelo diretor poucas solicitações de escolha dos envelopes e poucas bolas foram estouradas.

Uma das coisas que tínhamos combinado antes era que, após a escolha de uma das cenas para a mesma ser ampliada com improvisação a partir das escolhas do público (envelopes, bolas, dentre outras possibilidades que surgissem), toda nova etapa, a cena seria repetida toda, do início até o momento de cada ampliação com novas improvisações.

A ideia era fazer com que o público observasse a cena ser construída como em um ensaio acontece, ou seja, demonstrar que no processo criativo em teatro a repetição é necessária para que os atores se apropriem do material criado. Contudo, houve mais repetições do que o necessário.

Acredito que a imprevisibilidade da situação e a pouca experiência em atividades com o jogo proposto, tenha deixado a direção, talvez, ansiosa, com receio de interferir demais ou de não dar tempo de finalizar o jogo como planejado. De quaquer maneira, chegamos ao final com uma proposta cênica bem definida e apresentamos como combinado.

Para finalizar, a dramaturgia criada posteriormente, a partir dos estímulos e inspirações provocadas pela cena improvisada, foi intitulada “Toda bíblia tem uma casa”43

(ANEXO F). Buscou-se utilizar da própria dramaturgia que foi se formando durante o experimento, colocando alguns novos elementos para dar uma construção melhorada das ideias fluídas durante a apresentação da aula-espetáculo.