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6.2 AS OFICINAS: PREPARAÇÃO PARA MONITORIA

6.2.1 Dramaturgia

A primeira oficina foi a de Dramaturgia e aconteceu em três encontros, às terças-feiras, das 19h às 22h. Os alunos-bolsistas já tinham feito, na graduação, disciplinas referentes ao estudo teórico e prático de dramaturgia. Além disso, o foco da experimentação seria a produção dramatúrgica – tanto para aplicação na oficina que seria desenvolvida mais adiante para alunos do Ensino Médio, no Colégio Luiz Viana Filho, como também para o último experimento da aula-espetáculo “O quinto criador: O público”.

Para começar, apresentei para leitura algumas dramaturgias criadas a partir do primeiro experimento (ANEXO B). Expliquei que os estímulos-frases, sugeridos pelos dramaturgos convidados, as escolhas dos espectadores presentes nas aulas-espetáculo e os improvisos dos jogadores-atores conduzidos por demais jogadores-artistas, foi o material inspirador para as criações dramatúrgicas lidas.

Figura 27- Encontro com os alunos-bolsistas. Oficina de Dramaturgia, agosto de 2015, Sala zero,

UESB, Jequié-BA.

Foto: Arquivo dos alunos-bolsistas do PIBID

No segundo momento, levei nos dois últimos encontros, estímulos diferentes como: Imagens de pinturas de Edward Hooper33 projetadas no Datashow, frases soltas, escolhidas aleatoriamente de peças-paisagem, de Gertrudes Stein34:

33

- Artista norte-americano (1882-1967). Retratou de maneira realista imaginativa a solidão, o vazio, a desolação e a estagnação da vida humana. Da mesma maneira, suas obras são destacadas pela utilização nas imagens, do uso da iluminação como mais um elemento a ser contemplado.

34

- STEIN, Gertrudes. O que você está olhando: Teatro – 1913 a 1920. Org. e trad. AMARANTE, Dirce Waltrick; COLLIN, Luci. São Paulo: Iluminuras, 2014. Trata-se de dramaturga norte-americana, a qual em 1913 começou a escrever peças de teatro e é tida por Hans-Thies Lehmann como exemplo do que seria para ele, dramaturgia pós-dramática.

 “Empilhar as janelas, congelar com as portas, pintar com o teto, prender os pisos”.

 “Ele gosta de ler e beber. Ele bebe vinho. Ele gosta de andar. Ele prefere descansar. Ele é pintor por profissão”.

 “O cão está firmemente amordaçado. Ele não pode respirar livremente”.  “Alguma coisa está se movendo aqui embaixo”.

 “Um sujeito parou atrás de nós e está nos escutando”.  “Não vê como as ruas estão desertas?”.

 “Enquanto isso eu tiro o sapato e olho para ele”.

 “Olhe o outro lado da rua. Todas as janelas estão fechadas”.  “Quantas pessoas você acha que estavam no ônibus?”  “Vem chegando alguém”.

Tanto as imagens de Hooper, como as frases de Stein serviram de inspiração para a produção dramatúrgica dos alunos-bolsistas. Observei, a cada cena produzida, o entusiasmo deles em perceber a possibilidade de criação a partir dos estímulos apresentados.

E por fim, o último estímulo foi o poema-cantado, “As coisas”, de Arnaldo Antunes35:

As coisas têm Peso, massa, volume

Tamanho, tempo Forma, cor Posição Textura, duração Densidade Cheiro Valor Consistência Profundidade, contorno Temperatura, função Aparência Preço, destino, idade

Sentido

As coisas não têm paz

As coisas

Após os alunos-bolsistas ouvirem o poema-cantado algumas vezes de olhos fechados, solicitei que se dividissem em dois grupos e cada grupo improvisasse um quadro estático, uma imagem, e cada grupo escolheria para representar o que seriam suas interpretações imagéticas estimuladas pela audição do poema-cantado. A partir disso, cada grupo observou a imagem criada do outro e todos se inspiraram para escritas individuais das cenas dramatúrgicas.

Figura 28– Alunos experimentando em Oficina de Dramaturgia, agosto de 2015, PIBID, Sala Zero, UESB, Jequié-BA.

Fotos: Arquivo dos alunos-bolsistas do PIBID

Cada aluno-bolsista criou, durante os encontros, duas a três cenas e as enviaram a mim por e-mail. Fiz algumas revisões em suas estruturas e na ortografia. Os textos foram impressos, xerocados para todos e então fizemos as leituras. Algumas criações dramatúrgicas estão no ANEXO D deste trabalho.

Assim finalizamos a primeira etapa da oficina. A impressão que tive foi que, além de a experiência ter sido bastante prazerosa e produtiva, os alunos- bolsistas exercitaram suas habilidades na criação textual de dramaturgia.

Acredito que alguns não tinham tido tantas oportunidades e motivações para exercitarem tal produção, até por acharem algo distante de suas escolhas no fazer teatral. Além disso, refleti sobre a necessidade da desmitificação de que para escrever peças teatrais temos que ser ou nos aproximar de um Shakespeare, de um Suassuna, de um Beckett, de um Brecht, de um Nelson Rodrigues e tantos outros que povoam nosso ideal acerca da Literatura dramática.

Desde quando lecionei Artes-Teatro, na matriz curricular, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, sempre incentivei os alunos a conhecerem através da leitura de dramaturgos diversos, a Literatura dramática ocidental. Na dissertação

de Mestrado, refleti sobre a ênfase que é dada, no ambiente escolar, aos gêneros ou às categorias da Poética – a Épica e a Lírica em relação à Dramática – e os possíveis motivos para que isso aconteça – como a formação dos professores tanto em Teatro, como em Letras. Sinalizo, com isso, que o ensino de Dramaturgia no contexto escolar pode também favorecer a ampliação para a formação leitora.

A oficina de Dramaturgia possibilitou, através das cenas lidas e das cenas criadas, a experimentação de estruturas, de estilos e de estéticas diversas. Isso coaduna-se com o que Jean-Pierre Sarrazac (2002) sinaliza em relação a muitas peças contemporâneas – que estas perdem-se na conservação de formas do passado. O autor parafraseia Brecht: “em teatro não basta dizer coisas novas, também dizê-las de outras formas”. Escrever no presente não é contentar-se em registrar as mudanças de nossa sociedade, é intervir na “conversão” das formas.