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As forças de segurança do Paraguai e do Brasil devem unir forças para combater o rico negócio do narcotráfico que, segundo o ex-ministro do Interior do Paraguai, Rafael Filizzola, movimenta US$ 1 bilhão no Paraguai (EXAME, 2017). Enfatiza-se que a comercialização seja ainda mais lucrativa para as facções criminosas fora do Paraguai.

Nas operações conjuntas, entre Brasil e Paraguai, são apreendidas e destruídas importantes quantidades de maconha, cargas confiscadas e plantações destruídas. Todavia, esses países ainda não apresentaram uma política consistente para estancar o narcotráfico.

Países próximos como o Uruguai e o Chile adotaram políticas próprias com relação ao consumo e uso medicinal da maconha. Mas o Paraguai, o maior produtor da América do Sul (EXAME, 2017), está distante dos debates políticos sobre o narcotráfico e a maconha. O Quadro 4 mostra as taxas de homicídios para cada departamento paraguaio.

Quadro 3 - Taxa de homicídios por departamento paraguaio para cada 100.000 habitantes – 2014

DEPARTAMENTO CAPITAL TAXA

1 Amambay Pedro Juan Caballero 66,73

2 Canindeyú Salto del Guairá 23,09

3 Concepción Concepción 22,18

4 Presidente Hayes Villa Hayes / Pozo Colorado 13,61

5 Caazapá Caazapá 12,54

6 San Pedro San Pedro de Ycuamandiyú 11,85

7 Alto Paraná Ciudad del Este 10,27

8 Itapúa Encarnación 7,01

9 Caaguazú Coronel Oviedo 6,39

10 Alto Paraguai (*) Fuerte Olimpo 6,39

11 Misiones San Juan Bautista 4,14

12 Guairá Villarrica 4,02 13 Cordillera Caacupé 3,46 14 Central Areguá 2,95 15 Paraguarí Paraguarí 2,50 16 Boquerón (*) Filadelfia 0,62 17 Ñeembucú (*) Pilar 0,59

* Distrito Capital Assunção (capital do país) 6,24

PARAGUAI 17,3

Fonte: Departamento de Estatísticas da Polícia Nacional do Paraguai, 2015. (*) Taxa por 10.000 habitantes.

Do lado paraguaio, em geral, existe uma menor taxa de homicídios quando comparado seus departamentos e municípios com os estados e municípios brasileiros.

Dos dezessete departamentos paraguaios, dez apresentam taxas de homicídios inferiores a 10 para cada grupo de cem mil habitantes, valores considerados toleráveis pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Esses dados ilustram que o país fronteiriço com o Brasil tem, em sua maior parte, um controle sobre a violência e sua segurança pública tem evoluído nos últimos anos. A figura 21 mostra a localização espacial dos departamentos paraguaios.

Figura 21 - Localização espacial dos departamentos paraguaios, e suas respectivas taxas de homicídios

Fonte: SIRGAS, 2000.

Foram utilizadas três cores para diferenciar as taxas de homicídios nos departamentos paraguaios. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), as taxas de homicídios para cada grupo de cem mil habitantes são consideradas baixas ou toleráveis até o valor de 10/100.000. Na situação aqui representada, os valores inferiores a 10 são considerados baixos e estão na cor verde. Os valores acima de 10 e que compreendem até 25/100.000 são considerados intermediários e seguem na cor amarela. Acima de 25 são considerados altos e tem a cor vermelha.

Seis departamentos têm níveis intermediários de violência, sendo quatro deles com valores um pouco acima da média tolerada pela OMS, sendo Presidente Hayes com 13,61, Caazapá com 12,54, San Pedro 11,85 e Alto Paraná com 10,27.

O Paraguai apresenta apenas três departamentos com taxa de homicídios superior a 15/100.000, sendo Amambay com 66,73, Canindeyú com

23,09 e Concepción com 22,18. O índice mais alarmante é o de Amambay, fronteiriço com o estado do Mato Grosso do Sul (MS), que tem suas taxas de homicídios alavancadas pelo município de Pedro Juan Caballero, cidade-gêmea com o município brasileiro de Ponta Porã (MS).

Conforme o ex-ministro do Interior do Paraguai, Rafael Filizzola, a grande onda de violência em Pedro Juan Caballero (com 80 homicídios para cada cem mil habitantes) ocorre em virtude da disputa pelo poder e controle do tráfico das drogas pelas facções brasileiras. O governo de Amambay acredita que existe uma luta pelo poder entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) pelos hectares de terras para o cultivo da maconha em território paraguaio.

As cidades na fronteira entre Paraguai e Brasil, como Capitán Bado e Pedro Juan Caballero, são as principais rotas regionais do narcotráfico. Servem como entreposto da cocaína, que tem como origem o Peru, a Colômbia e a Bolívia e como destino as principais cidades brasileiras, assim como os Estados Unidos e a Europa. Nestas cidades têm-se ainda as plantações e a distribuição da maconha, de acordo com a Secretária Nacional Antidrogas do Paraguai (SENAD).

A criminalidade em Amambay, principalmente ao norte do departamento, segundo as autoridades paraguaias, é de responsabilidade do crime organizado, que tem como ferramenta principal de ação a contratação de pistoleiros de aluguel, que são contratados a baixos preços. Um assassinato pode ser encomendado por cem reais na região. Para o ministro do Interior do Paraguai, Juan Ernesto Villamayor, o cenário da segurança pública no Paraguai é instável e que a melhor estratégia no combate a criminalidade está na prevenção.

Os departamentos de Canindeyú e Concepción apresentam taxas menores que Amambay, mas ainda altas quando comparados com os demais departamentos do Paraguai. A capital de Canindeyú, Salto del Guairá, cidade-gêmea com Guaíra- PR, é uma importante rota da maconha e, por isso, local de disputa entre os narcotraficantes. Este fato aumenta as taxas de homicídios nos dois municípios e, consequentemente, nos departamentos do Paraguai e na fronteira paranaense.

Do lado brasileiro, conforme o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o país apresentou uma taxa de homicídios de 30,3 no ano de 2016 e de 31,6 no ano de 2017 tendo um aumento de 4,3%. O retrato da média nacional está na maioria dos estados. Todavia, alguns se apresentam muito abaixo dessa média, como os estados de São Paulo (10,3) e Santa Catarina (15,2) em 2017.

O Paraná apresentou taxas de 27,4 (2016) e 24,4 (2017), com uma redução de 10,9% em 2017. No estado, ocorre o contrário do Norte e Nordeste, houve redução nos conflitos entre as organizações criminosas.

Muitos estados brasileiros se depararam com taxas de homicídios muito acima da média nacional, que foi de 31,6, em 2017. O Rio Grande do Norte (62,8), Ceará (60,2), Sergipe (57,4) e Pernambuco com taxa de 57,2 se destacam no Nordeste. Enquanto o Acre (62,2), Pará (54,1) e o Amapá com taxa de 48 enfatizam o aumento da criminalidade na região Norte do Brasil, em 2017.

De acordo com Tadeu Brandão, pesquisador do Observatório da Violência do Rio Grande do Norte, a melhora na economia do Nordeste ocorreu de maneira desordenada. Ou seja, existe a carência de infraestrutura em setores sensíveis à segurança pública, em especial, no sistema penitenciário e policial. O crescimento econômico dessas regiões também contribuiu para a formação de um novo mercado consumidor das drogas.

Ainda, conforme Tadeu Brandão, “a Justiça não se preocupou em combater as grandes redes criminosas, as facções. Ficou concentrada em prender pequenos traficantes, que vão para presídios em péssimas condições”. Conforme o pesquisador, esses jovens, longe das escolas e sem expectativas, são cooptados de maneira simples pelos traficantes e engrossam o quadro da criminalidade.

Conforme o FBSP, o aumento da violência em muitos estados do Norte e Nordeste ocorre devido à presença das facções criminosas, caso do Primeiro Comando da Capital – PCC e do Comando Vermelho – CV, que expandiram suas atividades, além do estado de São Paulo e do Rio de Janeiro, e disputam o poder de maneira violenta pelo controle dos territórios nortistas e nordestinos.

A presença do PCC e do CV no Norte e Nordeste gerou confrontos pelo domínio dos territórios urbanos, inclusive com armas de grosso calibre. Dentro desse contexto, fica evidente o despreparo dos estados, que não investiram em segurança pública, para lidar com esse fenômeno, incomum nessas regiões até alguns anos atrás.

A Tabela 2 apresenta as taxas de assassinatos para cada grupo de cem mil habitantes para cada estado brasileiro e no Distrito Federal.

Tabela 2 - Taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes para cada estado brasileiro, mais o Distrito Federal

Estado Ano Ano Acréscimo /

Decréscimo

2016 2017

Rio Grande do Norte 53,4 62,8 17,6%

Acre 44,4 62,2 40,1% Ceará 40,6 60,2 48,3% Sergipe 64,7 57,4 11,3% Pernambuco 47,3 57,2 20,9% Pará 50,8 54,1 7,7% Alagoas 54,2 53,1 -0,9% Bahia 46,9 48,8 41% Amapá 48,7 48 1,4% Roraima 39,7 47,5 19,6% Goiás 45,3 42,8 -5,5% Amazonas 36,3 41,2 13,5% Rio de Janeiro 36,4 38,4 5,9% Espírito Santo 32 37,9 18,4% Tocantins 37,6 35,9 -4,5% Paraíba 33,9 33,3 -1,8% Mato Grosso 39,7 32,9 “7,8% Maranhão 34,6 31,1 10,1% Rondônia 39,3 30,7 -21,9%

Rio Grande do Sul 28,6 29,3 2,4%

Paraná 27,4 24,4 "10,9%

Mato Grosso do Sul 25 24,3 -2,8%

Minas Gerais 22 20,4 “7,3% *Distrito Federal 25,5 20,1 -21,2% Piauí 21,8 19,4 -11,0% Santa Catarina 14,2 15,2 7,0% São Paulo 10,9 10,3 -5,9% Brasil 30,3 31,6 4,3%

Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), com base em números das secretarias de Segurança Pública (SSPs).

O aumento das taxas de homicídios, do ano de 2016 para 2017, em vários estados do Norte e Nordeste, ocorreu, dentre os fatores aqui analisados, em virtude que 2017 foi o auge da disputa pelas rotas nacionais e internacionais das drogas e armas.

A crescente violência em um estado da região norte chama a atenção em particular: a presença das milícias armadas no Pará. Os milicianos, ao disputar o

poder com traficantes em áreas urbanas da região metropolitana de Belém e também na área rural, atuando a favor dos fazendeiros nos conflitos de terras, tem contribuído para o aumento da criminalidade e, consequentemente, na elevação das taxas de homicídios no Pará (BBC, 2008).

A realização das políticas públicas e dos programas do governo na área da segurança pública não tem acompanhado a velocidade crescente da violência nos estados brasileiros. Fala-se da integração entre as polícias Ministério Público e da Justiça. Todavia, com o passar dos anos e com a mudança de governos, a pauta muda e os projetos ficam estagnados com a necessidade de se (re)organizarem. O que se observa na prática é que, atualmente no Brasil, existem muitas políticas de governo, não de Estado. Os projetos de governo atuam em curto prazo, não sendo eficazes para modificar a escalada da criminalidade nos estados brasileiros.

As variáveis da violência e de sua evolução envolvem fatores sociais e econômicos como pobreza, fome, desemprego, falta de renda e diversas frustrações frequentes; institucionais, como a ausência ou precária presença do Estado na prevenção e repressão da violência; prevenção, manutenção das escolas, moradias, saúde pública e melhoria dos transportes públicos; repressão, por meio da polícia, justiça e do sistema penitenciário.

Para conter o quadro da crescente violência nas áreas urbanas e fronteiriças são de fundamental importância por parte dos governantes a realização de planos de ação bem estruturados e transformações sociais e econômicas que impactem diretamente na vida das pessoas nos municípios em que residem.