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A CRIAÇÃO DO BATALHÃO DE POLÍCIA DE FRONTEIRA – BPFRON

A realização de investimentos e estratégias para as regiões de fronteira são fundamentais para garantir a segurança do Estado e do país, nesse caso impedindo o avanço da criminalidade no Paraná e no Brasil com um todo.

É comum que os países sulamericanos coloquem suas soberanias acima da responsabilidade administrativa de proteção e gestão do território. Ao verificar os incipientes investimentos e acordos de cooperação regional e bilateral na região de fronteira, nota-se que os acordos não são tratados como prioridade nas agendas dos governantes, mesmo com a preocupação geral diante dos índices alarmantes de criminalidade e dos discursos políticos em torno da segurança pública (BUZAN; WAEVER; WILDE, 1998).

Um dos fatores dos frequentes debates sobre a securitização transfronteiriça é o avanço da globalização, que permite cada vez mais um maior trânsito dos fluxos. Ao perceber as fronteiras brasileiras como áreas sensíveis à criminalidade, o tema entrou em debate nas eleições presidenciais de 2010 e 2014. Os debates trouxeram a tona o quanto estão desprotegidas nossas fronteiras, em sua grande extensão (SALLA; ALVAREZ; OI; ROCHA, 2014).

Diante dos debates, merece ênfase o Consórcio Intermunicipal de Fronteira (CIF), composto pelos municípios brasileiros de Barracão (Paraná), Bom Jesus do Sul (Paraná), Dionísio Cerqueira (Santa Catarina) e Bernardo de Irigoyen (Missiones, na Argentina). O Consórcio propiciou a confecção de um planejamento para o desenvolvimento da fronteira, especialmente, em temas sensíveis como a educação, turismo (para geração de mais empregos e renda), agroecologia e produtos locais (SANTOS; BARROS, 2016).

A grande vantagem do Consórcio é que permite a realização de investimentos públicos e privados, a fim de que os projetos possam atender aos vários municípios do território transfronteiriço. Assim, tem-se a possibilidade de levar o desenvolvimento e melhoria dos índices sociais de vários municípios da fronteira. A questão desfavorável é que o funcionamento do CIF só pode ocorrer em território brasileiro, ainda que o planejamento seja realizado por todos. Desta forma, devido à falta de acordos de cooperação na área da legislação entre os países da Tríplice Fronteira, o município argentino não pode ser beneficiado (SANTOS; BARROS, 2016).

No contexto sobre os esforços dos governantes para melhorar a segurança pública para as fronteiras brasileiras, e a partir da Estratégia Nacional de Segurança nas Fronteiras (ENAFRON), foi criado o Batalhão de Polícia de Fronteira (BPFron). O BPFron foi criado para atuar na fronteira paranaense e combater o tráfico de drogas e armas, e a criminalidade em geral.

O trabalho do BPFron reflete na segurança pública tanto dos municípios fronteiriços quanto nos grandes centros do país, como Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Ao combater a criminalidade na fronteira, quiçá, em sua origem, a atuação do BPFron evita que muitos crimes ocorram pelo território brasileiro, pois reitra de circulação criminosos, drogas e armas.

A criação do BPFron está inserida no contexto político do estado do Paraná. Os debates acerca da criação do Batalhão remontam o ano de 1998 quando o então deputado estadual Elio Rusch (DEM) conseguiu aprovar o projeto de lei na Assembleia Legislativa do Paraná. Todavia, a implantação, de fato, do BPFron ocorreria apenas quatorze anos mais tarde (PORTAL TERRA ROXA, 2018).

A criação do BPFron, pelo Decreto-Lei nº 4.905 de 06 de junho de 2012, além da ENAFRON, está vinculada à Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), tendo como um de seus principais objetivos integrar a atuação de outras

forças policiais, como a Polícia Federal, nos delitos e crimes transnacionais e/ou transfronteiriços.

O BPFron se configura em uma unidade da Polícia Militar do Estado do Paraná preparada para atuar no território transfronteiriço, na faixa de fronteira brasileira. É considerado o primeiro Batalhão de Polícia de Fronteira do país, resultado dos investimentos da ENAFRON, estabelecido pela Presidência da República via Decreto nº 7.496/11. Para a criação do BPFron houve uma parceria com o Governo do Estado do Paraná e subordinado diretamente ao Subcomandante Geral da Polícia Militar do Paraná.

Os problemas de segurança pública enfrentados pelos países do Hemisfério Norte, são a criação de controle populacional. Em diversos países europeus e nos Estados Unidos há um intrincado fluxo de imigrantes, o que torna a mobilidade populacional um grande problema nesses países. A condição estabelecida leva os governos a criarem muros fronteiriços (MOREIRA-LIMA; FERRARI, 2017).

Na América do Sul, especialmente no Brasil, as políticas de segurança nacional estão organizadas para combater o crime organizado transfronteiriço (MOREIRA-LIMA; FERRARI, 2017). A criação do BPFron para atuar na fronteira do Brasil com o Paraguai e Argentina está no contexto nacional e internacional de segurança pública para as fronteiras.

Em geral, os Estados têm problemas para definir a ação do crime organizado transnacional ou transfronteiriço. Isso ocorre pela falta de políticas públicas de segurança com vistas a reprimir esses crimes, seguido pela frágil consciência da opinião pública sobre seus malefícios, se tornam um terreno fértil para seu avanço e consolidação. As redes ilícitas transitam pelas fronteiras na forma de crimes transnacionais enquanto o controle e repressão se mantêm restritos às nações (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS, 2013). Como resultado das políticas de segurança pública para as fronteiras, o BPFron realiza o controle e repressão na fronteira paranaense.

O trabalho das forças de segurança e do BPFron visa combater diariamente a criminalidade, que impõe sua lógica de funcionamento a partir do conhecimento do território fronteiriço, mas que também mantém pontos de ligação com outros territórios, por meio da formação das redes. Conforme Gemelli (2012, p. 20), “[...] a dispersão espacial existente nas operações do tráfico é o que o torna articulado em redes, sendo essas essenciais para o seu funcionamento”.

A partir das políticas de segurança pública do programa ENAFRON e da SENASP, em parceria com a SESP-PR, percebe-se que a segurança brasileira tem direcionado seus investimentos para uma maior presença de militares e de tecnologia nas fronteiras.

Há um esforço do Estado brasileiro em garantir um controle cada vez maior das fronteiras, com a presença de todos os agentes das forças de segurança equipados com as mais variadas tecnologias, apreendendo armas, drogas e criminosos. É diante deste panorama da segurança pública para as fronteiras que ocorre a criação do BPFron.

Anteriormente à discussão sobre a atuação do BPFron no território transfronteiriço, a pesquisa mostrará na próxima seção alguns outros batalhões que existem no território brasileiro e que, da mesma forma, atuam na fronteira, a fim de conhecer práticas e ações similares.

4.2 OUTROS BATALHÕES DE FRONTEIRA QUE REALIZAM TRABALHOS