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2.5 QUANTIFICAÇÃO DOS CRIMES COMETIDOS NA SÍRIA, NA AMÉRICA

2.5.1 A guerra na Síria

No auge daquilo que se transformou rapidamente em uma guerra civil, as taxas de homicídios na Síria foram de 36 para cada 100 mil habitantes em 2012 e 63 em 2013, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública28. A partir do ano de 2013 houve recuo dessas taxas, com 53 em 2014, 43 em 2015 e 41 em 2016, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2017.

A Figura 22 mostra um comparativo entre os assassinatos no Brasil e na Síria.

Figura 22 - Assassinatos no Brasil e na Síria entre os anos de 2012 e 2016

Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Departamento de Pesquisa sobre Conflito e Paz da Universidade de Uppsala, 2017.

28 A Síria é um país localizado na região conhecida como Oriente Médio ou Ásia Ocidental. O país

entrou na onda da Primavera Árabe, iniciada em dezembro de 2010 a partir da Tunísia, e se estendeu pelos países do Norte da África e Oriente Médio. O objetivo dos países que entraram na Primavera Árabe era se livrarem de suas antigas ditaduras e melhorarem a sua qualidade de vida. Foi com essa aspiração que o povo sírio foi às ruas em uma terça-feira do dia 15 de março de 2011. O povo sírio pedia a saída do presidente Bashar al-Assad e a instauração de um regime político transparente. Como resposta aos motins, o presidente envia as tropas do exército que tentam conter as manifestações com força desproporcional.

Ao observar a figura 22 nota-se que a segurança pública no Brasil precisa ser olhada com prioridade pelos governantes. Dentre os anos estudados, apenas no ano de 2013 a Síria supera os assassinatos quando comparada com o Brasil. Entre os anos de 2013 e 2016 o Brasil tem um número superior de assassinatos em cada um dos anos.

No geral, e em números absolutos, o Brasil fecha o período abordado, ano de 2016, com 64.615 assassinatos contra 43.077 da Síria. Cabe ressaltar que o país sírio está em plena guerra civil29 desde o ano de 2011. No Brasil, por outro lado, não existe uma guerra civil, de fato. Os dados alarmantes de assassinatos são apontados por Gergely Hideg, pesquisador da Small Arms Survey, em virtude de três fatores principais, como a falta do estado de direito30 para uma parcela da população, a cultura da violência e o crime organizado31 (O DIA, 2017).

Ao se realizar uma comparação com alguns países da América do Sul no ano de 2017, o Brasil apresentou taxas superiores à de vários países e se configurou como o segundo país mais violento da região. No que se refere às taxas de mortalidade para cada cem mil habitantes, o país ficou atrás apenas da Venezuela, que teve uma taxa de 89 no período estudado. O Quadro 6 faz um comparativo entre os homicídios no Brasil e demais países sulamericanos.

29 Guerra civil é a guerra que acontece entre os grupos organizados que estão dentro da mesma

república ou estado-nação, (...). O povo participa ativamente dos combates, o que acarreta na morte de muitos civis. Disponível em: https://www.meusdicionarios.com.br/guerra-civil Acessado em: 23/04/2018.

30 Por Estado de direito entende-se geralmente um Estado em que os poderes públicos são regulados

por normas gerais (as leis fundamentais ou constitucionais) e devem ser exercidos no âmbito das leis que os regulam, salvo o direito do cidadão de recorrer a um juiz independente para fazer com que seja reconhecido e refutado o abuso ou excesso de poder. Assim entendido, o Estado de direito reflete a velha doutrina [...] da superioridade do governo das leis sobre o governo dos homens, segundo a fórmula lex facit regem (Bobbio, 1990, p. 18).

31 A definição de organização criminosa, que vem atender e complementar a legislação brasileira de

1995 (Lei n.º 9.034/1995) que estipulou os meios operacionais de repressão ao crime organizado, é estampada na Convenção de Palermo: grupo estruturado de 3 ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material. GOMES, Luiz Flávio. Definição de crime organizado e a Convenção de Palermo. Disponível em: http://www.lfg.com.br 06 de maio de 2009.

Quadro 5 - Comparativo entre a taxa de homicídios (para cada 100 mil habitantes) no Brasil e em alguns países sul-americanos – 2017

País Taxa de homicídios

Venezuela 89 Brasil 28,6 Colômbia 24 Bolívia 13,6 Peru 9,6 Argentina 8,8 Paraguai 7,98 Uruguai 7,81 Chile 2,97

Fonte: ADNDIGITAL / Observatorio Nacional de Seguridad y ConvivenciaCiudadanadelMinisteriodel Interior do Paraguay.

Dentre os países analisados, o Chile apresentou a menor taxa de homicídios com 2,97 e o Uruguai uma taxa de 7,81, sendo este o país mais armado da América Latina. A Bolívia apresentou uma taxa de 13,6, o Peru 9,6, a Argentina 8,8 e a Colômbia 24, a terceira maior taxa da região sul-americana.O Paraguai teve uma taxa de 7,98 em 2017. O país obteve um importante avanço no combate à criminalidade com vistas a reduzir suas taxas de homicídios.

O Paraguai enfrentou uma alta taxa de homicídios no início dos anos 2000, apresentando uma taxa de 24,63 no ano de 2002. Conforme destacado pelo Ministério do Interior, para o primeiro semestre de 2018 houve um aumento na taxa para 9,8 quando comparada com o mesmo período no ano anterior, que fechou com uma taxa de 7,13. As autoridades paraguaias se preocupam com o aumento da violência e alegam que ocorre pela crescente presença de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), que espalham a violência extrema pelos locais em que atuam (ADN DIGITAL, 2018).

A Argentina apresentou uma taxa de homicídios de 8,8 para cada 100 mil habitantes em 2013, conforme divulgado pelo Ministério da Saúde do país. Quando comparada com o ano de 2012, houve um aumento de 16% na violência. O acréscimo nas taxas de homicídios ocorreu em virtude da crescente atividade do tráfico de drogas em escala regional no país.

Figura 23 - Taxa de homicídios na América Latina em 2017

Fonte: ADNDIGITAL, 2018.

Na América Latina a taxa de homicídios para cada cem mil habitantes foi de 15,2, em 2014, conforme o Observatorio Nacional de Seguridad y Convivencia Ciudadana. Quando comparado com a taxa da região da América Latina, o Brasil

apresenta a 5ª maior taxa e, no contraponto, o Paraguai a 5ª menor taxa de homicídios. A apropriada colocação confere ao país paraguaio, que faz fronteira com o Brasil ao longo do rio Paraná, um índice de violência relativamente baixo e dentro dos níveis tolerados pela OMS.

Quando comparamos o Brasil e o estado do Paraná, a média nacional aumentou sua taxa de homicídios dentro do período analisado (2006-2016). O aumento das taxas fica mais evidente entre o ano de 2012 e 2016, quando as taxas se mantiveram acima de 28 para cada cem mil habitantes, fechando o período com a taxa de 30,3 homicídios para cada 100 mil habitantes.

Com essa taxa de homicídios, o Brasil endossa mais de 10% dos números dos homicídios no mundo. O país se posiciona entre os doze mais violentos do planeta, quando contabilizada uma lista com 154 países (IPEA, 2014).

A Figura 24 mostra um comparativo entre as taxas de homicídios no Brasil e no Paraná na década que compreende os anos de 2006 a 2016.

Figura 24 - Comparativo entre as taxas de homicídios no Brasil e no Paraná – 2006 a 2016

Fonte: Atlas da Violência/FBSP, 2018.

A taxa de homicídios no Paraná esteve acima de 30 para cada 100 mil habitantes de 2008 até 2012. Esses valores são considerados extremamente altos quando comparados com a média mundial, que manteve uma média de 8 para cada 100 mil habitantes, nos anos de 2011, 2012 e 2013 (Atlas da Violência /FBSP,

2018). O estado conseguiu reduzir suas altas taxas de homicídios a partir do ano de 2013, fechando o ano de 2016 com uma taxa de 27,4.

Diante dos altos índices de violência no Brasil e na Faixa de Fronteira paranaense, o Capítulo 3 aborda quais são as políticas públicas de segurança (a nível nacional, estadual e para a fronteira) realizadas nas últimas décadas.

As políticas públicas atingem todos os cidadãos, de todas as escolaridades, independente de sexo, raça, religião ou nível social. Com a democracia expandindo os deveres do representante da população para promover o bem-estar da sociedade, que está relacionado às ações desenvolvidas e à sua execução áreas como saúde, educação, meio ambiente, habitação, assistência social, lazer, transporte e segurança, contemplando a qualidade de vida como um todo.

3 POLÍTICA PÚBLICA DE SEGURANÇA EM DIFERENTES ESCALAS

O presente capítulo estuda as definições de políticas públicas e suas competências escalares, ou seja, a nível federal, estadual e/ou municipal. Debatem- se as leis e projetos em torno da segurança pública no país e no território transfronteiriço. Leis essas que levaram a criação do BPFron no âmbito das políticas públicas de segurança nacional e para a fronteira. Inicialmente, serão abordados alguns conceitos para embasar a compreensão das políticas públicas de segurança.