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1.1 FRONTEIRA: TERRITÓRIO ESPECIAL

1.1.2 Zona de fronteira

A Zona de Fronteira é porção do território nacional que, por sua especial proximidade com a fronteira, merece atenção especial do Poder Público, no sentido de promover seu povoamento e estimular seu progresso (JUSBRASIL, 2016).

De maneira geral, a zona de fronteira é composta por faixas territoriais de cada lado do limite internacional, assinaladas por algumas ligações que, mesmo internacionais, estipulam um espaço geográfico particular da fronteira. Esses espaços são visíveis, principalmente, por quem vive a realidade dentro de uma escala local ou regional das interações entre duas ou mais fronteiras.

Uma ótima ilustração para se caracterizar uma zona de fronteira nas escalas local e regional são as cidades-gêmeas ou trigêmeas, caso de Foz do Iguaçu- Ciudad del Este-Puerto Iguazú, pois, nesses casos, envolvem os dois lados da fronteira. Conforme o Ministério de Integração Nacional as cidades-gêmeas são complexos populacionais, cortados pela linha de fronteira, seja seca ou fluvial, com ou sem obras de infraestrutura, que oferecem relevante potencial de conexão econômica e cultural. Da mesma forma, ofertam manifestações singulares de questões fronteiriças, que nesse meio condicionam maior densidade, com impactos diretos sobre o desenvolvimento local/regional e de cidadania.

De acordo com o Ministério da Integração Nacional e publicado no Diário Oficial da União, o Brasil possui trinta e duas cidades-gêmeas8. Estas cidades estão nas zonas de fronteira, precisam ter mais de dois mil habitantes e ficam uma ao lado da outra, mas em países distintos. A Figura 5 mostra a Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, destacando os limites da Faixa e da Zona de Fronteira.

8 O que define as cidades-gêmeas no Brasil é a Portaria Nº 213, de 19 de julho de 2016, do Ministério de Integração Nacional.

Figura 5 - Faixa e Zona de Fronteira

FONTE: BRASIL, 2005. Organizado e adaptado por CURY, 2008.

O Paraná possui quatro cidades-gêmeas: a cidade de Santo Antônio do Sudoeste (18,8 mil habitantes), vizinha à argentina Santo Antonio; a cidade de Barracão (9,7 mil habitantes), que forma tríplice fronteira com Dionísio Cerqueira (Santa Catarina) e Bernardo de Irigoyen na Argentina; Guaíra (30,7 mil habitantes), vizinha de Salto del Guairá (Paraguai) e Mundo Novo (Mato Grosso do Sul) e Foz do Iguaçu (256 mil habitantes), conforme dados do IBGE, em 2010. Esta última forma ainda uma tríplice fronteira com Ciudad del Este (301.815 habitantes), no Paraguai, e a cidade argentina de Puerto Iguazú (80.020 habitantes), de acordo com o Instituto INDEC, em 2010.

Conforme Corrêa (1997) as cidades-gêmeas são um ótimo exemplo de grande interação espacial, o alicerce das relações de troca em um determinado território e com força para promover mudanças no espaço em um pequeno período. A legalização das cidades-gêmeas ocorre para atender as demandas das políticas públicas particulares desses lugares, que contêm um importante fluxo de integração entre países. Entretanto, o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) e uma pesquisa do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF) de 2015 apontam que não existe uma política nacional para estes municípios, ainda que haja um decreto-lei de 2014.

Neste sentido, as cidades-gêmeas são os “objetos geográficos” onde melhor se expressam os problemas e potencialidades da fronteira servindo como laboratório privilegiado para a observação de fenômenos com características eminentemente fronteiriças (MACHADO, 2005).

A região da fronteira brasileira é lugar de importantes atividades econômicas, muitas vezes ilegais e ilícitas. No caso da Tríplice Fronteira Brasil-Paraguai- Argentina, as atividades mais comuns são os agronegócios brasileiros no Paraguai e Argentina, contrabando de madeira na Argentina, o contrabando de eletroeletrônicos e o tráfico de drogas e pessoas. A maioria desses crimes está relacionado com o Paraguai. O número dos homicídios nessa fronteira também costuma serem superiores as médias do restante dos países envolvidos.

Conforme Minayo (1994), as vítimas fatais por homicídio são um dos principais eventos da violência social, relacionadas com as desigualdades socioeconômicas. O principal responsável pelas perdas humanas é o Estado, que deve sempre desenvolver as políticas públicas de segurança de modo a conter a massificação dos homicídios. Quando as políticas públicas são precárias acaba por gerar a impunidade, fortalecimento de grupos de extermínio, organização do narcotráfico e de sequestros, posse ilegal de armas, entre outros eventos criminosos.

A Figura 6 ilustra as principais atividades econômicas, principalmente as criminosas, na região da fronteira brasileira.

Figura 6 - Atividades econômicas na região da fronteira brasileira, com destaque para as criminosas

Fonte: Grupo Retis/UFRJ, 2010.

Peres (2011) salientou que o homicídio é um tema de grande complexidade, uma vez que muitos fatores, individuais, culturais, sociais e econômicos concorrem para a sua ocorrência. Entre esses fatores, na América do Sul cabe destacar as desigualdades sociais e o narcotráfico. O tráfico de drogas é um elemento gerador de grande violência pelo país atingindo todas as camadas da sociedade. Todavia, atua com mais rigor nas classes mais pobres, que além de transformar em usuários os cidadãos mais humildes, arrebanha parte dessa população para exercer as atividades ilícitas.

As causas externas da mortalidade abrangem as lesões cometidas por meio da violência, tais como agressões/homicídios, suicídios, tentativas de suicídio, abusos físicos, sexuais e psicológicos. Estas causas se impõem como uma grande barreira a ser ultrapassada pelas autoridades de saúde e segurança pública.

No Brasil as causas externas são responsáveis pela terceira maior causa de morte. As pessoas mais atingidas são os homens adultos, com faixa etária de 20 a 39 anos. A violência no país se tornou relevante nos últimos anos, um fenômeno individual e coletivo, sendo um indicador negativo da qualidade de vida (MINAYO, 2005). A violência atinge o campo social, a segurança pública e a área da saúde. Existe um grande peso social, não somente pelas perdas fatais, mas também por lesarem a sociedade com gastos diretos e indiretos.

A baixa densidade demográfica, as dificuldades de locomoção e comunicação são alguns dos fatores que impuseram um isolamento à região de fronteira e a colocou a margem das políticas públicas que promovem o desenvolvimento do país.

O Brasil faz fronteira com os principais produtores de drogas do mundo. Bolívia, Peru e Colômbia são grandes produtores de cocaína e juntos somam mais de sete mil quilômetros de fronteira com o Brasil, sejam por rios, canais e florestas. Com o Paraguai, o maior produtor de maconha da América do Sul (JIFE, 2014)9, o Brasil tem uma extensão de 1.365 quilômetros de fronteira (SCDL-MRE, 2020)10, sendo 928 quilômetros formados por rios, fator gerador de dificuldade para a ação policial.

Em razão da grande quantidade de conurbações urbanas entre Brasil e Paraguai, esse país fronteiriço desempenha um papel importante na consolidação de rotas do tráfico de drogas de origem paraguaia para o Brasil, e que serve ainda como refúgio de criminosos brasileiros. Nesta fronteira específica existem índices alarmantes de violência, reflexo do tráfico de drogas e armas na região (NUNES, 2017). As rotas servem ainda como passagem para os criminosos brasileiros chegarem a esconderijos no Paraguai.

9 A Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE) é um órgão de fiscalização independente para a implementação das Convenções Internacionais das Nações Unidas de controle de drogas. Foi estabelecida em 1968 de acordo com a Convenção de Drogas de 1961. Disponível em: <https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/drogas/jife.html>. Acesso em: 21 abr. 2020.

10 Conforme a Segunda Comissão Brasileira Demarcadora de Limites (SCDL), vinculada ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil. Disponível em: <http://scdl.itamaraty.gov.br/pt-br/>. Acesso em: 21 abr. 2020.