• Nenhum resultado encontrado

A grande circulação de drogas e armas pelo espaço fronteiriço aumenta os índices de criminalidade pelo fato de, por si própria, a comercialização desses produtos já se caracterizarem como ilegais. E, sendo assim, todos os sujeitos envolvidos nessa rede praticam atos criminosos.

As causas que impõem os desafios para as regiões de fronteira são múltiplas e abarcam desde assuntos das áreas educacional, cultural e ambiental até as questões relacionadas à diplomacia, a defesa do território nacional e a segurança pública. No caso brasileiro, há grandes desafios diante da gestão do território fronteiriço, pois, ao fazer limite com dez países34, se faz necessária uma gestão de política pública distinta para cada fronteira, dada as diferentes realidades apresentadas.

Independente da extensão e políticas públicas dispensadas para a região de fronteira, conforme Foucher (2009), é dever do Estado garantir a segurança e bem- estar de todos que vivem dentro dos limites de suas fronteiras. Controlar as fronteiras é promover a segurança de seus cidadãos em detrimento dos demais. Regiões de fronteira exigem constante atenção dos Estados, que tem a obrigação de demonstrar sua capacidade de se fazer presente (FOUCHER, 2009).

34 O Brasil faz fronteira com nove países sul-americanos, mais o território ultramarino da França, a Guiana Francesa. Os países fronteiriços com o Brasil são: Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Argentina, Paraguai e Uruguai.

A segurança pública para a região de fronteira demanda maior atenção e investimentos dos governos e das instituições privadas. Os municípios instalados na faixa de fronteira apresentam perfil diferenciado, pois, apresentam maiores taxas de homicídios, em grande parte por estarem nas rotas das drogas estipuladas pelas redes dos narcotraficantes35. Neste sentido, o apoio tecnológico é de grande relevância no combate aos crimes transfronteiriços.

3.3.1 SISFRON: A tecnologia no combate aos crimes transfronteiriços

O Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) é um sistema de sensoriamento e de contribuição à decisão em apoio ao emprego operacional, atuando de forma integrada, cujo propósito é fortalecer a presença e a capacidade de monitoramento e de ação do Estado na faixa de fronteira terrestre, fortalecendo a atuação dos governos com responsabilidades sobre a região (EPEX, 2018).

O SISFRON foi criado por meio do empreendimento do Comando do Exército, em virtude da aprovação da Estratégia Nacional de Defesa de 2008, a qual orienta a organização das Forças Armadas sob a proteção do trinômio monitoramento/controle, mobilidade e presença. A implantação do SISFRON começou em 2013 e abrange atualmente uma faixa de seiscentos e cinquenta quilômetros no Mato Grosso do Sul, vizinho do Paraguai e da Bolívia. Isto equivale a somente 4% dos 16.686 quilômetros de fronteiras do país (UOL Notícias, 2018).

O SISFRON deve potencializar a função de monitoramento da faixa de fronteira brasileira e garantir o fluxo sem interrupções e com segurança dos dados entre as forças de segurança. Pode produzir informações com confiança e admissíveis para que sejam tomadas as decisões e dar suporte às ações de defesa ou contra crimes transfronteiriços e ambientais, conforme as leis em vigor. As operações podem ser isoladas ou em conjunto com as demais Forças Armadas (EPEX, 2018).

35

Contabiliza-se aqui, em geral, os municípios fora da faixa de fronteira brasileira e que não compõem os grandes centros urbanos do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo, Região Metropolitana de Curitiba, Fortaleza, Natal, Rio Branco, Recife, Vitória e outras capitais.

A cobertura do SISFRON deverá ocorrer ao longo de toda a faixa de fronteira brasileira, 16.886 quilômetros (km) da linha de fronteira, que monitora 150 km de largura (a faixa de fronteira), com vistas a facilitar o emprego de outras forças militares, subordinadas aos Comandos Militares do Norte, da Amazônia, do Oeste e do Sul. Primeiramente, a previsão era que o sistema funcionasse em toda a linha fronteiriça brasileira a partir de 2022, mas atualmente a estimativa é que isto aconteça somente em 2035, segundo o Ministério da Defesa (UOL Notícias, 2018).

O propósito do SISFRON é ousado, uma vez que se propõe a controlar e coibir os crimes transfronteiriços pela extensa fronteira brasileira. Existe uma grande diversidade geográfica pela fronteira brasileira, tais quais os espaços das densas florestas, os extensos rios que chegam até as áreas urbanas e milhares de trilhas, que servem como vias para o narcotráfico e o contrabando.

Essa importante diversidade deve ser sempre considerada, pois, conforme o general Sérgio Duarte, gerente do programa, determina, quase como um norte, que se recorram aos recursos tecnológicos para monitoramento e comunicação de acordo com as particularidades de cada região de fronteira e da capacidade operacional de cada comando de polícia local.

Os trabalhos do SISFRON servem como importante suporte para a atuação de vários escalões da Força Terrestre, como patrulhas e postos de controle na faixa de fronteira, passando pelos batalhões, brigadas, divisões, Comandos Militares de Área e chegando ao Comando de Operações Terrestres (COTER), em Brasília.

As modernas tecnologias utilizadas no SISFRON são de importante auxílio para o agente da força terrestre que vai operar com alta complexidade tecnológica, pois o combatente vai se adaptar às demandas para cada situação, que poderá ocorrer em regime de urgência, atrelada ao conceito da guerra centrada em redes.

O emprego do SISFRON admite ações de defesa externa, juntamente com as demais Forças Armadas e base para a atuação de órgãos de segurança pública, em operações contra delitos transfronteiriços.

O Programa de Proteção Integrada de Fronteiras (Decreto N° 8.903, de 16 de novembro de 2016) coopera para o incremento da capacitação tecnológica, da autonomia e da sustentabilidade da indústria de defesa, com a obtenção de itens de alto valor agregado e com a diversificação da pauta de exportação nacional, o que corrobora a criação de postos de trabalho e de renda nas áreas tecnológicas e de infraestrutura (EPEX, 2018).

A Figura 24 apresenta militares utilizando a tecnologia do SISFRON na fronteira do Mato Grosso do Sul.

Figura 24 - Militares atuam no Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai e a Bolívia, com o apoio do SISFRON

Fonte: UOL Notícias, 2018.

O Programa reitera a relevância das ações de prevenção, do controle, da fiscalização e da repressão dos delitos transnacionais e ambientais na faixa de fronteira. A diretriz principal desse diploma legal é a atuação integrada dos órgãos de segurança pública, das Forças Armadas, Vigilância Sanitária e da Receita Federal, além de outras agências federais, estaduais e municipais. O SISFRON, desde a sua concepção, está alinhado com o Programa (EPEX, 2018).

De 2016 para 2017, o investimento do governo federal no SISFRON sofreu séria redução, de 285,7 milhões de reais para 132,4 milhões, uma redução de 54%. Os dados são de um levantamento feito pelo UOL com base no Siga Brasil, sistema de informações sobre o orçamento público federal, coletados em fevereiro de 2018. Os valores foram atualizados pela inflação no período.

Um programa que envolve tamanha complexidade, e, acima de tudo, o controle de nossas fronteiras, não pode ter seus investimentos reduzidos, muito pelo contrário. A redução nas verbas destinadas não compromete só o SISFRON, mas toda a segurança nacional, pois, de maneira geral, muitas das variáveis causadoras da violência nos municípios brasileiros passam pelas fronteiras.

Conforme estudos da SENAD e da PF do Brasil, grande parte das drogas consumidas no país tem como origem o Paraguai, no caso da maconha, e Bolívia e

Peru, caso da cocaína. A maioria das armas utilizadas nos grandes centros urbanos também entra pelas fronteiras, especialmente as de grosso calibre.

As pistolas e os fuzis de assalto, similares ao AK-47, utilizados pelos narcotraficantes que atuam nos grandes centros urbanos brasileiros, caso do Rio de Janeiro e São Paulo, têm como origem os Estados Unidos. As armas são produzidas no Leste Europeu, Egito e China, comprada por lojas e cidadãos americanos e exportadas ilegalmente. São enviadas diretamente para o Brasil ou via Paraguai e Bolívia. O maior trânsito dessas armas é pela fronteira do Brasil com o Paraguai (EXAME, 2018a).

O SISFRON inclui materiais e redes de sensoriamento, centrais de comando e controle e visa à integração com os sistemas das polícias Federal e estaduais. Em 2018 o programa deverá atingir 1950 quilômetros, nas faixas de fronteira dos estados do Paraná e Mato Grosso. O consórcio Tepro, formado pelas empresas Savis e Bradar, controladas pela Embraer, é responsável pela implantação do sistema (UOL Notícias, 2018).

Até o término dessa Tese, início de 2020, o que se teve da presença do SISFRON na fronteira paranaense foram algumas visitas de técnicos a fim de angariar parcerias na região, a partir do Parque Tecnológico de Itaipu. Como previsto, a chegada do programa na fronteira paranaense era no ano de 2018. Todavia, houve inspeções na região somente a partir de junho de 2019, com pelo menos um ano de atraso. E, na prática, até o momento nada foi realizado.

A implantação do SISFRON teve início em 2013 e tem como previsão de término o ano de 2035. Muito ainda há o que fazer, pois, milhares de quilômetros das fronteiras necessitam de maior controle e fiscalização. Entretanto, sete anos depois da implantação, conforme alegado pelo deputado estadual Marçal Filho, do Mato Grosso do Sul (MS), não houve redução dos índices de criminalidade e de atuação dos grupos do crime organizado nesse estado, que faz fronteira com o Paraguai e a Bolívia.

Os dados estatísticos contrariam a tese do parlamentar, pois, houve certa redução nas taxas de homicídios no MS nos últimos anos, especialmente a partir de 2014, quando o estado apresentou taxa de 26,72 para cada cem mil habitantes, para 2017, com taxa de 24,29, conforme divulgado pelo IPEA/Atlas da Violência (2018). Porém, na contramão, houve crescimento no total de assassinatos de jovens entre 19 e 25 anos, 3,8% entre os anos de 2015 e 2016.

Além da presença do SISFRON no MS, colaboraram para a redução nas taxas de homicídios nos últimos anos outras variáveis, conforme o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), tais como: investimentos em armas, veículos, equipamentos e treinamentos, além das ações das forças de segurança36. Ao se analisar os dados estatísticos e as variáveis de segurança do FBSP, percebe-se que a implantação do SISFRON, que teve origem o MS, ainda não surtiu os devidos resultados, que é o de reduzir as taxas de criminalidade pelos estados fronteiriços.