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4.3 ANÁLISE COMPARATIVA DA CRIMINALIDADE NA REGIÃO OESTE DO

4.3.2 Tríplice Fronteira: Brasil, Peru e Colômbia

As fronteiras das jurisdições não são concretas, disseminam-se por todos os lugares, são desterritorializadas do ponto de vista político e social. Conforme Houtum e Naerssen (2002), as fronteiras não se caracterizam como um ponto fixo no espaço e no tempo, mas a representação distinta da prática social.

As fronteiras não são naturais aos espaços, elas são construções sociais que impõem uma nova verdade sobre a anteriormente existente, a verdade da realidade nacional sobre o território (DIENER; HAGEN, 2012; HOUTUM, 2011).

A Tríplice Fronteira Brasil, Peru e Colômbia tem um panorama diferente da Tríplice Fronteira Brasil, Argentina e Paraguai. O fator que impõe essa distinção entre as duas tríplices fronteiras é a floresta amazônica. Essa fronteira tem 1.632 km de extensão e é cortada por rios e, praticamente, desabitada. Nesta fronteira do Brasil, em específico, estão os dois maiores produtores de cocaína do mundo: o Peru e a Colômbia (BBC-BRASIL, 2018b).

O Brasil faz fronteira com os três países que possuem as maiores plantações de coca do mundo. A Colômbia fica com 43% da produção, o Peru 38% e a Bolívia 19%. O Brasil se apresenta como uma das mais relevantes rotas dessa droga. Enquanto uma parte é comercializada pelo narcotráfico brasileiro, a outra parte segue para a África Ocidental, Europa e Estados Unidos (JORNAL GGN, 2018).

Um dos municípios brasileiros com maior trânsito da coca é Tabatinga (AM). O município conta com pouca presença do Estado e menor infraestrutura ainda e se caracteriza como um dos mais pobres daquela região. O trânsito dos narcotraficantes por Tabatinga, com possantes lanchas e armas de grande calibre, é frequente e os moradores próprios definem esse território como “fundo de quintal” da FDN41 (BBC-BRASIL, 2018b).

Em Tabatinga faltam oportunidades de emprego, saneamento básico, estrada pavimentada e adequada infraestrutura para que a população tenha uma razoável qualidade de vida. Sem trabalho e estudo, os jovens são vítimas fáceis do

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A sigla se refere à facção criminosa Família do Norte, que ficou conhecida mundialmente no início de 2017, quando dezenas de homens foram decapitados e esquartejados em presídios de Manaus. A origem dos massacres nas prisões, segundo autoridades, é justamente a disputa pelo controle dessa rota amazônica da coca (BBC-BRASIL, 2018b).

narcotráfico. A maioria dos jovens trabalha como transportadores dos produtos ilegais, como drogas e armas, e fazem dessa situação seu meio de vida. O “trabalho” rende de 1.000 até 5.000 mil reais por mês, sendo um ganho rápido e fácil, mas, por outro lado, extremamente perigoso (AMAZONIA.ORG, 2018).

As duas principais forças de segurança que atuam na região são a Polícia Federal (PF) e o Exército. O problema de chegarem poucos recursos, pouco efetivo policial e pouca infraestrutura dificultam o controle e a apreensão de drogas, armas e criminosos. Somados aos tradicionais problemas das fronteiras brasileiras, nesse território em particular existem ainda a grande extensão da selva e dos rios (AMAZONIA.ORG, 2018).

Agentes da PF informam que enfrentam grandes dificuldades para combater o narcotráfico pela imensidão do rio Solimões e centenas de novos caminhos abertos por igarapés e pequenos rios que aparecem com as chuvas na época das cheias. Para atender toda essa extensão fluvial existe apenas um posto policial e dezoito homens da PF. Além de mais homens, os policiais precisariam de lanchas mais potentes e um helicóptero para realizar um combate mais igualitário com os criminosos, que dispõem de grande aparato (BBC-BRASIL, 2018b). A Figura 28 mostra uma patrulha do Exército pelo rio na Tríplice Fronteira Brasil, Peru e Colômbia.

Figura 28 - Patrulhamento do Exército ao longo da rede fluvial da Tríplice Fronteira Brasil-Peru- Colômbia

O Exército responsável pelo controle dessa região fronteiriça é o 8º Batalhão de Infantaria de Selva. Existem trinta e seis barcos à disposição do Batalhão. Todavia, o coronel Júlio César Belaguarda Nagy de Oliveira, compara os barcos do Exército com potência similar aos dos pescadores e ribeirinhos, ou seja, muito inferior aos barcos que os criminosos utilizam (AMAZONIA.ORG, 2018). Nestas condições, há uma grande dificuldade para controlar o trânsito das drogas e armas que entram no território brasileiro por essa fronteira.

Mesmo com as barreiras encontradas, existem grandes apreensões de drogas na região. Em janeiro de 2018, o Exército brasileiro apreendeu em Vila Bitencourt (AM), fronteira com a Colômbia, 919,7 kg da droga Skank42. Somente em 2018 foram apreendidas praticamente quatro toneladas de drogas. Conforme o Exército, essa foi a quarta maior apreensão de Skank realizada pelo Comando Militar da Amazônia na Faixa de Fronteira em 2018.

Os problemas enfrentados nas fronteiras brasileiras são similares, como o combate à criminalidade com pouco efetivo e uma necessidade de se melhorar os investimentos na infraestrutura policial. Entretanto, a implicação do quadro natural desenhado em cada região de fronteira demanda um controle e investimentos específicos. No caso da Tríplice Fronteira Brasil, Peru e Colômbia, região incrustada na selva Amazônica e com uma hidrografia complexa, o treinamento policial e investimentos em infraestrutura devem ser diferenciados das fronteiras secas, por exemplo.

Todavia, o combate ao narcotráfico da cocaína nessa fronteira brasileira depende de esforços não somente do governo brasileiro. Os governos da Colômbia e do Peru têm papel preponderante, pois, devem existir os combates ao narcotráfico a partir de seus territórios. Fato esse que diminuiria a quantidade das drogas que entram no Brasil. É fundamental ainda, aos governos agirem de maneira cooperada no combate ao tráfico de cocaína e armas nesse território. Na próxima seção serão apresentadas as principais formas de atuação do BPFron pela região da Faixa de Fronteira paranaense.

42 Skank (também conhecida como supermaconha e skunk) é uma droga mais potente que a maconha. As duas são extraídas da espécie Cannabis sativa e, por isso, possuem em suas composições o mesmo princípio ativo - THC (Tetra-hidro-canabinol). Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/02/150216_maconha_pesquisa_hb > Acesso em: 08 fev. 2020.