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Competência para Tributar em Matéria Ambiental

3.3 A Tributação Ambiental

3.3.3 Competência para Tributar em Matéria Ambiental

Segundo Soares157, o sujeito ativo do tributo ambiental deve ser titular de uma

dupla competência: competência para legislar em matéria ambiental e competência para tributar.

155 MORO, op. cit., p. 107. 156 MOLINA, op. cit., p. 63.

Assim, para que se possa determinar de quem é a competência para a institu- ição de tributos ambientais, deve-se, preliminarmente, analisar a distribuição da competência tributária, bem como da competência para legislar em matéria ambien- tal, distribuída pela Constituição Federal entre os entes federados.

No que concerne à tributação, é a Constituição Federal que outorga compe- tência tributária às três esferas governamentais. Essa competência tributária, por força do artigo 2° da Magna Carta, é intransferível e indelegável.

Para Carrazza158, competência tributária é a possibilidade de criar, in abstrac-

to, tributo, descrevendo, legislativamente, suas hipóteses de incidência, seus sujei-

tos ativos, seus sujeitos passivos, suas bases de cálculo e suas alíquotas. Exercitar a competência tributária é dar nascimento, no plano abstrato, a tributos.

Carvalho159 conceitua competência tributária como sendo uma das parcelas

entre prerrogativas legiferantes de que são portadoras as pessoas políticas, con- substanciada na faculdade de legislar para a produção de normas jurídicas sobre tributos.

Em princípio, são cinco as espécies tributárias: impostos, taxas, contribuições de melhoria, empréstimos compulsórios e contribuições especiais.

O artigo 145 da Constituição Federal reza o seguinte:

Art. 145 — A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão

instituir os seguintes tributos: I — impostos;

II — taxas, em razão do exercício regular do poder de polícia ou pela utiliza- ção, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, pres- tados ao contribuinte ou postos a sua disposição;

III — contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.

Infere-se daí que a competência para a instituição de impostos, taxas e con- tribuições de melhoria é comum, ou seja, qualquer um dos entes federados pode instituir taxas, contribuições de melhoria e impostos, no âmbito de suas atribuições.

158 CARRAZA, Roque. Curso de Direito Constitucional Tributário. 17. ed. São Paulo: Malheiros,

2002. p. 431.

Logicamente, a competência para a instituição de contribuição de melhoria será do ente federado que realizou a obra de que decorreu a valorização. Da mesma forma, as taxas somente serão instituídas pela pessoa política que presta determi- nado serviço ou exerce poder de polícia sobre determinada atividade.

Relativamente aos impostos, a Constituição Federal, em seus artigos 153, 155 e 156, dividiu a competência para sua instituição da seguinte forma: à União caberá a instituição dos impostos: de importação (II), exportação (IE), de renda e proventos (IR), sobre produtos industrializados (IPI), operações financeiras (IOF), grandes fortunas (IGF) e sobre a propriedade territorial rural (ITR); aos Estados (e ao Distrito Federal) caberá a instituição dos impostos sobre: a propriedade de veículos automotores (IPVA), a circulação de mercadorias e serviços de transporte interesta- dual e intermunicipal e de comunicação (ICMS) e a transmissão causa mortis ou do- ação de quaisquer bens ou direitos (ITCMD); e aos Municípios (e ao Distrito Federal) caberá a instituição dos impostos sobre: serviços de qualquer natureza (1SS), a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) e transmissão intervivos de bens imó- veis (ITBI).

Ainda, o artigo 154, 1, da Constituição Federal prevê a competência residual da União para criar outros impostos que não os listados pela Lei Maior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador e base de cálculo idênticos aos já existentes.

Os artigos 148 e 149 da Constituição Federal reservam à União a instituição de empréstimos compulsórios e contribuições especiais, ressalvada a exceção dos Municípios e Estados de criarem contribuições sociais para fazer frente ao sistema previdenciário de seus servidores e aos municípios para custear a energia elétrica.

Quanto à competência para legislar em matéria ambiental, a Constituição Fe- deral, em seu artigo 225, impõe ao Poder Público o dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Desse modo, o constituinte de1988 atribuiu a todos os entes federados o dever de proteger o meio ambiente.

A Constituição Federal, em seu artigo 24, fixa a competência legislativa con- corrente da União, dos Estados, Distrito Federal e dos Municípios para legislar sobre florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recur- sos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição (art. 24, VI), sobre

proteção do patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico (art. 24, VII), bem como sobre responsabilidade por dano ao meio ambiente, a bens e direitos de valor artístico estético, histórico, turístico e paisagístico (art. 24, VIII). No âmbito da legislação concorrente, a competência da União se limita a estabelecer normas gerais, não excluindo, assim, a competência suplementar dos Estados e dos Municí- pios.

Por fim, passa-se à análise da competência para tributar em matéria ambien- tal. Como ensina Amaral160,

Logo se constata que todas as entidades federativas têm compe- tência para atuar na proteção ambiental dentro dos limites que a Constitui- ção brasileira a determina. [..] A Constituição Federal também fixa a compe- tência tributária para cada ente da federação, não podendo assim invadir a competência tributária alheia, sob pena de incorrerem em inconstitucionali- dades. A princípio, podemos constatar que a União, Estados, Distrito Fede- ral e Municípios poderão utilizar os tributos de suas respectivas competên- cias tributárias em defesa do meio ambiente.

Acontece isso porque pertence a todos os entes federados o poder-dever de proteger o meio ambiente e combater a poluição, devendo eles criar, conforme a competência tributária atribuída pela Constituição a cada um, meios legais de redu- zir, impedir e prevenir a poluição.

Hernández161 aponta que todo ente público que possui competência material para legislar numa determinada matéria necessita ter competência tributária, se sua intenção é criar um tributo ou intervir no regime fiscal de determinada matéria; do contrário, estará penetrando no âmbito tributário alheio.

Da interpretação do artigo 145 combinado com o artigo 24 da Constituição Federal, verifica-se que a utilização de taxas, contribuições de melhoria e impostos (observados os artigos 153, 155 e 156 da Magna Carta) na proteção ambiental po- derá ser feita por todas as pessoas políticas conforme a competência de cada um, em nível federal, estadual ou municipal.

160 AMARAL, op. cit., p. 45. 161 HERNÁNDEZ, op. cit., p. 164.

Para o uso de empréstimos compulsórios e contribuições especiais, sendo possível sua aplicação em matéria ambiental, a competência tributária seria apenas da União.

Explicita Amaral162 que, quanto ao emprego de impostos na proteção ambien- tal, em princípio, poder-se-á utilizar quaisquer dos impostos já existentes para a con- cessão incentivos fiscais, cabendo a cada pessoa política segundo sua competência tributária, e conforme a natureza tributária de cada imposto, determinar elementos que estimulem a defesa do meio ambiente. Todavia, somente a União, por meio de sua competência residual (art. 154, 1) poderá instituir um imposto ambiental próprio, que tenha como fato gerador a poluição.