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Princípio da Capacidade Contributiva

3.2 Princípios de Direito Tributário Relevantes à Tributação Ambiental

3.2.3 Princípio da Capacidade Contributiva

O princípio da capacidade contributiva, também conhecido como princípio da capacidade econômica, está expresso no artigo 145, §1° da Constituição Federal, que prevê que132, "sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à adminis- tração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identifi- car, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendi- mentos e as atividades econômicas do contribuinte".

A expressão "sempre que possível” serve como exceção tanto para a perso- nalização quanto para a capacidade contributiva. Considerando das características de cada imposto, ou da necessidade de utilizar o imposto com finalidades extrafis- cais, esses princípios podem ser excepcionados.

Costa133 registra que "há impostos incompatíveis com a graduação segundo a capacidade econômica".

O princípio da capacidade contributiva aproxima-se do princípio da igualdade na proporção em que, ao atrelar-se o tributo à capacidade dos contribuintes, deve-se buscar um modelo de incidência que não ignore as diferenças de riquezas evidenci- adas nas diversas situações eleitas como suporte de imposição. E isso corresponde a um dos aspectos da igualdade, que é o· tratamento para os desiguais.

Além disso, embora a Constituição Federal no § 1 ° do artigo 145 só se refira a impostos, outras espécies tributárias podem levar em consideração a capacidade contributiva, em especial as taxas, cabendo lembrar que, em diversas situações, o próprio texto constitucional veda a cobrança de taxas em hipóteses nas quais não se revela capacidade econômica, como no caso do artigo 5°, LXXVII134.

No que concerne à tributação ambiental, verifica-se que o seu papel principal é alavancar o desenvolvimento de atividade de proteção ambiental e desestimular condutas poluidoras, conseqüentemente, a arrecadação assume papel secundário.

132 BRASIL. Constituição (1988). Art. 145, §1º.

133 COSTA, Alcides Jorge. Capacidade Contributiva. In.: Revista de Direito Tributário. São Paulo: Revista dos Tributnais, 1991. N. 55. p. 13.

134 BRASIL. Constituição (1988). Art. 5º, LXXVII – são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas

Assim, se, tradicionalmente, a consideração da capacidade contributiva como aspecto objetivo para a determinação do fato gerador significava que este deveria configurar-se como base, exclusivamente, em manifestações da capacidade econô- mica do contribuinte, o tributo ambiental não se configura juridicamente em função do princípio da capacidade econômica135.

Neste sentido corrobora Hernández136:

O que tentamos assinalar é que os tributos ambientais, sejam im- postos, taxas ou contribuições especiais, não se fundamentam no princípio da capacidade econômica. O contribuinte de um tributo ecológico não está obrigado a pagar porque possua mais ou menos riqueza, mas porque poluiu e deve contribuir com base na solidariedade coletiva sobre a função pública de preservar o meio ambiente. Esta concepção, em que se embasa a confi- guração dos tributos ecológicos, é, em todos os aspectos, discrepante da concepção tradicional, que situa o princípio da capacidade econômica como fundamento de imposição tributária.

A forma do princípio da capacidade econômica deve ser percebida, portanto, como qualidade subjetiva do sujeito passivo da obrigação tributária ambiental. As- sim, o fato gerador amoldar-se-á ao princípio do poluidor pagador, considerando as- pectos extrafiscais, que deverão ser valorados de acordo com as manifestações da capacidade econômica do contribuinte.

A atribuição, às atividades poluidoras, da qualidade de fato gerador de tribu- tos não impõe, por si só, análise da capacidade econômica do poluidor, já que tais atos não são efetivamente manifestações de capacidade econômica. Todavia, o respeito ao princípio da capacidade econômica exige a conexão dos fatos geradores com realidades econômicas que demonstrem capacidade de enfrentar o pagamento do tributo137.

Soares138 sustenta que, com relação à fiscalidade ecológica, o montante do tributo ambiental em sentido próprio deve ser definido em função do dano causado

135 MORO, Cristobal Borrero. La tributación ambiental em España. Madri: Tecnos, 1999. p. 106. 136 HERNÁNDEZ, op. cit., p. 133.

137MORO, op. cit., p. 108.

138 SOARES, Cláudia Alexandra Dias. O imposto ecológico: contributo para o estudo dos instru-

ao continuum naturale, isto é, o critério de medida deve ser a capacidade contami- nante. O contribuinte, nesses casos, não é obrigado a pagar, porque detém mais ou menos riquezas, mas porque obteve um benefício à custa e uma despesa social, degradando ou ameaçando degradar o ambiente e, por isso, com base no princípio da solidariedade coletiva, deve contribuir para a sua preservação. Assim, dois sujei- tos titulares de uma capacidade contributiva igual, mas responsáveis por montantes de poluição diferentes, podem ser gravados em intensidade diversa.

Por outro lado, Modé139 em contradição com o defendido neste trabalho, con-

sidera que "a tributação ambiental deve ater-se ao princípio da capacidade contribu- tiva, dele não devendo se desviar, sob pena de inconstitucionalidade”.

Entretanto, não se concorda com tal posicionamento, haja vista que a tributa- ção ambiental tem como finalidade principal não a arrecadação, mas o cumprimento do preceito constitucional de proteção ambiental (artigo 225 da Constituição Fede- ral). Não pode a tributação ambiental, deste modo, estar presa aos limites da capa- cidade contributiva, pois a capacidade contributiva servirá apenas como parâmetro para definir o mínimo e o máximo na tributação ambiental.

Um outro aspecto que se deve levar em consideração, na análise do princípio da capacidade contributiva é o respeito ao mínimo vital e ao não confisco. O tributo não pode ser tão ínfimo, ao ponto de não cumprir sua função extrafiscal, mas tam- bém não pode ser tão oneroso de modo a configurar o confisco.

Além dos direitos fundamentais do cidadão, a tributação deverá respeitar também o princípio do não-confisco140 e o princípio do mínimo vital dos contribuintes, subprincípios da capacidade contributiva.

A importância de tais princípios está em fixar os limites mínimo e máximo da tributação. Tributar excessivamente impedindo os contribuintes de cumprirem com sua obrigação tributária representa flagrante injustiça e incoerência de qualquer sis- tema tributário.

139 MODÉ, op. cit., p. 88.

140 BRASIL. Constituição (1988). Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribu- inte, é vedado à União, aos Estados, ao distrito Federal e aos Municípios:

(...)

Costa141 aponta que o legislador não poderá descuidar-se da preservação dos limites que o próprio princípio exige: a manutenção do mínimo vital, o não- atingimento do confisco e o não-cerceamento de outros direitos constitucionais.