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3.3 A Tributação Ambiental

3.3.4 As Espécies Tributárias compatíveis à Tributação Ambiental

3.3.4.2 Taxa de Caráter Ambiental

A Constituição Federal, em seu artigo 145, atribui competência tributária à U- nião, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para instituir taxas. Logo, observa-se que a taxa é tributo de competência comum, podendo ser cobrado em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição.

Ao contrário do imposto, a taxa tem seu fato gerador vinculado a uma ativida- de estatal específica. Sendo assim, ela é vinculada ao serviço público ou ao exercí- cio do poder de polícia. E é isso que a diferencia do imposto. A idéia mais divulgada da taxa é a de que se trata de um tributo contraprestacional (atividade do Estado), isto é, seu pagamento corresponde a uma contraprestação do contribuinte ao Esta- do, pelo serviço que lhe é prestado, ou pela vantagem que lhe proporciona.

Conforme o artigo 77 do Código Tributário Nacional, que define o que vem a ser taxa, parecem admissíveis como fatos geradores o licenciamento, a fiscalização e a limpeza ou recuperação ambiental, desde que guarde razoável equivalência com o custo dos serviços de licenciamento e fiscalização, e da limpeza ou recuperação ambiental correlacionáveis a situações individuais dos contribuintes (tipo de estabe- lecimento, instalações, atividades, área fiscalizada etc.) e aos volumes de emissões, despejos ou produção de resíduos poluidores.

Percebe-se que a taxa pode ser uma forte aliada na proteção ambiental, en- globando tanto as taxas referentes ao poder de polícia como as taxas referentes à prestação de serviços públicos.

A proteção ambiental, por se configurar como interesse geral e público, com- portará, assim, a utilização de taxas com o objetivo de fiscalizar as atividades poten- cialmente ou efetivamente poluidoras e serviços públicos de natureza ambiental.

A tributação ambiental por meio de taxas obriga a suportar o custo dos servi- ços públicos específicos necessários à preservação e recuperação do meio ambien-

te ou à fiscalização ou monitoramento de atividades econômicas relacionadas com a potencialidade ou efetiva lesividade a ele176.

Assim, a taxa instituída em razão do poder de polícia terá que ser criada por meio de lei e não tem, obrigatoriamente, a necessidade de gerar benefícios para o contribuinte como, a taxa de fiscalização ambiental, que não produz diretamente ne- nhum tipo de vantagem ao contribuinte. O Estado no exercício do poder de polícia pode impor obrigação de fazer ou não fazer ao contribuinte, além de outras obriga- ções177.

Por conseguinte, entende-se que as hipóteses de incidência tributária nas ta- xas de caráter ambiental constituídas no exercício do poder de polícia poderão ser a fiscalização, o licenciamento e a concessão de licenças de instalação e de operação de atividades, potencial ou efetivamente, poluidoras; já no que concerne à utilização de serviços públicos, poderão ser a limpeza ou a recuperação ambiental (casos em o contribuinte pagaria pelo serviço de limpeza e recuperação que caberia a ele pró- prio realizar).

Frise-se que a taxa deve ser graduada de acordo com a capacidade econô- mica do contribuinte, bem como com o tipo de estabelecimento, de instalações, de atividades e também o volume de emissões, despejos ou produção de resíduos po- luidores. Ou seja, haverá uma relação do quantum que essa conduta poluidora ge- rou à administração pública, devendo existir uma relação entre o valor da taxa e o custo dos serviços públicos ambientais prestados.

Dessa forma, infere-se que as taxas podem ser graduadas de acordo com a diversidade da atividade do particular relacionada com o custo do serviço público prestado. É dessa relação que resultará o valor de sua cobrança178.

Por esse motivo, a graduação das taxas ambientais deve ser feita relacionan- do-se o custo dos serviços públicos com a carga poluidora gerada pelos contribuin- tes.

Observe-se que, em decorrência do alto custo dos serviços ambientais e, por conseqüência, o elevado valor do tributo correspondente, a simples instituição das taxas ambientais produz um efeito psicológico, extrafiscal imediato, induzindo o polu-

176 AMARAL, op. cit., p. 182. 177 AMARAL, loc. cit. 178 ARAÚJO, op. cit., p. 66.

idor a buscar alternativas de comportamento não-poluidor para furtar-se a ser identi- ficado como contribuinte, ou, pelo menos, diminuir o montante da taxa que lhe cabe pagar.

Apesar de a taxa ter uma finalidade contraprestacional, no entanto, poderá, também, ter uma finalidade coercitiva, cujo mecanismo ocorrerá de forma indireta. A taxa poderá produzir um efeito inibidor no poluidor, o qual buscará alternativas de comportamento mais benéficas ao meio ambiente, para, com isso, evitar ou atenuar a incidência de taxa179.

Menti180, ao analisar a taxa sobre o lixo na Itália com fim de atender aos obje-

tivos ambientais, aponta que a taxa ecológica teria a função de desencorajar a pro- dução de substâncias poluentes, e consentiria, ao mesmo tempo, em atribuir um preço às reservas ambientais escassas. A taxa representa, portanto, o preço que aquele que polui paga em relação ao consumo de recursos e a poluição que produz, e está direcionada a induzir o sujeito poluente a controlar a utilização de recursos e os efeitos nocivos de sua atividade.

Sob o enfoque econômico, a taxação funciona da seguinte maneira:

Determinada agência ambiental estabelece um nível de taxa a ser cobrada para cada unidade de poluição emitida, excedente à meta do nível mínimo de con- trole determinado. Quanto maior o nível de controle pelo poder público, maior a base da tributação. Com isso, todas as indústrias, ou investem em controle ou pagam a taxa, se passarem do padrão de emissão. Ressalte-se que, para a política ambiental funcionar, as taxas devem ser combinadas com metas individuais que representem um instrumento de comando e controle. A taxa, portanto, funciona como mecanismo de diminuição da degradação ambiental, uma vez que os poluidores podem escolher entre melhorar seus equipamentos antipoluição, controlar suas emissões, evitando, assim, a cobrança da taxa (quando a poluição estiver dentro dos padrões permitidos pelo órgão ambiental), ou pagar a taxa, que será equivalente à quantidade de polui- ção emitida.

179 AMARAL, op. cit., p. 161.

180 MENTI, Fábio. Ambiente e imposizione tributaia ij tribute s’peciuk sul deposito dei ruiu. Milao: Ce- dam, 1999. p. 27.