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Aproximadamente 90% do território argentino correspondem a ecossistemas naturais, com diversos e distintos níveis de degradação ambiental, tais como a pe-

64 SABSAY, Daniel A.; ONAINDIA, José M. La Constituición de los Argentinos, análisis y comen- tário de su texto luego de la reforma de 1994. p. 147.

cuária extensiva nas pastagens naturais, à atividade florestal acompanhada de pe- cuária, a atividade agropecuária e a atividade exclusivamente agrícola65.

O primeiro órgão ambiental argentino vinculado à presidência da República, denominado La Subsecretaria de Política Ambiental, criado em 1985, tinha o objetivo de opinar no assessoramento ao Primeiro Ministro sobre o projeto e atualização permanente da política do Poder Executivo Nacional em matéria de meio ambien- te66.

Após, entrou em vigor a Comisión Nacional de Política Ambiental (CONAPA), no ano de 1989, para assessorar o Poder Executivo em assuntos pertinentes ao meio ambiente e, também, coordenar a aplicação das políticas ambientais nos diver- sos setores da administração pública nacional67.

A Secretaria de Estado de Recursos Naturais e Ambiente Humano (SERNAH) foi criada em 1973, com atuação no âmbito das províncias e com o intuito de traba- lhar pela conscientização ambiental. A partir da década de oitenta, com a reformula- ção das Constituições das Províncias Argentinas, muitos preceitos ambientais foram consagrados.

No entanto, a situação institucional do meio ambiente na Argentina não esta- va consolidada conforme consta no relatório para a conferência Rio-92, o qual de- monstra que o vizinho país não dispõe de uma política ambiental viável por não a- presentar uma legislação uniforme para contemplar a proteção ambiental68.

O problema maior é a falta de uma lei nacional em matéria ambiental, uma vez que os estados-provinciais têm poderes para legislar entre outras matérias, tam- bém sobre meio ambiente69.

65 REPÚBLICA Argentina. Presidencia de Ia Nación, Secretaira General Comisión Nacional de Politica Ambiental. Informe Nacional a Ia Conferencia sobre Medio Ambiente y Desarrollo de Ias Nacio-

nes Unidas. Buenos Aires, jul. 1991. p. 01. 66 Ibid., p. 20.

67 MAINI, Mario N. Política nacional de meio ambiente na Argentina. In.: DEBATES, Políticas ambi- entais no Mercosul e as experiências da integração européia. São Paulo: Fundação Konrad-

Adenauer – Stiftung, 1995. n. 08. p. 28.

68 REPÚBLICA Argentina. Presidencia de Ia Nación, Secretaira General Comisión Nacional de Politica Ambiental. Informe Nacional a Ia Conferencia sobre Medio Ambiente y Desarrollo de Ias Nacio-

nes Unidas. p. 21.

69 SOUZA, Paulo Roberto Pereira de. O Direito e os Impactos Ambientais no MERCOSUL. In: PI- MENTEL, Luiz Otávio (org.). MERCOSUL no cenário internacional: direito e sociedade. Curitiba: Juruá Editora, 1999. v. 2. p. 341.

Mesmo inexistindo uma lei geral, o sistema jurídico argentino determina a avaliação de impacto ambiental por instrumentos específicos:

- Lei N. 22.421/81 – Lei de Conservação da Fauna Silvestre;

- Lei N. 23.879/90 – Lei de Obras de barragens para fins de geração de energia; - Lei N. 24.051/92, regulamentada pelo Decreto 831/93, que determina o EIA/RIA para p registro e operação de atividades de tratamento e disposição final de resí- duos perigosos;

- Lei N. 24.228/93, que complementada pela Lei N. 24.585/95 – Acordo Federal Mi- neiro, que determina a necessidade de avaliação de impacto, para a prospecção, exploração, industrialização, armazenamento, transporte e comercialização de mine- rais;

- Lei N. 24.354/94, sobre Investimentos Públicos, que determina a realização de ava- liação de impacto ambiental, para execução de planos, programas e obras de inicia- tiva do setor público, bem como de organizações privadas ou públicas que solicitem subsídios, avais ou recursos do Estado ou qualquer outro benefício que afete direta ou indiretamente o patrimônio público nacional.

Além das leis e decretos, também resoluções de agências governamentais e- xigem a avaliação de impacto ambiental para diversas atividades.

É importante referir que a Argentina, como Estado, teve origem nos acordos celebrados entre as províncias, para criá-lo. Desta forma, o artigo 12170 da atual

Constituição da Argentina, determina que: “As Províncias conservam todo o poder não delegado por esta Constituição ao Governo Federal, e o que expressamente tenham se reservado por pactos especiais ao tempo de sua incorporação”.

Na época, as Províncias não delegaram suas faculdades para tratar sobre matéria ambiental, por isso a Constituição Federal garantiu às Províncias competên- cia para legislar sobre meio ambiente, assim, segundo Leila Devia71, em nível local a

maioria das Constituições provinciais consagrou, anteriormente à Constituição Na- cional, os direitos a um meio ambiente sadio, e corrobora essa informação citando as províncias de La Rioja (art. 66), San Juan (art.58), San Luis (art.47), Salta (arts.

70 CONSTITUCIÓN DE LA NACIÓN ARGENTINA. Buenos Aires: Zavalía, 1998.

70 DEVIA, Leila. Legislação Ambiental de la República Argentina. In.: Mercosur y Médio Ambiente.

30 e 78), Santiago Del Estero (arts. 30 e 58), Rio Negro (arts. 84 e 85) e Córdoba (art. 66). As províncias de Buenos Aires (art.28) e da Tierra Del Fuego (art.55) tam- bém legislaram sobre avaliação de impacto ambiental através de suas Constituições provinciais.

No dizer de Souza72 existe um outro problema que dificulta uma tutela efetiva do meio ambiente, na Argentina, que é a falta de uniformidade quanto à lei proces- sual, pois segundo ele, não há uma lei nacional sobre direitos difusos, e que em a- penas algumas províncias, como Santa Fé – Lei N. 10.000/87 – e, San Juan – Lei N. 6006 – instituíram legislação específica para a tutela de direitos difusos. E que, em nível federal, ou em outras províncias, apenas através da doutrina e jurisprudência.

Porém, embora não se pretenda discordar dessa informação, entende-se im- portante transcrever parte do art. 43 da Constituição Argentina73 que autoriza o uso

de Acción de Amparo, por qualquer pessoa física ou jurídica, para garantir direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição, incluindo entre esses os direitos difu- sos e coletivos como a proteção ao ambiente, dispõe o referido artigo:

Art. 43. [ACCIÓN DE AMPARO] – Toda persona puede interponer acción expedita y rápida de amparo, siempre que no exista outro médio judicial más idôneo, contra todo acto u omisión de autoridades públicas o de parti- culares, que en forma actual o inminente lesione, restrinja, altere o amena- ce, con arbitrariedad o ilegalidad manifiesta, derechos y garantias reconoci- dos por esta Constitución, un tratado o una ley. En el caso, el juez podrá declarar la inconstitucionalidad de la norma en que se funde el acto u omi- sión lesiva.

Podrán interponer esta acción contra cualquier forma de discrimina- ción y en lo relativo a los derechos que protegen al ambiente, a la com- petência, al usuário y al consumidor, así como a los derechos de incidência colectiva en general, el afectado, el defensor del pueblo y las asociaciones que propendan a esos fines, registradas conforme a la ley, la que determi- nará los requisitos y formas de su organización.

Através desta análise evidenciou-se que tanto a Argentina quanto os outros três Estados-Partes do MERCOSUL possuem, individual e internamente, um arca- bouço de normas aptas para consolidar uma política ambiental eficiente e eficaz pa-

72 SOUZA, Paulo Roberto Pereira de. O Direito e os Impactos Ambientais no MERCOSUL. In: PI- MENTEL, Luiz Otávio (org.). MERCOSUL no cenário internacional: direito e sociedade. p. 04. 73 CONSTITUCIÓN DE LA NACIÓN ARGENTINA. Buenos Aires: Zavalía, 1998.

ra alcançar o desenvolvimento sustentável sem descurar do crescimento econômico também necessário no mundo globalizado.

A seguir, far-se-á uma breve incursão à realidade mercosulina com o intuito de identificar a existência de normas de Direito Ambiental no bloco econômico.