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3.2 Princípios de Direito Tributário Relevantes à Tributação Ambiental

3.2.2 Princípio da Isonomia

A igualdade de todos perante a lei abre o capítulo dos direitos e deveres indi- viduais e coletivos da Constituição Federal, sendo assegurada no próprio caput do artigo 5°. O princípio é particularizado, no campo dos tributos, pelo artigo 150, II, ao vedar128 "tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação e- quivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos".

Todavia, há uma outra face do princípio, a tradicional, segundo a qual a igual- dade consiste em tratar igualmente os iguais e de forma diversa os desiguais, na medida de sua desigualdade.

Mello129 analisa a questão de identificar quem são os iguais e quem são o de- siguais, ou seja, "que espécie de igualdade veda e que tipo de desigualdade faculta a discriminação de situações e pessoas sem quebra e agressão aos objetivos trans- fundidos no princípio constitucional da isonomia?".

127 BRASIL. Constituição (1988). Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indisso- lúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito (...).

128 BRASIL. Constituição (1988). Art. 5º, II.

129 MELO, Celso Antônio Bandeira de. O conteúdo jurídico do princípio da igualdade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1978.

O princípio da igualdade impõe que todos os indivíduos devem ser tratados de forma que se vejam aceitas suas diferenças, e estas sejam observadas para fa- zer com que cada um tenha um tratamento apropriado à sua situação.

É este o escopo desse princípio: identificar os diferentes e os iguais e, a partir daí, dar o tratamento tributário para cada um, sem tratar contribuintes em condições desiguais de forma igual, nem contribuintes em condições iguais de maneira desi- gual, sob a alegação de estar praticando o princípio da isonomia tributária.

Ensina Amaro130 que o problema deve ser abordado em termos mais amplos: além de saber qual a desigualdade que faculta, é imperioso identificar a desigualda- de que obriga à discriminação, pois o tratamento diferenciado de situações que a- presentem certo grau de dessemelhança pode ser exigido por outros postulados constitucionais, como se dá, no campo dos tributos, à vista do princípio da capacida- de contributiva, com o qual se entrelaça o enunciado constitucional da igualdade. Deve ser diferenciado o tratamento de situações que não revelem capacidade con- tributiva ou que mereçam um tratamento fiscal ajustado à sua menor expressão eco- nômica.

Segundo o autor, devem ser tratados com igualdade aqueles que tiverem i- gual capacidade econômica, e com desigualdade os que revelem riquezas diferentes e, portanto, diferentes capacidades de contribuir.

É a partir de afirmações como essa que se encontram algumas dificuldades em aplicar esse princípio para a tributação ambiental. Jorge Jiménez Hernández131

explica que:

Se o princípio da igualdade em âmbito tributário se traduz respeito aos princípios da progressividade e capacidade econômica, e este último se interpreta de forma que situações economicamente iguais devem ser trata- das de igual maneira, os tributos ecológicos parecem descumprir este prin- cipio, pois seus fatos geradores não observam esta equidade, já que one- ram somente os atos econômicos contrários ao meio ambiente.

O problema poderia ser verificado em casos em que contribuintes com idêntica capacidade econômica, como poderiam ser empresas com i- guais rendimentos e igual patrimônio, sejam tributadas de diferente maneira, em virtude de um tributo ambiental. Parece advertir-se no exemplo citado uma desigualdade de tratamento que desrespeita o princípio da igualdade.

130 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 135 – 136. 131 HERNÁNDEZ, Jorge Jiménez. El tributo como instrumento de protección ambiental. Granada: Coimbra, 1998. p. 158.

Conforme já colocado, tratar igualmente pessoas que possuem o mesmo po- der econômico é realizado por meio do princípio da capacidade contributiva, que é uma das manifestações do princípio da igualdade. Porém, os tributos que possuem a poluição ambiental ou utilização dos bens ambientais como hipótese de incidência tributária não tem, necessariamente, vínculo com a capacidade econômica do polui- dor. A tributação ambiental tem natureza extrafiscal, por realizar preceito consagrado constitucionalmente, ou seja, a proteção ambiental. Este fim legitima a utilização da poluição ou uso de recursos ambientais como fato jurídico tributário e coloca a capa- cidade econômica como critério mínimo e máximo na fixação do valor da obrigação tributária.

Assim, a proteção ambiental constitui um interesse público relevante e, em contrapartida, comportará o afastamento dos limites do princípio da isonomia tributá- ria, tanto para isentar ou beneficiar contribuintes que não agridem o meio ambiente, quanto para tributar aqueles que provocam a perda de conteúdo desse direito fun- damental.

É nesse campo que se encontra a necessidade de aplicação da razoabilida- de. Ela funcionará, sobretudo, como critério de justificação racional de um tratamen- to tributário diferenciado.

Em termos de tributação ambiental, o nível de poluição gerada pelos contribu- intes (mesmo que com idêntica capacidade econômica) ou o nível de uso dos recur- sos ambientais, representa critério justo e aceito socialmente para diferenciar os contribuintes em razão do despojamento de toda a coletividade de seu direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Desta forma, percebe-se que, em matéria de tributação ambiental, a capaci- dade econômica não é fato preponderante, mas informador para imposição tributá- ria. Como pretende a tributação ambiental tutelar o meio ambiente contra a poluição e degradação, são esses os instrumentos que devem ser utilizados para se igualar ou desigualar contribuintes. A capacidade econômica servirá, conforme dito, para fixar os níveis quantitativos da imposição tributária ambiental.