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Principio do Desenvolvimento Sustentável

3.1 Princípios Comuns ao Direito Ambiental e ao Direito Econômico

3.1.4 Principio do Desenvolvimento Sustentável

O princípio do desenvolvimento sustentável foi o principal alvo das discussões no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvi- mento, Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992. Na declaração encontra-se a expressa ao princípio do desenvolvimento sustentável não menos que no enunciado de 12 de seus 27 princípios.

Entretanto, a Declaração do Rio não enuncia o conceito de desenvolvimento sustentável, o qual, todavia pode ser extraído em sua essência do enunciado do Principio 3 da referida declaração. “O direito ao desenvolvimento deve ser exercido,

de modo a permitir que sejam atendidas eqüitativamente as necessidades de de- senvolvimento e ambientais de gerações presentes e futuras”.

115 ARAGÃO, Maria Alexandra de Souza. O princípio do poluidor pagador: pedra angular da política

comunitária do ambiente. Coimbra: Coimbra Editora, 1997. p. 20.

A manifestação oficial do Conselho de Administração do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) sobre a conceituação de desenvolvimen- to sustentável é o seguinte: “O conselho de Administração acredita ser sustentável o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a ca- pacidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. Desen- volvimento sustentável tampouco implica transgressão alguma ao princípio de sobe- rania”. 117

O conselho de Administração entende que a obtenção do desenvolvimento sustentável exige cooperação dentro das fronteiras nacionais e através daquelas. Pressupõe progresso na direção da eqüidade nacional e internacional, inclusive as- sistência aos países em desenvolvimento, prioridades e objetivos nacionais. De- manda também a existência de meio econômico internacional propício que resulte no crescimento e no desenvolvimento. Estes são elementos primordiais para o ma- nejo sadio do meio ambiente.

Desenvolvimento sustentável exige ainda a manutenção, o uso racional e va- lorização da base de recursos naturais que sustenta a recuperação dos ecossiste- mas e o crescimento econômico. Desenvolvimento sustentável implica, por fim, a incorporação de critério e considerações ambientais na definição de políticas e de planejamento de desenvolvimento e não representa uma nova forma de condiciona- lidade na ajuda e no financiamento para o desenvolvimento.

O conselho de Administração está totalmente consciente de que os próprios países são e devem ser os principais atores na reorientação de seu desenvolvimen- to, de forma a torná-lo sustentável. O desenvolvimento sustentável e ambientalmen- te sadio é de grande importância para todos os países, industrializados e em desen- volvimento.

Os Países industrializados possuem os recursos necessários para fazer os ajustes necessários, algumas de suas atividades econômicas efetivamente têm im- pacto efetivo no meio ambiente, não apenas no seu território, mas além de suas fronteiras. Inclusivo no caso de países em desenvolvimento, a maior parte dos re- cursos para o desenvolvimento provém deles mesmos. Para estes, apesar da manu-

117 MODÉ, Fernando Magalhães. Tributação Ambiental – a Função do Tributo na proteção do meio ambiente. p. 56 – final.

tenção da base de recursos naturais para as futuras gerações, as necessidades da geração atual são de importância crítica.

Ações influenciadas pela pobreza e pela necessidade de sobrevivência corro- em a base de recursos e assim geram mais pobreza. Em todos os países, as ques- tões de desenvolvimento e meio ambiente estão interligadas, há uma mútua intera- ção. Hoje, novas questões ambientais desafiam a comunidade internacional, en- quanto as velhas questões se mantêm e até adquirem maior magnitude. (Conferên- cia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio de Janeiro, 1992).

A confusão que se estabelece parte do entendimento de que crescimento e desenvolvimento são sinônimos, quando na verdade não o são. A idéia de cresci- mento sustentável é contraditória quando tomada em face da realidade que nos im- põe limites físicos dos recursos naturais existentes. Entretanto, o desenvolvimento sustentável mostra-se realizável quando se considera a aplicação de recursos reno- váveis, significando utilizar tais recursos a taxas que permitam a constante renova- ção.

Como principal diferenciação entre crescimento e desenvolvimento, verifica- se que o crescimento econômico apresenta-se com significado de expansão das atividades, enquanto o desenvolvimento coloca-se de forma mais apropriada à reali- zação de um potencial. A via do crescimento econômico conduz a resultados quanti- tativos que não necessariamente retribuem o esforço despendido pelos diversos a- gentes econômicos com uma situação de bem-estar geral. A via do desenvolvimento sustentável, ao contrário, conduz uma evolução qualitativa traduzida em melhora perceptível da qualidade de vida.

Em resumo pode-se dizer que o principio do desenvolvimento sustentável es- trutura-se a partir de duas premissas básicas; a primeira delas atinente aos recursos materiais, e outra, relativa à ética intra e intergerações.

3.1.4.1 O Desenvolvimento Sustentável e a Constituição de 1988

A Constituição Federal de 1988 incorporou de forma expressa o princípio do desenvolvimento sustentável, seja ao tomar-se a redação dada ao Caput do art. 225 em que se encontra a preocupação da manutenção de um meio ambiente ecologi- camente equilibrado para a presente e futuras gerações, seja, ainda, por ter o legis- lador constituinte firmado como princípio conformador da ordem econômica (art.170, V) a defesa do meio ambiente.

Assim sendo, o Direito Positivado no ordenamento jurídico brasileiro mantém de forma expressa dois valores aparentemente em conflito que devem se compor de maneira a que realize o ideal de bem-estar e de qualidade de vida dos brasileiros e que lhes proporcione uma existência digna.

O objetivo de garantir o desenvolvimento nacional (CF/88, art.3°, II) deve ser construído de maneira a que assegure de forma eqüitativa entre as presentes e futu- ras gerações condições de bem-estar e de qualidade de vida, reduzindo-se as dispa- ridades existentes entre os padrões de vida de toda população e as desigualdades regionais. Um desenvolvimento em que permaneça tal nível de desigualdades, como hoje experimentado, não pode ser qualificado de sustentável.